Uma boa reportagem salva a edição. Com anos de prática do jornalismo em redações, sabemos que o empenho das equipes é de abastecer os jornais que circulam nos domingos com matérias de peso. Nem sempre, porém, o produto final atende às expectativas. Um pequeno contratempo pode dar num desastre.
E o leitor recebe uma edição grossa na quantidade de páginas e de encartes, mas sem conteúdo. Vai restar para ele a possibilidade de conferir os anúncios: relógios, apartamentos, carros, móveis, eletrodomésticos e nada mais a ser lido.
Os dois principais jornais do Paraná conseguiram, entre o final de semana e a segunda-feira, surpreender. A Folha de Londrina reservou justamente para a segunda-feira, dia 12 de dezembro, a sua produção mais consistente dentro de uma edição que assusta pela finura. As edições de segunda, com dois caderninhos, às vezes são hiláricas. Mas desta vez o jornalista Fábio Galão assina uma produção interessante.
“Região metropolitana, só no papel”. Este é o título. Na linha fina: “Instituída há 13 anos, RML tem integração efetiva travada por falta de planejamento e recursos”. A palavra efetiva cabe, mas é desnecessária. Deve ter sido colocada para fechar o comprimento da linha fina. Mas isso, de forma algum, interfere na produção.
É um tapa na cara dos políticos paranaenses, principalmente os que representam a Região Metropolitana de Londrina. O tom da matéria não é este, mas a cobrança está clara, curta e grossa. Vereadores, prefeitos, entidades municipalistas, deputados estaduais, secretários de Estado, governador, deputados federais, senadores, ministros e mais que surjam estão neste rolo.
Acostumados a fazer da vida pública uma guerrilha partidária visando sempre as próximas eleições, estes esqueçam de trabalhar planejamento para a região que representam. Os mesmos vícios impedem estes políticos de enxergarem os seus papéis como projetistas do desenvolvimento. Ou, se enxergam, preferem andar para trás e levar com eles inadvertidos eleitores acostumados a práticas ultrapassadas de relacionamento com o poder.
Por isso, se a produção não teve a intenção de cutucar os homens que travam o desenvolvimento, indiretamente o resultado publicado foi isso. Mas, convenhamos, o objetivo deve ter sido este mesmo e valeu. É uma reportagem que, a princípio, parece interessar a poucos. Mas diz respeito a todos. Vale ser lida.
A Gazeta do Povo também surpreendeu com a publicação do resultado da pesquisa sobre o que a população acha dos vereadores. O título da matéria, na p[gina 15, Vida Pública, edição de domingo, 11 de dezembro, é: “Paraná desaprova vereadores”. Na linha fina: “Pesquisa revela que 66% dos paranaenses estão insatisfeitos com o trabalho dos parlamentares municipais e que não se sentem representados por eles”.
O mais importante da produção é que ela retrata fielmente o sentimento do eleitor em relação aos vereadores, que passaram a ser protagonistas de brigas e escândalos e autores de projetinhos, requerimentos e indicações simplistas: nome de rua, fumódromo, título de cidadão honorário e briga. Nada mais.
E na edição de segunda-feira, 12 de dezembro, página 17, Economia, a manchete da Gazeta é: “Mercado só gera emprego que paga até dois salários”. Na linha fina: “Número de vagas com carteira assinada cresce desde 2000, mas de forma desigual. Em postos mais bem remunerados, demissões superam as contratações”.
Também verdade. Verdade, aliás, que vai contra outras reportagens, inclusive algumas produzidas pelo mesmo jornal, que reproduzem sem questionar dados oficiais. E nestes, sempre se fala do aumento das vagas de emprego e da queda do desemprego. Mas com uma visão unilateral que causa muita revolta em quem está desempregado.
A matéria é assinada por Fernando Jasper. Rosana Félix assina a reportagem sobre os vereadores desacreditados. Estas três produções dão uma leve esperança: há luz no fim do túnel em relação ao bom jornalismo.
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