quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Medida de exceção é medo e insegurança

A Argentina de Cristina Kirchner é a volta a um passado de desmandos em relação aos meios de comunicação do país que são críticos ao governo. Reeleita recentemente, Cristina e seus aliados deram mostras de pouco se importarem com as formas de ação contra os opositores desde antes da campanha eleitoral.

Assim, a disputa pela presidência da Argentina foi em clima de reunião de bar de esquina. De um lado se alinharam os veículos de comunicação pró-candidata. Nem todos estiveram com Cristina por opção política. Aliás, a maioria gozou dos benefícios financeiros da candidatura e também do governo. Do outro lado, os jornais com linhas editoriais mais éticas penaram não só com os cortes de anúncios mas também com boicotes.

O Grupo Clarin, que entre 2003 e 2007 esteve com o governo de Nestor Kirchner, debandou a partir de 2008 ao defender os produtores rurais argentinos contra a alta dos impostos de importação. Em setembro de 2009 a Receita Federal Argentina faz uma devassa nas contas do grupo e invade até a casa dos seus diretores e alguns funcionários.

Em março de 2011 manifestantes bloqueiam a porta da gráfica do jornal e atrasam a circulação por 12 horas. O Clarin protesta lançando edição com a capa em branco. Agora recentemente, o governo argentino tornou a única fábrica de papel-jornal do país de interesse público. O Clarin é detentor de 49% das ações desta indústria e corre o risco de perder a sua participação no empreendimento. O interesse público, aliás, já foi aprovado pela Câmara dos Deputados da Argentina.

Ontem, dia 20 de dezembro, a sede da empresa que faz parte do grupo, fornecedora de tevê a cabo, foi ocupada por cerca de três horas por policiais. A invasão foi autorizada por um juiz de uma cidade onde o grupo não mantém unidades.

Invasões e atentados aos jornais já fizeram parte da história da América Latina em um passado recente de amarga lembrança. Somos obrigados a admitir que atualmente, não só lá quanto aqui, a censura é mantida por meio dos anúncios publicitários. Antes, instrumentos como o Ato Institucional nº 5 é que deixavam as páginas em branco.

A ocupação de um veículo de comunicação na Argentina é, portanto, recurso de quem não tem o controle do poder e quem continuar no trono a qualquer preço. Infelizmente, o argentino, normalmente aguerrido, está calado assistindo aos acontecimentos.

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