segunda-feira, 4 de junho de 2012


Pode ser agora!

Cético. Mas vai que dá. A Proposta de Emenda Constitucional 033/2009 pode ser votada em segundo turno nesta terça-feira, dia 5 de junho, no Senado. A PEC devolve a obrigatoriedade do diploma de curso superior para a prática do exercício de jornalista. Segunda a Federação Nacional dos Jornalistas, a matéria foi lida pela presidência do Senado no dia 29 de maio e iria à votação no dia 30. Mas devido ao baixo quórum no plenário ficou para esta terça. Se passar ainda vai para a Câmara. Quem sabe...

terça-feira, 3 de abril de 2012

Mais um pouquinho de paciência, gente!

Aproveito a Semana Santa para tentar ser santo. Do tipo mártir, submisso, alinhado ao convencional e meio que disposto a dar a outra face. É o tempo que preciso para repensar o meu blog de contos, crônicas e reportagens e os blogs nas quais tenho participação, o das batalhadoras e o do fórum de jornalismo. Peço, assim, desculpas aos meus poucos mas valiosos leitores/seguidores. Prometo voltar com carga após esse tempo de reflexão.

Tenho, aliás, expectativas. Sem elas a gente sucumbe. Quero no blog de contos, crônicas e reportagens ser criativo. Atualmente só de vez em quando consigo isso tantas são as tarefas diárias. Chega uma hora de vazio após escrever um monte de textos profissionais. Sim, sou empregado e se não recebo por linha escrita às vezes me vejo obrigado a redigir o protocolo de um cerimonial com criatividade e desenvoltura tamanha para evitar que o público presente adormeça.

É mole? Pelo contrário, é dureza. A cada minuto surge um desafio e de vez em quando é preciso tirar água da pedra em plena estiagem. É, o sol castiga e o salário é muito suado. De sobra a gente leva uma sacola de desaforos de desafetos que nos tornam inimigos por inveja.

Quanto ao blog das batalhadoras. Ah, se fosse por mim eu transformaria aquilo num canal de comunicação da comunidade! Por enquanto sou o articulista solitário que redige de acordo com convicções e princípios que são exclusivamente meus. Admito: não é a fórmula adequada para um blog de comunidade. 

Então dou-me ao direito de defesa e digo que não estou, por enquanto, em condições de contato mais constante com aquela população. O problema é geográfico e financeiro, pois moro na zona oeste de Londrina, trabalho em Cambé e a sede das batalhadoras fica na zona sul de Londrina.

Mas prometo uma reavaliação após conversas com a diretoria da entidade. Aliás, preciso que a própria comunidade me abasteça com informações, pois a redação e a postagem do que as pessoas querem colocar no blog fica por minha conta e eu faço isso entre a noite e a madrugada. Com satisfação e muito tesão de escrever. É isso que eu sei fazer.

Também espero novidades no fórum de jornalismo. Isso vou deixar para depois, mas a expectativa é animadora. E por enquanto, mais uma vez, peço paciência aos meus poucos mas valorosos leitores. Vai bombar muito em breve com acontecimentos importantes sobre o jornalismo ético da região.

(Walter Ogama) 

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Opinião - Pai, por que me abandonaste?

Faz mais de dois mil anos que aquele homem, após ser traído, chicoteado e caminhar longa distância carregando uma cruz de madeira nos ombros, foi pregado a ela. Fincada a cruz o homem, minutos antes de morrer, deixou algumas palavras, na forma de uma pergunta: “Pai, por que me abandonaste?”

A Bíblia tem uma explicação lógica e provavelmente conveniente para aquela manifestação. Ele, como filho de Deus, estava na terra como homem. E quando os ladrões que foram crucificados com ele perguntaram com ironia por que, sendo filho Dele, não merecia a interferência da salvação daquele momento de sofrimento e agonia, o livro sagrado responde que Jesus, em carne, pagava naquele momento por todos os nossos pecados.

E se a manifestação Suprema não se deu naquele momento crucial, ocorreu a partir da remoção milagrosa da pesada pedra que fechava o túmulo e então com a ressurreição. Esta seria a prova de que o homem torturado e morto era mesmo filho de Deus.

Claro, aqui neste texto dou-me à permissão de ser intérprete da leitura da Bíblia. A intenção não é de transcrever literalmente o que o Livro nos diz. E ouso, embora sabendo de discordâncias de pessoas subsidiadas em anos de estudos sobre o assunto e outras nem tanto, mas apegadas a uma fé que se torna paixão, questionar: a provação na forma de tamanha violência foi em vão?

A guerra religiosa de milênios ainda perdura naqueles mesmo locais. Só que agora não são com o uso de pedras, lanças e flechas. A tecnologia permite hoje muito mais mortes num único ato. Não há mais necessidade de cruz de madeira. As armas são modernas e às vezes as guerras são químicas. Irlanda do Sul e Irlanda do Norte passaram bons pares dos últimos anos matando e sofrendo baixas. Nesse caso a explicação lógica era o conflito religioso, mas com a estampa inegável dos interesses políticos. Assim como lá e em diferentes fases da história.

O comunismo e o capitalismo em suas variadas configurações também envolveram nos embates os apegos materiais de uns e os espirituais de outros. E dirão, alguns analistas, que este conflito nada teve a ver com a fé. Mas ela foi em significativos momentos a grandeza que gerou discordâncias porque do bom ou mau uso dela é que se formulavam os preceitos da economia e da política.

Especialmente no Brasil temos nesta exata etapa de nossas vidas a guerra que põe no lixo toda a nossa base cultural, onde entram a fé e a religião, a democracia e a política, a educação e o respeito para com o próximo e assim por diante. É uma guerra de valores, ou melhor, contra os valores. A permissividade é aceita com naturalidade. A roubalheira é descarada e vista como normalidade. Homens e mulheres participam das missas e dos cultos dominicais e fora dos templos e das igrejas agridem, submetem, ridicularizam, destratam e desprezam. E justificam que foi em defesa própria.

Sim, defesa própria. Aquele homem, pelo que consta no Livro, não foi torturado e morto porque pego em um ato de defesa própria. Assim consta na Escritura Sagrada: ele foi chicoteado, caminhou com a pesada cruz no ombro, foi pregado a ela e morreu, deixando aquelas palavras que devemos, dois mil anos depois, lembrar diariamente para conhecer o seu real significado: “Pai, por que me abandonaste?”

(Walter Ogama)

quinta-feira, 29 de março de 2012

Dominante e dominado na prova do concurso

Classe dominante e classe dominada! Faz tempo não ouvíamos e nem líamos nada sobre isso. É bom lembrar, no entanto, que esse termo foi muito usado no Brasil no período militar. E a gente, quando remetido para aqueles anos, recupera na memória a cara rechonchuda do então ministro Delfin Neto. No mundo a classe dominante nos remete aos debates de outrora sobre o marxismo, que a chamava de burguesia no sistema capitalista. Enfim, era a classe social que controlava o processo econômico e político.

Controlava? Na verdade nunca perdeu o controle, apenas assumiu novas denominações usando dos mesmo artifícios: a exploração econômica, política e cultural, o que inclui o trabalho, a oportunidade de renda, o acesso ao ensino de qualidade, o lazer, a possibilidade de vida social, a saúde e tudo o que faz parte do cotidiano do povinho.

Recente concurso realizado pela Fundação de Apoio à Educação, Pesquisa e Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (Funtef-Pr) para a Prefeitura de Cambé mostra claramente que a classe dominante está firme e forte e como no passado ainda hoje age descaradamente contra a classe dominada.

Na prova para as vagas de gari cerca de meia dúzia de questões relacionadas à conhecimentos gerais reflete este embate. Uma pergunta é sobre o nome de uma atriz de novela da Globo. Outra é sobre frase que caracteriza uma personagem de humor de programa da Globo. Uma questão chama o recém-falecido jogador de futebol Sócrates de libertário. E assim vai, invocando dupla sertaneja que aparece frequentemente no Domingão do Faustão ou o nome da música que consagrou um tal de Michel Teló, que nem fazemos questão de conferir se escrevemos o nome correto porque não faz diferença.

Cultura geral é isso, para a equipe que elaborou estas perguntas. E não se pode exigir mais conhecimento que isso para um candidato a vaga de gari porque o risco é desse trabalhador, sendo aprovado ou não, adquirir cultura de verdade após estudar para o concurso. Cultura, enfim, é um direito adquirido da classe dominante. A classe dominada não pode saber mais do que as fococas e as vulgaridades.

E vejam a que ponto chegamos! Somos obrigados a tratar a cultura com subdivisões: cultura de verdade. Isso significa que pode haver cultura de mentira. E não estamos falando de contra cultura. Estamos nos referindo a este empreendedorismo vergonhoso de ser contra a cultura para as pessoas que não tem acesso a ela.

Isso se faz assim mesmo. Tratando quem não tem recursos para assistir a um bom espetáculo de teatro ou música como pessoas burras e dando a ela mais incentivo para assistir o BBB do Pedro Bial e pagar caro para se espremer no Parque Ney Braga enquanto um meia boca canta no recinto de shows.

E porque Sócrates foi libertário? O jogador, que também era médico, lutou pelos profissionais do futebol. Por isso foi respeitado como atleta e como líder. Libertário é um termo jocoso e provocativo. Sócrates não foi libertário. Ele foi um líder.

Nunca, na verdade, tivemos a ilusão de que esta guerra fria da classe dominante contra a classe dominada tivesse chegado ao fim. Mas em determinados momentos caímos na ilusão e aceitamos passivamente que os patrões chamassem os empregador de parceiros ou colaboradores. Também engolimos durante toda a nossa vida, como se aquilo fosse doce e degustável, aquele gasto discurso: o trabalho enobrece. Concordamos! Mas quem é que é o enobrecido?

Em governos mais recentes, depois do milagre brasileiro de Delfin e dos militares, Collor de Melo implantou o neoliberalismo caipira e perverso. Henrique Cardoso inventou outro neoliberalismo e além da privatização desvairada criou o voluntário para consertar escolas e unidades de saúde. Também incentivou seus partidários a criarem leis para esconder os informais atrás de programas que empobrecem os formalizados que passam a ser microempreendores individuais. Lula criou a república assistencialista e calou os banqueiros e os grandes grupos econômicos com legislações contemplativas. Dilma dá sequência.

Então... se soubermos o que a Globo difunde, segundo as questões daquela prova, temos cultura. Yes! Nóis sabe das coisas!

segunda-feira, 26 de março de 2012

Hora de mexer com a sujeira que resta

Um amigo me fez uma pergunta: algum jornalista de Londrina enriqueceu com a profissão? Pergunta difícil. Pensei e detectei dois nesses quase trinta anos de carreira em redações e agora em assessoria de imprensa.
Mas fiz ressalvas: não ficaram ricos, mas conseguiram construir casarões. Alguns outros que tentei lembrar ajuntaram um certo patrimônio, mas nada além do carro na garagem e da casa que se não é um luxo não deixa a desejar. Talvez uma chácara entre modesta e razoável além do básico, mais para consolidar um projeto antigo.

