quinta-feira, 29 de março de 2012

Dominante e dominado na prova do concurso

Classe dominante e classe dominada! Faz tempo não ouvíamos e nem líamos nada sobre isso. É bom lembrar, no entanto, que esse termo foi muito usado no Brasil no período militar. E a gente, quando remetido para aqueles anos, recupera na memória a cara rechonchuda do então ministro Delfin Neto. No mundo a classe dominante nos remete aos debates de outrora sobre o marxismo, que a chamava de burguesia no sistema capitalista. Enfim, era a classe social que controlava o processo econômico e político.

Controlava? Na verdade nunca perdeu o controle, apenas assumiu novas denominações usando dos mesmo artifícios: a exploração econômica, política e cultural, o que inclui o trabalho, a oportunidade de renda, o acesso ao ensino de qualidade, o lazer, a possibilidade de vida social, a saúde e tudo o que faz parte do cotidiano do povinho.

Recente concurso realizado pela Fundação de Apoio à Educação, Pesquisa e Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (Funtef-Pr) para a Prefeitura de Cambé mostra claramente que a classe dominante está firme e forte e como no passado ainda hoje age descaradamente contra a classe dominada.

Na prova para as vagas de gari cerca de meia dúzia de questões relacionadas à conhecimentos gerais reflete este embate. Uma pergunta é sobre o nome de uma atriz de novela da Globo. Outra é sobre frase que caracteriza uma personagem de humor de programa da Globo. Uma questão chama o recém-falecido jogador de futebol Sócrates de libertário. E assim vai, invocando dupla sertaneja que aparece frequentemente no Domingão do Faustão ou o nome da música que consagrou um tal de Michel Teló, que nem fazemos questão de conferir se escrevemos o nome correto porque não faz diferença.

Cultura geral é isso, para a equipe que elaborou estas perguntas. E não se pode exigir mais conhecimento que isso para um candidato a vaga de gari porque o risco é desse trabalhador, sendo aprovado ou não, adquirir cultura de verdade após estudar para o concurso. Cultura, enfim, é um direito adquirido da classe dominante. A classe dominada não pode saber mais do que as fococas e as vulgaridades.

E vejam a que ponto chegamos! Somos obrigados a tratar a cultura com subdivisões: cultura de verdade. Isso significa que pode haver cultura de mentira. E não estamos falando de contra cultura. Estamos nos referindo a este empreendedorismo vergonhoso de ser contra a cultura para as pessoas que não tem acesso a ela.

Isso se faz assim mesmo. Tratando quem não tem recursos para assistir a um bom espetáculo de teatro ou música como pessoas burras e dando a ela mais incentivo para assistir o BBB do Pedro Bial e pagar caro para se espremer no Parque Ney Braga enquanto um meia boca canta no recinto de shows.

E porque Sócrates foi libertário? O jogador, que também era médico, lutou pelos profissionais do futebol. Por isso foi respeitado como atleta e como líder. Libertário é um termo jocoso e provocativo. Sócrates não foi libertário. Ele foi um líder.

Nunca, na verdade, tivemos a ilusão de que esta guerra fria da classe dominante contra a classe dominada tivesse chegado ao fim. Mas em determinados momentos caímos na ilusão e aceitamos passivamente que os patrões chamassem os empregador de parceiros ou colaboradores. Também engolimos durante toda a nossa vida, como se aquilo fosse doce e degustável, aquele gasto discurso: o trabalho enobrece. Concordamos! Mas quem é que é o enobrecido?

Em governos mais recentes, depois do milagre brasileiro de Delfin e dos militares, Collor de Melo implantou o neoliberalismo caipira e perverso. Henrique Cardoso inventou outro neoliberalismo e além da privatização desvairada criou o voluntário para consertar escolas e unidades de saúde. Também incentivou seus partidários a criarem leis para esconder os informais atrás de programas que empobrecem os formalizados que passam a ser microempreendores individuais. Lula criou a república assistencialista e calou os banqueiros e os grandes grupos econômicos com legislações contemplativas. Dilma dá sequência.

