quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Sem qualidade e nem ética jornais viram piada

As notícias mais atualizadas sobre a votação no Senado da PEC 33/09 (Proposta de Emenda Constitucional) que devolve a obrigatoriedade do diploma de curso superior para o exercício da profissão de jornalista são do dia 25 de novembro de 2011.

Sabemos que a matéria foi citada em plenário e iria à votação na sessão do dia 23. Mas o autor do substitutivo, senador Antônio Carlos Valadares, requereu adiamento. Participavam da sessão apenas 42 senadores e o quorum mínimo necessário é de 49.

Havia a possibilidade da PEC entrar na pauta desta terça-feira, dia 29 de novembro, ou quarta, 30 de novembro. Até às 14h20, porém, as informações são desencontradas.

O decreto que exigia o diploma de jornalismo foi derrubado em 2009 pelo Supremo Tribunal Federal. Desde então, o Ministério do Trabalho concedeu, em todo o País, quase cinco mil registros de jornalista para pessoas que não possuem diploma.

Não há, infelizmente, um estudo científico de elevado conceito que avalie a qualidade da produção jornalística no período, abrangendo os diferentes meios: impresso, rádio, televisão e internet.

Mas se não podemos afirmar que os reflexos já são sentidos, ao menos temos o recurso de mencionar que as redações que se aproveitaram da brecha aberta pelo Supremo para contratar não diplomados caíram em qualidade e em conceito. Pequenas emissoras de TV foram as que mais se aproveitaram da situação.

Em municípios de menor porte, há jornais impressos mantidos por políticos e tocados por pretensos empresários de comunicação. Eles próprios, os tais empresários, trataram de correr atrás dos registros profissionais. Com isso, assinam como responsáveis, são vendedores de anúncios, cobradores, contatos com o poder público e, quem diria, jornalistas.

Como jornalistas, fotografam, assessoram padrinhos políticos, diagramam, editam, acertam a impressão com as gráficas, distribuem e vivem a eterna expectativa de ganhar com pouco investimento e nenhuma preocupação com a qualidade e os leitores.

Enfim, na ponta da faca a qualidade e o compromisso com a ética estremecem. Por isso o jornalismo, em alguns lugares, virou motivo de piadas a cada edição que chega às ruas.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Leitura - há muita luz no fim do túnel

A Folha Cidadania publicou na edição desta terça-feira, dia 29 de novembro de 2011 (caderno Folha Cidades – páginas 4 e 5) reportagem sobre os vencedores da quinta edição do Concurso Pequeno Jornalista, promovido pela Folha de Londrina.

Boas iniciativas merecem menção. Mas o que mais chama a atenção é o tema: os alunos participantes tiveram que escrever sobre “Quem lê mais, pensa melhor”. Os três primeiros colocados são crianças com 10 anos de idade.

Rafaella Carollyne Garcia Silva, a grande vencedora, é da Escola Municipal Santos Dumont, de Cambé. Transcrevemos da Folha Cidadania o que ela escreveu nos parágrafos finais da sua redação: “...Sugiro que você leia, pois já li na biblioteca os livros da Mary França e gostei muito. Hoje ela é minha escritora preferida. Até você que nesse momento está lendo o que eu escrevi, está pensando melhor sobre Quem lê mais, pensa melhor.”

Lucas Eduardo Ribeiro de Souza, o segundo colocado, é da Escola Municipal Nair Auzi Cordeiro, de Londrina. Em trecho de seu texto, escreve: “...Desde cedo devemos desenvolver habilidades para leitura. Sabe como? Lendo para seus filhos, contando estórias, incentivando o diálogo e brincadeiras com palavras”.

Gustavo Geovane Tamião de Souza, o terceiro colocado, é aluno do Colégio Monteiro Lobato, de Alvorada do Sul. Um trecho da redação: “...Sempre ouvimos a frase ‘ler é o melhor exercício para a mente’, e chegamos à conclusão que as pessoas que tem o hábito de ler desde criança têm mais condições de pensar melhor e realizar seus objetivos da melhor forma possível, e vendo o mundo ao nosso redor com mais conhecimento”.

Está aí. Da parte deste blog a felicidade é imensa por saber que alguém se preocupa com a leitura das crianças num mundo onde a virtualidade abreviou palavras, trocou letras, americanizou termos e destruiu não só a capacidade de ler, mas de escrever e principalmente de pensar.

Os sinceros parabéns aos vencedores do concurso. Os cumprimentos e a admiração aos organizadores do evento. Isto nos leva a repensar, pois quase acreditávamos que tudo estava perdido. Há muita luz no fim do túnel. 

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Estamos em contato para artigos de colaboração

Enviem textos relacionados ao jornalismo pelo e-mail midia.com.etica@gmail.com. Precisamos muito da colaboração dos colegas jornalistas e pessoas que acompanham o jornalismo do Norte do Paraná.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Mais um ministro na fila para declarar amor

Sai Lupi, entra Negromonte. A bola da vez é áspera e pesada. Na rebatida, pode sujar colarinhos que até agora escaparam das manchas provocadas por outros escândalos envolvendo gente ligada ao governo federal. Outro detalhe: o ministro das Cidades, Mário Negromonte, é a autoridade que fica de braços abertos na frente do alvo. É provável que ele tenha apenas quebrado o galho para favorecer outros. Mas por isso mesmo merece cair no chão duro com o mesmo impacto desse galho que se vinga.

Para saber do que se trata basta conferir a capa da edição desta quinta-feira, dia 24 de novembro de 2011, de O Estado de S.Paulo. A manchete diz: “Fraude no Ministério das Cidades encarece obra da Copa”. A reportagem investigativa é assinada pelo jornalista Leandro Colon. O assunto está nas páginas A4, A6 e A7 da versão impressa e pode ser conferido também na versão virtual pela internet.

O texto da capa diz: “O ministro Mário Negromonte (Cidades) aprovou uma fraude produzida para dar respaldo técnico a um acordo político que encareceu um projeto de transporte para a Copa 2014 em Cuiabá (MT). Documento forjado pela diretora de Mobilidade Urbana da pasta, Luiza Vianna, mudou o parecer que vetava uma alteração defendida pelo governo de Mato Grosso”.

