sexta-feira, 30 de setembro de 2011

A paíxão cega e confunde neste país da Copa

Artigo do jornalista Fernando Gabeira na edição desta sexta-feira, dia 30 de setembro, em O Estado de S.Paulo (página 2), alerta sobre um ponto deteriorado da cultura do brasileiro. Com o título “Pátria de chuteiras e ocaso da razão”, Gabeira abre o seu texto assim: “Aprendi ao longo de alguns textos sobre a Copa do Mundo de Futebol que o preço de questionar uma conquista nacional é o de ser acusado de torcer contra o Brasil”.

Verdade. Quando tomados pela paixão somos trogloditas. A irracionalidade nos cega e rouba a capacidade de analisar os fatos como cidadãos. Passamos a ser exclusivamente torcedores com latinha de cerveja na mão, bermuda com metade da bunda pra fora e babando palavrões a cada acontecimento.

Este descompasso racional não é típico de um ou outro. Atinge inclusive a nós, profissionais do jornalismo. Isto aconteceu em grande número das redações brasileiras na fase do crescimento petista com Lula, quando alguns profissionais deixaram de exercer o jornalismo e passaram a praticar no seu cotidiano profissional o lulismo.

A isenção fugiu e no seu rastro, em determinadas situações a ética ficou ofuscada. Recorremos a mais um trecho de Gabeira: “Desde a ditadura militar, com seu famoso slogan ‘ame-o ou deixe-o’, a tendência é inibir certas críticas, associando-as à falta de patriotismo”. Verdade também.

Esta tendência é criada por manipulação: o governo considera tal análise imprópria e usa de seu prestígio, inclusive junto aos meios de comunicação, para detonar o autor da análise. Nem todos caem na armada. Mas alguns compram a propaganda oficial. E dentre estes alguns temos, sim, jornalistas. Nos abstemos em relação aos empresários de comunicação. Estes dependem de subvenção.

Fernando Gabeira trata em seu artigo da condução dos preparativos para a Copa. Gastos exorbitantes, atrasos diante de repasses de recursos já feitos e preocupações tiradas no tranco com aspectos estruturais das cidades que vão sediar jogos são evidentes. E as localidades fora do eixo que esperem. O próprio Governo Federal criou atalhos para a execução de algumas obras. A Copa será em 2014. Quando é que os reflexos de tais decisões pesarão nos ombros dos brasileiros?

Gabeira não critica a Copa. Sua análise é sobre a conduta nos preparativos. Mas há de chegar alguém e condenar o autor, através de um artigo de jornal ou num espaço qualquer da mídia. Dirá que o autor é contra o futebol, a seleção brasileira e a grande paixão nacional. Aliás, temos uma seleção? Aqui, sim, a conversa é outra.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Entre caras-pintadas, jornalistas e parlamentares

O dia 29 de setembro é uma data histórica. A causa pode, inclusive, gerar na atualidade análises que levem para a utopia: lutou-se por uma política ideal e até imaginária para um Brasil onde os capítulos estão cheios de barbaridades. Há defensores desta tese, mas aqui não pretendemos trabalhar o enfoque da distopia.

O que se quer pontuar é que houve um movimento de fato há exatos 19 anos. Em 1982, justo no 29 de setembro, 448 deputados federais votaram a favor do impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello. Impeachment é um termo importado e a sua tradução, ao pé da letra, é impugnação de mandato. Mas podemos tratar como impedimento de se manter no cargo. Outros 38 deputados votaram contra, enquanto 23 se ausentaram da sessão. E cabe registrar que a ausência, às vezes, é uma atitude muito mais nociva do que o sim ou o não. Especificamente neste caso, pode ter sido um acovardamento.

Este foi o papel dos parlamentares neste acontecimento que resultou, três meses depois, num desfecho solicitado por toda a sociedade brasileira. No dia 29 de dezembro do mesmo ano Fernando Collor de Mello renunciou ao cargo de presidente para tentar preservar os seus direitos políticos. Mas diante dos clamores dos brasileiros em relação ao fato, o Congresso Nacional decidiu realizar o julgamento do presidente mesmo com a renúncia. E Collor perdeu o mandato e os direitos políticos por oito anos. Este foi o papel dos deputados e dos senadores.

Político, jornalista, economista, empresário e escritor, Fernando Affonso Collor de Mello foi prefeito de Maceió, deputado federal, governador de Alagoas e senador, até chegar à presidência do Brasil. Foi quando implementou o Plano Collor e com ele confiscou todas as economias da população brasileira. O resultado foi a recessão, que reduziu cerca de 920 mil postos de trabalho somente no ano de 1990. A inflação chegou à estratosfera, fechando em mais ou menos 1.200% ao ano.

Mas foram as denúncias de corrupção, junto com o seu tesoureiro de campanha, Paulo César Farias, que levaram ao processo do impedimento. Aqui entra o papel dos jornalistas. Desde as primeiras matérias sobre as irregularidades, denunciadas pelo próprio irmão do então presidente, Pedro Collor de Mello, pode-se considerar que os profissionais de comunicação trabalharam com rigor na apuração jornalística dos fatos.

E não foi por incitamento, mas pela seriedade da coberturta dos acontecimentos, que surgiram os caras-pintadas, estudantes que iniciaram a mobilização de toda a população para tirar o denunciado do poder. Era um movimento autêntico. Mas claro, havia inclusive entre as lideranças estudantís aqueles que pretendiam alavancar dali uma carreira política.

E é para os verdadeiros estudantes que destinamos as glórias da presença do povo em acontecimento político tão importante. Utopia? Pode ser. Aliás, se assumirmos que “no Brasil é assim mesmo e vai acontecer de novo”, tudo será utópico quando lutarmos por um país melhor.

Quanto à presença da comunicação nesta batalha, podemos dizer com certeza que neste epsódio a movimentação foi, também autêntica. Não se lutou contra alguém por raiva pessoal ou ideologia. Os trabalhos foram por uma causa nacional. E se ele voltou à política é porque o sistema permite. Naquela etapa o Brasil impediu que ele continuasse presidente.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Excesso de exposição de alguém afasta o leitor

A redação da Folha de Londrina do tempo do saudoso João Milanez era palco diário de uma salutar guerrinha entre o próprio e os jornalistas. Nunca em tom de deboche e sem ironias, disfarçando o respeito que todos tinham pelo fundador do jornal, os profissionais contestavam os pedidos do “patrão” de publicação de fotos dele junto com visitantes.
Milanez recebia muitas visitas. Empresários, políticos, estudantes, professores, sindicalistas, representantes de entidades, admiradores, opositores e assim por diante. Em cada ocasião o “patrão” solicitava um repórter fotográfico para fazer o registro. E queria que todas as fotos fossem publicadas na edição do dia seguinte.

Imaginem. Se todos os registros ganhassem espaço, cada página do jornal teria pelo menos uma foto do João Milanez com um visitante. Isso, mesmo em uma publicação de pequeno porte, onde as relações de amizade do proprietário do jornal com a sociedade costumam ter mais importância que a notícia, é excesso de exposição.

Excesso de exposição desgasta. Causa um prejuízo de efeito gradativo: hoje é interessante, amanhã cansa, depois de amanhã gera questionamento e daí por diante resulta em uma espécie de repulsa que faz o leitor virar de página na primeira batida do olho na foto.

O “patrão” tinha os seus motivos. Para ele, aquelas pessoas que o visitavam diariamente formavam o patrimônio da Folha de Londrina. Ele tinha plena razão. A Folha era um jornal dos londrinenses e a população de Londrina se orgulhava de ter uma publicação tão influente na vida cultural, social, econômica e política da cidade, da região e também do Estado.

Os mais fortes concorrentes da época, incluindo os grandes títulos de Curitiba, tinham a fama de serem Chapa Branca. A Folha dependia sim dos anúncios oficiais do Governo do Estado e das prefeituras, mas a conduta editorial aniquilava a má fama de ser atrelada e interesseira.

Por isso os profissionais de jornalismo daquele período eram respeitados no mercado editorial de São Paulo. Eram eles os autores das grandes reportagens, algumas de repercussão nacional.

Outra situação marcante: se acontecia um acidente na região central ou num bairro distante, as pessoas, antes de telefonaram para os Bombeiros ou a Polícia, ligavam para a redação da Folha. E quando o Fusca branco com tarjas cor de laranja chegava no local, as pessoas demonstravam alívio: “A Folha chegou”.