Então... se soubermos o que a Globo difunde, segundo as questões daquela prova, temos cultura. Yes! Nóis sabe das coisas!

segunda-feira, 26 de março de 2012

Hora de mexer com a sujeira que resta

Um amigo me fez uma pergunta: algum jornalista de Londrina enriqueceu com a profissão? Pergunta difícil. Pensei e detectei dois nesses quase trinta anos de carreira em redações e agora em assessoria de imprensa.
Mas fiz ressalvas: não ficaram ricos, mas conseguiram construir casarões. Alguns outros que tentei lembrar ajuntaram um certo patrimônio, mas nada além do carro na garagem e da casa que se não é um luxo não deixa a desejar. Talvez uma chácara entre modesta e razoável além do básico, mais para consolidar um projeto antigo.

Para o amigo dei nomes aos bois e soube, com segurança e certeza, enumerar porque dois conseguiram mais do que a maioria e alguns nada obtiveram. Lembrei inclusive do velho amigo Estélio. Ela, com mais de quarenta anos numa redação, morreu. Deixou pára a pessoa que esteve ao lado dele nos últimos anos de vida um apartamento que comprou com o dinheiro do fundo de garantia. Nada mais.

Lembrei que um desses que conseguiu construir um casarão passou pela redação de um jornal e anos depois eu soube, de fontes seguras, que o prefeito de uma cidade da região bancou por anos um salário para o cara colocar matérias no jornal.

O outro também usou muito de oportunista. Então confrontei estes dois profissionais usando como quesito a inteligência: um era fraquíssimo e só podia enriquecer com um jabá do tipo ofertado na bandeja. O outro era inteligente e sabia de jornalismo. Só tinha o defeito de usar da sabedoria para tirar vantagens.

Sou obrigado a usar deste enfoque, pois não podemos negar que há corrupção também no nosso meio. Na verdade, nunca fui celebridade, até porque quando tive a oportunidade de ser decidi não sê-lo. Errei? Acho que sim. Me danei e tive portas fechadas e costas dadas, inclusive por parte de alguns colegas. Isso dói? Claro que deixa marcas, mas sou feliz.

Lembro daquela colega, aliás amiga, que quando me exonerei de um jornal ouviu a versão do meu patrão sobre o motivo do meu afastamento e não me consultou. Lembro também do cara demitido diretamente pelo RH da empresa, o que me levou ao pedido de exoneração. E ele saiu dizendo para os colegas, inclusive do sindicato, que eu é que havia demitido ele por uma razão muito simples: ela fazia sombra para mim...

Esse tipo de depoimento mexe na sujeira. Estou me expondo porque não devo nada. Está na hora de escrever sobre isso (Walter Ogama).

quarta-feira, 21 de março de 2012

Como se faz um jornal sem jornalista

Um levantamento de posse do Sindicato dos Jornalistas do Norte do Paraná mostra uma realidade cruel para o profissional formado e regulamentado em uma pequena cidade da região. Existem na localidade oito publicações impressas, uma emissora de rádio, uma emissora de TV por assinatura e uma emissora de TV aberta. Além disso, a cidade conta com assessoria de comunicação na Prefeitura, na Câmara, na Associação Comercial e Empresarial e em uma entidade filantrópica. Aqui não estão incluídas empresas de médio porte para cima que mantém setores de comunicação.

Seria um mercado promissor para editores, redatores, repórteres, repórteres-fotográficos, repórteres cinegrafistas e diagramadores. Mas pasmem: todos estes veículos empregam apenas seis profissionais formados e regulamentados. Cinco deles estão nas assessorias de impresa do Legislativo e do Executivo. Um é da entidade filantrópica. Dos impressos, um é de propriedade de um jornalismo formado e regulamentado, que é o editor e não dispõe de profissionais regulamentados na reportagem, fotografia e diagramação.

Outro jornal impresso é de propriedade de um provisionado. Ele não dispõe de equipe regulamentada e depende de material das assessorias de imprensa para fechar as edições. Outra publicação impressa é de propriedade de um empresário que conseguiu o registro profissional aproveitando-se da brecha aberta pela desobrigatoriedade do diploma. Este empresário também toca a concessão da TV aberta, da TV por assinatura e assina como responsável no informativo da Associação Comercial e Empresarial, além de ser intermediário de um portal que repica notícias captadas de outros sites. Para manter TVs no ar e jornais em circulação este empresário emprega três pessoas não regulamentadas.

