terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Poucas palavras e muita expectativa

Expectativa! O 29 de fevereiro de 2012 é um dia de luta e reflexão. Se o Senado cumprir sua parte o jornalismo com qualidade e ética ganha mais um ponto. A comunicação feita por gente despreparada, bancada por alguns empresários do ramo, mostra o quanto o diploma é importante. Sim, “ramo”. É isso que a prática do jornalismo sem diploma criou. 

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Quarta pode ser o dia do diploma de jornalista

A quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012, pode ser muito produtiva para a profissão de jornalista. Pelos acordos feitos no início do mês entre a delegação da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) em Brasília com os líderes dos partidos no Senado a votação em segundo turno da Proposta de Emenda Constitucional 033/2009 entra na pauta desta quarta-feira com a chance de ser aprovada com larga margem de votos favoráveis, da mesma forma como ocorreu no ano passado, no primeiro turno.

Mas em política tudo é possível. Lembramos que o compromisso dos senadores foi de votar a matéria imediatamente depois do carnaval. Esperamos que não um pouquinho antes da Páscoa ou do Dia das Mães. E que o carnaval a que se faz referência seja este que se acabou.

A expectativa causa ansiedade. A ansiedade provoca ânsia de vômito. Estamos sem a obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo desde 2009. Uma conversa rápida com pessoas do Sindicato dos Jornalistas do Norte do Paraná, nestes últimos dias, nos dá a idéia dos estragos causados ao bom jornalismo pela desobrigatoriedade do diploma.

Infelizmente, somos obrigados a afirmar que muitos picaretas viraram jornalistas registrados no Ministério do Trabalho, aproveitando a facilidade em se obter o registro. No caso do texto, basta apresentar três matérias publicadas e as demais documentações pessoais. No caso do repórter-fotográfico a obtenção do registro é mais difícil: é preciso uma declaração da entidade sindical.

Após o Senado a PEC do diploma vai à Câmara dos Deputados. Claro, só o referendo do Senado já é um passo importante. Mas cada passo é demorado e enquanto a obrigatoriedade não vira lei a brecha para picareta ser jornalista fica escancarada.

Registramos também a queixa contra as escolas de comunicação. Pela passividade delas, o negócio é ter graduação, fazer pós, prosseguir mestrado, emplacar doutorado e viver de academia. Nem os alunos se manifestam no Norte do Paraná. Que tipo de jornalistas diplomados teremos se continuar assim?

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

O jornalismo e a luz cegante dos holofotes

O editor de texto sinaliza que cegante é uma palavra que não existe. Com a permissão dos doutores das letras, insistimos: cegante mesmo. Começamos com José Simão, o do Buemba! Buemba!

Ele tira uma nesta sexta-feira de dois repórteres de tevê durante a cobertura do carnaval. Aliás, tira de boa: “...E o repórter no sambódromo pra periguete: ‘O que você faz pra ter esse bundão?’. ‘Eu malho e é de família, minha família inteira tem bunda grande, é genérico.’ Genérico? Essa é nova: bundão genérico! Rarará!”

Na outra ele diz: “E outro repórter: “O impressionante é todos os componentes cantando a mesma música”. Evidente, já imaginou se cada um cantasse uma música diferente? Rarará!”

Mas tem coisa séria. Estadão e Folhão trazem o acordo do jornalista Paulo Henrique Amorim com o repórter Heraldo Pereira na Justiça. Amorim terá que se retratar publicamente e pagar R$ 30 mil para uma instituição de caridade por ter se referido a Heraldo como um “negro de alma branca”.

Outra séria: a jornalista francesa Edith Bouvier, 31 anos, gravemente ferida durante ataque em Homs, na Síria, quando dois outros jornalistas foram mortos, pede em vídeo postado na internet para ser resgatada. Ela, repórter do jornal Le Fígaro, pede cessar-fogo para permitir a entrada de uma ambulância ou de um veículo em bom estado para levá-la ao Líbano.