Diferente disso, temos um quadro próprio de lugar pequeno nos municípios de menor porte de qualquer lugar. Já nos colocamos mais de uma vez sobre a preocupação com os excessos cometidos pelas pequenas publicações, sejam elas de situação ou de oposição. O mais recente jornal que recebemos é um tablóide reduzido de 12 páginas. Contém nove fotos da autoridade local. Em uma das páginas essa autoridade aparece em três fotos.

Cá pra nós: se fossemos essa autoridade mandaríamos uma carta ao jornal solicitando que preservassem a nossa imagem para evitar desgaste junto ao leitor. Não citamos o nome da publicação por considerar que esta barbaridade é intensa e se trata de defeito da maioria.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Jornalista fora da redoma é trabalhador sim senhor

Alguns posicionamentos equivocados defendidos pelos próprios profissonais de comunicação colocam o jornalista em redomas. Um bom exemplo foi a discussão em 2004, no Comunique-se, sobre o projeto de lei de um deputado federal empresário da comunicação que propunha resgatar o PPP (perfil profissiográfico previdenciário) ao jornalista. O PPP foi extinto para o profissional de comunicação e até a sua vigência garantia aposentadoria especial aos 25 anos de exercício da profissão.

Uma das mais fortes oposição ao projeto de lei foi da Federação Nacional dos Jornalistas, a Fenaj. Sete anos passados, é descabido debater equívocos cometidos pelas duas partes, apoiadores do PPP e contrários, se bem que ambos os lados cometeram deslizes e injustiças gritantes em suas análises. Um por ser um político empresário da comunicação a defender interesses restritos; outro por representar nacionalmente uma categoria e desprezar particularidades da profissão que são mais acentuadas em pequenas localidades.

Mas vale, sim, mencionar os equívocos dos profissionais em relação a sua profissão de jornalista. Não é pelo fato de trabalharmos com o intelecto na produção inclusive de matéria de chá de cozinha ou de pequenas ocorrências policiais que somos diferentes dos demais trabalhadores. Somos, sim, trabahadores. Exceto aqueles que optaram pelo freelancer por decisão própria, e não por desajustes do mercado, somos, sim, trabalhadores.

Se na iniciativa privada dependemos do 13º para melhorar a nossa renda anual, do proporcional de férias, da Previdência Social, do vale refeição, no poder público somos servidores que dependem de todas as garantias para que possamos sobreviver com os nossos ganhos. Nos pagam mal e não temos como destinar parte dos nossos salários para almoços freqüentes em locais de alto padrão, planos de saúde de elevado peso orçamentário, regalias, influências e outras benesses que só são aceitas por quem não tem ética.

Ter carteirinha de jornalista para entrar de graça no teatro é coisa de alguns desses que aproveitam, neste momento, a dispensa do diploma de jornalista para obterem o registro profissional, que garante, entre outras maracutaias, as bocas livres promovidas pelas associações comerciais e sociedades rurais.

O jornalista não é um deus, mesmo que escrito em minúsculo. Jornalista é trabalhador com compromisso social e ético. No ambiente de trabalho sofre diariamente assédio moral desferido por empregadores prontos para responder a qualquer contestação sobre o regime de trabalho com a demissão.

Lembramos de um final de ano, na crise da Folha de Londrina. A turma da redação deixava o prédio da Rua Piauí lá pelas dez e meia da noite. Os londrinenses retornavam para suas casas após as compras de Natal. Os jornalistas atravessavam o Calçadão de Londrina de mãos e bolsos vazios, amargando um período de atraso nos salários e sem expectativa de décimo-terceiro. Jornalista não é rei, mesmo em minúsculo. Jornalista é trabalhador. Chega de querer ser diferente. Sem essa de colocar intelectualidade numa categoria que não tem dinheiro nem para assinaturas de jornais e revistas.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Opinião - Se tiver mais qualidade dá mais leitura

Jornal é para ser lido, disso dona Elisete tem certeza. Aliás, absoluta. Diarista, esta mulher de seus cinquenta e poucos anos chega cedo ao local de trabalho, num condomínio residencial da Rua Professor Samuel Moura, em Londrina, bem em frente de onde uma construtora de prestigio começa a apontar para a vertical mais um conjunto de apartamentos de luxo.

A primeira tarefa dela é recolher na portaria os exemplares da Folha de Londrina e do JL. E enquanto a patroa acorda, Elisete, lá embaixo no saguão de espera, folheia os jornais. Semana passada iniciei uma sondagem de curioso, para saber o que mais atraia a mulher nas páginas das duas publicações. Preconceituoso e sacana, imaginei que fosse o horóscopo ou a programação da TV, principalmente as dicas sobre os capítulos das novelas.

E me dei mal. Elisete concluiu o antigo ginasial e me disse, desafiadora, que no tempo dela o ginásio valia o colegial de tão rigorosos que eram os professores. Ponderei que o tempo dela era o meu e por isso eu concordava. Então ela acrescentou, como se tivesse lido a minha cabeça: “Aposto que você pensou que eu ia nos jornais só para ver os capítulos das novelas?”

A danada me desarmou. Então recorri à brincadeira: “Claro que não. Eu imaginei que a senhora corria na página do horóscopo. Mulher é chegadinha em horóscopo, vai negar?”

Olha, não foi um murro que recebi na cara, mas doeu tanto quanto. “Como pode você sendo jornalista achar que toda mulher abre jornal para conferir horóscopo e capítulo de novela? A primeira coisa que eu vejo são as cartas. Gosto de saber sobre o que as pessoas reclamam. Tem uns manjadinhos que aparecem nas cartas quase todos os dias, mas por outro lado tem gente de idéia boa que escreve...”

E não deixou mais eu falar. Indefeso, decidi que o melhor era escutar. Ouvi muito e tive a oportunidade de fazer daquele começo de dia uma espécie de evento importante. Sim, muito importante saber que se pode encontrar cultura em gente que não faz questão nenhuma de mostrar ser culta. Elisete discute comigo quase todas as manhãs as manchetes de capa dos jornais. Não temos tempo de prosseguir folheando as páginas, porque ela sobe para o apartamento onde faz a faxina e eu sigo para o meu trabalho fora do prédio.

Eu saio feliz. Pois ao contrário do que pensam inclusive alguns projetistas editoriais, jornal impresso é, sim, lido quando tem em suas páginas o que ser lido. Elisete odeia BBB, A Fazenda, sertanejo universitário, Gugu, Faustão, Luciano nariz grande e sua porta da esperança. Mas garante que respeita quem aprecia “esse tipo de coisa sensacionalista”. E diz mais: “Não perco o meu tempo assistindo o Fantástico. Televisão, em casa, é só para enfeitar a sala. Prefiro ler durante os meus descansos, mesmo que seja um jornal da semana passada...”

Por Walter Ogama

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Perguntas básicas podem dar boas pautas

Notícias populares, notícias populescas e notícias popularescas. Em teoria pode haver diferença entre uma coisa e outra. Na prática entra tudo na mesma panela e faz-se um conchavo de aroma e sabores variados.

Conchavo mesmo. O pressuposto é de acertos de bastidores pautando as produções e armando presumidos dividendos. Em dinheiro, para quem trabalha as notícias com a bunda. Em prestígio, para quem banca as notícias feitas com as nádegas.

Com o slogan “Nada mais que a verdade”, o Notícias Populares circulou de 15 de outubro de 1963 a 20 de janeiro de 2001. Editado e impresso em São Paulo pelo Grupo Folha (Folha de São Paulo), o jornal era lido em praticamente todo o Brasil.

O Notícias Populares usava as manchetes violentas e sexuais para chamar a atenção dos leitores que passavam pelas bancas de jornais e revistas. Aliás, Londrina tinha bancas nas esquinas naquela época. Entre sangue, estupro, mutilados em acidentes, tiros e facadas, a capa trazia sempre a foto de uma mulher seminua.

A publicação, criada pelo imigrante da Romênia Jean Melle, chegou em algumas de suas fases a ser acusada de inventar noticias. Uma dessas invenções foi quando o cantor Roberto Carlos estava em Nova York e não foi localizado no Brasil por um repórter de TV. O jornal usou como manchete de capa “Desapareceu Roberto Carlos” e conseguiu vender cerca de 20 mil exemplares a mais. No dia seguinte a manchete foi “Acharam Roberto Carlos”.

Sensacionalista de fato. Às vezes extremamente desrespeitoso com a sociedade. As invenções das noticias, na verdade, eram espécies de crônicas, misturando fatos da realidade e a ficção, publicadas em capítulos nas edições diárias.