A emissora de rádio sobreviva de horários locados. Algumas das locações tem características jornalísticas, mas não há pessoal contratado. Outro jornal impresso utiliza-se de profissionais do poder público para ser fechado. Só um deles é formado em jornalismo e regulamentado.

Se considerarmos que cada veículos teria que dispor de pelo menos uma equipe formada de profissionais regulamentados, essa cidade ofertaria 49 vagas para editores, redatores, repórteres, repórter-fotográfico, repórter de cinegrafia e diagramador. Como nenhum dos impressos é diário, vamos dividir pela metade: pelo menos 25 vagas existiriam nesse mercado.

Nem vamos falar de conteúdo e ética. Não compensa.

terça-feira, 20 de março de 2012

Curtíssimas - Profissional, estagiario e picareta

Querem estagiarios

Vimos num site nacional de empregos na área de jornalismo que os empresários do setor acharam o que sempre procuraram. Nesta terça-feira, dia 20 de março de 2012, das nove ofertas de vagas postadas até por volta das 10 da manhã oito eram para estagiários. É mão de obra barata que em termos de cumprimento de tarefas faz o básico e muito bem feito. O futuro é preocupante.

Uso e abuso

Entendemos que o estágio é muito importante na formação profissional. O ideal seria na condição apenas de observador, tendo direito inclusive de acompanhar equipes de externa. Mas há queixas sobre este modelo e esticar um pouco para o campo da atuação é perigoso. Em Santa Catarina, o estagiário trabalha como qualquer outro jornalista e só não pode assinar matérias. E usa-se e abusa-se: os estagiários são chamados para trabalhar nos plantões de finais de semana e feriados.

Conselho absurdo

Algumas empresas de comunicação, inclusive no Norte do Paraná, usam as brechas da lei para contratarem estagiários de comunicação. Aliás, anos atrás soubemos que a Amepar – Associação dos Municípios do Médio Paranapanema pretendia estruturar um núcleo de comunicação. Mas um secretária de Estado convenceu o presidente da entidade à época a buscar estagiários no Departamento de Comunicação da Universidade Estadual de Londrina. Um desserviço nãos omente ao profissional de comunicação, mas a toda a sociedade.

Vaga anunciada

Recentemente uma grande empresa privada de Cambé anunciou nos classificados de um jornal vaga para estagiário de comunicação. Realmente, é sombrio.

Um desconto

Ainda assim um desconto. O pior está nas empresas de comunicação que contratam pessoas que nada tem a ver com a comunicação e o jornalismo. Muito sombrio e preocupante.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Nenhuma brecha entre a cruz e a espada

A cruz e a espada estão em ambos os lados, redação de jornal e assessoria de imprensa. Tenho refletido muito sobre este assunto. Ingressei no jornalismo em 1981 como redator do então Jornal das Sete, da TV Coroados, na condição de auxiliar do editor Chico Amaro. Daquele tempo eu lembro da greve dos funcionários da Florença, ao lado da emissora. O jornalismo da Coroados não deu uma nota.

Depois fui fazer jornal em Cambé. Era um jornal atrelado à administração municipal e eu, como redator, me sentia um assessor de imprensa. Ainda assim dispunha de espaço para produzir boas reportagens sobre assuntos da comunidade. Era um alívio.

Após passar pela assessoria de comunicação da Universidade Estadual de Londrina fui para a Folha, onde integrei inicialmente a equipe da Editoria Local, que tinha como editor Edilson Leal de Oliveira. Foram 18 anos no jornal e nunca tive a oportunidade de fazer aquela matéria para disputar prêmio.

Aliás, com um ano de Folha, ao ser promovido para a então Editoria Especial do jornal por iniciativa do diretor de jornalismo Walmor Macarini, eu fui alertado por um veterano: caso eu aceitasse a promoção e fosse para a Especial eu iria ser destacado somente para fazer fuleragem. Isto porque, na avaliação do veterano que me fez o alerta, eu era um foca que não tinha status para ser um repórter especial. Teimei e me dei mal. Só fui escalado para fazer fuleragem...