Para o amigo dei nomes aos bois e soube, com segurança e certeza, enumerar porque dois conseguiram mais do que a maioria e alguns nada obtiveram. Lembrei inclusive do velho amigo Estélio. Ela, com mais de quarenta anos numa redação, morreu. Deixou pára a pessoa que esteve ao lado dele nos últimos anos de vida um apartamento que comprou com o dinheiro do fundo de garantia. Nada mais.

Lembrei que um desses que conseguiu construir um casarão passou pela redação de um jornal e anos depois eu soube, de fontes seguras, que o prefeito de uma cidade da região bancou por anos um salário para o cara colocar matérias no jornal.

O outro também usou muito de oportunista. Então confrontei estes dois profissionais usando como quesito a inteligência: um era fraquíssimo e só podia enriquecer com um jabá do tipo ofertado na bandeja. O outro era inteligente e sabia de jornalismo. Só tinha o defeito de usar da sabedoria para tirar vantagens.

Sou obrigado a usar deste enfoque, pois não podemos negar que há corrupção também no nosso meio. Na verdade, nunca fui celebridade, até porque quando tive a oportunidade de ser decidi não sê-lo. Errei? Acho que sim. Me danei e tive portas fechadas e costas dadas, inclusive por parte de alguns colegas. Isso dói? Claro que deixa marcas, mas sou feliz.

Lembro daquela colega, aliás amiga, que quando me exonerei de um jornal ouviu a versão do meu patrão sobre o motivo do meu afastamento e não me consultou. Lembro também do cara demitido diretamente pelo RH da empresa, o que me levou ao pedido de exoneração. E ele saiu dizendo para os colegas, inclusive do sindicato, que eu é que havia demitido ele por uma razão muito simples: ela fazia sombra para mim...

Esse tipo de depoimento mexe na sujeira. Estou me expondo porque não devo nada. Está na hora de escrever sobre isso (Walter Ogama).

quarta-feira, 21 de março de 2012

Como se faz um jornal sem jornalista

Um levantamento de posse do Sindicato dos Jornalistas do Norte do Paraná mostra uma realidade cruel para o profissional formado e regulamentado em uma pequena cidade da região. Existem na localidade oito publicações impressas, uma emissora de rádio, uma emissora de TV por assinatura e uma emissora de TV aberta. Além disso, a cidade conta com assessoria de comunicação na Prefeitura, na Câmara, na Associação Comercial e Empresarial e em uma entidade filantrópica. Aqui não estão incluídas empresas de médio porte para cima que mantém setores de comunicação.

Seria um mercado promissor para editores, redatores, repórteres, repórteres-fotográficos, repórteres cinegrafistas e diagramadores. Mas pasmem: todos estes veículos empregam apenas seis profissionais formados e regulamentados. Cinco deles estão nas assessorias de impresa do Legislativo e do Executivo. Um é da entidade filantrópica. Dos impressos, um é de propriedade de um jornalismo formado e regulamentado, que é o editor e não dispõe de profissionais regulamentados na reportagem, fotografia e diagramação.

Outro jornal impresso é de propriedade de um provisionado. Ele não dispõe de equipe regulamentada e depende de material das assessorias de imprensa para fechar as edições. Outra publicação impressa é de propriedade de um empresário que conseguiu o registro profissional aproveitando-se da brecha aberta pela desobrigatoriedade do diploma. Este empresário também toca a concessão da TV aberta, da TV por assinatura e assina como responsável no informativo da Associação Comercial e Empresarial, além de ser intermediário de um portal que repica notícias captadas de outros sites. Para manter TVs no ar e jornais em circulação este empresário emprega três pessoas não regulamentadas.

A emissora de rádio sobreviva de horários locados. Algumas das locações tem características jornalísticas, mas não há pessoal contratado. Outro jornal impresso utiliza-se de profissionais do poder público para ser fechado. Só um deles é formado em jornalismo e regulamentado.

Se considerarmos que cada veículos teria que dispor de pelo menos uma equipe formada de profissionais regulamentados, essa cidade ofertaria 49 vagas para editores, redatores, repórteres, repórter-fotográfico, repórter de cinegrafia e diagramador. Como nenhum dos impressos é diário, vamos dividir pela metade: pelo menos 25 vagas existiriam nesse mercado.

Nem vamos falar de conteúdo e ética. Não compensa.

terça-feira, 20 de março de 2012

Curtíssimas - Profissional, estagiario e picareta

Querem estagiarios

Vimos num site nacional de empregos na área de jornalismo que os empresários do setor acharam o que sempre procuraram. Nesta terça-feira, dia 20 de março de 2012, das nove ofertas de vagas postadas até por volta das 10 da manhã oito eram para estagiários. É mão de obra barata que em termos de cumprimento de tarefas faz o básico e muito bem feito. O futuro é preocupante.

Uso e abuso

Entendemos que o estágio é muito importante na formação profissional. O ideal seria na condição apenas de observador, tendo direito inclusive de acompanhar equipes de externa. Mas há queixas sobre este modelo e esticar um pouco para o campo da atuação é perigoso. Em Santa Catarina, o estagiário trabalha como qualquer outro jornalista e só não pode assinar matérias. E usa-se e abusa-se: os estagiários são chamados para trabalhar nos plantões de finais de semana e feriados.

Conselho absurdo

Algumas empresas de comunicação, inclusive no Norte do Paraná, usam as brechas da lei para contratarem estagiários de comunicação. Aliás, anos atrás soubemos que a Amepar – Associação dos Municípios do Médio Paranapanema pretendia estruturar um núcleo de comunicação. Mas um secretária de Estado convenceu o presidente da entidade à época a buscar estagiários no Departamento de Comunicação da Universidade Estadual de Londrina. Um desserviço nãos omente ao profissional de comunicação, mas a toda a sociedade.

Vaga anunciada

Recentemente uma grande empresa privada de Cambé anunciou nos classificados de um jornal vaga para estagiário de comunicação. Realmente, é sombrio.

Um desconto

Ainda assim um desconto. O pior está nas empresas de comunicação que contratam pessoas que nada tem a ver com a comunicação e o jornalismo. Muito sombrio e preocupante.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Nenhuma brecha entre a cruz e a espada

A cruz e a espada estão em ambos os lados, redação de jornal e assessoria de imprensa. Tenho refletido muito sobre este assunto. Ingressei no jornalismo em 1981 como redator do então Jornal das Sete, da TV Coroados, na condição de auxiliar do editor Chico Amaro. Daquele tempo eu lembro da greve dos funcionários da Florença, ao lado da emissora. O jornalismo da Coroados não deu uma nota.

Depois fui fazer jornal em Cambé. Era um jornal atrelado à administração municipal e eu, como redator, me sentia um assessor de imprensa. Ainda assim dispunha de espaço para produzir boas reportagens sobre assuntos da comunidade. Era um alívio.

Após passar pela assessoria de comunicação da Universidade Estadual de Londrina fui para a Folha, onde integrei inicialmente a equipe da Editoria Local, que tinha como editor Edilson Leal de Oliveira. Foram 18 anos no jornal e nunca tive a oportunidade de fazer aquela matéria para disputar prêmio.

Aliás, com um ano de Folha, ao ser promovido para a então Editoria Especial do jornal por iniciativa do diretor de jornalismo Walmor Macarini, eu fui alertado por um veterano: caso eu aceitasse a promoção e fosse para a Especial eu iria ser destacado somente para fazer fuleragem. Isto porque, na avaliação do veterano que me fez o alerta, eu era um foca que não tinha status para ser um repórter especial. Teimei e me dei mal. Só fui escalado para fazer fuleragem...

Depois virei redator, editor e coordenador da Tereza Urban, até substitui-la na chefia de redação. Tereza me ensinou muito. Ela não era de meias palavras. Errou, pede desculpas ao leitor. Também lecionei por dois anos na UEL e fui editor-chefe de A Notícia em Santa Catarina. Isso até 2008, quando integrei equipe de político na condição de assessor de comunicação. Agora continuo assessor, mas de prefeitura.

Foram, portanto, 27 anos em redação de jornal. Estou assessor há três anos e poucos meses. Eu que no passado discriminei assessor de imprensa agora sou um. E não é por conformismo: se um profissional pode se manchar atuando em assessoria este mesmo profissional tende a ficar enlameado na redação de um jornal. O cumprimento da ética não está no local onde se atua. Está no caráter de quem atua.

Aliás: me pergunto diariamente: é mais fácil enfrentar diretamente o patrão que pede matéria mentirosa ou o empresário ou político que em troca de certos favores manda o dono do jornal enterrar uma pauta?

Complicado, não?

E na Folha toquei projeto de redução do jornal e da equipe por culpa de uma crise econômica da empresa. O meu próprio sindicato me considerou um sacana por isso. É mole?

(Texto de Walter Ogama)

sexta-feira, 16 de março de 2012

A raiz é muito mais podre do que parece

Segregação e genocídio. É o que esta acontecendo no Brasil. O pior é que os atos que caracterizam tais crimes são praticados por brasileiros contra brasileiros.

Os jornais desta sexta-feira, dia 16 de março de 2012, trazem matérias sobre os números divulgados pelo Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos da População em Situação de Rua e Catadores (CNDDH).

Um dos dados mais alarmantes: de abril de 2011 até a segunda semana de março deste ano 165 moradores de rua foram mortos no Brasil. Isso significa que a cada dois dias um morador de rua foi assassinado.
Matéria da Agência Brasil inclui depoimento da coordenadora do CNDDH, Karina Vieira Alves, que informa: as investigações policiais de 113 destes casos não avançaram e ninguém foi identificado e responsabilizado pelos homicídios.

Além do CNDDH há o registro de denúncias feitas pelo Disque 100, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, que só no ano passado recebeu 453 ligações. São casos de tortura, negligência, violência sexual, discriminação e outros contra sem-tetos.

Desse total 120 registros são de ocorrências no Estado de São Paulo. O Paraná vem em seguida com 55 registros negativos. Em terceiro Minas Gerais e o Distrito Federal com 33 casos cada. Deve ser levado em conta que muitas das ocorrências deixam de ser notificadas, conforme alerta a coordenadora do Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos da População em Situação de Rua e Catadores, Karina Vieira Alves.

O que estimularia a segregação e o genocídio no cidadão comum? A certeza de impunidade? Os corriqueiros escândalos no poder público e na política em geral cujos desfechos são penas mínimas? Os epsódios das novelas da Globo que colocam sempre glórias nos malfeitores?