Algo parecido com aquilo feito por George Orson Welles, em 1938. Ele produziu uma transmissão radiofônica chamada A Guerra dos Mundos, adaptando obra de igual nome de Herbert George Wells. O resultado foi um estado de pânico dos ouvintes, que imaginavam que a terra estava, de fato, sendo invadida por extraterrestres.

Ainda assim o jornal Notícias Populares era lido e respeitado por leitores de todo o país. Em defesa da publicação, estes diziam que apesar das extravagâncias e da exploração dos temas sexo e violência tanto para o bem quanto para o mal, a publicação trazia notícias que interessavam às pessoas comuns.

Eis o dilema. Quais são, no momento, as notícias que interessam não somente os leitores cativos de cada jornal, mas principalmente a sociedade? E nesta se incluem pessoas de faixas etárias, posses, cultura, hábitos, costumes e preferências diferentes. O que é preciso, enfim, para uma publicação ser considerada popular, e não populesca ou popularesca? Sensacionalismo? Literatura? Quadrinhos? Colunas sociais manjadas? Infografias? Fotos rasgadas? Sangue, facas, armas de fogo e vítimas arrebentadas? Histórias de corrupção?

A princípio diríamos que jornal é para trabalhar jornalismo. Em jornalismo a pauta perde horas de discussões acaloradas na decisão do que vai nas páginas no dia seguinte. Imagina-se que nestes debates façam-se algumas perguntas básicas, das quais duas devem ser as iniciais: Isto é notícia? Se é notícia a quem interessa?  

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Comunicação e leis da barganha e dos favores

A lei é clara, mas os abusos acontecem. Está na legislação federal e vale como instrumento legal supremo. Em determinados aspectos, a legislação estadual referenda e as câmaras municipais, mesmo com um bom número de vereadores ignorantes do assunto, costumam colocar tom local na ferramenta, inclusive adequando as leis orgânicas municipais.

Na comunicação a relação entre o poder público e os empresários de jornais, rádio e televisão tende a se tornar mais complicada à medida que diminui o tamanho da localidade onde estas mídias atuam. Municípios pequenos, por exemplo, são leitos de um variado número de publicações impressas de pequeno porte. Na maioria dessas localidades os meios rádio e televisão são inacessíveis.

Outra característica é o comércio fraco. Jornais de cidades pequenas não sobrevivem com a venda de espaços publicitários. Pratica-se, quando muito, a insana mas corrente lei da barganha: um anúncio de meia página vale almoço do dono do jornal por uma semana; um quarto de página por edição para a padaria da esquina é trocado pelo café da manhã com direito a pão e manteiga. E assim vai...

O dinheiro para bancar cada edição, consequentemente, não é fruto de milagre. Alguém banca em troca de espaço que não e comercial. Normalmente é o espaço editorial vergonhosamente vendido que faz o meio de sustentação financeira. Banca a impressão, a distribuição e a renda do dono do jornal e de sua família.

A contrapartida é a evidência do patrocinador. E qual empresário, em boa situação, faria questão de aparecer diante da sociedade como um próspero negociante? Exceto nas páginas sociais, que é vitrina das amenidades e onde também a ocorrência de favorecimentos é questionada, sobretudo nos pequenos jornais, ninguém em sã consciência quer aparecer. Políticos em busca de votos às vezes perdem a sanidade.

E políticos em pequenas localidades são prefeitos, vereadores e oposição. Quando muito, um ou outro deputado estadual ou federal influencia, tendo ou não origem no local. A oposição de cidade pequena também é costumeiramente pequena. Sobra o prefeito, que queira ou não tem a chave do cofre na mão.

Sabe-se que para bancar a mídia com dinheiro legal restringe, em muito, o espaço supostamente necessário para fazer uma reeleição. Pela lei, o poder público só pode pagar espaço institucional com peças de orientação e educação. Mas o interesse político exige, além de matérias de obras com fotos rasgadas de um lado a outro, fechar qualquer cantinho de página que possa ser usado pela oposição.

Isso custa caro. Mas o povo paga. E é este mesmo povo que não encontra nada para ler no jornal. Estamos falando de ética e de democratização da informação. Osso duro, mas tentar reverter o quadro é missão.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Pontos para o jornalismo que é pé no chão

Ainda é rasteiro e brando, mas já é possível ter prazer com os seus efeitos. E não se indignem aqueles que passarem os olhos neste artigo e chegarem ao ponto final – ou às reticências – com a idéia de que estamos enfeitando pano de prato com lantejoulas. Nada disso, pois não há intenção de riscar os jogos de prato.
Falamos do que está no ar e é respirável. É um vento gostoso por mexer com a nostalgia ao mesmo tempo em que alivia com possibilidades de mais soprões. Por isso só entramos no assunto depois de gastar verbos em quase dois parágrafos. Vamos lá.

A capa da Folha de Londrina da edição desta quarta-feira, 21 de setembro de 2011, está um jornal que lembra as boas fases da publicação. Assuntos que interessam o leitor são chamados. A manchete, por exemplo, estampa a preocupação editorial sobre um tema tratado nas páginas internas e que deveria também preocupar a sociedade, incluindo os políticos que elegemos e nos representam nos legislativos e nos executivos das três esferas. E claro, também o Ministério Público.

Com o chapéu Educação em Xeque, traz o título “Escolas rurais estão à margem do Enem”. E daí? – perguntariam alguns. Assinada pelo jornalista Fábio Galão, a reportagem na página 6 do primeiro caderno informa, com base nos dados por escolas do Enem 2010, que “das 170 escolas rurais públicas paranaenses, 99 ficaram sem cálculo de média no exame porque não atingiram o número mínimo de estudantes concluintes do Ensino Médio participando da avaliação”.

Esta informação vem a reboque de outras sobre o mesmo tema sobre a inexpressiva média das escolas públicas em relação aos estabelecimentos privados de ensino. Portanto, a reportagem é mais um atestado de incompetência do poder público em relação ao seu dever com a educação.

Transcrevemos aqui trecho extraído da retranca de apoio da matéria. O depoimento é de Joaquim Gonçalves da Costa, presidente do Comitê Estadual de Educação no Campo. Com a licença da Folha e de seu jornalista: “A política educacional para o meio rural tem uma dívida histórica. Não houve investimento suficiente para atender o aluno no lugar onde ele vive”, diz.

E dá prosseguimento: “As escolas municipais, que oferecem o Ensino Fundamental, ainda têm muita presença nas comunidades rurais. Mas, conforme os estudantes ascendem na escolaridade, a ofertas de estabelecimentos de ensino diminui. Quando chegam ao Ensino Médio, muitos jovens tem que sair das comunidades onde vivem”.

O peso desta realidade é pequeno para um estado como o nosso? Muito pelo contrário. Tirando os grandes e médios núcleos urbanos do Paraná, que são contados nos dedos, temos uma predominância rural inclusive em municípios com uma rua principal cercada por propriedades rurais, onde a fonte de renda sai da terra. “O campo está envelhecendo porque os jovens estão indo para a cidade”, afirma o presidente do Comitê.

É, portanto, resultado de omissão política. E sentam nos bancos dos réus vereadores, prefeitos, deputados estaduais, governadores, secretários de diferentes esferas, deputados federais, senadores e tantos outros que discursam uma urbanidade utópica e cheia de enfrentamentos sem amenizar as dificuldades da turma de origem. Igual jogar veneno na raiz.

A reportagem da Folha permite leitura. E chega-se ao fim do texto com a convicção de que a produção da matéria se preocupou com um problema que é nosso. Isso é enfoque jornalístico.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Fome arrecadadora, omissão do Estado e barbeirice

As capas dos dois jornais londrinenses trazem nesta terça-feira, dia 20 de setembro de 2011, temas relacionados ao trânsito.

“Viseira aberta é infração e risco”, chama o Jornal de Londrina. E informa na linha fina: “O artigo 244 do Código Brasileiro de Trânsito (CTB) considera infração gravíssima pilotar motocicleta com a viseira do capacete aberta e sem os óculos de proteção adequados. Além de multa, o direito de dirigir é suspenso. Nos cinco primeiros meses deste ano, segundo dados do Detran, 767 motociclistas perderam a carteira em Londrina por essa infração. Em todo o ano de 2010, foram registradas 1.001 ocorrências.”

A matéria está na página 4, onde um olhômetro do repórter deu a ele o direito de escrever que pelo menos 95% dos motociclistas usam o capacete com a viseira aberta. Há uma retranca de apoio com o título “É comum flagrar PMs com a viseira levantada”.

