quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Sapatos, chinelos e palmilhas esfareladas neles!

Alguém tem um par de sapatos velhos para jogar num presidente? Ou chinelos? Estes serviriam para um governador, por exemplo. Na pior das hipóteses, palmilhas de pouca qualidade, esfarelando com o tempo de uso, para sujar os ternos dos senadores? No momento eles seriam o alvo, pois emperram a obrigatoriedade do diploma do jornalista.

Há três anos, o jornalista iraquiano Muntadhar al-Zaidi perdeu um par de sapatos em Bagdá. Os calçados foram apreendidos para servirem como prova de um crime. No dia 14 de dezembro de 2008, durante uma coletiva à imprensa no palácio do primeiro-ministro Nouri al-Maliki concedida pelo presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, al-Zaidi atirou os dois sapatos em direção à autoridade norte-americana.

Um de cada vez. No primeiro – e não se sabe se foi o direito ou o esquerdo porque o susto foi tamanho que nem os colegas jornalistas se atentaram para este detalhe -, o iraquiano gritou: “Este é o seu beijo de despedida do povo iraquiano, seu cachorro”. No segundo, completou: “Isto é pelas viúvas e órfãos e todos os mortos do Iraque”.

As versões alternativas são de que al-Zaidi foi retirado do local pelos seguranças do primeiro-ministro e lá fora retribuído com socos, pontapés, puxões de cabelos e outras formas de violência.

O mais curioso desta história: cerca de um ano depois, no dia 1º de dezembro de 2009, al-Zaidi concedia uma entrevista na França sobre as condições de trabalho de jornalistas no Iraque. De repente um jornalista iraquiano exilado na Europa atirou um sapato em direção a al-Zaidi. Após o ato, o pretenso agressor saiu sorrindo e gritou palavras de apoio à ocupação americana no Iraque.

Muntadhar al-Zaidi é um profissional de jornalismo que no exercício da profissão sofreu, por várias vezes, torturas e até um seqüestro. Mas em nenhum dos acontecimentos anteriores se notabilizou tanto como nas sapatadas. Claro, a notícia da ocasião era Bush, que entre constrangido saiu-se com uma frase culpando a democracia pelo incidente. Foi do tipo: a democracia permite que certas pessoas cometam loucuras para ganhar evidência...

Talvez. E, neste momento, a sapatada que teríamos que promover seria justamente para chamar a atenção: “Excelências! Chega de picaretagem, pô. Vamos ao diploma e à regulamentação da profissão? E, por favor, nada de retribuir no futuro com chineladas, certo doutores?”

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