Na verdade tudo isso contribui. Mas a raiz do mal é a mesma que acabou com a cultura e a noção de certo e errado neste país. Infelizmente o regime militar aniquilou idéias. Trocou a massa crítica da população por coca cola e instigou a maldade. Com maldade não há solidariedade. Pelo contrário, há sertanejo universitário, BBB, A Fazenda, Tereza Cristina e Griselda, som acima do permitido nas ruas, motorista falando ao celular enquanto dirige, meninos enxugando latinhas de cerveja no estacionamento dos supermercados e necessidade de matar.

A cultura, dizimada, faz falta. É ela que dá sobriedade, coerência, bom senso e sabedoria ao ser humano. 

quinta-feira, 15 de março de 2012

Gabriel Garcia Marquez sobre o jornalismo

"Porque o jornalismo é uma paixão insaciável que só se pode digerir e humanizar mediante a confrontação descarnada com a realidade. Quem não sofreu essa servidão que se alimenta dos imprevistos da vida, não pode imaginá-la. Quem não viveu a palpitação sobrenatural da notícia, o orgasmo do furo, a demolição moral do fracasso, não pode sequer conceber o que são. Ninguém que não tenha nascido para isso e esteja disposto a viver só para isso poderia persistir numa profissão tão incompreensível e voraz, cuja obra termina depois de cada notícia, como se fora para sempre, mas que não concede um instante de paz enquanto não torna a começar com mais ardor do que nunca no minuto seguinte."
Gabriel Garcia Marquez

terça-feira, 13 de março de 2012

Curtíssimas - Capas dizem tudo sobre os jornais

Seis por meia dúzia

O ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol ganhou muitas páginas nos jornais desta terça-feira, dia 13 de março de 2012. O Estadão, por exemplo, mancheteia: “Ricardo Teixeira renuncia à direção da CBF após 23 anos”. Há também uma chamada com o título “Glória e corrupção”, sobre o perfil do ex-dirigente. Na ilustração da manchete de capa, a foto do substituto, José Maria Marin, aquele que embolsou no passado a medalha de um vencedor. É o mesmo que tirar pirulito da criança. Se é capaz de fazer isso, a CBF continua suspeitíssima.

Aliás, no futebol...

Bom espaço nas capas para o esporte preferido dos brasileiros. A rescisão de contrato do pesadão Adriano está chamando a atenção dos leitores. E mais para o lado policial a chamada seca desperta a curiosidade sobre as novidades do caso Bruno: “Defesa de Bruno diz que Macarrão matou Eliza”. Brincadeira maldosa: nada a ver com culinária e comida estragada, é sangue mesmo.

Preocupante

Na imprensa local chama atenção a chamada de capa sobre a fuga de 27 presos em Ibiporã. Na Folha de Londrina: “Inquérito apura fuga de 27 presos em Ibiporã”.

Menos amiguinhos

Na mesma Folha de Londrina, a manchete é sobre a Câmara de Vereadores: “MP pede na Justiça exoneração de comissionados”. A linha fina diz: “Ação defende redução de cargos de confiança em equilíbrio aos servidores efetivos do Legislativo londrinense. Casa deve ser notificada hoje e terá 72 horas para se manifestar”. Se levado a sério, significa mais vagas para trabalhadores de fato e menos para os amiguinhos dos políticos. 

segunda-feira, 12 de março de 2012

Situação de risco mostrada com sensacionalismo

A boa equipe de reportagem, quando na cobertura de um fato que já aconteceu, apresenta o relato da ocorrência sem expor indefesos adolescentes a uma situação de risco. Aliás, situação que havia tirado a vida de um colega da turma de adolescentes um dia antes.

Pois aconteceu o contrário com o pessoal da TV Coroados e da RIC TV. Uma trave de futebol de campo, que segundo os respórteres das duas emissoras pesaria cerca de 200 quilos, cai no peito de um menino quando os adolescentes tentavam transportá-lo para diminuir o tamanho do campo.

Isso aconteceu em Cambé, num campo de futebol que pertence à prefeitura. Levado a um hospital de Londrina o menino não resiste e morre. A trave estava com uma das hastes de sustentação quebrada. Para ela ficar de pé alguém colocou uma escora de pedra. Portanto, a situação de risco existia desde o momento em que a haste quebrou e a pedra passou a servir de escora.

Outro erro de quem cuida do campo: meninos de 13, 14 ou 15 anos, mesmo numa turma de meia dúzia a dez, não podem transportar uma armação de aço com cerca de 200 quilos. Alguém responsável por cuidar do local tem que ficar atento para isso.

Mas como ninguém impediu os meninos mexeram na trave que já estava perigosa. Imagine num jogo de futebol de adultos? O goleiro pula para pegar a bola e bate na trave. A escora de pedra sai do local e a armação despenca sobre o jogador. Trágico.

Para quem sabia que a trave estava escorada com uma pedra a morte do menino de 14 anos foi quase que anunciada. O risco existia e o campo, desde a constatação do problema, teria que ser interditado até que o problema fosse corrigido.

Então foram as equipes da Coroados e da RIC TV cobrir o acidente. Alguém das duas equipes teve a infeliz idéia de chamar os meninos que brincavam com a vítima na hora que a trave caiu. E esse alguém pediu para os meninos simularem como eles tentavam transportar a trave. Eram cerca de seis adolescentes levantando a armação de 200 quilos. Com risco de a mesma cair de novo sobre os pés de algum deles. E mesmo não caindo, risco de ocasionar ferimentos nas mãos ou problemas na coluna.

Assim a imagem foi ao ar nas duas emissoras. Uma tragédia por culpa de um descuido ilustrada com imagens tramadas colocando em evidência o descuido e a despreocupação de quem preparou a simulação. Ainda bem que o Conselho Tutelar e o Conselho Municipal da Criança e do Adolescente, na maioria dos casos, serve para atender outros interesses e se calam diante de aberrações. Quanto ao Ministério Público, não é em todos os lugares que ele funciona.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Opinião - Insisto! 8 de março é um dia de luta!

(Texto de Walter Ogama extraído de http://walterogama.blogspot.com e repetido em http://batalhadoras.blogspot.com)

Vejo na programação do mês da mulher de Cambé uma palestra com um tema que me causa arrepios: “A importância da mulher no lar”. O que é isso? Algo para deixar o marido sempre bem alimentado e gordinho? Receita para deixar a casa limpa e aromatizada de segunda à segunda aproveitando os horários de folga do trabalho e das atenções com os outros afazeres domésticos? Ou um truque para lavar e passar a roupa entre o preparo do almoço e a compra no supermercado?

Peco por não ter ido à palestra, no dia 8 de março em um centro municipal de educação infantil, apesar das perguntas que me vieram à cabeça. Mas se pequei nisso tenho o direito de pelo menos manifestar que o título, além de arrepiar, provoca indignação.

Também por não ter ido ao evento desconheço que tipo de público esteve presente. Reconheço que estas ausências não me credenciam a ser crítico, mas torço que a exposição tenha tido enfoque diferente daqueles que me vieram à cabeça. Ainda assim, se me fosse dada a possibilidade de opinar, eu diria que ficaria melhor um título assim: “A importância da mulher na família”. Isso daria mais amplitude ao tema e o leque permitiria inclusive a interação da família na comunidade e, consequentemente, da comunidade com o conjunto da sociedade nas questões políticas, culturais, sociais e econômicas.

Preocupa-me a equivocada interpretação que as autoridades, principalmente, tem do Dia Internacional da Mulher, 8 de março. É uma data promulgada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para redefinir pautas, avaliar conquistas e pontuar itens que afligem as mulheres e, por tabela, toda a humanidade. Porque as mulheres já são maioria na População Economicamente Ativa (PEA), são no Brasil mais da metade dos brasileiros que votam nas eleições, são comandantes de órgãos públicos federais importantes e assumem postos elevados na iniciativa privada.

Ainda assim há muitas desigualdades, sobretudo no chão da fábrica. A própria cota obrigatória dos partidos de candidatas mulheres é questionada, pois muitas delas apenas vão para a disputa de cargos públicos para cumprir uma lei. Então, nem nas sociedades mais avançadas o Dia Internacional da Mulher é uma data para ser comemorada. E os órgãos públicos, alguns comandados por mulheres, anunciam a programação como uma comemoração.

Equívoco ou proposital? Assim eu quase concluo que o tema da palestra que mencionei acima foi levado ao pé da letra. Ou seja, além de participar da renda familiar, cuidar das crianças, fazer compras, cozinha, lavar louça, passar roupa e limpar a casa, a mulher tem que ser uma excelente dona de casa.

Lembro que a instituição e promulgação do Dia Internacional da Mulher teve entre as motivações o incêndio numa indústria têxtil que empregava cerca de 600 operários, a maioria mulheres de 13 a 23 anos que cumpriam jornada de trabalho extensa. Cerca de 120 delas perderam a vida no acidente.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Enfim notícias sobre a PEC do Diploma de Jornalista

O site da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) atualiza informações sobre o andamento da PEC 033/2009, que devolve a obrigatoriedade do diploma de curso superior para o exercício da profissão de jornalista.

O acordo com os líderes dos partidos no Senado era de aprovação em segundo turno da Proposta de Emenda Constitucional na semana seguinte ao carnaval. Portanto, na sessão ordinária deliberativa do dia 29 de fevereiro.

Mas o envio de uma série de medidas provisórias do governo federal ao Congresso Nacional tirou a matéria da pauta da sessão e o pior, a situação está indefinida. “A FENAJ e os Sindicatos de Jornalistas prosseguem com a mobilização em Brasília para agilizar a tramitação da matéria e buscarão alternativas para o cumprimento do acordo de lideranças para a votação da proposta neste início de 2012”, informa a entidade em seu site.

O texto reforça a explicação sobre o trancamento da pauta devido a necessidade de votação das medidas provisórias. Mas para o presidente da Fenaj, Celso Schrõder, tudo é uma questão de boa vontade: “A tramitação de medidas provisórias, assim como de outras matérias legislativas, é passível de acordos e adiamentos, o que propicia espaços ou janelas de votação de outros projetos e propostas”.

Ele acrescenta que, por isso, vigora a necessidade de intensificar a mobilização e a luta para que o acordo firmado com os líderes partidários no final do ano passado, em seguida à aprovação em primeiro turno da PEC, seja cumprido.

De acordo com a entidade, persiste o trabalho de dirigentes da própria Fenaj e dos sindicatos de jornalistas de revezamento semanal no acompanhamento dos trabalhos do Congresso Nacional e contatos com líderes partidários e com a Frente Parlamentar em Defesa do Diploma, “E, na perspectiva de fortalecer o movimento, a campanha de envio de e-mails aos parlamentares, de organização de manifestações, debates e coleta de apoios ao abaixo-assinado em defesa da PEC 033/2009 continua”.

