Um achado! E quem imaginaria encontrar num caderno destinado aos assuntos tecnológicos uma reportagem escrita em versos? Pois é. Está no caderno Link de O Estado de S.Paulo, encartado na edição desta segunda-feira, dia 31 de outubro (página L3).
A jornalista Tatiana de Mello Dias, que assina a matéria, começa o texto assim: “Cuidar das mídias sociais, / essa é sua função. / Tábata Cury é seu nome. / São cinco anos de dedicação. / Ela trabalha no Bradesco, / monitora as redes sociais. / E, para perguntas de clientes, / sempre dava respostas banais...”
A matéria repercute o caso de uma relação de um cliente e seu banco através do Facebook. Para solicitar um novo cartão o cliente Mauro Junior usa a rede social e faz o pedido em rima: “...plena falta de cuidado / digna de um jabuti / fazendo compras no mercado / o meu cartão eu perdi / antes que eu passe fome / faço a solicitação / ao meu banco preferido / preciso de outro cartão!”
Tatiana, a funcionária do banco que cuida das redes sociais, responde também em versos: “Mauro querido cliente / pra você ter outro cartão / à sua agência deve ir pessoalmente / Mas não será por motivos fúteis / Você irá cadastrar nova senha / E seu cartão chegará em até 7 dias úteis / Agradecemos a sua compreensão / E sempre que precisar / Pode contar com a nossa colaboração!”
E não é que outros participantes da rede tiveram acesso ao diálogo poético e entraram no clima? Um deles, que assina como Marcelo, posta um comentário: “Mas que pedido criativo / educado e nada hostil / com o Itaú eu imagino / que a rima não seria gentil.”
Tatiana de Mello Dias assina a seção Vida Digital no caderno Link do Estadão. Assim como na abertura de seu texto toda a matéria sobre o caso é em rimas. Ela finaliza: “...No site, o Link narrou a história / e seguiu os versos bancários / e o lirismo confirmou sua vitória / em dezenas de comentários.”
Está ai! Em circunstância normal um redator de assuntos virtuais apenas relataria o caso. Tal relato seria tão objetivo que o assunto se esgotaria em cinco linhas. E a pequena notícia seria muito desimportante principalmente para os internautas que navegam nas redes sociais e tem acesso aos acontecimentos virtuais na hora.
Com a criatividade que o assunto foi tratado, a matéria conquistou não somente os adeptos das redes, mas também os leitores que são cativos dos impressos. Esta é uma das formas de manter os jornais sempre interessantes. Com resumões o fracasso chega no casco da tartaruga. Mas chega.
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
sexta-feira, 28 de outubro de 2011
Horóscopos hiláricos nas páginas dos jornais
Ler as seções de horóscopo de alguns jornais é a mesma coisa que provar cannabis: dá vontade de rir e muito, A difereça é que cannabis é proibida. Das seções de horóscopo pode se rir à vontade, mas deve-se ter cuidado para não parecer que o riso é a evidência de uma loucura.
Jornal de Londrina e Gazeta do Povo usam os mesmos serviços de fornecimento de horóscopo. Vamos ao signo de Gêmeos: “A vontade de renovação, de gerar um futuro mais promissor e feliz, passa novamente pelo desagrilhoar-se de cargas passadas. Não temas se soltar, planar livre pelo céu”.
Coisa de louco. Imaginem a pessoa que escreveu isso gargalhando após cada publicação? Seria ela especialista no assunto? Soubemos em conversas de mesa de bar que numa grande redação de Londrina o envio da seção de horóscopo às vezes atrasava a ponto de comprometer o fechamento da página.
Na emergência, alguém tratava de incorporar um especialista no assunto e produzia os textos de cada signo. O duro é que apareciam, no dia seguinte, cartas elogiando a seção de horóscopo porque “bateu tudo o que estava escrito”.
Vamos a outro signo do Jornal de Londrina e da Gazeta do Povo: “Para ir adiante é preciso antes – lembra-se? – libertar-se do passado. Novas liberdades estão podendo ser conquistadas, mais uma vez, por estes dias finais de outubro”. Este é o de Aquário.
O interessante é que a pessoa que escreveu parece tem muita intimidade com o aquariano que está lendo. É a mesma coisa que acontece quando o sujeito procura por determinadas pessoas que prometem curas e soluções de problemas. Esse sujeito chega ao local debilitado psicologicamente, pois está em estado de sofrimento. Sem perceber, a primeira coisa que faz quando atendido é desabafar. Conta todo o problema.
E quem atende está esperando por isso. Desse relato vai dar o diagnóstico, incluindo no meio a mulher morena que se aproximou do marido, o homem claro que está trabalhando com a esposa, a vizinha de cabelos longos que estaria com inveja. O atendido sai crente que pagando o valor pedido para a compra de velas e folhas para queimar a solução virá.