E envolvendo a Justiça outra vez: Vários jornais latino-americanos republicaram a coluna de Emílio Palácio, editor de opinião do jornal equatoriano El Universo, que foi objeto de ação do presidente do país, Rafael Correa. O jornalista foi condenado a três anos de prisão e o jornal deve pagar multa de US$ 40 milhões. Palácio pediu asilo nos Estados Unidos.

E outras coisas mais: falta de checagem de informação está criando uma enorme confusão nos textos nacionais e regionais sobre a morte da menina Grazielly na Praia de Guaratuba, em Bertioga, Estado de São Paulo. Os leitores menos avisados confundem com a Guaratuba paranaense. Jornais de circulação nacional, mesmo com sede em São Paulo, como é o caso do Estadão e do Folhão, devem ser explícitos na localização. Nem sempre está atenção está sendo dada.

E os jornais paranaenses, que revisam os textos enviados pela agências de notícias, tem a obrigação de acrescentar a localização. Na verdade uma das praias de Bertioga é denominada Guaratuba porque um rio, o Guaratuba, desemboca no mar aberto, formando uma ponta.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O jornalismo ganha as páginas dos jornais

O jornalismo está nos jornais dos últimos dias com mais espaço. Mas em nenhum momento, exceto a matéria de uma promoção interna da Folha de S.Paulo, o conteúdo leva à suposição de um jornalismo em causa própria. Pelo contrário. Os acontecimentos é que exigem matérias.

A morte da jornalista americana Marie Colvin, do Sunday Times, e do fotógrafo francês Remi Ochlik estão em todas as publicações. Ambos cobriam os conflitos na Síria e eram experientes como correspondentes de guerra. Marie usava um tapa-olho após sofrer ferimento em 2001, no Sri Lanka.

Merece certa menção: na página A14 – Mundo da Folha de S.Paulo, edição desta quinta, 23 de fevereiro de 2012, a manchete é: “Sem informações, mães se desesperam em busca dos filhos”. A matéria é sequência do acidente ferroviário em Buenos Aires com 49 mortes e cerca de 600 feridos. Parece euforismo, mas é a realidade.

O Estado de S.Paulo traz matéria nesta quinta sobre o processo no Pará contra o jornalista Lúcio Flávio Pinto, que chamou um empresário de “pirata fundiário”. A notícia é que o jornalista não vai recorrer no Superior Tribunal de Justiça de sentença indenizatória.

No sábado, 18 de fevereiro, os jornais trouxeram a morte na Síria do repórter do New York Times, Anthony Shadid. Ele estava doente e a linha fina diz: “Asmático, Anthony Shadid, de 43 anos, caminhou até a morte atrás de cavalos, aos quais era alérgico, para manter disfarce de morador local”.

Na segunda-feira, dia 20, o Estado trouxe reportagem sobre reforma do Washington Post. É bem aquela idéia: usar o meio digital para fortalecer o convencional. Bem ao contrários daquilo que foi feito anos atrás pelos jornais de porte médio do Brasil: o nicho é a internet então vamos avacalhar no impresso.

Também nesta quinta, no Estado, um artigo do jornalista e professor da ECA-USP e da ESPM, Eugênio Bucci, em homenagem a Alberto Dines. Na abertura, Eugênio menciona Dines, em O Papel do Jornal: “Dizer que jornal é trabalho de equipe é dizer muito pouco. Jornal bem-sucedido é trabalho de uma orquestra de personalidades e idéias diferentes ou mesmo antagônicas, porém complementares, harmonizadas e equilibradas por normas ou metas comuns”.

E na Folha de S.Paulo desta quinta, página A9, o fato absurdo noticiado com certa alfinetada: a Empresa Brasil de Comunicação, que é estatal e quase ninguém assiste, vai investir R$ 543,21 mil anuais em uma equipe de correspondentes em diferentes países do planeta. É gasto do dinheiro público para fazer papel de uma agência de notícias. Este não é o papel da EBC.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Cometa um crime e culpe os meios de comunicação

Quem é na ordem do dia Ana Lúcia Assad? Mais do que a advogada de defesa que tentou ganhar uma causa provocando uma autoridade judiciária, a juíza, Ana Lúcia é uma profissional brasileira que decidiu caçar bruxas onde elas não estão.