Clique no destacado para acessar o abaixo-assinado

segunda-feira, 5 de março de 2012

Preocupante. Nada ainda sobre a PEC do diploma

Estranho o silêncio em torno da votação em segundo turno da Proposta de Emenda Constitucional 033/2009, que devolve a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista. Pelas informações divulgadas desde o final do ano passado, havia um acordo entre as entidades que lutam pelo diploma e os líderes partidários no Senado para que a votação ocorresse na semana após o carnaval.

De acordo com os procedimentos do Senado, a sessão deliberativa ocorreria no dia 29 de fevereiro, quarta-feira. A expectativa, portanto, era de que a PEC 033/2009 fosse incluída na pauta daquela sessão. Pelo resumo do Senado a matéria ficou de fora.

Infelizmente, era mais ou menos previsível que isso ocorresse devido a quantidade de outros projetos que dependiam de uma sessão ordinária deliberativa. Mesmo impacientes quanto à necessidade de garantir, passo a passo, a devolução da obrigatoriedade do diploma de jornalista, havia, enfim, uma espécie de compreensão e até segurança: demorando ou não a PEC seria aprovada no segundo turno.

O que cause estranheza agora é a falta de informações. Houve um novo acordo de data para a matéria entrar na pauta do Senado? Nem isso nós sabemos. Até este momento, 14h29 de segunda-feira, dia 5 de março de 2012, nada foi divulgado a respeito. Mais tempo para aqueles que não são jornalistas e querem obter o registro no Ministério do Trabalho serem contemplados. Mais preocupação para os profissionais que investiram no ensino superior para obter um diploma que, no momento, é apenas um pedaço de papel.

Ou estaríamos, todos os profissionais de jornalismo diplomados e registrados, sendo vítimas de uma manipulação? 

sexta-feira, 2 de março de 2012

A mão, no fogo, pode sofrer queimadura

Não me diga, mulher, que você jogou fora o meu diploma de jornalista? Assim começou a briga lá em casa. Certo, eu havia dito que o diploma de jornalista já não valia nada, que o fulano, um pau mandado de político, havia conseguido registro de jornalista no Ministério do Trabalho aproveitando-se da brecha criada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que colocou não só o profissional de jornalismo, mas toda a população brasileira, na mão de um bando de picaretas que se acham jornalistas.

Ela deu de ombros. Replicou que como assistente social haviam reduzido a jornada de trabalho de 40 para 30 horas semanais, mas o empregador também diminuiu o salário dela. Então fiz a tréplica: ponderei que mesmo antes do STF aprovar a desobrigatoriedade do diploma para exercer o jornalismo muitas empresas picaretas contratavam gente sem formação para pagar menos.

Ela deu de ombros novamente. Ensaiou dizer alguma coisa mas brecou. Foi à área de serviço, apanhou uma vassoura e varreu um canto da cozinha onde havia uma migalhinha de pão. Nada mais. Achei isso um desaforo. Principalmente porque sei muito bem o que ela ia dizer. Mais ou menos isso: você com diploma e experiência no jornalismo nem consegue um bom emprego...

Veja que isso é ofensa. Uma insinuação do tipo, você deve ser um péssimo jornalista. A princípio engoli para evitar violência. Levei em conta a Lei Maria da Penha. Mas juro que quase atirei nela uma caneca de água gelada. Recuperada a calma resgatei a lucidez e engavetei a paixão.

Assumi que ela tinhas razão. Quem sou eu além de um operário da comunicação. Atualmente como assessor de imprensa, depois de anos em redação de jornal, engulo sapos. Todos os dias e horas. Produzo sobre isso e aquilo: de reportagens aprofundados sobre temas importantes à reuniões com chá e sorteio de brindes.

E embora vigore ainda muito preconceito em relação ao jornalista que trabalha em assessoria de imprensa, eu, particularmente, trabalho consciente. Seria tão fácil ganhar dinheiro e prestígio nessa condição. Tão fácil quanto seria se estivesse numa redação. Mas contento-me com o meu salário que não paga todas as minhas contas e tem que ser completado com o salário da minha assistente social. Dá raspando.

Sim, engulo sapos. Não só os que saem dos lagos dos patrões. Mas principalmente o de colegas jornalistas que discriminam assessores de imprensa. Como se pudesse colocar a mão no fogo por um monte de profissional de redação (texto de Walter Ogama). 

quinta-feira, 1 de março de 2012

Sem diploma e sem informações sobre ele

O assunto é a Proposta de Emenda Constitucional 033/2009, que devolve a obrigatoriedade do diploma de curso superior para o exercício da profissão de jornalista. Em se tratando de um assunto relacionado aos trabalhadores da comunicação, imagina-se que as informações sobre a tramitação da PEC no Senado sejam abundantes.

Engano! Passa de nove e meia da manhã do dia 1º de março de 2012. A expectativa era de que a matéria entrasse na pauta da sessão deliberativa do dia 29 de fevereiro, pois segundo se anunciou no final do ano passado, a diretoria da Federação Nacional dos Jornalistas havia fechado acordo com os líderes partidários para que a votação em segundo turno ocorresse na primeira semana após o carnaval.

Na quarta-feira, dia 29 de fevereiro, a tecnologia deu o seu calote. Foi impossível checar a pauta da sessão deliberativa pela internet. Era clicar e entrada a mensagem de erro na página. Nos principais portais de jornalismo, inclusive o da Fenaj, nenhuma atualização. As notícias relacionadas à PEC do diploma do jornalista disponibilizadas eram de novembro de 2011.

À noite, novas buscas e nada. Um vácuo na comunicação e especialmente nesse caso e nesses sites jamais a falta de informações poderia ser caracterizada como uma precaução contra eventual insinuação de “jornalismo em causa própria”. Nada na página do Senado e muito menos no site da Fenaj.

Agora, exatamente 9h49 de quinta-feira, dia 1º de março de 2012, vamos a uma nova consulta. Com um equipamento tecnologicamente defasado e uma banda larga duvidável em alguns períodos do dia, gasta-se quatro minutos entrando na busca através do Google. O que aparece é defasado. Ninguém postou nada de novo. Vamos ao site da Fenaj: nada. Agora ao do Senado, onde clicamos na opção dos resultados da sessão deliberativa do dia 29 de fevereiro: pelo que está ali não passou nenhuma PEC 033/2009.

Compensa telefonar para o sindicato de jornalistas mais próximo? Recorremos ao fale conosco do site do Senado? Enviamos um e-mail à Fenaj para perguntar se há novidades em relação ao diploma? Entramos em contato com a coordenação de algum curso de comunicação social mais próximo? Desistimos. Ficamos sem rumo e nem sabemos para onde aprumar.

E os picaretas aproveitam a boa fase. Conseguem registros, montam jornais, local horários em televisão e rádio e negociam espaços publicitários em troca de almoço, café, pacote de arroz, gasolina, lavagem de carro, corte de cabelo, manicure, janta e outras coisas que colocam o jornalismo sério na linha de fundo.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Poucas palavras e muita expectativa

Expectativa! O 29 de fevereiro de 2012 é um dia de luta e reflexão. Se o Senado cumprir sua parte o jornalismo com qualidade e ética ganha mais um ponto. A comunicação feita por gente despreparada, bancada por alguns empresários do ramo, mostra o quanto o diploma é importante. Sim, “ramo”. É isso que a prática do jornalismo sem diploma criou. 

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Quarta pode ser o dia do diploma de jornalista

A quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012, pode ser muito produtiva para a profissão de jornalista. Pelos acordos feitos no início do mês entre a delegação da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) em Brasília com os líderes dos partidos no Senado a votação em segundo turno da Proposta de Emenda Constitucional 033/2009 entra na pauta desta quarta-feira com a chance de ser aprovada com larga margem de votos favoráveis, da mesma forma como ocorreu no ano passado, no primeiro turno.

Mas em política tudo é possível. Lembramos que o compromisso dos senadores foi de votar a matéria imediatamente depois do carnaval. Esperamos que não um pouquinho antes da Páscoa ou do Dia das Mães. E que o carnaval a que se faz referência seja este que se acabou.

A expectativa causa ansiedade. A ansiedade provoca ânsia de vômito. Estamos sem a obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo desde 2009. Uma conversa rápida com pessoas do Sindicato dos Jornalistas do Norte do Paraná, nestes últimos dias, nos dá a idéia dos estragos causados ao bom jornalismo pela desobrigatoriedade do diploma.

Infelizmente, somos obrigados a afirmar que muitos picaretas viraram jornalistas registrados no Ministério do Trabalho, aproveitando a facilidade em se obter o registro. No caso do texto, basta apresentar três matérias publicadas e as demais documentações pessoais. No caso do repórter-fotográfico a obtenção do registro é mais difícil: é preciso uma declaração da entidade sindical.

Após o Senado a PEC do diploma vai à Câmara dos Deputados. Claro, só o referendo do Senado já é um passo importante. Mas cada passo é demorado e enquanto a obrigatoriedade não vira lei a brecha para picareta ser jornalista fica escancarada.

Registramos também a queixa contra as escolas de comunicação. Pela passividade delas, o negócio é ter graduação, fazer pós, prosseguir mestrado, emplacar doutorado e viver de academia. Nem os alunos se manifestam no Norte do Paraná. Que tipo de jornalistas diplomados teremos se continuar assim?

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

O jornalismo e a luz cegante dos holofotes

O editor de texto sinaliza que cegante é uma palavra que não existe. Com a permissão dos doutores das letras, insistimos: cegante mesmo. Começamos com José Simão, o do Buemba! Buemba!

Ele tira uma nesta sexta-feira de dois repórteres de tevê durante a cobertura do carnaval. Aliás, tira de boa: “...E o repórter no sambódromo pra periguete: ‘O que você faz pra ter esse bundão?’. ‘Eu malho e é de família, minha família inteira tem bunda grande, é genérico.’ Genérico? Essa é nova: bundão genérico! Rarará!”

Na outra ele diz: “E outro repórter: “O impressionante é todos os componentes cantando a mesma música”. Evidente, já imaginou se cada um cantasse uma música diferente? Rarará!”

Mas tem coisa séria. Estadão e Folhão trazem o acordo do jornalista Paulo Henrique Amorim com o repórter Heraldo Pereira na Justiça. Amorim terá que se retratar publicamente e pagar R$ 30 mil para uma instituição de caridade por ter se referido a Heraldo como um “negro de alma branca”.