Mas horóscopo publicado em jornal deve ser feito por quem entende de assunto. Pacotes comprados de agências que produzem este tipo de coisa são opções perigosas. E fica a pergunta: se um jornal leva nas coxas a sua seção de horóscopo, que é lida por um incalculável número de leitores, como vamos acreditar no jornalismo produzido por este meio?
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
Discutiram como faturar com a internet?
A Associação Nacional de Jornais (ANJ) e a Escola Superior de Propaganda e Marketing acabam de realizar em São Paulo seminário com o tema “Há uma ética digital e uma ética analógica?”
A princípio teríamos fatalmente que acrescentar com estupidez: gastaram um dia inteiro debatendo o óbvio. Aliás, até a conclusão a que os participantes chegaram leva a este deselegante complemento.
Pois disseram: “O impacto das novas tecnologias na vida dos jornais e de toda a mídia é imenso, e impõe mudanças profundas, mas ética é sempre ética, em qualquer ambiente ou situação, e não faz sentido se pensar em uma ética digital” (transcrito de O Estado de S.Paulo, que publica nesta quinta, dia 27 de outubro de 2011, matéria sobre o evento).
Primeira pergunta: onde e quando os organizadores pensaram que havia éticas diferentes? Compra-se ética pela cor, tamanho, finalidade, voltagem, portátil ou de mesa? Na verdade, ética é um valor universal. Cabe em todo lugar: no direito, na comunicação, na saúde, na educação, no ponto de ônibus, no caixa do banco.
Sabemos que cada categoria profissional fez o seu código de ética, usando um mesmo valor mas de acordo com a atividade que é exercida. Aqui sim pode haver diferença que não é de valor. É de priorização das questões pertinentes ao jornalismo, por exemplo, que pela falta de afinidade na prática da profissão deve ser totalmente diferente da do motorista de ônibus. O valor, porém, não muda. A não ser que a ética tenha sido subtraída durante a elaboração de algum código.
Então se descobre no correr do texto que os organizadores do seminário não pretendiam, realmente, discutir se a ética digital é a mesma ou não da ética analógica. Enquanto o jornalista e professor Eugênio Bucci, um dos debatedores do evento, pronunciava-se na linha certa, outros, representando algumas empresas de comunicação, puxavam para outros aspectos.
Como o acesso aos sites dos jornais: gratuito ou pago? Ou quanto aos blogs linkados nos portais dos veículos de comunicação e assinados por profissionais da casa: pertencem ao jornalista ou ao jornal? E assim entraram nas redes sociais e nas outras formas, sempre com os olhos em cifrões.
Bucci, aliás, catracou com uma posição que consideramos real e até os empresários de comunicação sabem que é. Mas estes últimos tentam enganar fazendo de conta que se enganam. O que disse Bucci: que não considera a internet um meio de comunicação, mas um segundo grau de abstração da sociedade. Bateu forte e polemizou. Mas que mereceram a pancada, disto não há dúvida. Vão, no entanto, continuar fazendo de conta que não é com eles.
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
Cristina mantém birra contra os não alinhados
Mensagem respeitosa da Associação de Entidades Jornalísticas da Argentina (Adepa) a presidente Cristina Kirchner, parabenizando-a pela reeleição, não significa o fim de um confronto que vigora desde abril do ano passado entre o governo argentino e a entidade, que representa pelo menos 150 jornais daquele país.
Estas publicações, na verdade, são aquelas que não se alinharam com o governo e foram, em represália, rechaçadas inclusive economicamente, perdendo as cotas da publicidade oficial. Semanas antes das eleições na Argentina, quando já se apostava na permanência de Cristina no poder, jornais de todo o mundo, inclusive os grandes títulos brasileiros de circulação nacional, preencheram suas páginas de política internacional com a crise entre o governo argentino e os não alinhados e a benevolência deste mesmo governo com cerca de 30 veículos de comunicação embolsados.
Mais por respeito do que por expectativa a Adepa manifestou em sua mensagem a possibilidade de uma nova etapa, em que o governo argentino aprofunde a qualidade institucional e as liberdades de imprensa e de expressão desenvolvam-se com plenitude.
Dentre os não alinhados consta o Grupo Clarín, que a presidente reeleita considerada como inimigo. Nessa briga, além do corte de verba publicitária o governo argentino conseguiu fazer passar a Lei da Mídia, que impõe restrições aos veículos de comunicação.
O confronto sorrateiro também se fez presente. Grupos alinhados ao governo, entre eles o sindicato dos caminhonheiros, chegaram a bloquear a saída de caminhões com exemplares de Clarin e de La Nación , também de grande circulação na Argentina e considerado inimigo da administração de Cristina.
