sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Braçadas entre a serpente e as estrelas

Nada a ver com a versão brasileira da música country Amarillo by Morning, de Terry Stafford e Paul Fraser. Aliás, com letra de Aldir Blanc e na voz de Zé Ramalho, desprezamos a nossa suspeita brasilidade para dizer que a produção nacional é muito melhor no conteúdo e na interpretação. Só para completar o rabicho, dizemos apenas que a versão original fala das aventuras e desventuras de um peão de rodeios lá no Texas. Na poesia de Aldir Blanc está cronicado o amor e o desamor de um homem de qualquer lugar deste planeta.

A serpente e as estrelas desta postagem está relacionada a uma comunicação do grupamento do lazer e do entretenimento. Está acessível diariamente. Até o seu volume é controlado por quem o acessa. Nos aparelhos mais modernos de televisão o formato de exibição depende apenas de um aperto no botão do controle remoto, que mostra as opções disponíveis de acordo com o arquivo em que a produção foi armazenada.

Novelas! Adianta dizer que não assistimos? Gostando ou não, sempre há alguém em casa que aprecia e acompanha todos os capítulos. E não podemos assumir a grosseria de discriminar: quem gosta de novela que assista no quarto, onde o aparelho de tevê não está conectado a um satélite ou a um cabo. Imaginem a tortura do noveleiro: fantasmas na tela, imagens tremidas, áudio que sobe e desce nos intervalos comerciais e as propagandas insistentes das empresas de cabo e satélite.

E vicia. De tanto ser obrigado a ver novela o sujeito acaba gostando. Quem jura nunca ter visto um marmanjo barbudo disfarçando o choro depois de uma cena de bondade? Machão doido por futebol, ele sempre arranja uma desculpa: “Neste horário de verão o sol bate na cara e irrita os olhos mesmo com a cortina fechada...”

Acreditem se quiserem. Há boas produções. Baseadas em obras consagradas não permitem aos redatores-roteiristas mudanças despropositais. Há produções feitas para mostrar o inusitado e o surreal, como o recente Cordel Encantado, de Thelmna Guedes e Duca Rachid. Estas acabam atraindo mais os noveleiros ocasionais por terem, em alguns casos, um apelo humorístico inclusive nas cenas sérias.

Atraem porque saem do comum. Criam situações que não repetem realidades. É aquilo que nunca vamos ver na Câmara de Vereadores ou na Assembléia Legislativa. Nunca vai acontecer na Prefeitura ou no Palácio do Governo do Estado. Jamais se registrará na casa do presidente da República. E, na Câmara dos Deputados e no Senado, nem os Odorico Paraguaçu conseguirão fazer como nas cenas gravadas e editadas.

Este é o lado proveitoso. Agora, na reprodução novelesca de histórias triviais de amor, sucesso e assim por diante, haja saco. Uma novela após a outra parecem retratar os bastidores da Vênus Platinada, com a eterna briga entre o bem e o mal e a constante puxação de tapetes. Se ficar em pé enquanto brilha, espere o escorregão e a queda. Então tudo de apaga.

Serpentes interpretadas por mulheres bonitas tornaram-se regra. Todas as novelas tem. Estrelas que passam a novela inteira sofrendo não podem faltar. E bate e chora sem cessar. Às vezes, uma propaganda subliminar anuncia uma operadora de telefone ou um banco. Outras vezes os autores se doem por alguma causa e se tornam insistentes e chatos em sua defesa.

Enfim, novelas desse tipo retratam as maldades do Brasil que não é a maldade de todos os brasileiros. Retratam, por exemplo, o repetitivo “fala Lupi”, “desmente Lupi”, “declara Lupi”, “cai Lupi”, “levanta Lupi” e chega uma hora que o saco está tão cheio que a gente muda de canal e escolhe aqueles seriadinhos policiais safados da programação a cabo ou satélite. E, de novo, nessas produções americanas, heróis e bandidos são donos do mundo e da verdade. Argh...

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