Outra séria: a jornalista francesa Edith Bouvier, 31 anos, gravemente ferida durante ataque em Homs, na Síria, quando dois outros jornalistas foram mortos, pede em vídeo postado na internet para ser resgatada. Ela, repórter do jornal Le Fígaro, pede cessar-fogo para permitir a entrada de uma ambulância ou de um veículo em bom estado para levá-la ao Líbano.

E envolvendo a Justiça outra vez: Vários jornais latino-americanos republicaram a coluna de Emílio Palácio, editor de opinião do jornal equatoriano El Universo, que foi objeto de ação do presidente do país, Rafael Correa. O jornalista foi condenado a três anos de prisão e o jornal deve pagar multa de US$ 40 milhões. Palácio pediu asilo nos Estados Unidos.

E outras coisas mais: falta de checagem de informação está criando uma enorme confusão nos textos nacionais e regionais sobre a morte da menina Grazielly na Praia de Guaratuba, em Bertioga, Estado de São Paulo. Os leitores menos avisados confundem com a Guaratuba paranaense. Jornais de circulação nacional, mesmo com sede em São Paulo, como é o caso do Estadão e do Folhão, devem ser explícitos na localização. Nem sempre está atenção está sendo dada.

E os jornais paranaenses, que revisam os textos enviados pela agências de notícias, tem a obrigação de acrescentar a localização. Na verdade uma das praias de Bertioga é denominada Guaratuba porque um rio, o Guaratuba, desemboca no mar aberto, formando uma ponta.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O jornalismo ganha as páginas dos jornais

O jornalismo está nos jornais dos últimos dias com mais espaço. Mas em nenhum momento, exceto a matéria de uma promoção interna da Folha de S.Paulo, o conteúdo leva à suposição de um jornalismo em causa própria. Pelo contrário. Os acontecimentos é que exigem matérias.

A morte da jornalista americana Marie Colvin, do Sunday Times, e do fotógrafo francês Remi Ochlik estão em todas as publicações. Ambos cobriam os conflitos na Síria e eram experientes como correspondentes de guerra. Marie usava um tapa-olho após sofrer ferimento em 2001, no Sri Lanka.

Merece certa menção: na página A14 – Mundo da Folha de S.Paulo, edição desta quinta, 23 de fevereiro de 2012, a manchete é: “Sem informações, mães se desesperam em busca dos filhos”. A matéria é sequência do acidente ferroviário em Buenos Aires com 49 mortes e cerca de 600 feridos. Parece euforismo, mas é a realidade.

O Estado de S.Paulo traz matéria nesta quinta sobre o processo no Pará contra o jornalista Lúcio Flávio Pinto, que chamou um empresário de “pirata fundiário”. A notícia é que o jornalista não vai recorrer no Superior Tribunal de Justiça de sentença indenizatória.

No sábado, 18 de fevereiro, os jornais trouxeram a morte na Síria do repórter do New York Times, Anthony Shadid. Ele estava doente e a linha fina diz: “Asmático, Anthony Shadid, de 43 anos, caminhou até a morte atrás de cavalos, aos quais era alérgico, para manter disfarce de morador local”.

Na segunda-feira, dia 20, o Estado trouxe reportagem sobre reforma do Washington Post. É bem aquela idéia: usar o meio digital para fortalecer o convencional. Bem ao contrários daquilo que foi feito anos atrás pelos jornais de porte médio do Brasil: o nicho é a internet então vamos avacalhar no impresso.

Também nesta quinta, no Estado, um artigo do jornalista e professor da ECA-USP e da ESPM, Eugênio Bucci, em homenagem a Alberto Dines. Na abertura, Eugênio menciona Dines, em O Papel do Jornal: “Dizer que jornal é trabalho de equipe é dizer muito pouco. Jornal bem-sucedido é trabalho de uma orquestra de personalidades e idéias diferentes ou mesmo antagônicas, porém complementares, harmonizadas e equilibradas por normas ou metas comuns”.

E na Folha de S.Paulo desta quinta, página A9, o fato absurdo noticiado com certa alfinetada: a Empresa Brasil de Comunicação, que é estatal e quase ninguém assiste, vai investir R$ 543,21 mil anuais em uma equipe de correspondentes em diferentes países do planeta. É gasto do dinheiro público para fazer papel de uma agência de notícias. Este não é o papel da EBC.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Cometa um crime e culpe os meios de comunicação

Quem é na ordem do dia Ana Lúcia Assad? Mais do que a advogada de defesa que tentou ganhar uma causa provocando uma autoridade judiciária, a juíza, Ana Lúcia é uma profissional brasileira que decidiu caçar bruxas onde elas não estão.

Vejamos como ela tentou defender o seu cliente: a mídia, a polícia e até mesmo Eloá Pimentel (vítima fatal do acusado) tiveram corresponsabilidade pelo crime praticado por Lindemberg Alves. Assim, da nossa parte, teremos que fatalmente rever Marshall McLuhan: o meio não é apenas a mensagem; é a execução, o fato em si, a ocorrência.

Simulemos: Eloá telefonou para os meios de comunicação para avisar que forjaria para si própria uma situação de cárcere privado. Nesse contato pediu muitos holofotes e flashs de câmera digitais pipocando sem parar.

Para não se sentir solitária pediu a companhia de uma amiga. Mas considerou que seria tão enfadonho que incluiu no grupo dois amigos delas. Também telefonou para a polícia e avisou: vou ficar em cárcere privado por tantas horas; vocês precisam estourar a porta do local para dar um desfecho interessante.

Como vítima Eloá escolheu Lindemberg Alves, a quem entregou uma arma e o encheu de irracionalidade para fazer o que passasse pela cabeça. Foi mais ou menos assim: se você perder o controle não recue; siga em frente, faça bom uso das quatro balas no tambor desse treco.

Perceberam como a defensora tem razão? O acusado é a vítima. E a vítima é tão culpada quanto a polícia e os meios de comunicação. Não é a primeira vez que esse tipo de jogada acontece. Recentemente um ministro da Dilma acusou a imprensa porque irregularidades cometidas em sua pasta foram divulgadas. E nos anais da história brasileira os meios políticos, principalmente, esquecem que o jornalismo brasileiro contribuiu com grandes movimentos nacionais, como a campanha das Diretas Já e do Impeachment de Collor.

Admitimos que, como em tantas outras profissões e atividades, inclusive entre os advogados e os juízes, há no jornalismo aqueles que ganham dinheiro trabalhando o sensacionalismo. E não podemos negar que no caso Eloá-Lindemberg houve por parte de alguns meios exageros na cobertura do caso. Mas generalizar nunca!

O discurso da defensora de Lindemberg, felizmente, de nada valeu. A estratégia foi do começo ao fim equivocada. Ao sugerir à juíza que voltasse a estudar, ao culpar a polícia e a imprensa pelo crime e ao colocar dúvidas na conduta de uma vítima de 15 anos de idade a defensora mexeu com a comoção popular e feriu com palavras muitos brasileiros.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

A capa é a cara do leitor que o jornal busca

Jornais servem a algum tipo de interesse. Para evitar que este tipo de afirmação cause constrangimento, vamos ao que interessa. Estamos nos referindo à faixa dos leitores que cada publicação atende. Imaginemos que exista na estrutura da empresa de comunicação um setor que realize, mesmo que precariamente, a estatística dos assinantes e, se possível, também da venda avulsa.

Assim se chegaria a algum resultado. Algo como: tantos porcento são da classe A, tantos da B e outros da C. Um bocado é profissional liberal. Outro bocado é do setor empresarial. Um tantinho é intelectual. Um restolhinho é da classe lá de baixa e não se sabe porque teimam em gastar dinheiro com jornal.
Ironia à parte. Este levantamento precário serve para embasar ações em diferentes departamentos da empresa de comunicação: as vendas avulsas, as assinaturas, o editorial e também a logística de distribuição que passa a ser mais direcionada.

Claro, o nosso enfoque é editorial e não vamos nos meter a uma análise apurada. Pelo contrário, o que faremos é uma brincadeira produtiva trabalhando as capas dos dois maiores jornais do país. O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo, edições desta quarta-feira, dia 15 de fevereiro de 2012.

A manchete de O Estado de S.Paulo é “Obama quer ouvir Dilma sobre Irâ”. A pergunta é a seguinte: que tipo de leitor não-assinante se interessaria numa banca de jornais em comprar o jornal? À esquerda, em duas colunas com título em duas linhas, “Pressão por Serra irrita pré-candidatos tucanos”. Estamos fora de São Paulo andando pelas ruas do Paraná, Santa Catarina, Amazonas, Acre, Rio Grande do Sul ou outros estados. Quem compraria o Estadão para saber do Serra?

À direita, em uma coluna, também abaixo da manchete, “Grécia chega a seu quarto ano de recessão”. Chama leitura? Proporciona venda nas bancas? Estimula um novo assinante? E aparece, cortada pela dobra, a foto da Maria Vitória, cuja irmãzinha, Maria Clara, é fruto de uma seleção genética em laboratório.

Na Folha de S.Paulo a manchete é “Empresa liga Teixeira a jogo suspeito da seleção”. O tema lida com a possibilidade de corrupção, mas da forma como o título foi feito, cabe mais para pessoas que gostam de futebol. Quem, afinal, é o Teixeira? Na esquerda, em uma coluna e título de quatro linhas, “Tucanos devem esperar decusão de José Serra, afirma Alckmin. Com certeza os correligionários de um ou outro vão ser leitores. Abaixo da dobra quase nada atrai um comprador avulso ou um novo assinante.

Por falar nisso a Folha de Londrina, que não gigante como o Estadão e o Folhão, acerta com assuntos regionais. A manchete no meio da página, acima da dobra, diz: “Liminar suspende aumento de tarifas do Detran”. Isso interessa um bocado de paranaenses. Acima da manchete, com foto e legenda, a chamada de reportagem sobre o estado de conservação de imóveis históricos. A matéria foi produzida como repercussão ao incêndio no Teatro Ouro Verde. São chamadas que levam os leitores a abrir o jornal.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

PEC do Diploma pode ser votada no dia 29

É questão de necessidade, portanto a urgência é urgentíssima, conforme o que dizem no Congresso Nacional: urgência urgentíssima. Mas, por enquanto, o que existe de concreto é uma negociação: a votação da Proposta de Emenda Constitucional 33/2009, que devolve a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista, pode entrar na pauta do Senado no dia 29 de fevereiro de 2012, em segunda votação.

A possibilidade é fruto de reunião entre os senadores e diretores da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), na semana passada. Para que a matéria passe pelo Senado, são necessários 49 votos favoráveis. A data foi negociada porque, segundo o presidente da Fenaj, Celso Schrõder, é importante que a votação seja com casa cheia, embora a entidade sustente que há um número superior de senadores favoráveis à proposta.

