segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Mil e uma utilidades das edições domingueiras

Jornais de domingo têm múltipla utilidade. Começa pelo fato de serem frios, uma vez que passaram pelas rotativas na tarde de sábado. Por isso não esquentam os sovacos de quem corre às bancas nas madrugadas, às 10 horas do domingo, para comprar um exemplar.

Ainda assim aquecem animais de estimação nestes estranhos dias de primavera, com vento gelado de manhã, sol tórrido durante o dia e frescor ao anoitecer.

Assistimos a uma briga de família no sábado quando um assinante do condomínio foi buscar na portaria o seu exemplar domingueiro do diário de preferência. O jornal chegou volumoso, com muitos cadernos e mais encartes.

O assinante queria ver os classificados. Coisa de hábito. Ele é daqueles que fica comparando o preço do carro que comprou com os anúncios de modelos iguais ou similares. Só isso. Porque esporte já vem defasado e até as chamadas das partidas de domingo não interessam, pois foram exaustivamente exploradas pelos jornalísticos de televisão.

E as partidas de sábado? Resultados e análises só na segunda-feira. Quando a partida começou o caderno de esporte já estava rodado. A mulher do assinante quer prioridade dos encartes. E o assinante fica furioso com isso. Imagina que a esposa está planejando secretamente compras nas Casas Bahia, crediário nas Pernambucanas, jóias e relógios na Big Ben e imóvel da Quadra, da Plaenge ou da A.Yoshi.

“Será que ela tem caso com alguém e está comprando um apartamento e a mobília?” – pergunta-se o assinante. Dúvida cruel. Preocupação torturante. O problema não pára por ai. Até a empregada mete o bedelho no jornal de domingo. “Eu quero a parte do horóscopo e todas as propagandas com papel branco e grosso ficam comigo, entenderam?”

Interessante! Ninguém faz questão do primeiro caderno, justo ele que é o mais atualizado. E o assinante diz para a filha vestibulanda que é bom ela ler as notícias sobre política e economia, que podem cair no concurso. Ela se sai desaforada: “Mas estas notícias eu já vi todas na televisão e na internet. Não tem nada de novo”.

E o que se faz com as partes de sociedade? Na semana passada um monte de colunáveis forrou a gaiola de um passarinho que o assinante mantém escondido no apartamento. Só o vizinho da frente tem conhecimento, mas é solidário desde que receba em troca o caderno de cultura.

Na curiosidade certa vez o assinante perguntou: “Está colecionando caderno de cultura, vizinho?” A resposta foi direta: “Não, é que é um caderno de quatro páginas que dá certinho pra forrar o assoalho do carro depois de uma lavagem. Mas pode ser outro caderno, eu não me importo”.

Então precisou uma briga muito feia para desvendar alguns mistérios que foram deixados em aberto lá em cima do texto. A mulher do assinante prefere os encartes porque ela cuida de um gatinho rajada que já pegou o hábito de fazer as sujeitas em cima dos anúncios.

A empregada quer os anúncios em papel branco para forrar a prateleira da área de serviço, onde são guardados os frascos de detergente, amaciantes, sabão e tudo o que é tranqueira usada para fazer faxina. E o horóscopo, Josefina? “Eu leio para dar risada...”

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