A Redação do “A Notícia”, em Joinville, Santa Catarina, ferveu quando as primeiras informações sobre a compra da empresa pela gaúcha RBS vazaram. O jornal de porte médio, com uma tiragem diária que não ultrapassava a marca dos 30 mil exemplares diários, ainda assim mantinha-se economicamente estável. Com as principais sucursais instaladas em Florianópolis e em Jaraguá do Sul, esta última a cerca de 45 quilômetros da sede, mas considerada ponto estratégico por causa da força econômica do município, a negociação da suposta venda do “A Notícia” repercutiu intensa não somente entre os profissionais do jornal. Correspondentes em regiões distintas também tremeram de preocupação.
Pior ainda. Em algumas localidades entidades classistas se mobilizaram contra a negociação. Associações comerciais, câmaras de vereadores e organizações de intelectuais levantaram a voz. Quando se espalhou que as conversas entre a RBS envolviam também a compra do Diário Catarinense, o maior jornal do Estado com sede em Florianópolis, um promotor tentou interferir juridicamente, com base na tese do monopólio da comunicação.
Mas a tentativa foi infrutífera, pois pequenas publicações municipais descaracterizaram o monopólio. O problema não era a troca de dono. No caso do “A Notícia”, é válido considerar que o jornal tinha uma característica familiar parecida com a história da Folha de Londrina. E assim como a Folha, o “A Notícia” era um jornal que tinha um dono administrativo e econômico. Mas os donos culturais eram as populações de uma grande faixa do Norte de Santa Catarina.
Enfim a negociação foi concretizada. Diretores das diversas áreas, editores, repórteres, fotógrafos e outros profissionais abandonaram o desespero de antes do fato e assumiram postura de esperar para ver. Alguns viraram torcedores do Grêmio de Porto Alegre e inclusive vestiram a camisa do time. É que o maioral da RBS, Nelson Sirotsky, é gremista.
O “A Notícia” tinha na Redação gaúchos, catarinentes, paulistas e paranaenses. O diretor de jornalismo à época, Luiz Meneghim, é paranaense. Não havia o hábito do chimarrão naquele ambiente de trabalho. Mas após a negociação até alguns paulistas e paranaenses passaram a ser vorazes consumidores daquilo. E iam trabalhar com os apetrechos e junto uma garrafa térmica com água quente.
Após a posse dos novos dirigentes o que aconteceu foi um martírio. Chefias formadas nos cursos Master de jornalismo fizeram a caça às bruxas. Tem profissional que não resistiu nem tomando chimarrão e vestindo a camisa do Grêmio. O “A Notícia”, que era stander, virou um tablóide. E procure-se notícias em Santa Catarina que saiam dos clichês.
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