Jornalistas tidos como críticos ao governo foram relacionados como partidários da ditadura militar argentina, entre 1976 e 1983, e condenados por supostos tribunais populares em praças públicas.
A previsão de que o confronto entre os não alinhados e o governo de Cristina aumente tem como base a característica do Congresso, onde se discute a Lei da Mídia, que se formará a partir de 10 de dezembro. A maioria dos deputados e senadores é pró-Cristina, cujo governo só se encerrará em 2015.
Infelizmente, o caso Argentina, somado a outros exemplos recentes, nos obriga a resgatar preocupação que parecia morta e enterrada. A ditadura se veste de populista para ganhar força. E para levar seus intentos adiante centram, em primeiro lugar, fogo contra os meios de comunicação que são críticos, pois estes teriam como acordar a população.
terça-feira, 25 de outubro de 2011
Orlando e Cristina brigam por espaços nobres
É de longe que se vê o que está nas capas dos jornais. O ministro Orlando Silva, dos Esportes, é manchete nas duas mais importantes publicações diárias nacional, a Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo. Mas nesta terça-feira, dia 25 de outubro, com Silva massageado nas nádegas pela presidente Dilma e dono, portanto, da poltrona que o sustenta no cargo, as manchetes e as chamadas de capa vão além do trivial.
O Estadão traz na primeira dobra a foto do ex-presidente Lula ao lado de Dilma. Ambos participam da inauguração da ponte sobre o Rio Negro, em Manaus. Usam cocares e estão sorridentes. Na legenda, o trecho final é mais fatal ao ministro acusado do que se possa imaginar: “Em conversa reservada durante a viagem até Manaus, o ex-presidente disse à sucessora não estar mais convicto da inocência do ministro Orlando Silva”. Isso pesa e muito, mesmo que a interlocutora da conversa seja hoje a patroa de Silva e quem emitiu a opinião esteja há dez meses longe do governo.
Aliás, longe do governo? Embora haja esforço para se apostar na firmeza da presidente em relação as coisas da administração pública federal, inclusive em relação às pendências políticas e sombras que podem virar uma manta pesada, desconfia-se que este homem, o ex, ainda manda a mulher lavar a roupa, passar, cozinhar, arrumar a cozinha e fazer a faxina semanal enquanto ele bate uma bola ou refresca-se com uma latinha na mão.
E se ele não manda, influi. E abaixo a manchete, ainda na primeira dobra: “Centro Olímpico que Esporte prometeu para 2007 não existe”. Alguém poderia dizer que o nome de Silva não é mencionado. Engano: está lá, na linha fina, que a obra foi anunciada pelo ministro para capacitar o país para os jogos e só começou a ser executada nos últimos dois meses, com apenas três operários. Mais? O texto tem uma coluna de 19 linhas e uma coluna de quatro linhas, sobre outra chamada relacionada, contendo foto em duas colunas, sobre as ONGs que prometem confirmar denúncias, de acordo com o policial militar que também virou destaque neste assunto.
Pois é, Senhor Ministro. Caixa alta sim. Pelo menos por enquanto, pois ao que parece as bases já estão tomadas e em breve haverá a execução. Claro, de forma alguma parecida com a de Kadafi. Mas de vergonha tanto quanto.
A Folha de São Paulo também não poupa. O ministro está na manchete com linha fina e texto longo, chamada da entrega de áudios sobre reunião no ministério pelo policial militar e foto do mesmo, em quatro colunas. Silva nem foto tem mais merecido, coitado!
Mas é na seção de cartas do Estadão que um leitor se sobressai. Ele pergunta: “O ministro Orlando Silva será demitido pela presidente Dilma ou pelo presidente da Fifa?” Olha que não está muito longe disso. A fragilidade política dá força à cartolagem e esse detalhe não escapa aos espertos.
Nos demais destaques, até o “cristinismo” na Argentina é mencionado. Às vezes com aprofundamento e análise. Outras com euforia primária, de quem acredita que destemperos circunstanciais eternizam pessoas públicas. E os mesmos jornais vão desdizer em 2015, na cara dura, os que dizem agora. Como se nunca tivessem tocado no assunto...
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
Festa de arromba de alguns criadores de Oscips
“O primeiro método para estimar a inteligência de um governante é olhar para os homens que tem a sua volta.” Este pensamento é emprestado de Niccolo Maquiável para introduzir comentário sobre o excelente artigo do jornalista e professor Gaudêncio Torquato, publicado na edição de domingo, dia 23 de outubro, de O Estado de S.Paulo (página 2).
Com o título “O PNBC do Terceiro Setor”, o autor trata das entidades sem fins lucrativos que surgiram nos últimos anos, com destaque no período petista do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e algumas em flagrante parceria com o poder público como canais de desvio de dinheiro público. Aliás, não somente as que surgiram com o propósito de aliviarem a carga da corrupção dos governantes, mas também algumas antigas e tradicionais decidiram, infelizmente, que a única maneira de sobreviver é dando a mãozinha necessária a quem dela precisa. A isso o autor dá o nome de PNBC, ou seja, Produto Nacional Bruto da Corrupção.
