Verdade. Quando tomados pela paixão somos trogloditas. A irracionalidade nos cega e rouba a capacidade de analisar os fatos como cidadãos. Passamos a ser exclusivamente torcedores com latinha de cerveja na mão, bermuda com metade da bunda pra fora e babando palavrões a cada acontecimento.
Este descompasso racional não é típico de um ou outro. Atinge inclusive a nós, profissionais do jornalismo. Isto aconteceu em grande número das redações brasileiras na fase do crescimento petista com Lula, quando alguns profissionais deixaram de exercer o jornalismo e passaram a praticar no seu cotidiano profissional o lulismo.
A isenção fugiu e no seu rastro, em determinadas situações a ética ficou ofuscada. Recorremos a mais um trecho de Gabeira: “Desde a ditadura militar, com seu famoso slogan ‘ame-o ou deixe-o’, a tendência é inibir certas críticas, associando-as à falta de patriotismo”. Verdade também.
Esta tendência é criada por manipulação: o governo considera tal análise imprópria e usa de seu prestígio, inclusive junto aos meios de comunicação, para detonar o autor da análise. Nem todos caem na armada. Mas alguns compram a propaganda oficial. E dentre estes alguns temos, sim, jornalistas. Nos abstemos em relação aos empresários de comunicação. Estes dependem de subvenção.
Fernando Gabeira trata em seu artigo da condução dos preparativos para a Copa. Gastos exorbitantes, atrasos diante de repasses de recursos já feitos e preocupações tiradas no tranco com aspectos estruturais das cidades que vão sediar jogos são evidentes. E as localidades fora do eixo que esperem. O próprio Governo Federal criou atalhos para a execução de algumas obras. A Copa será em 2014. Quando é que os reflexos de tais decisões pesarão nos ombros dos brasileiros?
Gabeira não critica a Copa. Sua análise é sobre a conduta nos preparativos. Mas há de chegar alguém e condenar o autor, através de um artigo de jornal ou num espaço qualquer da mídia. Dirá que o autor é contra o futebol, a seleção brasileira e a grande paixão nacional. Aliás, temos uma seleção? Aqui, sim, a conversa é outra.