Com o chapéu “Irregularidade?” a Folha de Londrina mancheteia com o título “Em 18 meses, CMTU aplicou R$ 11 mi em multas”. A linha fina diz: “Companhia Municipal de Trânsito registra, em média, 296 autos de infração por dia contra condutores. Judiciário analisa ação que questiona legalidade das sociedades de economia mista em exercer poder de polícia. Decisão contra Urbs, de Curitiba, pode servir de parâmetro para Londrina.”

O valor exato do que foi arrecadado de janeiro de 2010 a junho deste ano está na matéria que abre a página 3 do primeiro caderno: R$ 10.910.413,03. É muito dinheiro e alguém quer eliminar do vocabulário da cidade as palavras “indústria da multa”. Talvez por isso o jornal tenha enfocado o assunto nesta semana em que se trabalha a conscientização sobre o trânsito.

A Folha fundamenta a reportagem, inclusive com decisões em outros estados, além do caso Urbs, de Curitiba. Ouve também a Ordem dos Advogados do Brasil, que no Paraná dispõe de uma Comissão de Trânsito. Mexe com uma ferida que arde na população há muito tempo e por isso mesmo exige debates: o motorista londrinense é tão desrespeitoso assim? Ou existe realmente uma indústria da multa, cuja visão, às vezes, fica ofuscada tamanha é a necessidade de arrecadação?

Claro que a matéria da Folha não trata de nenhuma destas perguntas. Mas campeia pelo lado da constitucionalidade e pode abrir, inclusive, a possibilidade de abrir investigação necessária de esquemas espalhados por vários municípios que usam seus radares para enriquecer a quem de interesse. E há casos de vídeos que nunca registram infrações cometidas por amigos dos influentes, como também há equipamentos que gravam supostas infrações de todos os veículos que são de outras cidades. Manipulação ou coincidência?

De volta a Londrina: tanto na questão da viseira quanto da multa, se há despreparo do motorista e do motociclista é hora do Estado punir na mesma proporção em que educa. Caso contrário, teremos a manutenção de um círculo: desrespeito, multa, apreensão de carteira, morte de condutores e morte de pessoas no trânsito que não conduzem motocicleta e muito menos carro.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Um título esquisito na forma e no contexto

Quem é Paulo Camargo? Infelizmente somos obrigados a iniciar esta análise com uma pergunta. Há segmento das letras que condenam a prática e o argumento é aquele, essencialmente básico: texto, principalmente em jornalismo, é para informar. Pergunta, portanto, é recurso de quem não tem o que informar.
Neste caso estamos discordantes. Mas é hora de entrar no assunto após um parágrafo de angústia desnecessária. Paulo Camargo assina na edição desta segunda-feira, dia 19 de setembro de 2011, uma espécie de dica de filme na página 4 do Caderno G da Gazeta do Povo.

Exceto trechos em que a linguagem apela para termos cuja compreensão é limitada, o resto é um bom fichamento. Distopia, por exemplo. E logo mais trataremos com certo tom informativo sobre isso.

O autor fala de Não Me Abandone Jamais (Never Let Me Go), filme baseado no romance de Kazuo Ishiguro. Publicado em 2005, foi considerado pela Revista Time como o melhor livro da década. Adaptado para as telas por Alex Garland, o filme foi dirigido por Mark Romanek e ganhou as salas comerciais de projeção.

Embora seja fora de foco deste texto analisar a história e a produção, um trechinho copiado de outras avaliações que não são a da Gazeta do Povo é pertinente, até para situar quem está lendo isso. Nas aspas, diz-se assim: “1952 - a cura para as principais doenças da humanidade teria sido descoberta, através da doação de órgãos, advindas de clones humanos. Kathy, Tommy e Ruth são três destes clones; crianças criadas numa escola isolada, cuja principal regra é a superproteção dos alunos, para que eles não contraiam nenhuma doença e sejam seres capazes de doar órgãos saudáveis”.

Basta. Sobre a distopia, mais aspas: “Pode ser sinônimo de anti-utopia - aplicado a uma obra que põe em causa ou satiriza alguma utopia ou que desmitifica tentativas de apropriação totalitária de um cenário utópico”. Entenderam? Quase, quase...

E agora a resposta à pergunta que abriu este texto. Paulo Camargo é um profissional que produziu um texto e deu dicas aos leitores sobre um filme. Um cara que teve a falta de sorte – para não dizer azar – de ter o seu texto editado por alguém que faz um título assim: “Nascidos para morrerem jovens”. Isso machuca os ouvidos, mesmo que surjam alguns em defesa do acerto dos dois verbos.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

A cota que cabe para cada um de nós povo

O custo financeiro previsto da Copa de 2014 é aquele que qualquer cidadão brasileiro pode acessar no portal da transparência da Controladoria-Geral da União: R$ 23,4 bilhões. Outra projeção, da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base, entidade mantenedora de um acordo de cooperação técnica com a Confederação Brasileira de Futebol, joga este número para R$ 112 bilhões.

É uma grande distância entre um e outro. Até por isso a recente reportagem da Folha de S.Paulo, lembrando que o Pan-Americano do Rio em 2007 custou para o Brasil dez vezes mais que o previsto, causa muita preocupação.

Na edição desta sexta-feira, dia 16 de setembro, a Gazeta do Povo traz o assunto em três páginas do seu caderno de esportes. A reportagem mereceu a manchete de capa, com o título: “A mil dias do Mundial, apenas 4,7% das obras já começaram”.

Nesses 4,7%, respeitada a proporção, o gasto já teria chegado à marca de R$ 1 bilhão. Dinheiro que voa. Mas há de se considerar outros custos de montantes tão nocivos quanto a das obras nas praças esportivas, aeroportos, rodovias e demais sistemas vinculados.

O parênteses é de que obras são necessárias desde que estejam na lista de prioridades rascunhada pelo povo, este que por defeitos na prática da democracia do país elege políticos e, às vezes, aplaude a contragosto o cumprimento de obrigações por parte dos eleitos.

Então há de se descontar que algumas obras de estrutura, como no transporte, só estão projetadas por causa da Copa. Não fosse o futebol jamais ganhariam as pranchetas.

Por isso o custo político vai, fatalmente, pesar muito mais nas costas da população brasileira do que os R$ 112 bilhões da projeção maior. Para agilizar as obras, o governo federal criou o Regime Diferenciado de Contratação, com a sigla RDC, uma vez que aqui as abreviaturas são importantes por esconderem equívocos. Fique claro: o governo federal propôs, o Congresso Nacional aprovou. Deputados federais e senadores, portanto, compartilham do pecado.

A reportagem da Gazeta do Povo explica o que isto significa: “Entre outros aspectos garante a manutenção do sigilo dos orçamentos prévios de um projeto até o fim da licitação”. O texto acrescenta: “Durante o processo, somente órgãos de controle terão acesso aos preços. Ou seja, tudo no escuro”.

Saberemos depois de 2014, quando a festa chegar ao fim e a sua repercussão houver colocado os nossos pés no chão, o tamanho real do rombo. E nisso serão incluídos desvios, picaretagens, influências e outras práticas que deveriam ser condenáveis.

O outro custo é o social. Riqueza de uns, mais pobreza de outros. Situação que as estatísticas oficiais não detectam em suas pesquisas, que sempre apontam o enriquecimento da população diante das mais conturbadas realidades.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Sigilo é peso emocional em Faces da Verdade

A jornalista Rachel Armstrong revelaria o nome de sua fonte caso esta fosse uma pessoa adulta? Estamos falando de um filme inspirado em caso real. Não só por isso, mas também por acontecimentos parecidos registrados inclusive no Brasil, o teor ficcional do enredo é bem menos denso do que a realidade. Temos como exemplo o caso da jornalista Andréa Michael, da Folha de S.Paulo, com a sua reportagem investigativa há anos sobre o caso Dantas. A profissional chegou a ser acusada de fazer inclusive escuta telefônica na fase investigativa da matéria, o que caracterizaria a quebra da postura ética no exercício da profissional. Mas sustenta que sua informação veio de uma fonte.

“Faces da Verdade” (originalmente Nothing but the truth), teria sido inspirada no caso de Judith Miller, jornalista do New York Times que ficou presa 85 dias em 2005 por manter o sigilo de uma fonte que revelou a identidade de um agente secreto da CIA. Isto é assunto de segurança nacional nos Estados Unidos. E nesse caso não há sigilo de fonte.