Lembramos que a primeira APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) do Brasil foi fundada em 11 de dezembro de 1954, no Rio de Janeiro, com um objetivo nobre por parte, sobretudo, dos voluntários que cercavam a proposta na época. Mas do ponto de vista do poder pública esta primeira APAE surgiu para o governo ter alguém que fizesse aquilo que ele não fazia: o atendimento, inclusive pedagógico, das pessoas com deficiência mental.
Isso significava a existência de uma filantrópica com direito a receber subvenção pública. Do tipo, façam o que precisa ser feito que nós financiamos. Do ponto de vista legal não há problema nessa parceria. Mas os vícios é que colocam no descaminho as soluções que seriam ideais. Até que alguma das partes descobre que é possível não só educar, socializar, incluir no mercado de trabalho, mas também fazer da relação uma fonte de renda.
O artigo de Gaudêncio Torquato reforça números já publicados em jornais e comentados por articulistas: são cerca de 350 mil entidades no Brasil caracterizadas como de Terceiro Setor. Elas empregam no país todo cerca de 2,5 milhões de pessoas e reúnem em torno de si pelo menos 15 milhões de voluntários. Estes trabalhadores e colaboradores, em sua maioria, integram a parte que o jornalista e professor menciona como o trigo que deve ser separado do joio, e não o contrário.
Há, sobretudo, voluntários que se dedicam a alguma causa há anos. E nunca extraíram vantagens por isso. Também não se elegeram vereadores por causa desse voluntariado. Os que se aproveitaram de causas para se promoverem na política, estes joios costumam ter vida curta, pois traçaram seus projetos nas dificuldades de outros para subirem em escadas que são nossas, de todos.
Outro número reforçado por Gaudêncio Torquato: de 2004 a 2010 estas entidades receberam do poder público recursos de R$ 23,3 bilhões. É dinheiro. Tomamos como exemplo algumas das excelentes entidades de Londrina e região que enfrentam diariamente problemas financeiros. Com certeza elas não receberam parte da bolada. O que caiu em suas contas foram para manutenção e pequenas obras, pois nem as emendas parlamentares carimbadas servem para as necessidades básicas. Estas emendas costumam ser enganosas, pois para ter direito a elas as entidades contempladas tem que criar projetos que custam mais do que a encomenda.
Mas sabemos que enquanto entidades com objetivos definidos lutam para se manterem, outras, inclusive numa versão mais atualizada que são as Oscips (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) enriquecem seus dirigentes enquanto iludem inclusive os meios de comunicação fazendo de conta que servem para alguma coisa. E conseguem, com facilidade e rapidez, as declarações de utilidade pública que tornam os acessos ao dinheiro do povo mais direto.
E para tornar mais difusa ainda a questão – ou clareá-la devidamente com a luz dos grandes pensadores, encerramos com Aristóteles: “Que vantagem têm os mentirosos? A de não serem acreditados quando dizem a verdade”.
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
A PEC estava no quase e ficou para depois
A votação da Proposta de Emenda Constitucional que devolve a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista ficou no quase. A expectativa era de que a PEC entrasse na pauta da sessão da última quarta-feira, dia 19 de outubro, no Senado.
Mas naquela data a única movimentação em torno do assunto foi a eleição da nova mesa diretora da Frente Parlamentar Mista em Defesa do Diploma de Jornalismo.
Para a presidência da Frente foi eleito o deputado federal do PT do Rio Grande do Sul, Paulo Pimenta. A vice-presidência fica com a deputada federal do PP do Amazonas, Rebecca Garcia.
Ainda resta a esperança de a Proposta ser votada este ano, embora restem apenas três sessões deliberativas do Senado no mês de outubro (dias 25, 26 e 27). De acordo com a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), há esforços dos parlamentares e de entidades que integram a Campanha em Defesa do Diploma para que a matéria entre em uma das três sessões.
Numa contagem por cima, a não obrigatoriedade do diploma completa por estes dias dois anos e quatro meses. Sem peso de revanche, mas apenas para relembrar os fatos, vamos mencionar que a obrigatoriedade caiu no dia 17 de junho de 2009, quando por oito votos a um os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiram que o diploma de jornalismo não é obrigatório para exercer a profissão.
Só o ministro Marco Aurélio defendeu a necessidade de curso superior para exercer o jornalismo. Os ministros Joaquim Barbosa e Carlos Alberto Menezes se ausentaram da sessão.