Vejamos como ela tentou defender o seu cliente: a mídia, a polícia e até mesmo Eloá Pimentel (vítima fatal do acusado) tiveram corresponsabilidade pelo crime praticado por Lindemberg Alves. Assim, da nossa parte, teremos que fatalmente rever Marshall McLuhan: o meio não é apenas a mensagem; é a execução, o fato em si, a ocorrência.

Simulemos: Eloá telefonou para os meios de comunicação para avisar que forjaria para si própria uma situação de cárcere privado. Nesse contato pediu muitos holofotes e flashs de câmera digitais pipocando sem parar.

Para não se sentir solitária pediu a companhia de uma amiga. Mas considerou que seria tão enfadonho que incluiu no grupo dois amigos delas. Também telefonou para a polícia e avisou: vou ficar em cárcere privado por tantas horas; vocês precisam estourar a porta do local para dar um desfecho interessante.

Como vítima Eloá escolheu Lindemberg Alves, a quem entregou uma arma e o encheu de irracionalidade para fazer o que passasse pela cabeça. Foi mais ou menos assim: se você perder o controle não recue; siga em frente, faça bom uso das quatro balas no tambor desse treco.

Perceberam como a defensora tem razão? O acusado é a vítima. E a vítima é tão culpada quanto a polícia e os meios de comunicação. Não é a primeira vez que esse tipo de jogada acontece. Recentemente um ministro da Dilma acusou a imprensa porque irregularidades cometidas em sua pasta foram divulgadas. E nos anais da história brasileira os meios políticos, principalmente, esquecem que o jornalismo brasileiro contribuiu com grandes movimentos nacionais, como a campanha das Diretas Já e do Impeachment de Collor.

Admitimos que, como em tantas outras profissões e atividades, inclusive entre os advogados e os juízes, há no jornalismo aqueles que ganham dinheiro trabalhando o sensacionalismo. E não podemos negar que no caso Eloá-Lindemberg houve por parte de alguns meios exageros na cobertura do caso. Mas generalizar nunca!

O discurso da defensora de Lindemberg, felizmente, de nada valeu. A estratégia foi do começo ao fim equivocada. Ao sugerir à juíza que voltasse a estudar, ao culpar a polícia e a imprensa pelo crime e ao colocar dúvidas na conduta de uma vítima de 15 anos de idade a defensora mexeu com a comoção popular e feriu com palavras muitos brasileiros.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

A capa é a cara do leitor que o jornal busca

Jornais servem a algum tipo de interesse. Para evitar que este tipo de afirmação cause constrangimento, vamos ao que interessa. Estamos nos referindo à faixa dos leitores que cada publicação atende. Imaginemos que exista na estrutura da empresa de comunicação um setor que realize, mesmo que precariamente, a estatística dos assinantes e, se possível, também da venda avulsa.

Assim se chegaria a algum resultado. Algo como: tantos porcento são da classe A, tantos da B e outros da C. Um bocado é profissional liberal. Outro bocado é do setor empresarial. Um tantinho é intelectual. Um restolhinho é da classe lá de baixa e não se sabe porque teimam em gastar dinheiro com jornal.
Ironia à parte. Este levantamento precário serve para embasar ações em diferentes departamentos da empresa de comunicação: as vendas avulsas, as assinaturas, o editorial e também a logística de distribuição que passa a ser mais direcionada.

Claro, o nosso enfoque é editorial e não vamos nos meter a uma análise apurada. Pelo contrário, o que faremos é uma brincadeira produtiva trabalhando as capas dos dois maiores jornais do país. O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo, edições desta quarta-feira, dia 15 de fevereiro de 2012.

A manchete de O Estado de S.Paulo é “Obama quer ouvir Dilma sobre Irâ”. A pergunta é a seguinte: que tipo de leitor não-assinante se interessaria numa banca de jornais em comprar o jornal? À esquerda, em duas colunas com título em duas linhas, “Pressão por Serra irrita pré-candidatos tucanos”. Estamos fora de São Paulo andando pelas ruas do Paraná, Santa Catarina, Amazonas, Acre, Rio Grande do Sul ou outros estados. Quem compraria o Estadão para saber do Serra?