Vamos prosseguir com a transcrição da chamada de capa do Estadão para dar destaque ao assunto e, principalmente, evidenciar a boa produção do jornal: “Em uma reunião a cuja gravação o Estado teve acesso, Luiza disse que a ordem foi do chefe de gabinete de Negromonte, Cássio Peixoto. A troca fez o custo do projeto saltar R$ 700 milhões, atingindo R$ 1,2 bilhão. A manobra começou em 6 de outubro, quando Luiza Vianna pediu ao autor do parecer, Higor Guerra, que o alterasse. Como ele se recusou, ela e a gerente de projetos, Cristina Soja, assinaram o novo texto, aproveitando o anterior, mas mudando a conclusão”.

É, portanto, uma história cabeluda com respingos em muita gente. A trama teria sido acertada em reunião entre o governador de Mato Grosso, Silval Barbosa e o Palácio do Planalto. Silval é do mesmo partido do nosso vice-presidente.

E, no mais, tudo como antes. Dissemos na linha de abertura “Sai Lupi, entra Negromonte”. Ambos continuam no poder, mas a partir de agora repartem as páginas dos jornais que tratam das coisas podres do poder. Quanto à Folha de S.Paulo: manchete de revistinha de variedades: “Lei antifumo valerá em todo o país”. 

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O bom colírio depois do molho de pimenta

Recorremos mais uma vez à reportagem de O Estado de S.Paulo sobre o seminário promovido pela International Newsmedia Marketing Association (Inma) em São Paulo. O encontro, conforme postagem anterior (abaixo), era para ver como os empresários de comunicação poderiam encher os cofrinhos tirando moedinhas dos bolsos de quem acessa notícias pela internet.

Mas, de cara, participantes do evento, representando jornais da América Latina, foram borrifados com molho de pimenta nos olhos pelo diretor-executivo da Inma, Earl Wilkinson, que disse: “Os que não têm um jornalismo pelo qual os leitores se dispõem a pagar não conseguem ter assinantes online suficientes”.

Fez efeito! Vamos a trechos de depoimentos extraídos da reportagem assinada pela jornalista Marili Ribeiro (Negócios – Página B16 – Quarta-feira, 23 de novembro de 2011):

- “Conteúdo de qualidade é o que faz os leitores buscarem o meio jornal para se informarem” – Ricardo Gandour, diretor de conteúdo do Grupo Estado;

- “A receita que vem do site é ainda 4% do faturamento do jornal impresso... / ...não dá para correr atrás do canto da sereia do digital, que é muito forte, e, com isso, matar a galinha dos ovos de ouro desse negócio” – Paulo Motta, editor executivo de produção de O Globo;

- “O papel tem mais penetração do que a internet, que atinge 44 milhões de leitores de notícias” – Sérgio D’Ávila, editor executivo da Folha de S.Paulo (em referência aos números colhidos em pesquisa do Datafolha, na qual 73 milhões de brasleiros dizem ler jornal impresso, sendo que 21 milhões lêem todos os dias.

E vejam que Paulo Motta, de O Globo, ironizou a si próprio e aos colegas presentes no seminário quando brincou com as previsões catastróficas dos consultores que anunciaram a morte do jornal impresso em dez anos.

Tomara que isto signifique um repensar. E que este repensar reflita diretamente na busca de qualidade dos impressos.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Molho de pimenta nos olhos dos executivos

“Os que não têm um jornalismo pelo qual os leitores se dispõem a pagar não conseguem ter assinantes online suficientes.” O recado é de Earl Wilkinson, diretor-executivo da International Newsmedia Marketing Association (INMA), que participa de evento em São Paulo. A análise deste Fórum de Jornalismo sobre o evento é com base na reportagem publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo, edição de 22 de novembro de 2011, Caderno de Economia, página B15, Negócios.

O recado de Earl Wilkinson foi dado a dezenas de representantes de jornais de toda a América Latina que estão reunidos para encontrar soluções que “recuperem a rentabilidade perdida desde que os jornais começaram a assistir a migração de seus leitores para canais online de notícias”, conforme transcrito do texto assinado pela jornalista Marili Ribeiro.

De um jeito desaforado, podemos considerar que a preocupação dos executivos de jornais é com o barulho do cofrinho quando ele é agitado. Houve tempos em que o moedeiro, de tão lotado, nem barulho fazia. Agora ele balança e faz um som falso, de níquel batendo nas bordas. E o lucro só se mede com o barulho de um monte de moedas batendo em tantas outras moedas.

É provável que os participantes do evento esperavam receitas animadoras de baixo custo e sem a necessidade de recorrer aos talentos humanos do jornalismo. Mas o palestrante não veio disposto a apenas agradar. “A chave desse negócio está em difundirmos a percepção de que o jornal é mais que um simples produto, é uma inspiração”, avisou Earl Wilkinson.

Embora o tom do seu discurso seja o da necessidade de pensar o jornal como uma empresa multimídia, o palestrante não abre mão da boa equipe de jornalismo: “Uma boa história apurada pela equipe de jornalistas deve entrar primeiro no smartphone, depois no portal online, para chegar com outra versão à edição do tablet e, só então, receber um tratamento para a versão impressa”, transcreve a autora da reportagem de O Estado de S.Paulo.

O caso do The New York Times, que cobra pela versão online mas oferece, além de todo o conteúdo do jornal mais 20 matérias exclusivas por mês, foi descartado como modelo para as outras publicações. Para Earl, o The New York Times é um raro exemplo de tradição e de leitores fiéis de longa data.

É quando se percebe que, especialmente no Brasil, os executivos das empresas jornalísticas sempre enxergaram o crescimento da era digital pelo avesso. Primeiro reduziram os impressos, transformando-os em chamadas da versão online, “mais completa e com mais detalhes”. Foi uma vã tentativa de economizar papel e reduzir os custos com o pessoal das redações dos impressos.