Votaram contra a exigência do diploma o relator Gilmar Mendes e os ministros Carmem Lúcia, Ricardo Lewandowski, Eros Grau, Carlos Ayres Britto, Cezar Peluso, Ellen Gracie e Celso de Mello.
Na oportunidade, o relator justificou que o decreto-lei 972/69, que regulamenta a profissão, foi instituído no regime militar e “tinha a clara finalidade de afastar do jornalismo intelectuais contrários ao regime”. E nisso, infelizmente, o relator tem razão.
Outro ponto da justificativa apresentada pelo relator: “Danos a terceiros não são inerentes à profissão de jornalista e não poderiam ser evitados com um diploma”. E acrescentou: “As notícias inverídicas são grave desvio da conduta e problemas éticos que não encontram solução na formação em curso superior do profissional”.
Infelizmente a regulamentação da profissão estava vinculada a um decreto-lei, que é peça frágil e descartável. Porém, é questionável a justificativa quanto ao período em que o decreto-lei entrou em vigor, pois se havia uma intenção do regime militar em 1969, o ano em que o AI-5 foi incorporado à Constituição Brasileira e instituiu a censura, o efeito foi outro.
De forma alguma a exigência do diploma contida no decreto-lei eliminou os intelectuais das redações. Mas o principal, no momento, é que existe uma Proposta de Emenda Constitucional, esta sim com força para transformar a obrigatoriedade do diploma em lei.
Então que se manifestem todos os parlamentares para que a PEC seja votada, engrossando os esforços das entidades e da Frente Parlamentar Mista. É uma dívida para com os profissionais do jornalismo e também para a sociedade brasileira como um todo.
A obrigatoriedade do diploma, ao contrário do que pensava em 2009 o relator do Supremo, fortalece com subsídios teóricos o comprometimento social e ético do profissional no exercício do jornalismo. Chega de dar brecha para a picaretagem nos meios de comunicação.
Mas naquela data a única movimentação em torno do assunto foi a eleição da nova mesa diretora da Frente Parlamentar Mista em Defesa do Diploma de Jornalismo.
Para a presidência da Frente foi eleito o deputado federal do PT do Rio Grande do Sul, Paulo Pimenta. A vice-presidência fica com a deputada federal do PP do Amazonas, Rebecca Garcia.
Ainda resta a esperança de a Proposta ser votada este ano, embora restem apenas três sessões deliberativas do Senado no mês de outubro (dias 25, 26 e 27). De acordo com a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), há esforços dos parlamentares e de entidades que integram a Campanha em Defesa do Diploma para que a matéria entre em uma das três sessões.
Numa contagem por cima, a não obrigatoriedade do diploma completa por estes dias dois anos e quatro meses. Sem peso de revanche, mas apenas para relembrar os fatos, vamos mencionar que a obrigatoriedade caiu no dia 17 de junho de 2009, quando por oito votos a um os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiram que o diploma de jornalismo não é obrigatório para exercer a profissão.
Só o ministro Marco Aurélio defendeu a necessidade de curso superior para exercer o jornalismo. Os ministros Joaquim Barbosa e Carlos Alberto Menezes se ausentaram da sessão.
Votaram contra a exigência do diploma o relator Gilmar Mendes e os ministros Carmem Lúcia, Ricardo Lewandowski, Eros Grau, Carlos Ayres Britto, Cezar Peluso, Ellen Gracie e Celso de Mello.
Na oportunidade, o relator justificou que o decreto-lei 972/69, que regulamenta a profissão, foi instituído no regime militar e “tinha a clara finalidade de afastar do jornalismo intelectuais contrários ao regime”. E nisso, infelizmente, o relator tem razão.
Outro ponto da justificativa apresentada pelo relator: “Danos a terceiros não são inerentes à profissão de jornalista e não poderiam ser evitados com um diploma”. E acrescentou: “As notícias inverídicas são grave desvio da conduta e problemas éticos que não encontram solução na formação em curso superior do profissional”.
Infelizmente a regulamentação da profissão estava vinculada a um decreto-lei, que é peça frágil e descartável. Porém, é questionável a justificativa quanto ao período em que o decreto-lei entrou em vigor, pois se havia uma intenção do regime militar em 1969, o ano em que o AI-5 foi incorporado à Constituição Brasileira e instituiu a censura, o efeito foi outro.
De forma alguma a exigência do diploma contida no decreto-lei eliminou os intelectuais das redações. Mas o principal, no momento, é que existe uma Proposta de Emenda Constitucional, esta sim com força para transformar a obrigatoriedade do diploma em lei.
Então que se manifestem todos os parlamentares para que a PEC seja votada, engrossando os esforços das entidades e da Frente Parlamentar Mista. É uma dívida para com os profissionais do jornalismo e também para a sociedade brasileira como um todo.