À direita, em uma coluna, também abaixo da manchete, “Grécia chega a seu quarto ano de recessão”. Chama leitura? Proporciona venda nas bancas? Estimula um novo assinante? E aparece, cortada pela dobra, a foto da Maria Vitória, cuja irmãzinha, Maria Clara, é fruto de uma seleção genética em laboratório.

Na Folha de S.Paulo a manchete é “Empresa liga Teixeira a jogo suspeito da seleção”. O tema lida com a possibilidade de corrupção, mas da forma como o título foi feito, cabe mais para pessoas que gostam de futebol. Quem, afinal, é o Teixeira? Na esquerda, em uma coluna e título de quatro linhas, “Tucanos devem esperar decusão de José Serra, afirma Alckmin. Com certeza os correligionários de um ou outro vão ser leitores. Abaixo da dobra quase nada atrai um comprador avulso ou um novo assinante.

Por falar nisso a Folha de Londrina, que não gigante como o Estadão e o Folhão, acerta com assuntos regionais. A manchete no meio da página, acima da dobra, diz: “Liminar suspende aumento de tarifas do Detran”. Isso interessa um bocado de paranaenses. Acima da manchete, com foto e legenda, a chamada de reportagem sobre o estado de conservação de imóveis históricos. A matéria foi produzida como repercussão ao incêndio no Teatro Ouro Verde. São chamadas que levam os leitores a abrir o jornal.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

PEC do Diploma pode ser votada no dia 29

É questão de necessidade, portanto a urgência é urgentíssima, conforme o que dizem no Congresso Nacional: urgência urgentíssima. Mas, por enquanto, o que existe de concreto é uma negociação: a votação da Proposta de Emenda Constitucional 33/2009, que devolve a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista, pode entrar na pauta do Senado no dia 29 de fevereiro de 2012, em segunda votação.

A possibilidade é fruto de reunião entre os senadores e diretores da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), na semana passada. Para que a matéria passe pelo Senado, são necessários 49 votos favoráveis. A data foi negociada porque, segundo o presidente da Fenaj, Celso Schrõder, é importante que a votação seja com casa cheia, embora a entidade sustente que há um número superior de senadores favoráveis à proposta.

A entidade pede forte mobilização da categoria e de entidades apoiadoras. Em outro trecho do texto postado na internet, Carlos Schrõeder diz: “Nosso objetivo é, imediatamente após a votação no Senado, visitarmos o presidente da Câmara dos Deputados para agilizar a apreciação da matéria”.

Outros temas constaram da pauta da reunião da semana passada, como a do PL 1078/11, que trata da federalização de crimes contra jornalistas, e o PL 2960/11, sobre o Piso Nacional dos Jornalistas. A federalização significa que os crimes contra jornalistas passam a ser investigados pela Polícia Federal e, consequentemente, o julgamento seja de competência da Justiça Federal.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Perde a cultura, a arte e a acessibilidade a elas

Folha de Londrina e Jornal de Londrina acertaram na arte da capa desta segunda-feira, dia 13 de fevereiro de 2012. Mais do que isso. Conseguiram através da soma dos elementos básicos do jornalismo impresso, que são o texto, a foto, o título e a diagramação, transmitir aos leitores o sentimento de pesar pela perda de uma parte da cidade. As capas dos dois jornais estão de luto, porque Londrina perdeu parte da sua história.

O incêndio no Teatro Ouro Verde não queimou apenas capítulos importantes da vida cultural e artística da cidade. Não foi somente a arquitetura de João Batista Vilanova Artigas que virou cinzas. Aliás, por dentro muito do projeto original já havia sido perdido por mudanças modernistas nunca feitas com o objetivo de preservação histórica.

O que se perdeu é a acessibilidade à cultura e à arte que o Teatro Ouro Verde, a partir do momento que foi assumida pelo Estado para fazer parte da Universidade Estadual de Londrina, sempre desempenhou. A história do Festival Internacional de Londrina, o Filo, tem muito a ver com o Ouro Verde. Assim como era o demolido Colossinho do Filadélfia, onde hoje é erguido um enorme edifício residencial.