Depois virei redator, editor e coordenador da Tereza Urban, até substitui-la na chefia de redação. Tereza me ensinou muito. Ela não era de meias palavras. Errou, pede desculpas ao leitor. Também lecionei por dois anos na UEL e fui editor-chefe de A Notícia em Santa Catarina. Isso até 2008, quando integrei equipe de político na condição de assessor de comunicação. Agora continuo assessor, mas de prefeitura.

Foram, portanto, 27 anos em redação de jornal. Estou assessor há três anos e poucos meses. Eu que no passado discriminei assessor de imprensa agora sou um. E não é por conformismo: se um profissional pode se manchar atuando em assessoria este mesmo profissional tende a ficar enlameado na redação de um jornal. O cumprimento da ética não está no local onde se atua. Está no caráter de quem atua.

Aliás: me pergunto diariamente: é mais fácil enfrentar diretamente o patrão que pede matéria mentirosa ou o empresário ou político que em troca de certos favores manda o dono do jornal enterrar uma pauta?

Complicado, não?

E na Folha toquei projeto de redução do jornal e da equipe por culpa de uma crise econômica da empresa. O meu próprio sindicato me considerou um sacana por isso. É mole?

(Texto de Walter Ogama)

sexta-feira, 16 de março de 2012

A raiz é muito mais podre do que parece

Segregação e genocídio. É o que esta acontecendo no Brasil. O pior é que os atos que caracterizam tais crimes são praticados por brasileiros contra brasileiros.

Os jornais desta sexta-feira, dia 16 de março de 2012, trazem matérias sobre os números divulgados pelo Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos da População em Situação de Rua e Catadores (CNDDH).

Um dos dados mais alarmantes: de abril de 2011 até a segunda semana de março deste ano 165 moradores de rua foram mortos no Brasil. Isso significa que a cada dois dias um morador de rua foi assassinado.
Matéria da Agência Brasil inclui depoimento da coordenadora do CNDDH, Karina Vieira Alves, que informa: as investigações policiais de 113 destes casos não avançaram e ninguém foi identificado e responsabilizado pelos homicídios.

Além do CNDDH há o registro de denúncias feitas pelo Disque 100, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, que só no ano passado recebeu 453 ligações. São casos de tortura, negligência, violência sexual, discriminação e outros contra sem-tetos.

Desse total 120 registros são de ocorrências no Estado de São Paulo. O Paraná vem em seguida com 55 registros negativos. Em terceiro Minas Gerais e o Distrito Federal com 33 casos cada. Deve ser levado em conta que muitas das ocorrências deixam de ser notificadas, conforme alerta a coordenadora do Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos da População em Situação de Rua e Catadores, Karina Vieira Alves.

O que estimularia a segregação e o genocídio no cidadão comum? A certeza de impunidade? Os corriqueiros escândalos no poder público e na política em geral cujos desfechos são penas mínimas? Os epsódios das novelas da Globo que colocam sempre glórias nos malfeitores?

Na verdade tudo isso contribui. Mas a raiz do mal é a mesma que acabou com a cultura e a noção de certo e errado neste país. Infelizmente o regime militar aniquilou idéias. Trocou a massa crítica da população por coca cola e instigou a maldade. Com maldade não há solidariedade. Pelo contrário, há sertanejo universitário, BBB, A Fazenda, Tereza Cristina e Griselda, som acima do permitido nas ruas, motorista falando ao celular enquanto dirige, meninos enxugando latinhas de cerveja no estacionamento dos supermercados e necessidade de matar.

A cultura, dizimada, faz falta. É ela que dá sobriedade, coerência, bom senso e sabedoria ao ser humano. 