A obrigatoriedade do diploma, ao contrário do que pensava em 2009 o relator do Supremo, fortalece com subsídios teóricos o comprometimento social e ético do profissional no exercício do jornalismo. Chega de dar brecha para a picaretagem nos meios de comunicação.
quinta-feira, 20 de outubro de 2011
E a PEC do diploma já está quase no quase...
Quando os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) votaram pela não-obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista naquele junho do ano de 2009, eles fizeram muito mais do que atender direta ou indiretamente os interesses de alguns empresários da comunicação e classificar o jornalismo como uma coisa simples, à toa e sem qualquer perigo para a sociedade.
Além de descaracterizar juridicamente os profissionais diplomados, assinaram uma sentença que é cruel para os trabalhadores do setor e nociva para quem lê, ouve e assiste e atua como multiplicador das informações a que tem acesso.
Temos plena consciência que o jornalismo, principalmente o impresso, virou uma espécie de brincadeira mesmo antes da desobrigatoriedade do diploma. Mas antes, mesmo nas pequenas publicações, o cidadão que queria ter um jornal precisava contratar um jornalista para o mesmo assinar como responsável. E esse jornalista tinha que ter registro no Ministério do Trabalho. Sem diploma – exceto os provisionados – o registro não saia.
Digamos que a situação não tenha sofrido muita alteração depois do fim do diploma: o indivíduo que quer ser dono de jornal precisa de um jornalista responsável, com o registro no Ministério do Trabalho. Mas com o fim da obrigatoriedade do diploma, há conhecimento de pessoas que apenas haviam atuado como colaboradores e aproveitaram a brecha da desobrigatoriedade para conseguir o registro profissional.
No Brasil todo quase cinco mil registros foram concedidos pelo Ministério do Trabalho para não diplomados após junho de 2009. Este precisaram apenas comprovar que exerceram em algum momento, nos últimos dois anos, o jornalismo. Mas a forma de comprovação tem sido precária: cópias de artigos publicados. Quantas cópias? Soubemos que em alguns casos apenas três foram suficientes.
Quando comentamos lá atrás que o jornalismo impresso virou brincadeira, estamos considerando inclusive escolas, entidades, grupinhos de empresários ou de políticos e até igrejas que decidiram bancar publicações. Algumas são exemplares. Outras são o contrário. Como é possível aceitar com leveza um jornal de escola com erros gramaticais e de concordância? Isso acontece. Parece que o papel aceita tudo, inclusive idéias distorcidas sobre temas polêmicos.
Também não ficam isentas de culpa os jornalismos das rádios e das emissoras de TV. Muitas demitiram profissionais habilitados e contrataram carinhas bonitas e vozes interessantes. Com gente sem cultura e nem habilidade para buscar informação e conhecimento a qualidade caiu ao mesmo tempo em que as vaidades aumentaram. O resultado é a baixa qualidade.
O jornalista depende de vocação, talento, cultura e técnica, além de outros valores. Se desconhece algum tema deve buscá-lo. A busca depende de saber como buscar. O jornalista também depende de ética. Esta palavrinha de cinco letras e um acento vai conduzi-lo durante toda a sua vida profissional. O jornalista depende de humildade. Assim ele vai saber ser ouvido e ser entendido por pessoas de diferentes níveis culturais.
A escola de comunicação não dá isso. Algumas tem professores de ética que fora das salas de aula pisam e espremem no chão a ética. Mas até por ter professores desses é que um bom aluno de jornalismo busca, por si próprio, informações e conhecimentos que vão nortear o seu trabalho quando estiver exercendo o jornalismo.
A escola de jornalismo, enfim, é apesar de falhas um fórum onde o futuro profissional de jornalismo aprende teoria, técnica e os meios para obter informações e trabalhá-las com propriedade. A escola de comunicação mostra ao futuro profissional de jornalismo como escrever para os outros e não somente para si. E a PEC do diploma está quase saindo da promessa no Senado. Quase... quase... quase...
quarta-feira, 19 de outubro de 2011
Assessor de imprensa ou do "sim e do não"
Dispensamos análises sobre o papel de um assessor de imprensa na estrutura de comunicação de uma organização pública ou privada, por entender que o “profissional de fato” terá uma condução ímpar e longe de esbarrões após esclarecer devidamente o empregador sobre o que é uma assessoria de imprensa.
É inegável, porém, considerar que há excetos e exceções. A maioria dos empregadores entende o recado, mas não o aceita. Assim o assessor de imprensa se vê obrigado a ser relações públicas, mestre de cerimonial, cupincha do patrão, inconveniente para as redações dos meios de comunicação, mala sem alça e sem roda, pisoteador do código de ética e agressor diário de outras categorias de profissionais devidamente habilitados para funções que não cabem ao jornalista de assessoria de imprensa.