Rachel Armstrong, interpretada por Kate Keckinsale, descobre e revela a identidade da agente secreta da CIA, Erica Van Doren, interpretada por Vera Farmiga. A descoberta ocorreu num ônibus escolar que levava o filho da jornalista para as aulas. Por uma circunstância que aparece no filme como acidental, Rachel está de carona no ônibus escolar acompanhando o filho até a escola. Sentada num banco duplo folheia um livro, mas volta e meia é interrompida pela menina do lado.

Então a coincidência. Ou sorte. A menina é filha da agente secreta da CIA e comenta com a jornalista uma pequena desavença que presenciou em casa entre a mãe e o pai, por ele ser um colunista de jornal e ter publicado comentários sobre operações do governo norte-americano na Venezuela.

No filme, a agente está infiltrada na Venezuela para investigar um atentado contra o presidente dos Estados Unidos. Após trabalhar no caso ela elabora um relatório negando o atentado. Ainda assim os Estados Unidos invadem a Venezuela.

A reportagem é publicada e tempos depois a agente da CIA é assassinada. Rachel é presa e tem a sua liberdade condicionada à revelação da fonte. Na prisão, perde contato com a família: o marido desinteressa-se por ela após tentar demovê-la da idéia de manter o sigilo da fonte. O filho torna-se distante.

Julgada, a jornalista é condenada e mantida presa. As cenas finais são da jornalista no último encontro com o filho e as lembranças de quando se encontrou com a filha da agente da CIA e obteve as informações sobre o conflito entre os Estados Unidos e a Venezuela.

E fica a pergunta feita no início: numa sociedade extremamente patriótica como é nos Estados Unidos, se a fonte não fosse criança a jornalista trocaria a prisão pelo convívio com a família sobre o argumento do assunto de segurança nacional?

Cá entre nós: o extremismo americano jamais mereceu perdão, inclusive quando no passado referendou por aqui as operações dos regimes militares no Brasil e países vizinhos. Mesmo assim a cultura política dos EUA permitiria um perdão da ética à profissional de jornalismo. Na verdade, as cenas finais atrelaram a manutenção do sigilo a um sentimento de Rachel Armstrong em relação à filha agora órfã da agente da CIA.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A divulgação do que é ruim é um compromisso

Corrupções, homicídios, furtos, roubos e mais atrocidades. As páginas dos jornais impressos chegam diariamente aos leitores carregadas de notícias ruins. “Mulher de ministro usa servidor como chofer”, mostra em sua capa a Folha de S.Paulo. Mais moderado, O Estado de S.Paulo suaviza a capa com manchete positivista, mas não tem como fugir dos acontecimentos nas páginas internas: “Marta congela painel do Senado por 6 dias”, mancheteia na página A7.
Nos jornais paranaenses, a capa de Gazeta do Povo é curitibana e otimista: “União garante R$ 1 bilhão para o metrô de Curitiba”. Na página 7, o título da matéria principal é “3 pessoas morrem por mês em pista simples da BR-277”. A Folha de Londrina também suaviza o tom da capa com manchete sobre o papel da mulher no gasto familiar. Na página 7 traz a manchete “Queda de bimotor mata três em Maringá”.

É comum ouvir de determinados leitores críticas em relação ao conteúdo dos jornais. Dedos em riste apontados para as páginas, estes acusam os profissionais de jornalismo a trabalharem exclusivamente nas produções de fatos negativos. Isso é um equívoco. O papel da imprensa é de mostrar o que acontece e, de tabela, despertar a preocupação da sociedade, quando o tema enfocado envolve denúncias ou problemas, para que as providências sejam tomadas pelas autoridades.

Trabalhar notícia, enfim, exige esse compromisso para com as pessoas que terão acesso a elas. É oportuno também insistir que os jornais noticiam acontecimentos. Nada se inventa, embora haja ainda quem julgue que os jornais são os geradores dos acontecimentos e dentre estes há pessoas que poderiam ser consideradas cultas e conhecedoras.

Sim, podem ocorrer manipulações, mas daí a análise teria que ser feita sobre as publicações que se permitem a estas condições, usando de expedientes como os chamados balões de ensaio, que podem provocar corridas aos supermercados, estocagem de óleo de soja pelas donas de casa, filas de madrugada nas portas das escolas para garantir vagas aos filhos, por exemplo.

Mas no contexto dos meios impressos que são sérios e praticam linhas editoriais éticas, somos obrigados a refutar ironias como as que acusam os jornais de serem omissos em relação aos fatos considerados bons e positivos. Isso é uma mentira. Recebemos uma ligação telefônica de uma colega jornalista que solicitou informações sobre bons projetos em determinada localidade. Aliás, bons projetos que não tenham a mão do poder público e que sejam isentos de vícios.

Pensamos e não pudemos ajudá-la muito. Quando se descobre uma iniciativa que parece neutra de interesses que não sejam comerciais ou políticos, o aprofundamento da pesquisa, infelizmente, leva à conclusão que algum tipo de manipulação existe.

Nada, enfim, é de graça. Por isso, numa cultura cujos valores são tratados pela superfície, é sim, papel da imprensa, manter uma linha editorial que trate seriamente da corrupção, da insegurança, da crise na saúde, das bobeiras dos vereadores, da falta de educação, da miséria até que os culpados sejam condenados. Quem sabe, assim, será um dia possível um jornal sem tantas notícias ruins.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Reforço sobre a ética e o uso da imagem

(para ser conferido sempre)

É novamente em Eduardo Altomare Ariente, professor de deontologia e legislação do jornalismo da ECA/USP, que fortalecemos argumentos de ontem sobre o uso da imagem pelos veículos de comunicação.

Com o perdão do autor pela captação de trecho de seu estudo, denominado “Direito de imagem e ética jornalística”.  Justificamos que o uso se faz devido ao rigor da análise, que vale não só para a imagem. Tem importância para todo o jornalismo. Em capítulo conclusivo, o autor diz:

“Os direitos individuais vêm sofrendo a cada dia seguidas agressões, seja dos governantes, seja dos meios de comunicação social. A banalidade das ocorrências parece servir como fator de legitimação do absurdo e do vilipêndio de reputações. 

Nos casos criminais, a imprensa deveria, ao invés de estar na linha de frente dos abusos, criar filtros contra os sentimentos de vingança e tentar prestigiar a defesa intransigente por justiça, de acordo com o devido processo legal. Justiça instantânea não é justiça, mas apenas prestígio do linchamento público.

Assim, nestes tempos em que absurdos e atrocidades parecem ser cada vez mais comuns, impõe-se ao profissional da comunicação uma postura firme, comprometida com a dignidade da pessoa humana e com os valores mais elementares que devem nortear os padrões civilizados de convivência.
O uso comedido e moderado de imagens de terceiras pessoas não constitui obstáculo para a prática jornalística. Muito pelo contrário, valoriza a inteligência dos receptores sem agredir o direito das pessoas objeto de matérias de interesses jornalístico.”

Cabe lembrar o disposto na Constituição Federal, em relação à comunicação social. Está no capítulo V, Artigo 220: “A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição. § 1º - Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV (respectivamente liberdade de manifestação, direito de resposta, inviolabilidade da honra e da imagem, direito à indenização pelos prejuízos causados, sigilo de comunicação e direito de reunião). § 2º - É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística...”

Portanto, salvaguardar direitos alheios está mais na conduta ética do profissional de comunicação do que na legislação. E isso exige reflexões diárias.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

E nada para o 11 de setembro do Chile...

O circo pegou as grandes redes de televisão do Brasil do jeito que elas queriam na cobertura dos 10 anos do 11 de setembro em Nova York. Apelando para um mar de lágrimas, o enfoque central foi essencialmente americanista. As versões da história foram massacradas tanto quanto o evento em si, que resultou na morte de 2.997 pessoas em conseqüência do desabamento das torres gêmeas e de outros atentados simultâneos. Na Globo News, alguns analistas convidados até que tentaram mostrar as várias faces da mesma moeda. Mas em uma produção tendenciosa as intenções éticas ficam apagadas. Não se defende aqui um lado ou outro. O que se defende é a verdade e, principalmente, a ética. Contar a história exige muita ética.

Enquanto as TVs taparam os olhos para o resto do mundo, o meio impresso mostrou que é mais aberto às nossas americanas. A Folha de Londrina, por exemplo, aproveitou matéria da agência de notícias Folhapress sobre as concentrações nas ruas de Santiago, no Chile, para lembrar o 11 de setembro de 1973, em memória das 3.225 vítimas da ditadura militar que se apossou do país naquela data, após derrubar o governo de Salvador Allende. A matéria publicada pela Folha de Londrina é ilustrada com uma foto da manifestação em Santiago. O espaço para o 11 de setembro de Nova York é de pouco menos de meia página. Na Gazeta do Povo, duas páginas para Nova York. Nada para a manifestação do Chile. Tendências nada editoriais, ao que parece...