Estamos falando da origem do Filo, quando grupos amadores de todo o Brasil e posteriormente de outros países traziam espectadores de diferentes classes sociais para as apresentações que ali ocorriam. Na música popular brasileira estamos falando do Projeto Pixinguinha, lá pelos anos de 1980, que trouxe grandes nomes do mundo musical brasileiro a um preço permissível para gente rica, pobres, intelectuais e tantos outros.

Estamos falando de democracia. O Teatro Ouro Verde acolhia a todos. Quem ousa assistir a um grande espetáculo de teatro ou de música do circuito comercial no Marista? Além do preço elevado da cultura e da arte, o Marista constrange. O público que freqüenta o local inibe quem não está habituado a freqüentá-lo.

Por isso o luto. O que se queimou pode ser refeito e com exatidão milimétrica. O uso de materiais alternativos engana e muito bem. A modernidade pode ser aplicada na reconstrução sem constrangimento, desde que não se agrida o projeto de Artigas. Novos espetáculos poderão ser realizados. O Ouro Verde, se poupado da intenção de enobrecer equivocadamente a cultura e a arte, poderá ter novamente o seu papel de democratizador dessas manifestações.

O que se lamenta é que alguém descuidou. Sim, foi um acidente. Mas da forma como estava o Ouro Verde era um barril de pólvora. Obras eram feira, mas previa projetos para melhorar a segurança do local principalmente em relação ao fogo? Esperamos que sim. Que a comissão de engenheiros seja isenta. E se houve descuido que se aponte o culpado.

Em fins de 2011 tive a oportunidade de assistir a um espetáculo com apresentações de entidades como a APAE de Londrina. Vi pais de alunos e professores chorando de emoção, pois seus filhos, além de exibirem seus talentos, ocupavam o palco de um importante teatro da cidade. Que isso, inclusive, possa ser recuperado.

Pela abordagem da Folha de Londrina e do Jornal de Londrina estamos cientes de que a imprensa londrinense, de um jeito lúcido e não elitista, farão parte da grande campanha para recuperar não só o prédio queimado.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

O ensino e a educação sempre dão boa leitura

Texto ruim com informações importantes dá leitura sim senhor, quando o assunto interessa. Estamos falando da reportagem publicada pela Folha de Londrina na edição de quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012. O tema mereceu a manchete da capa da edição. Um justo merecimento.

Na página 8 do primeiro caderno, a matéria com o texto abre e uma retranca de apoio, ilustrada com infografia, ultrapassou em duas linhas a dobra. O título: “Mais de 220 mil crianças e jovens fora da escola”. Embora sem verbo, a forma como o título foi composto atrai leitura. A linha fina complementa: “Número representa 9,5% da população entre 4 e 17 anos no Paraná; em todo o País são 3,8 milhões nessa situação”.

A reportagem foi baseada no estudo “De Olho nas Metas 2011”, feito pelo movimento “Todos pela Educação”. Algumas informações contidas no texto, assinado pelo repórter Rubens Chueire Jr.: são exatos 227.803 crianças e adolescentes de 4 a 17 anos de idade fora das salas de aula no Paraná; o total da população nessa faixa etária no Estado é de 2.934.523 pessoas; o Paraná está em sétimo lugar no ranking negativo de público em idade escolar que estão fora dos estabelecimentos de ensino.

Com base no relatório sobre o estudo, a reportagem informa: “Para alcançar a educação que o Brasil precisa, foram definidas cinco metas específicas que englobam a garantia da permanência da criança na escola: alfabetização plena; qualidade do aprendizado; conclusão do ensino médio e investimento. Estas metas devem ser atingidas até 2022”.

Pois bem. O volume de informações, mesmo tendo como base um estudo pronto e faltando, portanto, uma localização de casos, supre deficiências redacionais. A retranca de apoio trata da dificuldade de se ensinar e consequentemente aprender matemática. O Estado de S.Paulo, por exemplo, usou este gancho na repercussão do estudo (“Em apenas 35 cidades do País mais da metade dos alunos sabe matemática” – título da matéria na página A16).