Isso acontece e às vezes é por admissão do próprio jornalista. Em política, por exemplo, é comum o assessor de imprensa incorporar por livre e espontânea vontade o papel de assessor político. Ele gosta de acompanhar o patrão até nos chás das tardes. E de repente a população vê o político participando de um bingo como se aquilo fosse legal, acompanhado pelo carrapicho.
A relação deixa de ser profissional. O efeito desse desvio será evidente quando o assessorzinho tiver que negociar alguma pauta com as redações. E o problema se manifestará na forma e no conteúdo da negociação, uma vez que este pseudo assessor de imprensa conversa como amigo do patrão, aquele que tem a obrigação relacional de protegê-lo de coisas ruins. Ele vai negociar o silêncio dos meios ou, no mínimo, o enfoque ameno.
Infelizmente, este erro de conduta profissional que mencionamos compromete a carreira até dos jornalistas de assessoria que se pautam na ética e na linha para exercerem os seus papéis. Não há que se negar: alguns colegas das redações já se formaram preconceituosos em relação aos assessores. E só uma postura ímpar do assessor reverterá esta imagem diante do jornalista de impresso, rádio, TV, internet e outros meios.
Às vezes o fato de um bom jornalista ter passado pela assessoria de imprensa de um político torna-se impedimento para que o mesmo conquiste uma vaga em redação de jornalismo. Imaginem, então, se o assessor se desviou da conduta e da postura? Esta mancha jamais será eliminada.
O tema é polêmico. Precisa ser discutido fora das academias e não se sabe ainda onde. Usamos como espelho um fato real, com o direito de omitir nomes, locais e circunstâncias. Neste caso o profissional é recém-formado, o que não o isenta da obrigação de conhecer os limites da profissão.
Mas por ser novo no ramo é eufórico. Nesta condição é contaminado pela paixão, que é um veneno letal na razão. Inconsciente, torna-se um assessor político do tipo “sim sim não não”. O seu futuro será obscuro no jornalista. Melhor que ele reveja os planos e passe a montar um projeto político. Provavelmente ele será um vereador em defesa dos interesses não de um povo, mas do seu político criador.
terça-feira, 18 de outubro de 2011
Espetam o jornalista e agora posam de santo
Lima, no Peru, sedia a 67ª Assembléia-Geral da Sociedade Interamericana de Imprensa, com a sigla SIP. Ao que se sabe, o representante brasileiro no evento tem os pés em um grande jornal brasileiro de circulação nacional, o Estadão, na condição de consultor. Paulo de Tarso Nogueira, o nosso representante, é também vice-presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa e no domingo apresentou relato sobre a imprensa no Brasil.
Mencionou os quatro assassinatos de jornalistas nos últimos seis meses e também cumpriu o seu dever de casa: colocou entre os destaques o caso da censura via justiça ao Estadão, no caso que envolve o filho do senador José Sarney, Fernando. Contemporizou com outras situações de censura aos meios de comunicação no Brasil, através da justiça.
Conferimos matéria do jornal da qual o representante brasileiro é consultor. Assinada pelo enviado especial Gabriel Manzano, o texto menciona no primeiro parágrafo que entre os destaques apresentados na SIP por Paulo de Tarso Nogueira, consta “mais pressões para exigir o diploma para o exercício do jornalismo”. Nada mais é dito na matéria sobre o tema.
Da forma como foi colocado no texto, a dubiedade na interpretação é obrigatoriamente incentivada: o representante brasileiro mencionou no evento internacional que no Brasil há “mais pressão pelo diploma” por ser contra ou a favor? Ou a matéria é tendenciosa? Fica o benefício da dúvida, com certo favoritismo ao representante brasileiro.
De qualquer forma, Paulo de Tarso Nogueira destacou também em Lima a demora do Senado com a Lei de Acesso à Informação. E entre os assassinatos, mencionou os casos de Luciano Leitão Pedrosa, executado em Vitória de Santo Antão, em Pernambuco; de Valério Nascimento, dono do jornal Panorama em Rio Claro , no Rio de Janeiro, morto com seis tiros; o do blogueiro Edinaldo Figueira, morto também com seis balas em Serra do Mel, no Rio Grande do Norte; e de Vanderlei Canuto, radialista de Tabatinga assassinado com oito tiros. Todas as vítima trabalhavam na cobertura de denúncias contra a prefeitura ou autoridades locais.
O representante brasileiro também relacionou duas prisões, oito agressões físicas, dois atentados, seis novos casos de censura judicial e três de abuso do poder nos últimos seis meses.
Quanto ao diploma, a promessa feita na Câmara dos Deputados de colocar a Proposta de Emenda Constitucional na pauta em outubro ou novembro ainda está em tempo de ser cumprida. Sem a regulamentação da profissão e precariamente representado por uma entidade de fato, o profissional do jornalismo é alvo de diferentes formas de violência: a física, a moral, a salarial e a de condição de trabalho.