E, assim, ninguém atrai mais nada. Os impressos não contribuem com a versão online e nem a versão online ajuda os impressos. Pelo contrário: um atrapalha o outro e a qualidade – ou a falta dela – afasta cada vez mais os leitores. Invistam, portanto, em jornalismo de depois debatam as formas de encher novamente os cofrinhos. Verão que é bem mais fácil, senhores. 

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Mil e uma utilidades das edições domingueiras

Jornais de domingo têm múltipla utilidade. Começa pelo fato de serem frios, uma vez que passaram pelas rotativas na tarde de sábado. Por isso não esquentam os sovacos de quem corre às bancas nas madrugadas, às 10 horas do domingo, para comprar um exemplar.

Ainda assim aquecem animais de estimação nestes estranhos dias de primavera, com vento gelado de manhã, sol tórrido durante o dia e frescor ao anoitecer.

Assistimos a uma briga de família no sábado quando um assinante do condomínio foi buscar na portaria o seu exemplar domingueiro do diário de preferência. O jornal chegou volumoso, com muitos cadernos e mais encartes.

O assinante queria ver os classificados. Coisa de hábito. Ele é daqueles que fica comparando o preço do carro que comprou com os anúncios de modelos iguais ou similares. Só isso. Porque esporte já vem defasado e até as chamadas das partidas de domingo não interessam, pois foram exaustivamente exploradas pelos jornalísticos de televisão.

E as partidas de sábado? Resultados e análises só na segunda-feira. Quando a partida começou o caderno de esporte já estava rodado. A mulher do assinante quer prioridade dos encartes. E o assinante fica furioso com isso. Imagina que a esposa está planejando secretamente compras nas Casas Bahia, crediário nas Pernambucanas, jóias e relógios na Big Ben e imóvel da Quadra, da Plaenge ou da A.Yoshi.

“Será que ela tem caso com alguém e está comprando um apartamento e a mobília?” – pergunta-se o assinante. Dúvida cruel. Preocupação torturante. O problema não pára por ai. Até a empregada mete o bedelho no jornal de domingo. “Eu quero a parte do horóscopo e todas as propagandas com papel branco e grosso ficam comigo, entenderam?”

Interessante! Ninguém faz questão do primeiro caderno, justo ele que é o mais atualizado. E o assinante diz para a filha vestibulanda que é bom ela ler as notícias sobre política e economia, que podem cair no concurso. Ela se sai desaforada: “Mas estas notícias eu já vi todas na televisão e na internet. Não tem nada de novo”.

E o que se faz com as partes de sociedade? Na semana passada um monte de colunáveis forrou a gaiola de um passarinho que o assinante mantém escondido no apartamento. Só o vizinho da frente tem conhecimento, mas é solidário desde que receba em troca o caderno de cultura.

Na curiosidade certa vez o assinante perguntou: “Está colecionando caderno de cultura, vizinho?” A resposta foi direta: “Não, é que é um caderno de quatro páginas que dá certinho pra forrar o assoalho do carro depois de uma lavagem. Mas pode ser outro caderno, eu não me importo”.

Então precisou uma briga muito feia para desvendar alguns mistérios que foram deixados em aberto lá em cima do texto. A mulher do assinante prefere os encartes porque ela cuida de um gatinho rajada que já pegou o hábito de fazer as sujeitas em cima dos anúncios.

A empregada quer os anúncios em papel branco para forrar a prateleira da área de serviço, onde são guardados os frascos de detergente, amaciantes, sabão e tudo o que é tranqueira usada para fazer faxina. E o horóscopo, Josefina? “Eu leio para dar risada...”

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Braçadas entre a serpente e as estrelas

Nada a ver com a versão brasileira da música country Amarillo by Morning, de Terry Stafford e Paul Fraser. Aliás, com letra de Aldir Blanc e na voz de Zé Ramalho, desprezamos a nossa suspeita brasilidade para dizer que a produção nacional é muito melhor no conteúdo e na interpretação. Só para completar o rabicho, dizemos apenas que a versão original fala das aventuras e desventuras de um peão de rodeios lá no Texas. Na poesia de Aldir Blanc está cronicado o amor e o desamor de um homem de qualquer lugar deste planeta.

A serpente e as estrelas desta postagem está relacionada a uma comunicação do grupamento do lazer e do entretenimento. Está acessível diariamente. Até o seu volume é controlado por quem o acessa. Nos aparelhos mais modernos de televisão o formato de exibição depende apenas de um aperto no botão do controle remoto, que mostra as opções disponíveis de acordo com o arquivo em que a produção foi armazenada.

Novelas! Adianta dizer que não assistimos? Gostando ou não, sempre há alguém em casa que aprecia e acompanha todos os capítulos. E não podemos assumir a grosseria de discriminar: quem gosta de novela que assista no quarto, onde o aparelho de tevê não está conectado a um satélite ou a um cabo. Imaginem a tortura do noveleiro: fantasmas na tela, imagens tremidas, áudio que sobe e desce nos intervalos comerciais e as propagandas insistentes das empresas de cabo e satélite.

E vicia. De tanto ser obrigado a ver novela o sujeito acaba gostando. Quem jura nunca ter visto um marmanjo barbudo disfarçando o choro depois de uma cena de bondade? Machão doido por futebol, ele sempre arranja uma desculpa: “Neste horário de verão o sol bate na cara e irrita os olhos mesmo com a cortina fechada...”

Acreditem se quiserem. Há boas produções. Baseadas em obras consagradas não permitem aos redatores-roteiristas mudanças despropositais. Há produções feitas para mostrar o inusitado e o surreal, como o recente Cordel Encantado, de Thelmna Guedes e Duca Rachid. Estas acabam atraindo mais os noveleiros ocasionais por terem, em alguns casos, um apelo humorístico inclusive nas cenas sérias.

Atraem porque saem do comum. Criam situações que não repetem realidades. É aquilo que nunca vamos ver na Câmara de Vereadores ou na Assembléia Legislativa. Nunca vai acontecer na Prefeitura ou no Palácio do Governo do Estado. Jamais se registrará na casa do presidente da República. E, na Câmara dos Deputados e no Senado, nem os Odorico Paraguaçu conseguirão fazer como nas cenas gravadas e editadas.