quinta-feira, 15 de março de 2012

Gabriel Garcia Marquez sobre o jornalismo

"Porque o jornalismo é uma paixão insaciável que só se pode digerir e humanizar mediante a confrontação descarnada com a realidade. Quem não sofreu essa servidão que se alimenta dos imprevistos da vida, não pode imaginá-la. Quem não viveu a palpitação sobrenatural da notícia, o orgasmo do furo, a demolição moral do fracasso, não pode sequer conceber o que são. Ninguém que não tenha nascido para isso e esteja disposto a viver só para isso poderia persistir numa profissão tão incompreensível e voraz, cuja obra termina depois de cada notícia, como se fora para sempre, mas que não concede um instante de paz enquanto não torna a começar com mais ardor do que nunca no minuto seguinte."
Gabriel Garcia Marquez

terça-feira, 13 de março de 2012

Curtíssimas - Capas dizem tudo sobre os jornais

Seis por meia dúzia

O ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol ganhou muitas páginas nos jornais desta terça-feira, dia 13 de março de 2012. O Estadão, por exemplo, mancheteia: “Ricardo Teixeira renuncia à direção da CBF após 23 anos”. Há também uma chamada com o título “Glória e corrupção”, sobre o perfil do ex-dirigente. Na ilustração da manchete de capa, a foto do substituto, José Maria Marin, aquele que embolsou no passado a medalha de um vencedor. É o mesmo que tirar pirulito da criança. Se é capaz de fazer isso, a CBF continua suspeitíssima.

Aliás, no futebol...

Bom espaço nas capas para o esporte preferido dos brasileiros. A rescisão de contrato do pesadão Adriano está chamando a atenção dos leitores. E mais para o lado policial a chamada seca desperta a curiosidade sobre as novidades do caso Bruno: “Defesa de Bruno diz que Macarrão matou Eliza”. Brincadeira maldosa: nada a ver com culinária e comida estragada, é sangue mesmo.

Preocupante

Na imprensa local chama atenção a chamada de capa sobre a fuga de 27 presos em Ibiporã. Na Folha de Londrina: “Inquérito apura fuga de 27 presos em Ibiporã”.

Menos amiguinhos

Na mesma Folha de Londrina, a manchete é sobre a Câmara de Vereadores: “MP pede na Justiça exoneração de comissionados”. A linha fina diz: “Ação defende redução de cargos de confiança em equilíbrio aos servidores efetivos do Legislativo londrinense. Casa deve ser notificada hoje e terá 72 horas para se manifestar”. Se levado a sério, significa mais vagas para trabalhadores de fato e menos para os amiguinhos dos políticos. 

segunda-feira, 12 de março de 2012

Situação de risco mostrada com sensacionalismo

A boa equipe de reportagem, quando na cobertura de um fato que já aconteceu, apresenta o relato da ocorrência sem expor indefesos adolescentes a uma situação de risco. Aliás, situação que havia tirado a vida de um colega da turma de adolescentes um dia antes.

Pois aconteceu o contrário com o pessoal da TV Coroados e da RIC TV. Uma trave de futebol de campo, que segundo os respórteres das duas emissoras pesaria cerca de 200 quilos, cai no peito de um menino quando os adolescentes tentavam transportá-lo para diminuir o tamanho do campo.

Isso aconteceu em Cambé, num campo de futebol que pertence à prefeitura. Levado a um hospital de Londrina o menino não resiste e morre. A trave estava com uma das hastes de sustentação quebrada. Para ela ficar de pé alguém colocou uma escora de pedra. Portanto, a situação de risco existia desde o momento em que a haste quebrou e a pedra passou a servir de escora.

Outro erro de quem cuida do campo: meninos de 13, 14 ou 15 anos, mesmo numa turma de meia dúzia a dez, não podem transportar uma armação de aço com cerca de 200 quilos. Alguém responsável por cuidar do local tem que ficar atento para isso.

Mas como ninguém impediu os meninos mexeram na trave que já estava perigosa. Imagine num jogo de futebol de adultos? O goleiro pula para pegar a bola e bate na trave. A escora de pedra sai do local e a armação despenca sobre o jogador. Trágico.

Para quem sabia que a trave estava escorada com uma pedra a morte do menino de 14 anos foi quase que anunciada. O risco existia e o campo, desde a constatação do problema, teria que ser interditado até que o problema fosse corrigido.

Então foram as equipes da Coroados e da RIC TV cobrir o acidente. Alguém das duas equipes teve a infeliz idéia de chamar os meninos que brincavam com a vítima na hora que a trave caiu. E esse alguém pediu para os meninos simularem como eles tentavam transportar a trave. Eram cerca de seis adolescentes levantando a armação de 200 quilos. Com risco de a mesma cair de novo sobre os pés de algum deles. E mesmo não caindo, risco de ocasionar ferimentos nas mãos ou problemas na coluna.

