segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Perde a cultura, a arte e a acessibilidade a elas

Folha de Londrina e Jornal de Londrina acertaram na arte da capa desta segunda-feira, dia 13 de fevereiro de 2012. Mais do que isso. Conseguiram através da soma dos elementos básicos do jornalismo impresso, que são o texto, a foto, o título e a diagramação, transmitir aos leitores o sentimento de pesar pela perda de uma parte da cidade. As capas dos dois jornais estão de luto, porque Londrina perdeu parte da sua história.

O incêndio no Teatro Ouro Verde não queimou apenas capítulos importantes da vida cultural e artística da cidade. Não foi somente a arquitetura de João Batista Vilanova Artigas que virou cinzas. Aliás, por dentro muito do projeto original já havia sido perdido por mudanças modernistas nunca feitas com o objetivo de preservação histórica.

O que se perdeu é a acessibilidade à cultura e à arte que o Teatro Ouro Verde, a partir do momento que foi assumida pelo Estado para fazer parte da Universidade Estadual de Londrina, sempre desempenhou. A história do Festival Internacional de Londrina, o Filo, tem muito a ver com o Ouro Verde. Assim como era o demolido Colossinho do Filadélfia, onde hoje é erguido um enorme edifício residencial.

Estamos falando da origem do Filo, quando grupos amadores de todo o Brasil e posteriormente de outros países traziam espectadores de diferentes classes sociais para as apresentações que ali ocorriam. Na música popular brasileira estamos falando do Projeto Pixinguinha, lá pelos anos de 1980, que trouxe grandes nomes do mundo musical brasileiro a um preço permissível para gente rica, pobres, intelectuais e tantos outros.

Estamos falando de democracia. O Teatro Ouro Verde acolhia a todos. Quem ousa assistir a um grande espetáculo de teatro ou de música do circuito comercial no Marista? Além do preço elevado da cultura e da arte, o Marista constrange. O público que freqüenta o local inibe quem não está habituado a freqüentá-lo.

Por isso o luto. O que se queimou pode ser refeito e com exatidão milimétrica. O uso de materiais alternativos engana e muito bem. A modernidade pode ser aplicada na reconstrução sem constrangimento, desde que não se agrida o projeto de Artigas. Novos espetáculos poderão ser realizados. O Ouro Verde, se poupado da intenção de enobrecer equivocadamente a cultura e a arte, poderá ter novamente o seu papel de democratizador dessas manifestações.

O que se lamenta é que alguém descuidou. Sim, foi um acidente. Mas da forma como estava o Ouro Verde era um barril de pólvora. Obras eram feira, mas previa projetos para melhorar a segurança do local principalmente em relação ao fogo? Esperamos que sim. Que a comissão de engenheiros seja isenta. E se houve descuido que se aponte o culpado.

Em fins de 2011 tive a oportunidade de assistir a um espetáculo com apresentações de entidades como a APAE de Londrina. Vi pais de alunos e professores chorando de emoção, pois seus filhos, além de exibirem seus talentos, ocupavam o palco de um importante teatro da cidade. Que isso, inclusive, possa ser recuperado.

Pela abordagem da Folha de Londrina e do Jornal de Londrina estamos cientes de que a imprensa londrinense, de um jeito lúcido e não elitista, farão parte da grande campanha para recuperar não só o prédio queimado.

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