Este é o lado proveitoso. Agora, na reprodução novelesca de histórias triviais de amor, sucesso e assim por diante, haja saco. Uma novela após a outra parecem retratar os bastidores da Vênus Platinada, com a eterna briga entre o bem e o mal e a constante puxação de tapetes. Se ficar em pé enquanto brilha, espere o escorregão e a queda. Então tudo de apaga.

Serpentes interpretadas por mulheres bonitas tornaram-se regra. Todas as novelas tem. Estrelas que passam a novela inteira sofrendo não podem faltar. E bate e chora sem cessar. Às vezes, uma propaganda subliminar anuncia uma operadora de telefone ou um banco. Outras vezes os autores se doem por alguma causa e se tornam insistentes e chatos em sua defesa.

Enfim, novelas desse tipo retratam as maldades do Brasil que não é a maldade de todos os brasileiros. Retratam, por exemplo, o repetitivo “fala Lupi”, “desmente Lupi”, “declara Lupi”, “cai Lupi”, “levanta Lupi” e chega uma hora que o saco está tão cheio que a gente muda de canal e escolhe aqueles seriadinhos policiais safados da programação a cabo ou satélite. E, de novo, nessas produções americanas, heróis e bandidos são donos do mundo e da verdade. Argh...

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Medidas provisórias travam o nosso diploma

Foi quase! Mas, senhoras e senhores, não passou disso. A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 033/2009 permanece ainda como uma possibilidade. E não se sabe para quando.

É que duas medidas provisórias trancam as votações do Senado. Incluída na pauta desta quarta-feira, dia 16 de novembro de 2011, a PEC 033/2009 até voltou ao Plenário da Casa, mas ricocheteou e retornou à fila de espera.

Caso as duas medidas provisórias – se não surgiram outras – sejam analisadas e votadas em tempo hábil, pode ser que a obrigatoriedade do diploma seja aprovada ainda este ano. Há a chance de sessões extraordinárias, mas só com muita pressão os senadores apreciarão a matéria nelas. Então...

Medida provisória é um embuste na democracia. O próprio direito constitucional brasileiro o classifica como “ato unipessoal do presidente da República, com força de lei, sem a participação do Poder Legislativo”. Este apenas a discute e a aprova.

E sendo um embuste, a medida provisória costuma ser em algumas das matérias nela tratada, impositiva e mandona, inclusive em prioridade. Medida provisória tem peso de urgência e relevância. Por isso, no linguajar dos parlamentares, ela tranca a pauta das votações.

Porque primeiro ela, depois os outros assuntos da pauta. Sendo provisória, a vida é curta: 60 dias, prorrogáveis por outros 60 dias. Nesse prazo a medida provisória tem que ser transformada em lei. Caso contrário, a medida provisória morre, embora o governo possa tentar reeditá-la.

Claro, a medida provisória não vale para todas as matérias. Tem que haver urgência e relevância. E quem é que determina se uma matéria é urgente e relevante?

A PEC da obrigatoriedade do diploma está na forma de um substitutivo aprovado pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado. Estabelece que a profissão de jornalista é privativa do portador de diploma do curso superior de comunicação social - habilitação em jornalismo.

Pelo substitutivo, a exigência do diploma não é obrigatória ao colaborador – “aquele que, sem relação de emprego, produz trabalho de natureza técnica, científica ou cultural, relacionado com a sua especialização, para ser divulgado com o nome e qualificação do autor”.

O diploma também não é obrigatório para aquele que, à data da promulgação da emenda, comprove o efetivo exercício da profissão de jornalista, bem com aos jornalistas provisionados que já tenham obtido registro profissional regular no órgão competente.

Lembremos: o Superior Tribunal Federal deu fim ao diploma justificando que a obrigatoriedade, por decreto, era ferramenta da ditadura militar para controlar os meios de comunicação.

O relator da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado, Inácio Arruda, responde com acerto: não foi a exigência do diploma que reprimiu a liberdade de expressão. Foram a censura, o autoritarismo, a perseguição política, o controle ideológico dos meios de comunicação pela intimidação e força do regime militar que calaram os meios de comunicação.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Linhas tortas entre o discurso e a prática

O silêncio da maioria das escolas de comunicação social com habilitação em jornalismo mais causa desconfiança do que assusta. Ao meio-dia desta quarta-feira, dia 16 de novembro de 2011, as poucas informações que temos sobre os acontecimentos lá no Senado, em Brasília, ainda são temerárias.

A obrigatoriedade do diploma de jornalista entra em discussão? Haverá senadores suficientes? O feriado de 15 de novembro, infelizmente, foi para a maioria dos jornalistas brasileiros mais um dia de trabalho. Aliás, uma terça-feira de muitas dificuldades para localizar fontes, pois boa parte dos órgãos públicos emendou o feriado e até alguns políticos normalmente afoitos por entrevistas sumiram desde a noite de quinta-feira. E agora o risco de um vazio no Congresso Nacional...

Vimos que a Federação Nacional dos Jornalistas convoca desde a semana passada o estado de alerta das entidades sindicais para que a obrigatoriedade do diploma passe pelo Senado. Temos em Londrina duas escolas de comunicação. Havia três, mas uma delas apenas sustenta o curso, até que as últimas turmas recebam seus diplomas.

Não percebemos em momento algum uma manifestação marcante dos alunos desses cursos em defesa do diploma. E temos a considerar uma situação atípica e que poderia ser interessante e produtiva: o presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Norte do Paraná é do Departamento de Comunicação Social da Universidade Estadual de Londrina.

Por isso assusta. Estamos realmente tão desinformados sobre o posicionamento dos futuros jornalistas em relação ao diploma da categoria? Lembramos que o curso de comunicação social da Universidade Estadual de Londrina tem uma história também interessante a ser considerada. Lá pelos fins dos anos de 1970, quando a primeira turma de jornalismo preparava-se para pegar o canudo, a maioria dos formandos já atuava no mercado de trabalho.

Era o inverso do que ocorre agora. Pressionados pela necessidade de regulamentação, que em alguns casos podiam ser feitos na condição de provisionados, os jornalistas participavam do vestibular cuja média de candidatos era muito inferior às vagas oferecidas. Nas salas de aula, alguns deles criavam uma situação de constrangimento aos professores, pois detinham mais conhecimento em jornalismo do que os mestres.