Foto de capa tem excesso de confiança ou é cabaça

O Jornal Cambé de Fato tem duas histórias: nasceu de oposição à administração municipal anterior e virou situação agora. A princípio, diríamos que tal ocorrência é fruto de uma circunstância política e isso é uma verdade incontestável. Em publicações que surgem com objetivos definidos para este lado, o que se espera a cada mudança de rota na vida política da localidade onde ela circula é previsível.
Mas sobra, além desse contexto, muito mais para ser analisado. Dentre esses mais, o interesse público deve ser levado em conta. Vai-se para a contudência quando puxamos que uma publicação distribuída para toda a população tem, sobretudo, o compromisso com essa enorme faixa de leitores, pois não estamos falando de um jornal de partido, um jornal de professores ou de bancários, um jornal de segmento específico da população. O parâmetro da linha adotada não basta. Tem que se considerar para quem o jornal é distribuído.

Assim pegamos a edição de 8 de setembro de 2011, de número 71, que menciona circulação regional. Vamos nos limitar à capa, cuja manchete chama para matéria na página 5. É um texto-legenda com título aplicado à foto: “Presidente da FIEP e prefeito de Cambé inauguram o Colégio SESI”.

O detalhe da foto: é posada. O clique registra as autoridades presentes perfiladas com alunos do estabelecimento de ensino. O clique foi feito dentro dos muros da escola. O que é que há de errado nisso? Primeiro, a idade dos alunos. Eles são todos menores. Mais? A armação da foto, o clique não é de um lance do evento de inauguração. Isso descaracteriza fotojornalismo. É montagem promocional.

Entre as várias análises que dispomos sobre o uso desse expediente para ilustrar texto de jornal, incluindo pareceres jurídicos, com abundância de autores no Ministério Público de São Paulo, nos valemos do estudo do professor de deontologia e legislação do jornalismo da ECA-USP, Eduardo Altomare Ariente.

Vamos nos limitar aos princípios básicos a partir do uso da imagem de menores na promoção comercial ou política. A legislação brasileira, incluindo a Constituição Federal, o Estatuto da Criança e do Adolescente e o Código Civil dão subsídios para referendar situações que, na Justiça, podem legitimar fatos passíveis de questionamentos.

Na foto em questão, se o clique foi feito em pose, alguém a organizou: a direção da escola, algum professor, o fotógrafo do jornal ou a assessoria dos políticos presentes. Houve concordância dos pais de todos os alunos do estabelecimento de ensino para que seus filhos fizessem parte de uma montagem de cena e saíssem na foto? Juridicamente, a concordância verbal não tem valor. É preciso declaração de cada personagem.

Caso o clique fosse com característica de lance, com os menores aparecendo na foto perto das autoridades, ainda assim, pelo fato do evento ter acontecido dentro de um estabelecimento privado, haveria risco de questionamento jurídico. É que na interpretação dos juízes, o menor, mesmo presente em manifestação não constrangedora, tem direitos claros definidos pela legislação quanto à exposição e o uso de sua imagem.

A leitura jurídica também faz uma separação entre local público e privado. Exemplifiquemos com um desfile de 7 de setembro. O menor está participando do desfile e é fotografado por um jornal, que publica a sua foto. Em caso de contestação jurídica por parte da família desse menor, o juiz irá ponderar que o menor participava de um evento público em local público, portanto estava passível de ser fotografado e de ter a sua foto publicada desde que o registro fotográfico não caracterize situação constrangedora. Por exemplo: com o dedo no nariz durante o desfile.

Diferente de uma festa de 7 de setembro dentro de uma escola pública ou privada. Nesse caso a declaração dos pais autorizando a publicação é fundamental. No mais, o Cambé de Fato mantém a sua cara, de acordo com o que seus mantenedores se propõem.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Mais sobre o bi-hebdomandário chapa branca

Bi-hebdomandário. Esta era a periodicidade do primeiro jornal chapa branca do Brasil, a Gazeta do Rio de Janeiro, que começou a circular em 10 de setembro de 1808. Sim, bi-hebdomandário, porque circulava duas vezes por semana. Um detalhe que encontramos nos anais da história: até a publicação ser lançada, era terminantemente proibido aos habitantes do Brasil o acesso a outros jornais.

Seria uma forma de impedir a leitura do Correio Braziliense, lançado em julho daquele ano por Hipólito da Costa? Rodada na Imprensa Régia, a Gazeta do Rio de Janeiro era o veículo de comunicação oficial da Corte Portuguesa no Brasi. O Correio Braziliense, editado e rodado em Londres, era o jornal de oposição.

Editado pelo Frei Tibúrcio José da Rocha, a Gazeta do Rio de Janeiro dedicava  seus espaços aos comunicados de governo e aos louvores à família real. Continha também informes sobre a política internacional, com destaque para os conflitos napoleônicos e a situação das colônias americanas da Espanha.

A Gazeta do Rio de Janeiro circulou até a Independência do Brasil, após ter a denominação alterada, em 29 de dezembro de 1821, para Gazeta do Rio. Mas não foi a Independência uma trava para as publicações chapa branca. O primeiro jornal oficial do Brasil foi, em pouco tempo, substituído pelo Diário Fluminense, de Dom Pedro I, e o Diário do Governo, de Pedro II.

Ainda sobre a Gazeta do Rio de Janeiro, o trecho de uma carta escrita em 1818 pelo bibliotecário real Luís dos Santos Marrocos ao seu pai, em Portugal: “Devo advertir que nelas (notícias) há muita falta de exação e muita mentira, que não posso desculpar, pois, narrando com entusiasmo coisas não existentes ou dando valor a ninharias, cai no absurdo, ou talvez no desaforo, de não publicar fatos e circunstâncias ainda mais essenciais daquele ato.”

Enfim, nada mudou. E há quem provavelmente comemore neste sábado, 10 de setembro, os 203 anos do lançamento do primeiro chapa branca do Brasil. Entre os festeiros, representações das duas partes deverão de alinhar: donos de jornais comprometidos e potenciais clientes.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Crônica - Sherlock investiga chapa branca e oficioso

Tem sido uma peleja, cara! Estressante, muito! Tudo começou quando aquele buchicho, feito segredo de liquidificador, conspirou contra os organizadores do tal evento.
Dizia mais ou menos assim: “Senhores, temos que comemorar. Mas de acordo com a cartilha que nos rege, cuja determinação primeira é a discrição. Os nosso colaboradores são convidados de honra, mas há de ser criteriosamente verificada a postura de pessoas que os rodeiam. A data prevista é a do próprio acontecimento, dez de setembro”.

O recado foi um achado. Sem assinatura e nem mais detalhes, estava impresso numa folha de tamanho A4, gramatura 75, branca, qualidade mais ou menos equivalente ao de uma resma de nove reais e noventa. O texto, em Times New Roman, veio no corpo doze, entrelinha onze, em jato de tinta e centralizado. Isso mesmo. Nem direita e nem esquerda. Centralizado. Seria isso uma aversão ideológica? Talvez, uma estratégia.

O mais curioso: a tal folha, cuja discriminação trabalhamos até a exaustão, veio dentro de um jornal pego no balcão de uma lanchonete. Havia no momento uns vinte exemplares. Mas a mensagem só veio naquele que pegamos. Com absoluta certeza, pois depois do achado checamos todos os jornais para ver se mais cópias existiam. Que nada...

Ali já iniciávamos uma investigação. E a coisa ganhou corpo. Compramos lupas, cachimbos, bonés do Sherlock Holmes e sobretudos. Deixamos crescer os bigodes. Decoramos algumas senhas, dentre elas aquela que não levanta qualquer suspeita: “Elementar meu caro...”

E fomos para a pesquisa. Em qual jornal a mensagem veio encartada? Neste? Naquele? No outro? No assim por diante? Acontece que o inteligente de um dos nossos, quando descobriu a mensagem, de tão eufórico jogou o jornal. Voltamos à lanchonete pedir ajuda ao proprietário. Ele ironizou: “Vou eu saber? Aqui colocam uns trinta jornais com capas parecidas e matérias idênticas...”

Alguém teve então a brilhante idéia: “Onze de setembro? O que aconteceu no onze de setembro? Alguém lembra?” Bastou. Veio um terceiro com deboche: “Desperta, mano! Nada a ver com onze de setembro, um dia comum, sem qualquer acontecimento. Está escrito dez de setembro”.