Assim a imagem foi ao ar nas duas emissoras. Uma tragédia por culpa de um descuido ilustrada com imagens tramadas colocando em evidência o descuido e a despreocupação de quem preparou a simulação. Ainda bem que o Conselho Tutelar e o Conselho Municipal da Criança e do Adolescente, na maioria dos casos, serve para atender outros interesses e se calam diante de aberrações. Quanto ao Ministério Público, não é em todos os lugares que ele funciona.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Opinião - Insisto! 8 de março é um dia de luta!

(Texto de Walter Ogama extraído de http://walterogama.blogspot.com e repetido em http://batalhadoras.blogspot.com)

Vejo na programação do mês da mulher de Cambé uma palestra com um tema que me causa arrepios: “A importância da mulher no lar”. O que é isso? Algo para deixar o marido sempre bem alimentado e gordinho? Receita para deixar a casa limpa e aromatizada de segunda à segunda aproveitando os horários de folga do trabalho e das atenções com os outros afazeres domésticos? Ou um truque para lavar e passar a roupa entre o preparo do almoço e a compra no supermercado?

Peco por não ter ido à palestra, no dia 8 de março em um centro municipal de educação infantil, apesar das perguntas que me vieram à cabeça. Mas se pequei nisso tenho o direito de pelo menos manifestar que o título, além de arrepiar, provoca indignação.

Também por não ter ido ao evento desconheço que tipo de público esteve presente. Reconheço que estas ausências não me credenciam a ser crítico, mas torço que a exposição tenha tido enfoque diferente daqueles que me vieram à cabeça. Ainda assim, se me fosse dada a possibilidade de opinar, eu diria que ficaria melhor um título assim: “A importância da mulher na família”. Isso daria mais amplitude ao tema e o leque permitiria inclusive a interação da família na comunidade e, consequentemente, da comunidade com o conjunto da sociedade nas questões políticas, culturais, sociais e econômicas.

Preocupa-me a equivocada interpretação que as autoridades, principalmente, tem do Dia Internacional da Mulher, 8 de março. É uma data promulgada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para redefinir pautas, avaliar conquistas e pontuar itens que afligem as mulheres e, por tabela, toda a humanidade. Porque as mulheres já são maioria na População Economicamente Ativa (PEA), são no Brasil mais da metade dos brasileiros que votam nas eleições, são comandantes de órgãos públicos federais importantes e assumem postos elevados na iniciativa privada.

Ainda assim há muitas desigualdades, sobretudo no chão da fábrica. A própria cota obrigatória dos partidos de candidatas mulheres é questionada, pois muitas delas apenas vão para a disputa de cargos públicos para cumprir uma lei. Então, nem nas sociedades mais avançadas o Dia Internacional da Mulher é uma data para ser comemorada. E os órgãos públicos, alguns comandados por mulheres, anunciam a programação como uma comemoração.

Equívoco ou proposital? Assim eu quase concluo que o tema da palestra que mencionei acima foi levado ao pé da letra. Ou seja, além de participar da renda familiar, cuidar das crianças, fazer compras, cozinha, lavar louça, passar roupa e limpar a casa, a mulher tem que ser uma excelente dona de casa.

Lembro que a instituição e promulgação do Dia Internacional da Mulher teve entre as motivações o incêndio numa indústria têxtil que empregava cerca de 600 operários, a maioria mulheres de 13 a 23 anos que cumpriam jornada de trabalho extensa. Cerca de 120 delas perderam a vida no acidente.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Enfim notícias sobre a PEC do Diploma de Jornalista

O site da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) atualiza informações sobre o andamento da PEC 033/2009, que devolve a obrigatoriedade do diploma de curso superior para o exercício da profissão de jornalista.

O acordo com os líderes dos partidos no Senado era de aprovação em segundo turno da Proposta de Emenda Constitucional na semana seguinte ao carnaval. Portanto, na sessão ordinária deliberativa do dia 29 de fevereiro.