Essa situação perdurou até o início dos anos de 1980. Depois, quem entrava no curso de comunicação pretendia ser jornalista. A maioria nunca tinha entrado numa redação de impresso, rádio ou tevê. Daqueles primeiros formandos alguns tornaram-se professores. Aliás, bons professores, que estimulavam nos alunos o conhecimento da teoria e transmitiam ensinamentos fundamentais sobre a prática do jornalismo.

Até a ética era mais fácil de ser compreendida em seus diferentes aspectos, pois exemplos reais eram discutidos nas salas de aula. Debates freqüentes promovidos por professores ou pela representação estudantil tornaram-se mais úteis para os alunos do que algumas teorias dissecadas. Até a obrigatória convivência com os colegas de relações públicas até a metade do curso foi proveitosa. Marshall McLuhan, por exemplo, foi amado e odiado por causa do seu “o meio é a mensagem”.

Ainda temos alguns daqueles professores na comunicação da UEL. Mas o que aconteceu com eles? Parece que apenas viraram dinossauros e já nem discursam. Isso é uma pena. Então, para que estudar jornalismo? E para que ensinar jornalismo? Perguntas complicadas, não?

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Favela da Rocinha, uma operação anunciada

Nem um tiro, comemora a polícia após a invasão da Favela da Rocinha, no Rio, domingo, em operação conjunta com o Exército. Ótimo! O sucesso de qualquer ação dessa natureza se mede pelo objetivo cumprido: tomar a Rocinha das mãos dos bandidos. E quanto menos baixas houver em todos os lados envolvidos no conflito, melhor. O objetivo não era um derramamento de sangue. Ou estamos enganados?

Do ponto de vista oficial instala-se naquela área, a partir de agora, a condição necessária para o convívio harmonioso, de paz, oportunidades e qualidade de vida para as famílias da Rocinha. Quem é que não gosta de viver no sossego, tendo um bom emprego, renda para a alimentação e outras necessidades básicas, possibilidade de finalmente trabalhar um projeto de vida e, principalmente, sem ter que se esgueirar pelas ruelas para fugir dos tiros cruzados?

Existia na Rocinha uma espécie de Estado Paralelo. Era Nem, batizado Antônio Francisco Bonfim Lopes, que governava o local. E há, inclusive, depoimentos de moradores que apreciavam aquela maneira de Nem governar. Um depoimento publicado na Folha de Londrina, em matéria distribuída por agências de notícias, dá conta disso: “O Nem pagava o aluguel de quem precisava, dava cesta básica, ajudava as creches”.

É neste ponto que se escancara a omissão mais cruel do Estado Oficial. A ausência dele tornou famílias inteiras simpatizantes de criminosos. A ausência dele fez, conforme depoimento do próprio Nem após a sua prisão, boa da polícia desonesta. A ausência do Estado Oficial provocou uma inversão de valores: se o Estado Oficial não faz, o Estado Paralelo quebra o galho.

E se o Estado Paralelo pagava aluguel, dava cesta básica e ajudava creches, também, em troca disso e do silêncio de muitas famílias da Rocinha matou com tiros ou pelo vício das drogas milhares de brasileiros. É de se supor, inclusive, que não só policiais, mas também políticos, entraram no esquema financeiro daquele Estado Paralelo.

A Rede Globo, mais uma vez, participou da invasão como personagem oficial da história. O que a Globo anunciou por mais de uma semana antes da invasão, com certeza o próprio Nem e seus capangas sabiam muito antes. Nem, aliás, fez um churrasco de despedido da comunidade em outubro. Esse papel da Globo pelo menos serviu para preparar o terreno e promover a operação do jeito que ela mesma anunciou, em seguida ao fato, com entusiasmo: nem um tiro.

Parabéns! Este objetivo foi cumprido: nem um tiro. E agora cabe a ela, não como assessora do Estado Oficial, assumir a postura de meio de comunicação e promover a dignidade das famílias da Rocinha que foram reduzidas a quase zero devido ao domínio dos bandidos.

E isso se faz cobrando o governo. Denunciando desemprego, miséria, fome, falta de escola, péssimo atendimento de saúde e, principalmente, a ausência do Estado Oficial em todas as etapas da vida de populações que são obrigadas a recorrer a ajuda de criminosos. A Vênus Platinada tem que fazer jornalismo mostrando que o seu interesse não era o de somente gravar imagens dos tanques do Exército entrando na Rocinha. Imagens que, aliás, serão muito bem usadas em campanhas eleitorais.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Quanto mais fala mais o ministro arranha os joelhos

Os jornais repercutem nesta sexta-feira, dia 11 de novembro de 2011, a mais nova posição do ministro do Trabalho, Carlos Lupi: de quatro!

Pois é. Lupi é daquelas pessoas que devem ficar sempre caladas. Porque se abrir a boca hoje para consertar o que disse ontem, amanhã terá que falar de novo para aparar arestas e assim por diante.

Após dizer que só deixaria o cargo a bala, Lupi foi repreendido pelo Palácio do Planalto com a recomendação de se retratar. Foi à Câmara dos Deputados e errou mais uma vez no tom e no conteúdo quando pediu desculpas à presidente Dilma Rousseff e se declarou: “Eu te amo”.

Não se diz isso a uma presidente da República. Principalmente se o dono da voz é um ministro. Eu, você, o frentista do posto, o encarregado da obra, o bancário, o catador de recicláveis poderíamos, se inspirados pelo amor, tentar mandar um recadinho à presidente declarando amá-la.

Mas ministro que é ministro não pode fazer isso e não é só pelo fato de quebrar protocolo. É respeito com a figura da presidente. E se esse amor não é aquele universal, de irmão, pai ou filho, ele teria a liberdade de fazer a declaração de um jeito galante, com uma taça de caro vinho na mão e à luz de vela. Aí sim o cidadão Lupi poderia dizer à cidadã Dilma que a ama. Num lugar reservado.