Outra brilhante idéia, manifestada por todos: “Vamos no Google!” E não deu outra: nascimento de fulano, casamento de beltrano, aposentadoria de sicrano e, chegamos ao mais próximo... estava lá: no dia dez de setembro do ano de hum mil, oitocentos e oito circulou pela primeira vez o primeiro jornal chapa branca do Brasil, a Gazeta do Rio de Janeiro, que era rodado na Imprensa Régia.

Só podia ser uma festa para comemorar os duzentos e três anos de vida da imprensa chapa branca. Mas quem seria o organizador? Onde aconteceria o evento? Abriu-se nova investigação. Para nada. Partimos para a fase dos depoimentos. Ninguém disse coisa com coisa.

Foi então que decidimos ir para o sistema eliminatório, após rigorosa análise de todas as publicações. Pois é. Estamos nisso há seis meses. Os olhos ficam cansados e avermelham. A cabeça arde. O sono faz nego dormir no volante. Estamos, enfim, esgotados. E não conseguimos ainda isentar nenhum jornal...

Coisa de doido esta história, concordam? Vai ter nego beiçudo com este cronista, mas isto aqui foi apenas para mostrar a arte de incomodar os Chapa Banca (em maiúsculo) e os oficiosos. Será?

Por Walter Ogama

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Com muita discrição, mas sem nenhuma vergonha


Sem grandes eventos comemorativos e nenhum baile. Sem alarde e nenhuma nota nas colunas sociais. Sem vergonha, mas com discrição.

Na surdina, esgueirando-se pelos bastidores e provando os sabores das influências os jornais Chapa Branca comemoram neste mês de setembro 203 anos de existência no Brasil.

Os Chapa Branca são as publicações que nos mais de dois séculos de vida jamais enfrentaram a tesoura da censura mesmo nos períodos mais difíceis da história do País, pois seus proprietários sempre se perfilaram ao lado da Corte, no Brasil Império, e do poder constituído nos demais períodos, inclusive o de agora.

Tampouco tiveram a necessidade de investir em um profissionalizado departamento de venda de anúncios e de assinatura. Seus próprios donos é que negociam nos gabinetes de diferentes esferas, das câmaras municipais às prefeituras, nas assembléias legislativas, no executivo estadual, no Congresso Nacional e nos palácios presidenciais.

O primeiro Chapa Branca da história do Brasil surgiu no dia 10 de setembro do ano de 1808. Cabe lembrar que anos antes a Coroa Portuguesa proibiu as tipografias na Colônia. No dia 10 de maio de 1747, por ordem de Dom João V, foi feito o seqüestro de todas as letras de imprensa que se encontrassem no Brasil.

Por isso em junho de 1808 o primeiro jornal de oposição à Corte, o Correio Braziliense, foi editado e impresso em Londres por Hipólito da Costa. A publicação durou 14 anos. Hipólito da Costa, que estava exilado, fazia praticamente sozinho uma publicação de até 150 páginas.

Com idéias liberais como o fim da escravidão e cobrindo inclusive eventos como a Revolução Pernambucana de 1817 e os acontecimentos de 1821 e de 1822 que originaram a Independência do Brasil, o Correio Braziliense era enviado clandestinamento ao Brasil.

Para fazer oposição ao jornal de Hipólito, a Coroa Portuguesa, ainda no Rio de Janeiro, patrocinou o Investigador Portuguez, em Londres, com a intenção de enfraquecer as idéias propagadas pelo Correio Braziliense. E menos de três depois criou a Gazeta do Rio de Janeiro. um jornal oficial dedicado aos comunicados de governo e aos louvores à família real.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Fonte é somente fonte no jornalismo que é sério

Há anos, quando redator de jornalismo de uma emissora de tevê, fui procurado por um colega cinegrafista na ilha de edição dos VTs. Ele estava pautado para acompanhar um julgamento no Fórum de Londrina. Confidenciou preocupação e o motivo era paupável: o réu era seu amigo.

Ponderei que, a princípio, a função dele era de fazer as imagens. A história daquele julgamento competia à repórter que fazia parte da equipe. Ele discordou com justa razão: a imagem, na televisão, faz parte da história. E ele, sendo amigo do réu, estava inseguro: “Não sei o que pode acontecer quando eu for filmá-lo”.

Recomendei então que o cinegrafista conversasse com a pauta e solicitasse substituição. Não sei até hoje porque esse procedimento não foi feito. O cinegrafista foi ao Fórum. Retornou ao jornal e me chamou num canto. Pediu que eu o desculpasse, pois havia conseguido poucas tomadas de frente. A maioria das imagens mostrava o réu de costas. “Quando eu ia na frente dele com a câmera ele me encarava e eu ficava desconcertado”, justificou.

Em outra situação, numa redação de impresso, testemunhei por várias vezes uma colega repórter tratando as fontes com intimidade assustadora pelo telefone: “Meu Bebê”, “Meu Amor”, “Coisa Linda” e assim por diante. Às vezes, após as entrevistas, a conversa era encerrada com convite de cervejada.

Em suas justificativas sobre esse tipo de postura, essa repórter costumava se confundir. Ás vezes dizia que a fonte era um amigo ou uma amiga e não via problema de se relacionar, mesmo profissionalmente, daquele jeito. Outras vezes dizia que esse tipo de relação abria portas para informações exclusivas. Será?

Na mesma redação dessa repórter, certa vez um profissional se desligou da empresa e levou com ele uma agenda de contatos que pertencia ao jornal. Meses depois, justificou que os contatos eram dele, pois sendo antigo naquela redação considerava que tudo o que havia sido feito de agendas telefônicas a ele pertencia.

Postura, caráter, ética, personalidade e atitude. Um conjunto de valores teoricamente fáceis de serem respeitados. Na prática, nem sempre. Ou nunca. Há situações e situações. Exclusividade, por exemplo, não se consegue guardando a agenda de contatos no cofre. Se obtem com profissionalismo.

E fonte, em qualquer circunstância, é fonte. Seja amigo, inimigo, patrão, subordinado, médico da família, dono do supermercado que vende fiado ou o engenheiro que se propôs a fazer um projeto com preço de desconto. Cuidado! O preço pode ser muito mais elevado do que se imagina.

Por Walter Ogama

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Folha de São Paulo traz caderno sobre a corrupção

Um caderno de oito páginas sobre a corrupção, o Especial Poder, é a contribuição da Folha de S.Paulo na marcha brasileira contra a imoralidade e a falta de ética na política deste país. O encarte veio na edição de domingo, 4 de setembro de 2011.
Às vésperas das comemorações dos 189 anos do Grito do Ipiranga, aspira-se, mais uma vez, a independência que não é aquela vangloriada nos livros escolares. Busca-se a dignidade. Almeja-se a justiça e a oportunidade para todos os brasileiros. O que se quer, enfim, é um país livre da roubalheira e da impunidade. Esta é a independência desejada pela Nação.

Quando nos referimos acima sobre a contribuição do jornal, é claro que devemos considerar que esta marcha às vezes parece ingrata. Há momentos em que ela emperra. Em outras circunstâncias o que temos é a ação dos decentes, cujos resultados são, na maioria das ocasiões, demorados. Isto quando eles chegam, pois estão registrados que em determinados casos nem as forças tarefas vencem os maus.

“O custo da corrupção”, traz a manchete do caderno especial. É oportuno reproduzir, com o perdão dos autores, o texto da capa: “Se colocados na ponta dos lápis, os escândalos que habitam o noticiário político representam muito pouco do que o país perde cotidianamente para a corrupção. Na última década, estima-se que ao menos R$ 6 bilhões desapareceram por ano no caminho que leva os recursos federais de Brasília para os municípios, onde deveriam resultar em ações sociais e de infraestrutura”.

Infografia na página 2 escancara: “R$ 40.000.000.000 é o montante de recursos desviados, a partir de levantamento em investigações conduzidas pela CGU (Controladoria Geral da União) e pelo TCU (Tribunal de Contas da União), entre 2002 e 2008”.

Abaixo, na mesma página: “Corrupção faz Brasil perder uma Bolívia”, com a linha fina “Estudo revela que recursos desviados poderiam reduzir à metade o número de casas sem saneamento no país”. A referência à Bolívia está explicada no infográfico: “Esse dinheiro – os 40 bilhões – supera os R$ 36,44 bilhões previstos como o PIB (Produto Interno Bruto) da Bolívia em 2011 (estimativa do FMI – Fundo Monetário Internacional)”

Entre os casos gritantes de desvios, a reportagem de Folha de S.Paulo destaca as 27 irregularidades detectadas pelo TCU no projeto da represa de Sobradinho, na Bahia; os desvios nas obras de duplicação da BR-101 e relaciona os principais escândalos da política nacional.