Mas um dia depois, na edição desta quinta-feira, dia 9 de fevereiro, o jornal destacou a manchete com o título “Desastre na educação”. O início do artigo: “Com 3,8 milhões de crianças e jovens fora da escola e padrões de ensino muito ruins, o Brasil terá muita dificuldade para se manter entre as maiores e mais prósperas economias, diante de competidores empenhados em investir seriamente em boa educação, ciência e tecnologia.”

A Gazeta do Povo passou batido e tomara que não seja pelo fato do levantamento ser assinado por uma entidade. Preferimos que tenha ocorrido uma falha de pauta, e não uma tendenciosidade chapa branca.
Por isso a matéria da Folha merece ser lida. E se possível, deve ser repercutida. O assunto exige e sempre terá leitura.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

A comunicação e o escambau andam juntos

Tem uma briga em Salvador, na Bahia. Polícia que é Polícia enfrenta Polícia do Exército. Corre um conflito no Brasil: o trabalhador vigilante faz greve e prejudica o trabalhador que não é vigilante. Discussões acaloradas no BBB? Alguns portais da internet usam e abusam e fazem do besteirol sensação. E o Pereirão e a Tereza Cristina? Que pena aquilo, é uma lição de como fazer maldade. Imaginem o autor e o diretor da novela nos corredores da Globo, pressionados por outros autores e diretores, tendo os tapetes puxados e sendo vítimas de boatos? É isso. Novelas, agora, reproduzem situações específicas de sacanagem como se isso acontecesse em todos os lares brasileiros. Exceto, é claro, nas salas condicionadas de algumas repartições públicas, câmaras de diferentes esferas, escritórios jurídicos e muito mais. Muito mesmo. Esses locais são santos. Pura coincidência a Dilma ter sido obrigada a derrubar o nono ministro em tão curto período de governo. Isso acontece mesmo, povo! Não é motivo de estresse...

Nessa misturada toda a comunicação às vezes se confunde. E o jornalismo vai atrás. O que, afinal de contas, o brasileiro quer ler, escutar, assistir ou conferir? Um programa de TV a cabo com apresentadoras gordinhas ensinando a preparar pratos caseiros? Não é má idéia. Algumas são, além de talentosas, muito sensuais apesar das sobras na cintura e das papadas no queixo. Ou a opção seria apelar, também na TV por assinatura, para as mesmices dos seriados policiais? Heróis de barro nunca se deixam derrotar. Acaba um capítulo hoje com eles saindo de vencedores e amanhã nova missão. Os heróis apanham, mas vencem e desliga-se a TV com a certeza de que eles estarão firmes e fortes no próximo capítulo.

Novelas da Globo são festivais da maldade. Do tipo, aprenda com o Pereirão como amarrar uma víbora. Ou onde comprar uma cobra para colocar no carro da filha da sua inimiga. Fácil. Basta contratar um segurança musculoso que ele providencia tudo. Autores e diretores de novela, pelo visto, conhecem intimamente seguranças musculosos que não só compram, mas também vendem cobras venenosas. E se alguém estiver desempregado no meio dessa crise de emprego que os números oficiais negam, a solução está ali, no vídeo. Em novela o emprego aparece de uma hora para outra. Deve ser assim que ocorre em alguns escritórios de contratação de artistas de novelas. Mas não podemos, de forma alguma, ignorar a força empregatícia das campanhas eleitorais. Basta apoiar e negociar que o emprego aparece, colocando para fora do páreo uma multidão de aprovados em concursos públicos.

E o jornalismo, onde é que esse troço leva a culpa por tantas aberrações. Coberturas medíocres são inimigos mortais. Às vezes a culpa é da falta de investimento da empresa de comunicação. Profissionais baratos e tecnologia defasada dão caca. O caráter, quando falta, é da mesma forma letal. Assim como é nociva a preguiça cultural de quem faz jornalismo. Enfim, a cultura está em baixa e sem rumo. A comunicação tem a obrigação de pressionar para que se ache o caminho (texto de Walter Ogama).