Toda esta falação por três palavrinhas é para aliviar a tensão da outra ignorância cometida por Lupi: para este fulano, a imprensa é culpada. Culpada porque caem ministros acusados de corrupção; culpada de atrasar as obras para a Copa de 2014; culpada por existir no calendário uma data coincidente, a de 11 de 11 de 11; culpada e culpada e culpada.

Vejam como ele se complica: “São 200 (jornalistas) dando tiro na gente. Eu falei nesse sentido, nunca desafiando” (transcrição Folha de Londrina). Isso foi para tentar justificar que foi por isso que afirmou que só deixaria o cargo a bala.

Talvez ele tenha confundido as indagações dos jornalistas sobre as denúncias de irregularidades em seu ministério com algo como “um bombardeio dos profissionais de comunicação”. Isso é coloquial, ministro. Bombardeio de perguntas é uma espécie de gíria.

Outra pérola tirada da casca: “Hoje, a bolsa de apostas da mídia é saber quem vai ser o próximo. Quando se começa atirar em um soldado do Exército é para atingir o general” (transcrição Folha de Londrina). Não há bolsa de apostas, senhor ministro. Então vamos do confronto armado que o senhor usa como metáfora para o futebol: a grande torcida é para que todas as partidas terminem em vitória; que nenhum ministro seja motivo de suspeitas; e que o governo faça o que tem que ser feito.

Então, se é para entrar no mercado financeiro em cima dos acontecimentos que infelizmente o governo protagoniza, vamos apostar nessa sua bolsa: quantos dias o ministro continua ministro? Um, dois, três, quatro ou dez dias? Alguns místicos dizem que o 11 de 11 de 11 é de mudanças. Haverá novidades no Ministério do Trabalho? A data é muito oportuna, senhora presidente.

Ah, quanto ao “eu te amo” declarado pelo ministro, existe uma leve polêmica. Há quem diga que o certo é “amo-te”. Mas é polêmica que não se sustenta, pois todo mundo diz que o que vale é o coloquial e o que realmente se sente. Então, vamos destravar a arma e atirar.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Um olhar do sindicato para os jornalistas que atuam em assessorias dos pequenos municípios

Recebemos um exemplar do Extra Pauta, o jornal do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná. É o número 92, de outubro de 2011, e a manchete é a campanha salarial da categoria: “Reivindicações sem resposta!”

Na linha fina: “Um mês depois de entregue a pauta de reivindicações, patrões seguem sem resposta oficial às demandas dos jornalistas”. A data base dos jornalistas no Paraná venceu no dia 1º de outubro de 2011 e as propostas foram enviadas no dia 23 de setembro.

A campanha salarial 2011/2012 tem cinco pontos. A pauta econômica pede a reposição integral da inflação, de acordo com o INPC/IBGE de 1º de outubro de 2010 a 30 de setembro de 2011 e aumento real de 6,77%. Este índice é com base na média do faturamento dos últimos três anos fiscais das empresas de comunicação, conforme o relatório do Projeto Inter-Meios, descontada a inflação do período.

A pauta de benefícios inclui vale alimentação em valor a ser negociado entre as partes. Os trabalhadores que não têm plano de saúde ou que recebem das empresas apenas o acesso ao operador, mas com desconto integral do valor do plano no holerite, passam a arcar com 10% do valor do benefício enquanto o empregador fica responsável por 90% da mensalidade. No caso da empresa que já assume integralmente a mensalidade, o mesmo benefício deverá ser mantido ao trabalhador.

Na pauta da segurança dos trabalhodores, consta: “Todos os jornalistas que se deslocarem a campo para apurar informações, com o intuito de cobrir conflitos ou tragédias que coloquem em risco a sua integridade física, deverão receber das empresas o suporte e equipamentos que lhes garanta a protetividade”.

A pauta de proporcionalidade propõe que os jornalistas das empresas de comunicação (rádios, jornais, revistas, portais informativos, televisões ou similares) que atuem como editores devem ter ao menos um repórter sob sua responsabilidade para produção de conteúdo jornalístico.

O quinto item é da nova redação e inclusões, dentre as quais a da reversão salarial e o registro na forma a lei de diagramador, ilustrador, repórter-fotográfico e repórter-cinematográfico.

A questão é: como sempre os patrões preferem deixar a coisa rolar, mandando as propostas para o dissídio coletivo. As informações atualizadas são de que os dois sindicatos paranaenses que representam os profissionais reúnem-se nesta quinta-feira, dia 10 de novembro, às 15 horas, com a entidade patronal.

A reunião será no Sindicato das Empresas Proprietárias de Jornais e Revistas do Estado do Paraná, na Rua Marechal Deodoro, 857, 13º andar, sala 1306. E fica o lembrete para o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Norte do Paraná: a maioria das prefeituras da região não cumpre há anos os acordos. Nem a jornada de trabalho é respeitada. A carga dos assessores de imprensa costuma ser de oito horas por dia, com eventuais trabalhos nos finais de semana e após às 18 horas para cobertura de eventos oficiais. 

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Sapatos, chinelos e palmilhas esfareladas neles!

Alguém tem um par de sapatos velhos para jogar num presidente? Ou chinelos? Estes serviriam para um governador, por exemplo. Na pior das hipóteses, palmilhas de pouca qualidade, esfarelando com o tempo de uso, para sujar os ternos dos senadores? No momento eles seriam o alvo, pois emperram a obrigatoriedade do diploma do jornalista.

Há três anos, o jornalista iraquiano Muntadhar al-Zaidi perdeu um par de sapatos em Bagdá. Os calçados foram apreendidos para servirem como prova de um crime. No dia 14 de dezembro de 2008, durante uma coletiva à imprensa no palácio do primeiro-ministro Nouri al-Maliki concedida pelo presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, al-Zaidi atirou os dois sapatos em direção à autoridade norte-americana.

Um de cada vez. No primeiro – e não se sabe se foi o direito ou o esquerdo porque o susto foi tamanho que nem os colegas jornalistas se atentaram para este detalhe -, o iraquiano gritou: “Este é o seu beijo de despedida do povo iraquiano, seu cachorro”. No segundo, completou: “Isto é pelas viúvas e órfãos e todos os mortos do Iraque”.