Entre eles, o de 1992 envolvendo Collor e o empresário PC Farias; os Anões do Orçamento em 1993; o caso Maluf/Pitta entre 1993 e 1999; o superfaturamento na construção do TRT de São Paulo entre 1998 e 2000; o caso Sudam em 2001; a Operação Anaconda, o Mensalão, a Máfia dos Sanguessugas, a Operação Navalha, o Mensalão do Dem.

É um caderno especial, enfim, que deve ser levado neste dia 7 de setembro para as ruas e mostrado às autoridades das diferentes esferas nos momentos em que elas, às vezes maldosamente indiferentes, outras vezes julgando-se inocentes, tentarão cantar o Hino Nacional Brasileiro. Todos têm culpa no cartório, ainda que seja por omissão.

domingo, 4 de setembro de 2011

Imprensa marrom e os raios que os partam

A tecla é batida, mas exige manuseios constantes. Retomamos a discussão dos pequenos jornais montados em localidades onde imagina-se, a publicação tem força e influência política.
A primeira questão a ser tratada é sobre as denominações dadas a estes jornais. No passado, quando a ditadura militar implantada no Brasil em 1964 detinha o controle das publicações através da censura, chamávamos com certo carinho os pequenos jornais de esquerda de nanicos.

Sim, nanicos. Uma referência cuja causa confundia. Nanicos porque seus formatos e as suas quantidade de páginas eram reduzidos? Nanicos porque suas linhas editoriais eram dirigidas e não tinham o propósito de um jornalismo variado? Nada disso. Nanicos porque não eram convencionais. Nanicos porque mesmo pequenos incomodavam.

Muito diferente da chamada imprensa marrom. E quando voltamos a falar dos pequenos jornais de municípios menores estamos falando justamente dos marrons, que também podemos classificar de jornais chapa branca, numa referência já fora de moda aos veículos oficiais.

Os chapa branca surgem no mercado editorial dessas localidades menores já definidos. São concebidos como tais e sua razão de existir é o atrelamento com algum tipo de poder. Aliás, a sua existência é exclusivamente o poder.

O jornal chapa branca não tem coração que pulsa de acordo com os acontecimento de uma sociedade. O jornal chapa branca tem uma válvula cuja energia impulsionadora é o cofre público. Existe, por isso, uma preocupação mínima com os parceiros comercias. Normalmente o jornal chapa branca loteia os espaços de anúncios a preços irrisórios, pois o dinheiro que entra dessa comercialização é apenas para as despesas com o café e os produtos de limpeza. O grosso vem dos cofres públicos.

O dono do jornal chapa branca pensa que o seu jornal é muito lido. Imagine: ele diz que roda a cada edição cinco mil exemplares, mas na verdade contratou impressão de apenas mil. Quem é que vai checar isso? Ninguém. Contrata um entregador que deixa quatrocentos jornais na prefeitura, outros duzentos na câmara, cem no fórum, cem na delegacia e o resto em alguns botecos. Pronto, tudo esgotado.

Na verdade, ninguém leu e o jornal passou em branco. Quem pagou acha que a publicação cumpriu o seu objetivo. Quem recebeu (o dono do jornal) conhece o esquema. Tem certeza que mais uma vez ganhou na moleza. Sem risco de ser cobrado, começa a preparara mais uma edição, com matérias chupadas, erros de concordância, enfoques equivocados e outras aberrações. Um ou outro leitor bate os olhos e se comenta: “Vai ser puxa-saco assim no raio que o parta”.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Boas Notícias! De novo uma publicação com conteúdo de jornal

Saiu a edição 1114 do Jornal Nossa Cidade, com data de 2 de setembro de 2011. A publicação veio com cara de jornal: diversificado. A capa traz três chamadas com fotos e uma seca. Os recursos do Governo do Estado de R$ 7,6 milhões para a Santa Casa de Cambé ocupam a cabeça da página, abaixo da logomarca do jornal e de um anúncio.

Abaixo, os dois textos que legendam fotos destacam atletas cambeenses de natação e de futebol.

A página 2, tradicionalmente, é aquela esperada com muita expectativa pela maioria dos leitores do JNC: a Coluna Ponto de Vista, assinada por Carlos Alberto Serpeloni. Dissemos na análise anterior do Nossa Cidade que Serpeloni, com o direito que lhe é atribuído na condição de colunista, pecava por imprimir raivosidade no texto. Então é justo agora destacar que o colunista está escrevendo com certa isenção pessoal e o mesmo rigor, o que torna a página muito mais legível e digerível.

Ainda restam algumas aparas, mas acreditamos que o próprio colunista, a partir das reações que o seu trabalho provoca na sociedade, assimile gradativamente um estilo interessante.

Quanto às críticas, temos que respaldar que o objetivo da Coluna Ponto de Vista é justamente este, de analisar criticamente problemas que incomodam a população. E um jornal que sai à rua para ser lido tem que trabalhar com assuntos que sejam de interesse da sociedade.

O conteúdo restante da publicação de 16 páginas merece menção positiva. O JNC repete duas edições passadas que foram exemplares por colocar em suas páginas assuntos que realmente merecem matérias e que, por isso, acabam chamando os leitores para a leitura.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Erro de checagem devolve vida à campeão morto


O enredo apela para o clichê e imagina-se que por ali toda a produção cairia no comum: relação sentimental abalada, necessidade de afirmação profissional e um filho que exige o pai herói mas não o tem. Tudo depende da forma como esse conteúdo é absorvido.

É possível, no entanto, encarar a trama como um importante alerta para o profissional de jornalismo. Assim o fizemos quando buscamos nas prateleiras de promoções O Resgate de um Campeão. Originalmente, Resurrecting the Champ, lançado em 2007.

A direção é de Rod Lurie. Assinam o roteiro Michael Bortman, Allison Burnett e J.R. Moehringer. É um longa-metragem de 112 minutos produzido nos Estados Unidos.

A sinopse é convencional: “O repórter esportivo Erik salva um sem-teto e acredita que ele seja Bob Satterfield, uma lenda do box que acreditavam estar morto. Assim, surge para o jovem a  oportunidade de uma grande matéria, resgatando a história do ex-lutador. Esta jornada do ambicioso repórter transforma-se em uma viagem pessoal, na qual ele reexaminará sua própria vida e o relacionamento com a família.”

Quem perderia 112 minutos por causa disso que se descreve? A história é muito mais. Envolve, principalmente, a fragilidade na checagem da informação por parte do repórter. E mostra que, às vezes, os holofotes desprezam a ética quando quem erra pode ser personagem que dê audiência.

O repórter Erik, interpretado por Josh Hartnett, está desprestigiado no jornal em que trabalha. Precisa de uma matéria de impacto. Encontra o sem-teto que diz ser Bob Satterfield e insiste em produzir a matéria. O sem-teto se recusa. Erik insiste.

Com a ajuda de uma estagiária consegue arquivos sobre Bob Satterfield. Faz alguns telefonemas, tenta entrevistar o filho do ex-campeão e este se recusa a dar entrevista. Erik confessa ao sem-teto que está para perder o emprego. O sem-teto aceita dar entrevista. Numa prévia publicada pelo jornal sobre a matéria, anunciando que Bob Satterfield não morreu, o repórter recebe telefonemas de antigos profissionais que faziam a cobertura das lutas de box. Aliás, o pai de Erik, já falecido, fora um locutor esportivo.

Nesses contatos Erik é informado que Bob morreu. Que a pessoa que se diz ser o ex-campeão está mentindo. Nesse meio tempo Erik é convidado para ser o apresentador de um programa esportivo de televisão, pois os holofotes já haviam chegado a ele. A reportagem sai no jornal e o filho do ex-campeão, que não havia se manifestado, processa a empresa de comunicação e o repórter.

Enfim, Bob está morto e o sem-teto foi realmente um lutador que após a morte do ex-campeão lutou em localidades onde o box era pouco difundido usando o nome do outro.

Eirk é desmoralizado pelos seus editores, mas o programa de televisão aproveita a evidência do repórter para mantê-lo na cobertura do box. A relação pai e filho é mostrada quando Erik comparece à sala de aula num programa em que os pais mostram suas profissões. Um aluno menciona o erro cometido por Erik na produção da matéria sobre o ex-campeão que estava morto e o repórter tentou ressuscitar.