Imaginemos a sala onde os profissionais de assessoria de imprensa de um órgão público – uma prefeitura, por exemplo – estão instalados. É meio da tarde e o ar condicionado não funciona. A luz é fraca e pisca denunciando desgaste ou uso de reatores de baixa qualidade. Os patrões cobram e cobram. Insinuam que os jornais só soltam coisas ruins e nunca os procuram quando há notícias boas. Nunca culpam diretamente os assessores, mas carimbam nas costas destes com uma tinta transparente, porém legível: cambada de incompetentes!
E chega o fulano. Penteadinho, camisa por dentro da calça, ar autoritário. Traz alguns exemplares de jornal. “Este é para você, este é para fulano, entrega depois este para beltrano e dê lembranças também ao sicrano. Mostra pra ele a foto que publiquei com um textinho”.
O jornal que ele traz é chapa branca. Autoridade aqui, a mesma autoridade na página seguinte e assim vai. Em algumas matérias, normalmente com textos enviados como release pela assessoria de imprensa, as três ou quatro fotos também produzidas e fornecidas pelos assessores trazem em todas elas a mesma autoridade. Uma discursando, outra assinando alguma coisa, a terceiro conversando com um político da esfera estadual e a quarta fazendo pose ao lado de um grupo de assessores.
E o fulano pergunta, depois de algumas tentativas de agrado, se a autoridade já aprovou a página de anúncio institucional que ele propôs na visita anterior. Como normalmente a resposta é não, o fulano torna-se hostil. E ameaça: “Vou ter que falar com a autoridade que a assessoria dele não me envia nada. Nem foto e nem texto. Não fico sabendo de nada do que acontece aqui”. E sai, batendo a porta.
Isso, infelizmente, é quase rotina. Se fulano veio hoje, aposte que amanhã virá sicrano e depois de amanhã será a vez de beltrano. É uma fila. O assédio é uma prática descarada. A falta de vergonha é confundida com ousadia profissional. E o assessor só não xinga porque está no exercício da profissão e tem que saber lidar com inteligência com estas situações.
Pior de tudo: alguns jornalistas e pseudo-jornalistas consideram o assessor de imprensa um grande mala. Ah, se assim fosse!
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