As versões alternativas são de que al-Zaidi foi retirado do local pelos seguranças do primeiro-ministro e lá fora retribuído com socos, pontapés, puxões de cabelos e outras formas de violência.

O mais curioso desta história: cerca de um ano depois, no dia 1º de dezembro de 2009, al-Zaidi concedia uma entrevista na França sobre as condições de trabalho de jornalistas no Iraque. De repente um jornalista iraquiano exilado na Europa atirou um sapato em direção a al-Zaidi. Após o ato, o pretenso agressor saiu sorrindo e gritou palavras de apoio à ocupação americana no Iraque.

Muntadhar al-Zaidi é um profissional de jornalismo que no exercício da profissão sofreu, por várias vezes, torturas e até um seqüestro. Mas em nenhum dos acontecimentos anteriores se notabilizou tanto como nas sapatadas. Claro, a notícia da ocasião era Bush, que entre constrangido saiu-se com uma frase culpando a democracia pelo incidente. Foi do tipo: a democracia permite que certas pessoas cometam loucuras para ganhar evidência...

Talvez. E, neste momento, a sapatada que teríamos que promover seria justamente para chamar a atenção: “Excelências! Chega de picaretagem, pô. Vamos ao diploma e à regulamentação da profissão? E, por favor, nada de retribuir no futuro com chineladas, certo doutores?”

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Regra: "Jornalistas na frente e a gente atrás, ok!"

Polícia quer regra para cobertura jornalística! É o cúmulo do fundo do balde cheio de líquido estonteante e hilárico. Por que? A polícia sabe – ou supõe-se que ela saiba – das estratégias de ação num confronto como a da Favela de Antares, na Zona Oeste do Rio; sabendo das estratégias conhece os pontos de risco onde os próprios militares devem se precaver para evitar baixas desnecessárias; por experiência própria também tem conhecimento das artimanhas dos bandidos que estão lá do outro lado do fogo cruzado; de ouvidos identificam as armas usadas pelos adversários. E muito mais, pois tudo isso faz parte dos treinamentos e, na boa fé, diga-se que somam positivamente nas operações como a que resultou na morte do cinegrafista Gelson Domingos.

Então porque a polícia quer fechar um acordo com os meios de comunicação e os profissionais que nela atuam para estabelecer uma regra de cobertura jornalística? Acaso a polícia está assumindo a culpa pela morte do cinegrafista? Como dissemos na postagem anterior, é claro que se a polícia levou alguns jornalistas a tiracolo para o palco do confronto, como se eles fossem assessores de imprensa da operação, a culpa seria dela mesma, a polícia.

Caso isso não tenha acontecido, a falha da polícia foi por não ter armado um isolamento e permitir que os jornalistas corressem atrás. Ainda assim pesa muito a ultrapassada mas muito válida tese da vitimologia: se eu consegui fotografar o bandido atirando contra a polícia lá de cima, significa que eu estava exposto. Escondido atrás de uma pedra eu jamais conseguiria fazer o registro fotográfico (ou, no caso, cinematográfico).
Então polícia que é polícia não precisa fazer regra com os jornalistas para a cobertura jornalística de um confronto armado. Polícia que é polícia tem que agir com estratégias que garantam a segurança de seus homens que estão numa guerra com adversários tão fortemente armados quanto ela. Ou mais, dependendo da situação.

Portanto, polícia que é polícia tem que se preocupar consigo mesma e evitar que terceiros entrem em seu território num momento tão crítico, de balas passando por cima da cabeça. Senão vai que o apresentador Faustão e o BBB Pedro Bial resolvam aproveitar a situação de extrema tensão para gravar uma cena autêntica e sensacionalista? Exageros, não? Mas no Brasil, onde as grandes redes de televisão mandam em tudo, isso é possível. Embora muito hilárico. E chegam os dois rindo e chamando a todos de babacas!

Polícia, assim se repete, tem que garantir o seu território de ação até para que os seus próprios homens não sejam alvejados. Polícia que é polícia não precisa negociar regras. Ali, no meio do tiroteio, polícia manda. Manda inclusive embora pessoas que não são da polícia e correm riscos ou atrapalham.


segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Vítima da concorrência e do sensacionalismo

Sem sombra de dúvida. O cinegrafista Gelson Domingos, 46 anos, da TV Bandeirantes, foi vítima de uma soma de fatores negativos que rodeiam a prática do jornalismo. Ele foi morto na manhã de domingo com um tiro de fuzil durante um confronto entre polícia e bandidos na Favela de Antares, em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio.

O tiro que o atingiu foi supostamente disparado por um bandido. O tiro que matou o cinegrafista, infelizmente, foi a gota d’água de uma condição de trabalho imposta pela concorrência do meio onde ele atuava e, por mais que cause dor, da negligência própria inclusive em relação ao Código de Ética do jornalista.

E houve a falha da polícia, que permitiu que uma equipe de televisão ficasse postada na linha de tiro. Como também há o desrespeito do empregador e da equipe de jornalismo em que Gelson Domingos estava vinculado, pois o cinegrafista atuava rotineiramente em busca desse tipo de ação para abastecer a emissora com imagens sensacionalistas. Para isso, a única ferramenta de defesa que o profissional dispunha era um colete a prova de balas.

Falha também do Senado, que emperra a votação da Proposta de Emenda Constitucional que devolve a obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo. Dirão os mais céticos que uma coisa nada tem a ver com a outra. Mas estão equivocados. Infelizmente a concorrência profissional faz redemoinhos nas cabeças de formados e não-formados. 

E corre-se riscos, confundindo jornalismo investigativo com investigação policial. Corre-se riscos, colocando profissionais eufóricos atrás de cenas, temas, tomadas e situações da maneira que acharem conveniente. O sensacionalismo leva à feridas expostas que não cicatrizam na Constituição Federal, na Declaração Universal dos Direitos do Homem e no Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros.

Nem sempre a melhor imagem é sinônimo de boa matéria jornalística. Isso vale para todos os meios. A produção excelente depende de uma equipe. Boa imagem com conteúdo de informação insuficiente ou equivocada é, além de freqüente, a assumida eternização do engodo de quem faz jornalismo sensacionalista. 