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Os altos e baixos das capas de segunda-feira

As capas da segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012, estão de desanimar. Ainda assim a Gazeta do Povo, de um passado suspeito por causa da chapa branca que era escancarada em cada letra, ponto e vírgula, no parece mais consistente entre os impressos paranaenses mais expressivos.

A Gazeta traz manchete sobre o crescimento de casos de suspensão de carteiras de habilitação no Paraná. A capa chama para matéria na página 4 desta segunda. Abaixo da dobra há uma chamada em duas colunas, com título em duas linhas: “Deputados gastam menos, mas ganham mais verbas”.

A matéria, na página 13, trata dos gastos dos 54 deputados estaduais paranaenses em 2011, somente com a verba de ressarcimento. Aliás, são 54 deputados estaduais, mas a verba de ressarcimento vai para 56 parlamentares, porque uma lei estadual estende o benefício para os deputados que ocupam secretarias no Governo do Estado. É uma matéria que deveria ocupar a manchete de capa.

O Jornal de Londrina, apesar de uma circulação restrita, chama na capa, como manchete, matéria sobre a queda de rendimento de cotistas na Universidade Estadual de Londrina. São 14,58 pontos porcentuais entre 2005 e 2010 entre os estudantes de escolas públicas que ingressaram na UEL pelo sistema de cotas.

A equipe do JL não obteve da instituição de ensino superior uma explicação para essa queda de rendimento. O assunto, porém, merece ser mexido e cabe prosseguir com a pauta. É hora de alguém se explicar! Transformar o país na república dos benefícios e das cotas sem dar estrutura aos beneficiados e aos cotistas para se valerem desse excedente.

A edição da Folha de Londrina desta segunda-feira não merece comentários. Para não deixar em branco, basta mencionar que não dá para ser lido. 

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Egito, o jeito mais covarde de fazer revanche

As primeiras informações que varreram o mundo davam conta de uma briga entre torcidas de futebol. Não passou de um dia e as equipes séries de jornalismo já relacionavam o massacre do Estádio de Futebol Port Said, no Egito, após a partida entre o time local Al-Masry e o Al-Ahly, a uma revanche gratuita de um governo destemperado politicamente por ser fraco.

A morte de 74 torcedores foi, conforme mostra reportagem publicada na edição desta sexta-feira, dia 3 de fevereiro, em O Estado de S.Paulo, foi orquestrada por forças de segurança da junta militar comandada pelo ditador Hosni Mubarak. Outras 400 pessoas ficaram feridas.

“No dia 27 de novembro, no calor do ‘segundo tempo’ da revolução egípcia, quando milhares de manifestantes ocupavam a Praça Tahrir e arredores para exigir a saída dos militares do poder, um grupo de jovens chamou a atenção. Era a torcida do Al-Ahly, o maior time do Egito, que veio participar do movimento”, escreve o analista Lourival Sant’Anna.

O analista prossegue: “Eles não vestiam o uniforme do time, mas cantavam e pulavam abraçados, exatamente como fazem nos estádios”. O texto diz ainda: “Mais tarde, os torcedores do Al-Ahly ficaram de frente para os seus arquirrivais do Zamalek, também do Cairo, e celebraram juntos, numa cena que comoveu os manifestantes na Praça Tahrir”.

O analista acrescenta que na noite de quarta-feira, “os torcedores do Al-Ahly tiveram seu castigo no Estádio Port Said. Depois de verem seu time derrotado por 3 a 1 pelo inexpressivo time da casa, Al-Masry, foram atacados por homens com facas e armas de fogo que a polícia deixou entrar no estádio, assistindo impassível ao massacre. A mesma polícia que foi o primeiro alvo da revolução, lançada em 25 de janeiro de 2011, Dia da Polícia, em protesto contra a morte de Klaled Said, de 28 anos, abordado por policiais em uma lan house de Alexandria, em junho de 2010.”

(trechos extraídos de análise assinada por Lourival Sant’Anna em O Estado de S.Paulo)