terça-feira, 18 de outubro de 2011

Espetam o jornalista e agora posam de santo

Lima, no Peru, sedia a 67ª Assembléia-Geral da Sociedade Interamericana de Imprensa, com a sigla SIP. Ao que se sabe, o representante brasileiro no evento tem os pés em um grande jornal brasileiro de circulação nacional, o Estadão, na condição de consultor. Paulo de Tarso Nogueira, o nosso representante, é também vice-presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa e no domingo apresentou relato sobre a imprensa no Brasil.

Mencionou os quatro assassinatos de jornalistas nos últimos seis meses e também cumpriu o seu dever de casa: colocou entre os destaques o caso da censura via justiça ao Estadão, no caso que envolve o filho do senador José Sarney, Fernando. Contemporizou com outras situações de censura aos meios de comunicação no Brasil, através da justiça.

Conferimos matéria do jornal da qual o representante brasileiro é consultor. Assinada pelo enviado especial Gabriel Manzano, o texto menciona no primeiro parágrafo que entre os destaques apresentados na SIP por Paulo de Tarso Nogueira, consta “mais pressões para exigir o diploma para o exercício do jornalismo”. Nada mais é dito na matéria sobre o tema.

Da forma como foi colocado no texto, a dubiedade na interpretação é obrigatoriamente incentivada: o representante brasileiro mencionou no evento internacional que no Brasil há “mais pressão pelo diploma” por ser contra ou a favor? Ou a matéria é tendenciosa? Fica o benefício da dúvida, com certo favoritismo ao representante brasileiro.

De qualquer forma, Paulo de Tarso Nogueira destacou também em Lima a demora do Senado com a Lei de Acesso à Informação. E entre os assassinatos, mencionou os casos de Luciano Leitão Pedrosa, executado em Vitória de Santo Antão, em Pernambuco; de Valério Nascimento, dono do jornal Panorama em Rio Claro, no Rio de Janeiro, morto com seis tiros; o do blogueiro Edinaldo Figueira, morto também com seis balas em Serra do Mel, no Rio Grande do Norte; e de Vanderlei Canuto, radialista de Tabatinga assassinado com oito tiros. Todas as vítima trabalhavam na cobertura de denúncias contra a prefeitura ou autoridades locais.

O representante brasileiro também relacionou duas prisões, oito agressões físicas, dois atentados, seis novos casos de censura judicial e três de abuso do poder nos últimos seis meses.

Quanto ao diploma, a promessa feita na Câmara dos Deputados de colocar a Proposta de Emenda Constitucional na pauta em outubro ou novembro ainda está em tempo de ser cumprida. Sem a regulamentação da profissão e precariamente representado por uma entidade de fato, o profissional do jornalismo é alvo de diferentes formas de violência: a física, a moral, a salarial e a de condição de trabalho.

Discursos de sindicalistas entre aspas, dirigentes de entidades confederativas entre parênteses, representantes de organizações patronais com a tímida participação dos jornalistas costumam ser comoventes na fachada. Mas podem estar entrelinhados.


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