Mas o envio de uma série de medidas provisórias do governo federal ao Congresso Nacional tirou a matéria da pauta da sessão e o pior, a situação está indefinida. “A FENAJ e os Sindicatos de Jornalistas prosseguem com a mobilização em Brasília para agilizar a tramitação da matéria e buscarão alternativas para o cumprimento do acordo de lideranças para a votação da proposta neste início de 2012”, informa a entidade em seu site.

O texto reforça a explicação sobre o trancamento da pauta devido a necessidade de votação das medidas provisórias. Mas para o presidente da Fenaj, Celso Schrõder, tudo é uma questão de boa vontade: “A tramitação de medidas provisórias, assim como de outras matérias legislativas, é passível de acordos e adiamentos, o que propicia espaços ou janelas de votação de outros projetos e propostas”.

Ele acrescenta que, por isso, vigora a necessidade de intensificar a mobilização e a luta para que o acordo firmado com os líderes partidários no final do ano passado, em seguida à aprovação em primeiro turno da PEC, seja cumprido.

De acordo com a entidade, persiste o trabalho de dirigentes da própria Fenaj e dos sindicatos de jornalistas de revezamento semanal no acompanhamento dos trabalhos do Congresso Nacional e contatos com líderes partidários e com a Frente Parlamentar em Defesa do Diploma, “E, na perspectiva de fortalecer o movimento, a campanha de envio de e-mails aos parlamentares, de organização de manifestações, debates e coleta de apoios ao abaixo-assinado em defesa da PEC 033/2009 continua”.

Clique no destacado para acessar o abaixo-assinado

segunda-feira, 5 de março de 2012

Preocupante. Nada ainda sobre a PEC do diploma

Estranho o silêncio em torno da votação em segundo turno da Proposta de Emenda Constitucional 033/2009, que devolve a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista. Pelas informações divulgadas desde o final do ano passado, havia um acordo entre as entidades que lutam pelo diploma e os líderes partidários no Senado para que a votação ocorresse na semana após o carnaval.

De acordo com os procedimentos do Senado, a sessão deliberativa ocorreria no dia 29 de fevereiro, quarta-feira. A expectativa, portanto, era de que a PEC 033/2009 fosse incluída na pauta daquela sessão. Pelo resumo do Senado a matéria ficou de fora.

Infelizmente, era mais ou menos previsível que isso ocorresse devido a quantidade de outros projetos que dependiam de uma sessão ordinária deliberativa. Mesmo impacientes quanto à necessidade de garantir, passo a passo, a devolução da obrigatoriedade do diploma de jornalista, havia, enfim, uma espécie de compreensão e até segurança: demorando ou não a PEC seria aprovada no segundo turno.

O que cause estranheza agora é a falta de informações. Houve um novo acordo de data para a matéria entrar na pauta do Senado? Nem isso nós sabemos. Até este momento, 14h29 de segunda-feira, dia 5 de março de 2012, nada foi divulgado a respeito. Mais tempo para aqueles que não são jornalistas e querem obter o registro no Ministério do Trabalho serem contemplados. Mais preocupação para os profissionais que investiram no ensino superior para obter um diploma que, no momento, é apenas um pedaço de papel.

Ou estaríamos, todos os profissionais de jornalismo diplomados e registrados, sendo vítimas de uma manipulação? 

sexta-feira, 2 de março de 2012

A mão, no fogo, pode sofrer queimadura

Não me diga, mulher, que você jogou fora o meu diploma de jornalista? Assim começou a briga lá em casa. Certo, eu havia dito que o diploma de jornalista já não valia nada, que o fulano, um pau mandado de político, havia conseguido registro de jornalista no Ministério do Trabalho aproveitando-se da brecha criada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que colocou não só o profissional de jornalismo, mas toda a população brasileira, na mão de um bando de picaretas que se acham jornalistas.

Ela deu de ombros. Replicou que como assistente social haviam reduzido a jornada de trabalho de 40 para 30 horas semanais, mas o empregador também diminuiu o salário dela. Então fiz a tréplica: ponderei que mesmo antes do STF aprovar a desobrigatoriedade do diploma para exercer o jornalismo muitas empresas picaretas contratavam gente sem formação para pagar menos.

