Grandes publicações brasileiras, com destaque para a Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo, ingressaram na era da internet com os pés no chão. Evidente que mudanças gráficas e editoriais foram feitas paralelamente ao crescimento da rede mundial, porém jamais os grandes deram a entender que elas estavam vinculadas à necessidade de adequação a um “tempo novo”. É de se supor que em algum momento tal preocupação passou pela cabeça dos projetistas gráficos e editoriais. Mas sem neurose.Em síntese, estes títulos implantaram as versões digitais para acompanhar a tendência e reforçar as versões impressas. Plataformas permitiram que os assuntos emergenciais merecessem atualizações a qualquer hora do dia ou da noite. As versões atualizadas passaram a receber complementos seguidamente. Mas ainda assim restava a expectativa em relação aos impressos. Como viria a reportagem fechada?
Assim o próprio leitor adquiriu o hábito de querer o que viu ontem na internet referendado e acrescentado no jornal impresso de hoje. Esta relação consolidava uma cultura forte: letrinhas, fotos, infográficos e ilustrações no papel viram documento. E se provava que a internet era um apoio, e não o meio capaz de assumir a predominância.
Costumes caseiros também mostram a importância do papel. Embora os aparelhos celulares e as tecnologias mais sofisticadas e caras de acesso e armazenamento estejam pelas ruas nas mãos e nas bolsas de um bom número de pessoas, a mulher trabalhadora que quer mostrar para as colegas as fotos da família não se contenta em carregar as imagens digitalizadas no pendrive. Ela aproveita uma folga para passar no laboratório e encomendar versões no papel. Ou usa a impressora doméstica para fazer reproduções precárias, mas que são carregadas nas bolsas como relíquias.
Então acertaram na mosca os jornais que incorporaram a internet às suas produções como um meio importante, mas de apoio. Hoje, muito tempo depois do começo da “febre internet”, sabe-se que uma das regiões brasileiras com maior acessibilidade à rede mundial está aqui embaixo do mapa, nos estados do Sul, onde apenas 23% da população tem acesso à rede mundial.
Sabe-se também que desse grupo de brasileiros há casos de domicílios onde cinco membros da família dependem de uma única máquina para acessar por alguns poucos minutos a rede mundial. E desses casos, especialmente, um levantamento dos acessos fatalmente levaria a uma conclusão nada animadora para os sites de notícias.
Vamos exemplificar: supondo que a minha cota diária de uso da máquina e do acesso à internet seja de duas horas por dia. Tenho e-mails para conferir, redes sociais para interagir e deve sobrar um tempo ainda para pesquisar o preço daquele objeto do desejo, um notebook que me garanta autonomia. Então não posso perder tempo com a leitura de notícias nos sites dos jornais.
Isso é suposição? Confiram a realidade de porta em porta. Afinal de contas, estamos no Brasil.
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