Alguém tem um par de sapatos velhos para jogar num presidente? Ou chinelos? Estes serviriam para um governador, por exemplo. Na pior das hipóteses, palmilhas de pouca qualidade, esfarelando com o tempo de uso, para sujar os ternos dos senadores? No momento eles seriam o alvo, pois emperram a obrigatoriedade do diploma do jornalista.
Há três anos, o jornalista iraquiano Muntadhar al-Zaidi perdeu um par de sapatos em Bagdá. Os calçados foram apreendidos para servirem como prova de um crime. No dia 14 de dezembro de 2008, durante uma coletiva à imprensa no palácio do primeiro-ministro Nouri al-Maliki concedida pelo presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, al-Zaidi atirou os dois sapatos em direção à autoridade norte-americana.
Um de cada vez. No primeiro – e não se sabe se foi o direito ou o esquerdo porque o susto foi tamanho que nem os colegas jornalistas se atentaram para este detalhe -, o iraquiano gritou: “Este é o seu beijo de despedida do povo iraquiano, seu cachorro”. No segundo, completou: “Isto é pelas viúvas e órfãos e todos os mortos do Iraque”.
As versões alternativas são de que al-Zaidi foi retirado do local pelos seguranças do primeiro-ministro e lá fora retribuído com socos, pontapés, puxões de cabelos e outras formas de violência.
O mais curioso desta história: cerca de um ano depois, no dia 1º de dezembro de 2009, al-Zaidi concedia uma entrevista na França sobre as condições de trabalho de jornalistas no Iraque. De repente um jornalista iraquiano exilado na Europa atirou um sapato em direção a al-Zaidi. Após o ato, o pretenso agressor saiu sorrindo e gritou palavras de apoio à ocupação americana no Iraque.
Muntadhar al-Zaidi é um profissional de jornalismo que no exercício da profissão sofreu, por várias vezes, torturas e até um seqüestro. Mas em nenhum dos acontecimentos anteriores se notabilizou tanto como nas sapatadas. Claro, a notícia da ocasião era Bush, que entre constrangido saiu-se com uma frase culpando a democracia pelo incidente. Foi do tipo: a democracia permite que certas pessoas cometam loucuras para ganhar evidência...
Talvez. E, neste momento, a sapatada que teríamos que promover seria justamente para chamar a atenção: “Excelências! Chega de picaretagem, pô. Vamos ao diploma e à regulamentação da profissão? E, por favor, nada de retribuir no futuro com chineladas, certo doutores?”
Nenhum comentário:
Postar um comentário