No caso do cinegrafista da Bandeirantes, a produção excelente dependia dele, cinegrafista, do repórter, do produtor, do editor de texto, do editor de imagem, do diretor de jornalismo e dos diretores da emissora.

E pelo visto Gelson Domingos carregava sozinho não só uma câmera pesada, mas toda a responsabilidade de garantir o seu emprego com imagens que batessem na concorrência. Aliás, em situação muito diferente das equipes da Globo, que na cobertura da invasão policial e do exército no Complexo do Alemão funcionaram como verdadeiros assessores de imprensa da operação.

As duas formas estão erradas. Jornalista não precisa morrer – ou correr o risco de uma tragédia que sobra para a família dele – para provar que faz jornalismo. Jornalista precisa conhecer o seu código de ética para saber, justamente, onde deve se postar durante a cobertura de um acontecimento para colher as melhores imagens e informações. Mas nunca, nunca mesmo, exercendo papel de polícia.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

E ainda dizem que o assessor é o grande mala!

Imaginemos a sala onde os profissionais de assessoria de imprensa de um órgão público – uma prefeitura, por exemplo – estão instalados. É meio da tarde e o ar condicionado não funciona. A luz é fraca e pisca denunciando desgaste ou uso de reatores de baixa qualidade. Os patrões cobram e cobram. Insinuam que os jornais só soltam coisas ruins e nunca os procuram quando há notícias boas. Nunca culpam diretamente os assessores, mas carimbam nas costas destes com uma tinta transparente, porém legível: cambada de incompetentes!

E chega o fulano. Penteadinho, camisa por dentro da calça, ar autoritário. Traz alguns exemplares de jornal. “Este é para você, este é para fulano, entrega depois este para beltrano e dê lembranças também ao sicrano. Mostra pra ele a foto que publiquei com um textinho”.

O jornal que ele traz é chapa branca. Autoridade aqui, a mesma autoridade na página seguinte e assim vai. Em algumas matérias, normalmente com textos enviados como release pela assessoria de imprensa, as três ou quatro fotos também produzidas e fornecidas pelos assessores trazem em todas elas a mesma autoridade. Uma discursando, outra assinando alguma coisa, a terceiro conversando com um político da esfera estadual e a quarta fazendo pose ao lado de um grupo de assessores.

E o fulano pergunta, depois de algumas tentativas de agrado, se a autoridade já aprovou a página de anúncio institucional que ele propôs na visita anterior. Como normalmente a resposta é não, o fulano torna-se hostil. E ameaça: “Vou ter que falar com a autoridade que a assessoria dele não me envia nada. Nem foto e nem texto. Não fico sabendo de nada do que acontece aqui”. E sai, batendo a porta.

Isso, infelizmente, é quase rotina. Se fulano veio hoje, aposte que amanhã virá sicrano e depois de amanhã será a vez de beltrano. É uma fila. O assédio é uma prática descarada. A falta de vergonha é confundida com ousadia profissional. E o assessor só não xinga porque está no exercício da profissão e tem que saber lidar com inteligência com estas situações.

Pior de tudo: alguns jornalistas e pseudo-jornalistas consideram o assessor de imprensa um grande mala. Ah, se assim fosse!

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O IDH, a República Velha e a evasão escolar...

A salada mista pode fazer bem depois de um feriado de meio de semana, quando a quinta-feira amanhece com cara de segunda. Optamos pelo texto bobo, do tipo que enfatiza o que todos já sabem: estamos no dia 3 de novembro de 2011 e a maioria dos jornais traz na capa a subida do Brasil em uma posição no IDH 2011.

Pois é! O Brasil está em 84º lugar entre 187 países. De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), desde 2000 o Brasil avança 0,69% ao ano no Índice de Desenvolvimento Humano. É um avanço em ritmo de tartaruga. Aliás, a charge da Folha de Londrina, na página 2 do primeiro caderno, é muito oportuna por ser retrato da realidade.

Vamos buscar lá atrás, nos museus da política, algum fato que relacione este vagar de hoje. Retrocedemos até 1891. Naquele ano a República Velha, que durou da Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889 até a Revolução de 1930, mostrou suas asinhas com um ato de exceção.

O presidente da época era Deodoro da Fonseca, que em represália à aprovação de um lei que permitia o impeachment do presidente, mandou fechar o Congresso Nacional e decretou Estado de Sítio. Foi uma versão mais antiga daquilo que anos depois a ditadura militar fez, com os atos institucionais. Naquele período a salvação veio com a Revolução de 1930, que depôs o último presidente da República Velha, Washington Luiz. E veio Getúlio Vargas.

Agora avancemos 120 anos e retornemos a 2011. E como no momento anterior ao retroceder, caímos novamente com a cara nas manchetes sobre a subida do IDH. O Jornal de Londrina traz um quadro interessante. Algo que mostra que o brasileiro sempre está contente com tudo o que representa uma pequena melhoria.

“Em uma escala de 1 a 10, a população do país deu nota 6,8 para sua vida, enquanto os alemães deram 6,7 e os noruegueses – maior IDH no mundo – 7,6”. Outro aspecto interessante é mostrada na produção da Folha de Londrina, em que um especialista analisa o mascaramento de cidades como Londrina, com mais de 70 favelas.

E no mesmo foco, com outro assunto, caímos na matéria da Gazeta do Povo: “134 cidades têm evasão escolar acima da média”. Isso, mais uma vez trabalhando o óbvio, significa um terço dos municípios paranaenses. É muita coisa.

De acordo com a matéria, o índice nacional é de 10,3% no ensino médio e de 3,1% no ensino fundamental. Prado Ferreira, aqui no Norte do Paraná, é um dos exemplos negativos: 21,5% dos alunos do ensino médio abandonam a escola.

É dessa salada que temos um diagnóstico que, se não é científico, é real. A preocupação com a política é, no Brasil, historicamente mais importante do que qualquer outra coisa. Verdade ou mentira? Mentira. A preocupação com a politicagem e o poder é, no Brasil, prioridade dos politiqueiros e o povo, eleitor, entra com muita facilidade no jogo.