Ela deu de ombros novamente. Ensaiou dizer alguma coisa mas brecou. Foi à área de serviço, apanhou uma vassoura e varreu um canto da cozinha onde havia uma migalhinha de pão. Nada mais. Achei isso um desaforo. Principalmente porque sei muito bem o que ela ia dizer. Mais ou menos isso: você com diploma e experiência no jornalismo nem consegue um bom emprego...

Veja que isso é ofensa. Uma insinuação do tipo, você deve ser um péssimo jornalista. A princípio engoli para evitar violência. Levei em conta a Lei Maria da Penha. Mas juro que quase atirei nela uma caneca de água gelada. Recuperada a calma resgatei a lucidez e engavetei a paixão.

Assumi que ela tinhas razão. Quem sou eu além de um operário da comunicação. Atualmente como assessor de imprensa, depois de anos em redação de jornal, engulo sapos. Todos os dias e horas. Produzo sobre isso e aquilo: de reportagens aprofundados sobre temas importantes à reuniões com chá e sorteio de brindes.

E embora vigore ainda muito preconceito em relação ao jornalista que trabalha em assessoria de imprensa, eu, particularmente, trabalho consciente. Seria tão fácil ganhar dinheiro e prestígio nessa condição. Tão fácil quanto seria se estivesse numa redação. Mas contento-me com o meu salário que não paga todas as minhas contas e tem que ser completado com o salário da minha assistente social. Dá raspando.

Sim, engulo sapos. Não só os que saem dos lagos dos patrões. Mas principalmente o de colegas jornalistas que discriminam assessores de imprensa. Como se pudesse colocar a mão no fogo por um monte de profissional de redação (texto de Walter Ogama). 

quinta-feira, 1 de março de 2012

Sem diploma e sem informações sobre ele

O assunto é a Proposta de Emenda Constitucional 033/2009, que devolve a obrigatoriedade do diploma de curso superior para o exercício da profissão de jornalista. Em se tratando de um assunto relacionado aos trabalhadores da comunicação, imagina-se que as informações sobre a tramitação da PEC no Senado sejam abundantes.

Engano! Passa de nove e meia da manhã do dia 1º de março de 2012. A expectativa era de que a matéria entrasse na pauta da sessão deliberativa do dia 29 de fevereiro, pois segundo se anunciou no final do ano passado, a diretoria da Federação Nacional dos Jornalistas havia fechado acordo com os líderes partidários para que a votação em segundo turno ocorresse na primeira semana após o carnaval.

Na quarta-feira, dia 29 de fevereiro, a tecnologia deu o seu calote. Foi impossível checar a pauta da sessão deliberativa pela internet. Era clicar e entrada a mensagem de erro na página. Nos principais portais de jornalismo, inclusive o da Fenaj, nenhuma atualização. As notícias relacionadas à PEC do diploma do jornalista disponibilizadas eram de novembro de 2011.

À noite, novas buscas e nada. Um vácuo na comunicação e especialmente nesse caso e nesses sites jamais a falta de informações poderia ser caracterizada como uma precaução contra eventual insinuação de “jornalismo em causa própria”. Nada na página do Senado e muito menos no site da Fenaj.

Agora, exatamente 9h49 de quinta-feira, dia 1º de março de 2012, vamos a uma nova consulta. Com um equipamento tecnologicamente defasado e uma banda larga duvidável em alguns períodos do dia, gasta-se quatro minutos entrando na busca através do Google. O que aparece é defasado. Ninguém postou nada de novo. Vamos ao site da Fenaj: nada. Agora ao do Senado, onde clicamos na opção dos resultados da sessão deliberativa do dia 29 de fevereiro: pelo que está ali não passou nenhuma PEC 033/2009.

Compensa telefonar para o sindicato de jornalistas mais próximo? Recorremos ao fale conosco do site do Senado? Enviamos um e-mail à Fenaj para perguntar se há novidades em relação ao diploma? Entramos em contato com a coordenação de algum curso de comunicação social mais próximo? Desistimos. Ficamos sem rumo e nem sabemos para onde aprumar.

E os picaretas aproveitam a boa fase. Conseguem registros, montam jornais, local horários em televisão e rádio e negociam espaços publicitários em troca de almoço, café, pacote de arroz, gasolina, lavagem de carro, corte de cabelo, manicure, janta e outras coisas que colocam o jornalismo sério na linha de fundo.