Conchavo mesmo. O pressuposto é de acertos de bastidores pautando as produções e armando presumidos dividendos. Em dinheiro, para quem trabalha as notícias com a bunda. Em prestígio, para quem banca as notícias feitas com as nádegas.
Com o slogan “Nada mais que a verdade”, o Notícias Populares circulou de 15 de outubro de 1963 a 20 de janeiro de 2001. Editado e impresso em São Paulo pelo Grupo Folha (Folha de São Paulo), o jornal era lido em praticamente todo o Brasil.
O Notícias Populares usava as manchetes violentas e sexuais para chamar a atenção dos leitores que passavam pelas bancas de jornais e revistas. Aliás, Londrina tinha bancas nas esquinas naquela época. Entre sangue, estupro, mutilados em acidentes, tiros e facadas, a capa trazia sempre a foto de uma mulher seminua.
A publicação, criada pelo imigrante da Romênia Jean Melle, chegou em algumas de suas fases a ser acusada de inventar noticias. Uma dessas invenções foi quando o cantor Roberto Carlos estava em Nova York e não foi localizado no Brasil por um repórter de TV. O jornal usou como manchete de capa “Desapareceu Roberto Carlos” e conseguiu vender cerca de 20 mil exemplares a mais. No dia seguinte a manchete foi “Acharam Roberto Carlos”.
Sensacionalista de fato. Às vezes extremamente desrespeitoso com a sociedade. As invenções das noticias, na verdade, eram espécies de crônicas, misturando fatos da realidade e a ficção, publicadas em capítulos nas edições diárias.
Algo parecido com aquilo feito por George Orson Welles, em 1938. Ele produziu uma transmissão radiofônica chamada A Guerra dos Mundos, adaptando obra de igual nome de Herbert George Wells. O resultado foi um estado de pânico dos ouvintes, que imaginavam que a terra estava, de fato, sendo invadida por extraterrestres.
Ainda assim o jornal Notícias Populares era lido e respeitado por leitores de todo o país. Em defesa da publicação, estes diziam que apesar das extravagâncias e da exploração dos temas sexo e violência tanto para o bem quanto para o mal, a publicação trazia notícias que interessavam às pessoas comuns.
Eis o dilema. Quais são, no momento, as notícias que interessam não somente os leitores cativos de cada jornal, mas principalmente a sociedade? E nesta se incluem pessoas de faixas etárias, posses, cultura, hábitos, costumes e preferências diferentes. O que é preciso, enfim, para uma publicação ser considerada popular, e não populesca ou popularesca? Sensacionalismo? Literatura? Quadrinhos? Colunas sociais manjadas? Infografias? Fotos rasgadas? Sangue, facas, armas de fogo e vítimas arrebentadas? Histórias de corrupção?
A princípio diríamos que jornal é para trabalhar jornalismo. Em jornalismo a pauta perde horas de discussões acaloradas na decisão do que vai nas páginas no dia seguinte. Imagina-se que nestes debates façam-se algumas perguntas básicas, das quais duas devem ser as iniciais: Isto é notícia? Se é notícia a quem interessa?
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