quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

A capa é a cara do leitor que o jornal busca

Jornais servem a algum tipo de interesse. Para evitar que este tipo de afirmação cause constrangimento, vamos ao que interessa. Estamos nos referindo à faixa dos leitores que cada publicação atende. Imaginemos que exista na estrutura da empresa de comunicação um setor que realize, mesmo que precariamente, a estatística dos assinantes e, se possível, também da venda avulsa.

Assim se chegaria a algum resultado. Algo como: tantos porcento são da classe A, tantos da B e outros da C. Um bocado é profissional liberal. Outro bocado é do setor empresarial. Um tantinho é intelectual. Um restolhinho é da classe lá de baixa e não se sabe porque teimam em gastar dinheiro com jornal.
Ironia à parte. Este levantamento precário serve para embasar ações em diferentes departamentos da empresa de comunicação: as vendas avulsas, as assinaturas, o editorial e também a logística de distribuição que passa a ser mais direcionada.

Claro, o nosso enfoque é editorial e não vamos nos meter a uma análise apurada. Pelo contrário, o que faremos é uma brincadeira produtiva trabalhando as capas dos dois maiores jornais do país. O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo, edições desta quarta-feira, dia 15 de fevereiro de 2012.

A manchete de O Estado de S.Paulo é “Obama quer ouvir Dilma sobre Irâ”. A pergunta é a seguinte: que tipo de leitor não-assinante se interessaria numa banca de jornais em comprar o jornal? À esquerda, em duas colunas com título em duas linhas, “Pressão por Serra irrita pré-candidatos tucanos”. Estamos fora de São Paulo andando pelas ruas do Paraná, Santa Catarina, Amazonas, Acre, Rio Grande do Sul ou outros estados. Quem compraria o Estadão para saber do Serra?

À direita, em uma coluna, também abaixo da manchete, “Grécia chega a seu quarto ano de recessão”. Chama leitura? Proporciona venda nas bancas? Estimula um novo assinante? E aparece, cortada pela dobra, a foto da Maria Vitória, cuja irmãzinha, Maria Clara, é fruto de uma seleção genética em laboratório.

Na Folha de S.Paulo a manchete é “Empresa liga Teixeira a jogo suspeito da seleção”. O tema lida com a possibilidade de corrupção, mas da forma como o título foi feito, cabe mais para pessoas que gostam de futebol. Quem, afinal, é o Teixeira? Na esquerda, em uma coluna e título de quatro linhas, “Tucanos devem esperar decusão de José Serra, afirma Alckmin. Com certeza os correligionários de um ou outro vão ser leitores. Abaixo da dobra quase nada atrai um comprador avulso ou um novo assinante.

Por falar nisso a Folha de Londrina, que não gigante como o Estadão e o Folhão, acerta com assuntos regionais. A manchete no meio da página, acima da dobra, diz: “Liminar suspende aumento de tarifas do Detran”. Isso interessa um bocado de paranaenses. Acima da manchete, com foto e legenda, a chamada de reportagem sobre o estado de conservação de imóveis históricos. A matéria foi produzida como repercussão ao incêndio no Teatro Ouro Verde. São chamadas que levam os leitores a abrir o jornal.

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