A entidade pede forte mobilização da categoria e de entidades apoiadoras. Em outro trecho do texto postado na internet, Carlos Schrõeder diz: “Nosso objetivo é, imediatamente após a votação no Senado, visitarmos o presidente da Câmara dos Deputados para agilizar a apreciação da matéria”.

Outros temas constaram da pauta da reunião da semana passada, como a do PL 1078/11, que trata da federalização de crimes contra jornalistas, e o PL 2960/11, sobre o Piso Nacional dos Jornalistas. A federalização significa que os crimes contra jornalistas passam a ser investigados pela Polícia Federal e, consequentemente, o julgamento seja de competência da Justiça Federal.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Perde a cultura, a arte e a acessibilidade a elas

Folha de Londrina e Jornal de Londrina acertaram na arte da capa desta segunda-feira, dia 13 de fevereiro de 2012. Mais do que isso. Conseguiram através da soma dos elementos básicos do jornalismo impresso, que são o texto, a foto, o título e a diagramação, transmitir aos leitores o sentimento de pesar pela perda de uma parte da cidade. As capas dos dois jornais estão de luto, porque Londrina perdeu parte da sua história.

O incêndio no Teatro Ouro Verde não queimou apenas capítulos importantes da vida cultural e artística da cidade. Não foi somente a arquitetura de João Batista Vilanova Artigas que virou cinzas. Aliás, por dentro muito do projeto original já havia sido perdido por mudanças modernistas nunca feitas com o objetivo de preservação histórica.

O que se perdeu é a acessibilidade à cultura e à arte que o Teatro Ouro Verde, a partir do momento que foi assumida pelo Estado para fazer parte da Universidade Estadual de Londrina, sempre desempenhou. A história do Festival Internacional de Londrina, o Filo, tem muito a ver com o Ouro Verde. Assim como era o demolido Colossinho do Filadélfia, onde hoje é erguido um enorme edifício residencial.

Estamos falando da origem do Filo, quando grupos amadores de todo o Brasil e posteriormente de outros países traziam espectadores de diferentes classes sociais para as apresentações que ali ocorriam. Na música popular brasileira estamos falando do Projeto Pixinguinha, lá pelos anos de 1980, que trouxe grandes nomes do mundo musical brasileiro a um preço permissível para gente rica, pobres, intelectuais e tantos outros.

Estamos falando de democracia. O Teatro Ouro Verde acolhia a todos. Quem ousa assistir a um grande espetáculo de teatro ou de música do circuito comercial no Marista? Além do preço elevado da cultura e da arte, o Marista constrange. O público que freqüenta o local inibe quem não está habituado a freqüentá-lo.

Por isso o luto. O que se queimou pode ser refeito e com exatidão milimétrica. O uso de materiais alternativos engana e muito bem. A modernidade pode ser aplicada na reconstrução sem constrangimento, desde que não se agrida o projeto de Artigas. Novos espetáculos poderão ser realizados. O Ouro Verde, se poupado da intenção de enobrecer equivocadamente a cultura e a arte, poderá ter novamente o seu papel de democratizador dessas manifestações.

O que se lamenta é que alguém descuidou. Sim, foi um acidente. Mas da forma como estava o Ouro Verde era um barril de pólvora. Obras eram feira, mas previa projetos para melhorar a segurança do local principalmente em relação ao fogo? Esperamos que sim. Que a comissão de engenheiros seja isenta. E se houve descuido que se aponte o culpado.

Em fins de 2011 tive a oportunidade de assistir a um espetáculo com apresentações de entidades como a APAE de Londrina. Vi pais de alunos e professores chorando de emoção, pois seus filhos, além de exibirem seus talentos, ocupavam o palco de um importante teatro da cidade. Que isso, inclusive, possa ser recuperado.

Pela abordagem da Folha de Londrina e do Jornal de Londrina estamos cientes de que a imprensa londrinense, de um jeito lúcido e não elitista, farão parte da grande campanha para recuperar não só o prédio queimado.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

O ensino e a educação sempre dão boa leitura

Texto ruim com informações importantes dá leitura sim senhor, quando o assunto interessa. Estamos falando da reportagem publicada pela Folha de Londrina na edição de quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012. O tema mereceu a manchete da capa da edição. Um justo merecimento.

Na página 8 do primeiro caderno, a matéria com o texto abre e uma retranca de apoio, ilustrada com infografia, ultrapassou em duas linhas a dobra. O título: “Mais de 220 mil crianças e jovens fora da escola”. Embora sem verbo, a forma como o título foi composto atrai leitura. A linha fina complementa: “Número representa 9,5% da população entre 4 e 17 anos no Paraná; em todo o País são 3,8 milhões nessa situação”.

A reportagem foi baseada no estudo “De Olho nas Metas 2011”, feito pelo movimento “Todos pela Educação”. Algumas informações contidas no texto, assinado pelo repórter Rubens Chueire Jr.: são exatos 227.803 crianças e adolescentes de 4 a 17 anos de idade fora das salas de aula no Paraná; o total da população nessa faixa etária no Estado é de 2.934.523 pessoas; o Paraná está em sétimo lugar no ranking negativo de público em idade escolar que estão fora dos estabelecimentos de ensino.

Com base no relatório sobre o estudo, a reportagem informa: “Para alcançar a educação que o Brasil precisa, foram definidas cinco metas específicas que englobam a garantia da permanência da criança na escola: alfabetização plena; qualidade do aprendizado; conclusão do ensino médio e investimento. Estas metas devem ser atingidas até 2022”.

Pois bem. O volume de informações, mesmo tendo como base um estudo pronto e faltando, portanto, uma localização de casos, supre deficiências redacionais. A retranca de apoio trata da dificuldade de se ensinar e consequentemente aprender matemática. O Estado de S.Paulo, por exemplo, usou este gancho na repercussão do estudo (“Em apenas 35 cidades do País mais da metade dos alunos sabe matemática” – título da matéria na página A16).

Mas um dia depois, na edição desta quinta-feira, dia 9 de fevereiro, o jornal destacou a manchete com o título “Desastre na educação”. O início do artigo: “Com 3,8 milhões de crianças e jovens fora da escola e padrões de ensino muito ruins, o Brasil terá muita dificuldade para se manter entre as maiores e mais prósperas economias, diante de competidores empenhados em investir seriamente em boa educação, ciência e tecnologia.”

A Gazeta do Povo passou batido e tomara que não seja pelo fato do levantamento ser assinado por uma entidade. Preferimos que tenha ocorrido uma falha de pauta, e não uma tendenciosidade chapa branca.
Por isso a matéria da Folha merece ser lida. E se possível, deve ser repercutida. O assunto exige e sempre terá leitura.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

A comunicação e o escambau andam juntos

Tem uma briga em Salvador, na Bahia. Polícia que é Polícia enfrenta Polícia do Exército. Corre um conflito no Brasil: o trabalhador vigilante faz greve e prejudica o trabalhador que não é vigilante. Discussões acaloradas no BBB? Alguns portais da internet usam e abusam e fazem do besteirol sensação. E o Pereirão e a Tereza Cristina? Que pena aquilo, é uma lição de como fazer maldade. Imaginem o autor e o diretor da novela nos corredores da Globo, pressionados por outros autores e diretores, tendo os tapetes puxados e sendo vítimas de boatos? É isso. Novelas, agora, reproduzem situações específicas de sacanagem como se isso acontecesse em todos os lares brasileiros. Exceto, é claro, nas salas condicionadas de algumas repartições públicas, câmaras de diferentes esferas, escritórios jurídicos e muito mais. Muito mesmo. Esses locais são santos. Pura coincidência a Dilma ter sido obrigada a derrubar o nono ministro em tão curto período de governo. Isso acontece mesmo, povo! Não é motivo de estresse...

Nessa misturada toda a comunicação às vezes se confunde. E o jornalismo vai atrás. O que, afinal de contas, o brasileiro quer ler, escutar, assistir ou conferir? Um programa de TV a cabo com apresentadoras gordinhas ensinando a preparar pratos caseiros? Não é má idéia. Algumas são, além de talentosas, muito sensuais apesar das sobras na cintura e das papadas no queixo. Ou a opção seria apelar, também na TV por assinatura, para as mesmices dos seriados policiais? Heróis de barro nunca se deixam derrotar. Acaba um capítulo hoje com eles saindo de vencedores e amanhã nova missão. Os heróis apanham, mas vencem e desliga-se a TV com a certeza de que eles estarão firmes e fortes no próximo capítulo.

Novelas da Globo são festivais da maldade. Do tipo, aprenda com o Pereirão como amarrar uma víbora. Ou onde comprar uma cobra para colocar no carro da filha da sua inimiga. Fácil. Basta contratar um segurança musculoso que ele providencia tudo. Autores e diretores de novela, pelo visto, conhecem intimamente seguranças musculosos que não só compram, mas também vendem cobras venenosas. E se alguém estiver desempregado no meio dessa crise de emprego que os números oficiais negam, a solução está ali, no vídeo. Em novela o emprego aparece de uma hora para outra. Deve ser assim que ocorre em alguns escritórios de contratação de artistas de novelas. Mas não podemos, de forma alguma, ignorar a força empregatícia das campanhas eleitorais. Basta apoiar e negociar que o emprego aparece, colocando para fora do páreo uma multidão de aprovados em concursos públicos.

E o jornalismo, onde é que esse troço leva a culpa por tantas aberrações. Coberturas medíocres são inimigos mortais. Às vezes a culpa é da falta de investimento da empresa de comunicação. Profissionais baratos e tecnologia defasada dão caca. O caráter, quando falta, é da mesma forma letal. Assim como é nociva a preguiça cultural de quem faz jornalismo. Enfim, a cultura está em baixa e sem rumo. A comunicação tem a obrigação de pressionar para que se ache o caminho (texto de Walter Ogama).

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Os altos e baixos das capas de segunda-feira

As capas da segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012, estão de desanimar. Ainda assim a Gazeta do Povo, de um passado suspeito por causa da chapa branca que era escancarada em cada letra, ponto e vírgula, no parece mais consistente entre os impressos paranaenses mais expressivos.

A Gazeta traz manchete sobre o crescimento de casos de suspensão de carteiras de habilitação no Paraná. A capa chama para matéria na página 4 desta segunda. Abaixo da dobra há uma chamada em duas colunas, com título em duas linhas: “Deputados gastam menos, mas ganham mais verbas”.

A matéria, na página 13, trata dos gastos dos 54 deputados estaduais paranaenses em 2011, somente com a verba de ressarcimento. Aliás, são 54 deputados estaduais, mas a verba de ressarcimento vai para 56 parlamentares, porque uma lei estadual estende o benefício para os deputados que ocupam secretarias no Governo do Estado. É uma matéria que deveria ocupar a manchete de capa.

