(Texto de Walter Ogama extraído de http://walterogama.blogspot.com e repetido em http://batalhadoras.blogspot.com)
Vejo na programação do mês da mulher de Cambé uma palestra com um tema que me causa arrepios: “A importância da mulher no lar”. O que é isso? Algo para deixar o marido sempre bem alimentado e gordinho? Receita para deixar a casa limpa e aromatizada de segunda à segunda aproveitando os horários de folga do trabalho e das atenções com os outros afazeres domésticos? Ou um truque para lavar e passar a roupa entre o preparo do almoço e a compra no supermercado?
Peco por não ter ido à palestra, no dia 8 de março em um centro municipal de educação infantil, apesar das perguntas que me vieram à cabeça. Mas se pequei nisso tenho o direito de pelo menos manifestar que o título, além de arrepiar, provoca indignação.
Também por não ter ido ao evento desconheço que tipo de público esteve presente. Reconheço que estas ausências não me credenciam a ser crítico, mas torço que a exposição tenha tido enfoque diferente daqueles que me vieram à cabeça. Ainda assim, se me fosse dada a possibilidade de opinar, eu diria que ficaria melhor um título assim: “A importância da mulher na família”. Isso daria mais amplitude ao tema e o leque permitiria inclusive a interação da família na comunidade e, consequentemente, da comunidade com o conjunto da sociedade nas questões políticas, culturais, sociais e econômicas.
Preocupa-me a equivocada interpretação que as autoridades, principalmente, tem do Dia Internacional da Mulher, 8 de março. É uma data promulgada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para redefinir pautas, avaliar conquistas e pontuar itens que afligem as mulheres e, por tabela, toda a humanidade. Porque as mulheres já são maioria na População Economicamente Ativa (PEA), são no Brasil mais da metade dos brasileiros que votam nas eleições, são comandantes de órgãos públicos federais importantes e assumem postos elevados na iniciativa privada.
Ainda assim há muitas desigualdades, sobretudo no chão da fábrica. A própria cota obrigatória dos partidos de candidatas mulheres é questionada, pois muitas delas apenas vão para a disputa de cargos públicos para cumprir uma lei. Então, nem nas sociedades mais avançadas o Dia Internacional da Mulher é uma data para ser comemorada. E os órgãos públicos, alguns comandados por mulheres, anunciam a programação como uma comemoração.
Equívoco ou proposital? Assim eu quase concluo que o tema da palestra que mencionei acima foi levado ao pé da letra. Ou seja, além de participar da renda familiar, cuidar das crianças, fazer compras, cozinha, lavar louça, passar roupa e limpar a casa, a mulher tem que ser uma excelente dona de casa.
Lembro que a instituição e promulgação do Dia Internacional da Mulher teve entre as motivações o incêndio numa indústria têxtil que empregava cerca de 600 operários, a maioria mulheres de 13 a 23 anos que cumpriam jornada de trabalho extensa. Cerca de 120 delas perderam a vida no acidente.
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