sexta-feira, 2 de março de 2012

A mão, no fogo, pode sofrer queimadura

Não me diga, mulher, que você jogou fora o meu diploma de jornalista? Assim começou a briga lá em casa. Certo, eu havia dito que o diploma de jornalista já não valia nada, que o fulano, um pau mandado de político, havia conseguido registro de jornalista no Ministério do Trabalho aproveitando-se da brecha criada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que colocou não só o profissional de jornalismo, mas toda a população brasileira, na mão de um bando de picaretas que se acham jornalistas.

Ela deu de ombros. Replicou que como assistente social haviam reduzido a jornada de trabalho de 40 para 30 horas semanais, mas o empregador também diminuiu o salário dela. Então fiz a tréplica: ponderei que mesmo antes do STF aprovar a desobrigatoriedade do diploma para exercer o jornalismo muitas empresas picaretas contratavam gente sem formação para pagar menos.

Ela deu de ombros novamente. Ensaiou dizer alguma coisa mas brecou. Foi à área de serviço, apanhou uma vassoura e varreu um canto da cozinha onde havia uma migalhinha de pão. Nada mais. Achei isso um desaforo. Principalmente porque sei muito bem o que ela ia dizer. Mais ou menos isso: você com diploma e experiência no jornalismo nem consegue um bom emprego...

Veja que isso é ofensa. Uma insinuação do tipo, você deve ser um péssimo jornalista. A princípio engoli para evitar violência. Levei em conta a Lei Maria da Penha. Mas juro que quase atirei nela uma caneca de água gelada. Recuperada a calma resgatei a lucidez e engavetei a paixão.

Assumi que ela tinhas razão. Quem sou eu além de um operário da comunicação. Atualmente como assessor de imprensa, depois de anos em redação de jornal, engulo sapos. Todos os dias e horas. Produzo sobre isso e aquilo: de reportagens aprofundados sobre temas importantes à reuniões com chá e sorteio de brindes.

E embora vigore ainda muito preconceito em relação ao jornalista que trabalha em assessoria de imprensa, eu, particularmente, trabalho consciente. Seria tão fácil ganhar dinheiro e prestígio nessa condição. Tão fácil quanto seria se estivesse numa redação. Mas contento-me com o meu salário que não paga todas as minhas contas e tem que ser completado com o salário da minha assistente social. Dá raspando.

Sim, engulo sapos. Não só os que saem dos lagos dos patrões. Mas principalmente o de colegas jornalistas que discriminam assessores de imprensa. Como se pudesse colocar a mão no fogo por um monte de profissional de redação (texto de Walter Ogama). 

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