O Jornal de Londrina, apesar de uma circulação restrita, chama na capa, como manchete, matéria sobre a queda de rendimento de cotistas na Universidade Estadual de Londrina. São 14,58 pontos porcentuais entre 2005 e 2010 entre os estudantes de escolas públicas que ingressaram na UEL pelo sistema de cotas.

A equipe do JL não obteve da instituição de ensino superior uma explicação para essa queda de rendimento. O assunto, porém, merece ser mexido e cabe prosseguir com a pauta. É hora de alguém se explicar! Transformar o país na república dos benefícios e das cotas sem dar estrutura aos beneficiados e aos cotistas para se valerem desse excedente.

A edição da Folha de Londrina desta segunda-feira não merece comentários. Para não deixar em branco, basta mencionar que não dá para ser lido. 

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Egito, o jeito mais covarde de fazer revanche

As primeiras informações que varreram o mundo davam conta de uma briga entre torcidas de futebol. Não passou de um dia e as equipes séries de jornalismo já relacionavam o massacre do Estádio de Futebol Port Said, no Egito, após a partida entre o time local Al-Masry e o Al-Ahly, a uma revanche gratuita de um governo destemperado politicamente por ser fraco.

A morte de 74 torcedores foi, conforme mostra reportagem publicada na edição desta sexta-feira, dia 3 de fevereiro, em O Estado de S.Paulo, foi orquestrada por forças de segurança da junta militar comandada pelo ditador Hosni Mubarak. Outras 400 pessoas ficaram feridas.

“No dia 27 de novembro, no calor do ‘segundo tempo’ da revolução egípcia, quando milhares de manifestantes ocupavam a Praça Tahrir e arredores para exigir a saída dos militares do poder, um grupo de jovens chamou a atenção. Era a torcida do Al-Ahly, o maior time do Egito, que veio participar do movimento”, escreve o analista Lourival Sant’Anna.

O analista prossegue: “Eles não vestiam o uniforme do time, mas cantavam e pulavam abraçados, exatamente como fazem nos estádios”. O texto diz ainda: “Mais tarde, os torcedores do Al-Ahly ficaram de frente para os seus arquirrivais do Zamalek, também do Cairo, e celebraram juntos, numa cena que comoveu os manifestantes na Praça Tahrir”.

O analista acrescenta que na noite de quarta-feira, “os torcedores do Al-Ahly tiveram seu castigo no Estádio Port Said. Depois de verem seu time derrotado por 3 a 1 pelo inexpressivo time da casa, Al-Masry, foram atacados por homens com facas e armas de fogo que a polícia deixou entrar no estádio, assistindo impassível ao massacre. A mesma polícia que foi o primeiro alvo da revolução, lançada em 25 de janeiro de 2011, Dia da Polícia, em protesto contra a morte de Klaled Said, de 28 anos, abordado por policiais em uma lan house de Alexandria, em junho de 2010.”

(trechos extraídos de análise assinada por Lourival Sant’Anna em O Estado de S.Paulo)

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Claro que a escola de comunicação me serviu

O primeiro impacto foi na disciplina de elementos de cinema e teatro. Aula numa das salas do Centro de Ciências Humanas, daquelas com jeito de teatro. Aquilo era diferente para alguém que passou anos de estudos em estruturas convencionais no antigo Grupo Escolar Nilo Peçanha e depois se submeteu aos professores do Marcelino Champagnat, do Vicente Rijo, do Ipolon e do Colégio São Paulo.

Chega o professor Robério e apresenta-se como primo do Caetano Veloso. Magérrimo, senta-se sobre a mesa e cruza as pernas de um jeito esquisito. Pega a caneta com delicadeza, pressionando-o com o polegar e indicador. Na platéia, cerca de quarenta jovens boquiabertos. Metade era da turma de relações públicas e metade de jornalismo.

A princípio, daquela gente, quem era homem era homem. Mulher era mulher. A discussão de gêneros ainda era precária. Por isso o professor impactou, mas a única reação da galera foi ficar calada.

Só depois, no intervalo, alguns bochichos ganharam força. Primeiro pelo fato de ter um professor primo do Caetano e da Bethânia. Segundo pelos exercícios práticos que ex-colegiais que nem podiam se levantar de suas carteiras durante as aulas tiveram que fazer.

Um dia o professor pediu a todos que trouxessem lençóis na aula seguinte. Pedido atendido. O exercício foi o seguinte: quatro colegas seguravam o lençol e um se deitava sobre ele. Os quatros abanavam o lençol e arremessavam o contado para cima. Se o arremessado se segurava no lençol era acusado de não confiar na equipe. Mas, sem segurar, alguns eram lançados até lá em cima, perto do teto.

Em outra disciplina, um grupo de alunos ficavam sentados de costas, formando uma fila. Os outros alunos tinham que passar pelo meio, pressionados pelos costas dos colegas. O objetivo era para ter a sensação do nascimento ao simular a passagem apertada pela vagina.

Certa vez trataram da comunicação das plantas. E na sala de aula a professora disse que o arroz, mesmo após feito o cozimento, permanecia viva. E só morria quando ia ser comida. Deu remorso. Por um bom tempo a maioria dos alunos almoçou e jantou pão.

Depois trouxeram Marshall McLuhan. E esse infernizou no cafezinho, nos corredores, banheiros masculino e feminino com o seu O Meio é a Mensagem. O professor pediu para a turma ser separada em dois grupos: um pró McLuhan e outro contra.

Aleatoriamente. No grupo a favor tinha quem era contra e no grupo contra tinha quem era a favor. Num debate aquilo virou uma farofa: alunos do grupo contrário defendiam o autor e alunos do grupo favorável se manifestavam contra, tornando a discussão confusa e gerando brigas entre os participantes.

Na disciplina de televisão o laboratório dispunha de um monitor e duas câmeras precárias. O professor ensinou como era possível simular com as duas câmeras um disco voador rondando os céus do campus da UEL. Uma câmera girando no céu e outra filmando um recorte de papel parecido com um disco. No monitor preto e branco parecia uma mosca silenciosa enchendo as paciências dos telespectadores.

Mais dos que os livros que tivemos que ler e resumir, estas atipicidades é que realmente ensinaram. Deu conteúdo porque gerou indagações e debates, além de indignações. Um colega criou o maior caso com uma professora porque se recusou a participar da brincadeira do lenço atrás. Ele teria que repetir uma colega pela sala dizendo: quem tem põe, quem não tem tira...”

Quase no fim do curso apareceu um tal de Romélio, também professor. Um dia ele me chamou no corredor e disse que seria obrigado a levar um texto que eu havia escrito para a reitoria, pois o conteúdo era comunista. Eu, que de comunismo só tinha conhecimento teórico, fiquei assustado. Logo em seguida uma professora pediu numa prova um comentário. Fiz. A avaliação dela foi de que prova não era para ficar papagaiando.

Claro que valeu. Onde é que um estudante teria pela frente tantos fatos inusitados? Tudo isso, na época do acontecimento, apenas criaram piadas. Mas depois, no pinçar das lembranças, a gente avalia que ensinaram se não de uma forma, de outra que não estávamos habituados (texto de Walter Ogama).

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

As capas dos jornais no início da semana

“Órgãos públicos não respondem pedidos de informação” chama a Gazeta do Povo em sua manchete de capa na edição desta segunda-feira, dia 30 de janeiro. Na linha fina: “A menos de quatro meses para a Lei de Acesso a Informações Públicas entrar em vigor, o Estado brasileiro se mostra despreparado para atender ao cidadão. A Gazeta do Povo protocolou pedidos de informações em dez instituições e somente uma – o Supremo Tribunal Federal (STF) – forneceu orientações que levaram aos dados solicitados. Segundo pesquisa divulgada pela Controladoria-Geral da União (CGU), 70,9% dos órgãos públicos ainda não sabem como dar acesso a informações. A Lei 12.527 entra em vigor em 18 de maio”. Boa produção. Tema oportuno. Boa estratégia de checar a situação.

Na Folha de Folha, a manchete de capa desta segunda-feira é “Guarda municipal age como polícias”. O chapéu usado acima do título é “Combate ao crime”. Na linha fina: Reflexo do sucateamento das forças Militar e Civil, efetivo das guardas municipais no Paraná cresceu 36% de 2004 a 2009 e atuação já ultrapassa limite constitucional”. Boa reportagem, de tema que interessa a população e puxa as orelhas do Estado. O levantamento é estadual e a produção é exclusiva da Folha.

No Jornal de Londrina: “Prefeitura amontoa livros e lixo em barracão sem vigias”. Usa como chapéu a palavra “Descaso”. Na linha fina: “A reportagem do JL passou 50 minutos fotografando e caminhando pelo barracão do IBC, onde a prefeitura armazena desde lixo reciclável a computadores, luzes de iluminação pública, penus velhos, carteiras e materiais escolares. Livros novos misturam-se ao lixo. As portas estavam abertas ou apenas amarradas. Nenhum funcionário ou segurança foi encontrado no local.” Também produção própria. Uma denúncia séria contra a administração municipal. No estilo reportagem vivência, em cima de um fato que foi testemunhado.

Em O Estado de S.Paulo: “Sete em cada 10 projetos de habitação ficam só no papel”. Na linha fina: “Contratos analisados pela CGU tratam apenas de moradias populares e foram firmados entre 2004 e 2011. É também uma demonstração do descaso do Estado em relação ao contribuinte, inclusive o que não são beneficiários das moradias populares, mas bancam o sistema.

O início da semana, portanto, é de boa produções no jornalismo impresso. As manchetes são de assuntos nacionais, regionais ou locais que interferem direta ou indiretamente na vida do cidadão.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Até leitor acha que pode ensinar jornalismo

Entendemos perfeitamente o sentido que o autor de carta publicada na Folha de Londrina (página 2, Opinião do Leitor, edição de sexta-feira, 27 de janeiro de 2012, Célio Camilo – Educador ambiental e professor de Londrina) deu ao verbo vender em seu texto. Ou estaríamos equivocados?

Na verdade, gera interpretações dúbias. Às vezes tem-se a impressão que o autor manifesta posição de um segmento. E não é possível saber se o grupo é pró ou contra. Outras vezes entende-se a carta como um protesto contra o londrinense. E não se sabe de onde ele é, apesar da carta identificá-lo como londrinense.

Mas carta é carta. E o editor da seção, em plena conformidade com o que a sua função exige, a publica. O direito de manifestação de defensores de qualquer cor, credo, gosto, preferência, gênero, estilo e tamanho é fato.

Mas nenhum jornal sério vende informação ou imagem. Jornal que se pauta na ética em sua linha editorial mostra o que acontece de bom ou ruim na sociedade. Estamos acompanhando diariamente a Folha de Londrina e o temos como um jornal sério. Não fosse isso dispensaríamos a análise do seu conteúdo editorial e nem faríamos algumas críticas como as que temos cotidianamente feito, quando preciso.

Ele diz: “Seria muito oportuno que a imprensa vendesse outra imagem da nossa cidade. Até porque necessitamos de lobby para que empresas venham se instalar por aqui...” Errado. Lobby é coisa de safados. Lobby é maracutaia, privilegiamento, chantagem e pressão com custo elevado para o dinheiro que nós, contribuintes, recolhemos para o Estado. É esse dinheiro que vai para os lobistas.

A cidade tem que ser mostrada do jeito que ela é, com suas perfeições e capenguices. E se algum jornal mostra os defeitos é para cobrar os políticos a providenciarem com urgência os acertos. Claro que o autor da carta não se refere à Folha de Londrina, mas como jornal a Folha também é prejudicada . Então, como profissionais do jornalismo que somos, dispensamos professores que tentam ensinar a postura ética editorial de um jeito totalmente errado. Imagem não se vende. É o próprio fato que a escancara. 

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O ranking da ONG e o Brasil do jornalismo restrito

A ONG Repórteres Sem Fronteira acaba de divulgar o ranking dos países em relação à segurança pessoal dos profissionais de jornalismo, com base em pesquisa de 18 associações e 150 profissionais de imprensa de todo o mundo. O Brasil ocupa o 99º lugar na lista relativa à liberdade de imprensa no ano de 2011. Cabe ter em conta que essa ONG não leva em consideração as razões políticas que interferem no exercício do jornalismo. Como dissemos acima, o critério é a segurança de quem trabalha no setor.

Reportagem publicada por O Estado de S.Paulo (página A9, Nacional), assinada por Gabriel Manzano, lembra que no ano passado o Brasil registrou cinco mortes de profissionais do jornalismo, conforme dados da Associação Nacional de Jornais (ANJ) e da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP). Mas no ranking de Repórteres Sem Fronteira são consideradas apenas três mortes, pois em dois casos a ONG considerou insatisfatórias as evidências de que as vítimas tiveram as mortes causadas por razões profissionais.

O texto mostra ainda que o Brasil é o país do continente com a pior classificação. Em seguida aparece o Chile, em 83%. A Argentina, cujo governo instala um flagrante regime de controle da mídia através de benefícios aos apoiadores e boicotes legais aos opositores, ocupa contraditoriamente uma posição que caberia a um país sem manchas na relação com os meios de comunicação.

O texto de O Estado de S.Paulo menciona que a violência e a desproteção a jornalistas, principalmente no Norte e Nordeste do País, e a morte – em serviço – de três profissionais em 2011, fizeram o Brasil cair 41 posições de um ano a outro.

Diríamos que não é apenas isso. Ou melhor, que há outras formas de violência que interferem no bom desempenho do jornalismo. E sem exageramos incluímos a desobrigatoriedade do diploma ao lado da acirrada disputa editorial, que coloca pessoas inexperientes e descuidadas em missões complicadas.
A pressão das empresas de comunicação sobre os seus trabalhadores pode ser somada à pressão publicitária, que cala, obriga a omissões e, por fim, consente com situações absurdas de equívocos editoriais.

Dentre as pressões dos empregadores, uma das causas da insegurança do jornalista são os contratos mantidos nos recursos humanos que obrigam os jornalistas a jornadas estressantes com produções simultâneas para os impressos, as televisões, as emissoras de rádio e os portais de internet mantidos pelas grandes redes.

Esta situação brasileira não consta de nenhum levantamento feito por qualquer associação de imprensa, inclusive a ANJ.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Capas, acertos e ufanismos dos impressos diários

Entre as capas da Folha de Londrina e da Gazeta do Povo, nesta quarta-feira, 25 de janeiro, fico com o Norte do Paraná. Aliás, escolho o Interior, com o “r” carregado e sotaque mais de paulista.

A Gazeta trouxe de manchete a volta dos aposentados ao mercado de trabalho. Mas o título é ufanista: “Sem mão de obra, empresas contratam mais idosos”. Está dado o recado: idoso só tem oportunidade de trabalho porque está faltando mão de obra. Caso contrário o aposentado teria que sobreviver com a renda a quem tem direito mas é paga mensalmente pelo governo com uma defasagem assustadora.

A Gazeta também traz na primeira dobra do estander a foto de Lula, todo senhor de si, atrás de Dilma. Dilma, na frente, está desfocada. Lula, gargalhando, está nítido. A intenção do fotógrafo (Sérgio Lima, da Folhapress, agência da Folha de S.Paulo) é clara: ele é quem dá as cartas; ela obedece. Será?

A Folha de Londrina acerta porque trata em sua manchete de uma realidade que raramente a própria mídia trata com propriedade, ao estampar chamadas ufanistas de tudo vai muito bem por aqui. O título é: Juro alto desacelera geração de emprego”. Abaixo do título a linha fina chamando para a matéria que está no caderno de Economia e acima uma foto em seis colunas. Toda a meia página acima da dobra é ocupada pela manchete. A Folha sai do comum e da mesmice e deixa Lula e Dilma de fora da capa. Todas as demais chamadas são de matérias produzidas pela própria equipe do jornal. Isso é maturidade. Isso é elogiável. Isso é avanço, pessoal da Folha de Londrina. Parabéns!

Quanto aos jornais de fora, o Estadão traz Lula e Dilma abaixo da manchete, com foto e texto. O título: “Volta em grande estilo”. A intenção foi outra, mas quem lê acha que o jornal é lulista. Oras, a Dilma é a bola da vez!

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Ah, o revisor! Um custo benefício desprezado

Nos tempos do paste-up, quando as tiras de texto eram impressas nas IBM Composer na largura das colunas e depois recortadas e coladas nas páginas, as matérias chegavam às mesas dos editores em laudas. Na verdade, folhas de papel jornal feitas com as sobras dos rolos utilizados na gráfica em formato mais ou menos ofício. Nem sempre o corte era alinhado.

Havia uma regra a ser criteriosamente obedecida. A primeira lauda, que servia como capa da matéria, era do título. Sim, o repórter era obrigado a entregar a matéria com a sugestão de título. As outras laudas, sempre numeradas, eram para o texto. E no meio cada foto com a sua respectiva lauda contendo a legenda. O conjunto de folhas era dobrado ao meio e colocado na mesa do copy-desk.

A função desse profissional era de verificar de gramática à estruturação do texto. O copy-desk às vezes fazia um exercício de colagem nas suas laudas: pegava o terceiro parágrafo e colocava no lugar do segundo, cortava o pezinho da matéria com régua e mandava aquela informação para o começo, rabiscava aqui, acrescentava lá e assim por diante.

Só depois o material era mandado para o editor, que lia, se preciso reformulava, às vezes mandava fazer de novo, outras refazia por conta. As matérias desciam para o pessoal das Composer e de lá, já no formato das colunas, desciam para a revisão, onde uma grande equipe tratava de conferir tudo novamente: digitação, gramática, concordância, caixa alta ou baixa, vírgula e etecetera.

Sim, todos os setores eram importantes. Mas ninguém daqueles tempos têm dúvidas sobre a importância de um revisor na redação dos impressos. Normalmente a função era exercida pelo pessoal dos cursos de letras da Universidade Estadual de Londrina. Gente criteriosa, que às vezes telefonava para a redação para trocar idéias inclusive sobre a clareza da informação. E mais do que ficar brabo com isso, o jornalista acabava agradecendo.

Um dia acharam que o custo-benefício do revisor era desequilibrado. Que o profissional da revisão pouco fazia. E o revisor foi um dos primeiros a ser excluído do jornal na medida em que o papel encarecia, a administração da empresa jornalística errava e os lucros diminuíram.

Na capa do caderno de Economia da Folha um erro de digitalização no título: “Industrização faz PIB de Ibiporã crescer 181%”. Isso mesmo: “Industrização”. Provavelemte os olhos cansados do editor, depois de ler dezenas de matérias, não perceberam. O erro é da empresa. Um revisor bem pago, pelo menos para revisar os títulos, não custa uma fortuna e garante muita qualidade.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

José e Beto, pai e filho, na comparação política

O bom jornalismo está na edição desta segunda-feira, dia 23 de janeiro de 2012, da Folha de Londrina. O jornal aproveitou o gancho que o governador Beto Richa deixou recentemente, durante consolidação de empreendimento da iniciativa privada em Ponta Grossa. Dito de uma forma grosseira, mas direta, o governador justificou que os grandes grupos empresariais preferem o Sul do Estado porque o Norte não tem rodovias e mão de obra qualificada.

Essa infeliz justificativa havia ficado em aberto sem que ninguém questionasse o governador. Somente o informativo de uma emissora de rádio, a Cidade de Cambé, da Rede Jovem Pan, alfinetou com ironia: “O Beto Richa deve, no mínimo, telefonar para o governador do Norte do Paraná e sugerir a ele que construa mais estradas e aperfeiçoe a estrutura para a formação de mão de obra”.

Sim, porque com uma justificativa que além de indelicada transfere unicamente para a região norte a culpa pela falta de estrutura viária e profissional, sendo ele o governador, este cidadão curitibano que nasceu em Londrina errou feio.

A Folha publicou a matéria de cobertura do evento em Ponta Grossa e sentiu a repercussão negativa da justificativa de Beto Richa. No modelo de um jornalismo que não deixa os leitores sem respostas, o jornal chamou um veterano do jornalismo londrinense, Widson Schwartz, que resgatou fases importantes da política londrinense.

E o jornalista foi na veia. Vejam o título da matéria publicada na página 4, de Política, da Folha de Londrina: “De Richa a Richa: governos apostam tudo em Curitiba”. A linha fina diz mais: “Londrina atraia mais indústrias na gestão do prefeito José Richa, quando teve início a concentração de investimento na capital”.

O chapéu (palavras usadas sobre o título) diz: “Tal pai...” Entre o chapéu e o título as fotos de José (pai) e Beto (filho). As legendas: “O então prefeito José Richa: Londrina batia Curitiba por 60 a 27 indústrias e gerava dez mil empregos”; “Governador Beto Richa: sem infraestrutura no interior, ‘indústrias optam pela Região Metropolitana de Curitiba e os Campos Gerais’”.

O jornalista analise outras fases, de outros governadores. Uma retranca de apoio trata sobre a prometida duplicação da BR-369. Outra do colapso do Badep. A página é fechada com retranca de apoio assinada por jornalista da Folha em Curitiba, sobre a confirmação, pelo governador, de uma empresa de informática em Londrina. Na página anterior, a entrevista de Beto Richa enfatiza mais os planos políticos do partido do governador.