Discursos de sindicalistas entre aspas, dirigentes de entidades confederativas entre parênteses, representantes de organizações patronais com a tímida participação dos jornalistas costumam ser comoventes na fachada. Mas podem estar entrelinhados.
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
Gazeta traz resgate da história dos nanicos
Vida e Cidadania da edição de sábado, dia 15 de outubro de 2011 (página 11), da Gazeta do Povo, traz um assunto interessante: a grande quantidades de jornais nanicos que surgiram no Brasil após o fim da Monarquia.
O título da matéria é Imprensa nanica teve jornal feito por “almas”. O chapéu da retranca principal é PÓS-REPÚBLICA. A autoria é de Polliana Milan.
Uma das publicações mencionadas é o Fogo-Fatuo, de Santos, São Paulo: “Era do subterrâneo do bairro Saboó, em Santos, que saiam notícias engraçadas; perversas sobre habitantes da cidade escritas por supostas almar suicidas”, escreve a autora no abre da sua matéria. Fogo-Fatuo, de acordo com o texto de Poliana, foi criado em 1898.
Ela menciona ainda a pesquisa feita pela historiadora da Universidade Federal de São Paulo, Edilene Toledo, que trabalhou análise do jornal O amigo do povo, que circulou entre 1902 e 1904 e é considerado o primeiro impresso anarquista de São Paulo escrito em português.
Mas a conclusão principal é de que surgiram entre a República e o início do século 20 cerca de 2 mil jornais pequenos. Esta informação foi extraída pela autora do livro Jornalismo Político: Teorias, Histórias e Técnicas, do jornalista Roberto Seabra.
Lembramos que recentemente enfocamos neste blog algo sobre a diferença básica entre o conceito de nanico e de outras publicações oportunistas. Os nanicos sempre defenderam idéias de acordo com suas épocas. Ou ironizaram sem partidarismo. Trataram de política, economia, costumes, tradições. Ao contrário dos chapa branca ou das publicações bancadas por oposições a alguma coisa política. Estes nada acrescentaram ao acervo da história do jornalismo nacional e são apenas mencionados com perfis da data de lançamento, formato, período de circulação e pouco mais.
sexta-feira, 14 de outubro de 2011
Opinião - Burrice tapar desgoverno com violência
“A manutenção da ordem não pode silenciar a opinião pública”. Esta é uma verdade que ainda hoje fica somente no discurso em alguns países. E esta verdade foi repetida mais uma vez por estes dias, desta feita pelo relator especial das Nações Unidas para Liberdade de Expressão, Frank La Rue. Ele esteve em Santiago, no Chile, justamente para tentar fazer do discurso uma prática.
La Rue esforça-se para negociar esta transformação em nome de pelo menos onze jornalistas vítimas de ameaças, abdução e inclusive de espancamento no governo comandado por Sebastián Piñera, iniciado em março de 2010.
O caso mais recente é o do fotógrafo Fernando Fiedler, da agência italiana International Press Service (IPS), que teria sofrido espancamento. As imagens que ele havia capturado foram deletadas de sua câmera fotográfica. Jorge Villegas, fotógrafo da agência chinesa de notícias Xinhua, diz ter sido intoxicado com uma bomba de gás lacrimogêneo que policiais pressionaram contra o seu rosto, durante a cobertura de uma manifestação estudantil.
Também fotógrafo, Efe Victor Salas, de uma agência de notícias espanhola, trabalhava na cobertura de uma manifestação na cidade de Valparaiso quando foi agredido por um policial da cavalaria. Como resultado da agressão Efe Victor Salas perdeu um olho.
A presença de representante das Nações Unidas para Liberdade de Imprensa no Chile significa, no mínimo, que passa a existir a partir de agora uma acusação formal contra o governo chileno de violência contra os profissionais de jornalismo que cobrem os protestos contra o presidente Sebástian Piñera.
O detalhe que identifica um grosseiro desrespeito contra o exercício da profissão e consequentemente contra o profissional de jornalismo: existem onze denúncias por escrito no Ministério do Interior chileno. Mas a polícia afirma desconhecer qualquer denúncia de agressão.
É uma espécie de volta do regime de exceção. Sem poder de censura, parte-se para a violência para tentar abafar qualquer grito de liberdade. Infelizmente, o procedimento reflete burrice. E burrice faz os violentos agirem com os olhos fechados. Que a intervenção internacional abra os olhos de Piñera e mostre a ele que não é com o silêncio que o seu governo conseguirá esconder as fragilidades e as incompetências.
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
De qual Paraná aquele jornal está a serviço?
Tivemos acesso a um exemplar do jornal Fatos do Paraná, que tem como diretor presidente Edílson Elias. O slogan da pulicação é “Um jornal a serviço do Paraná”. A edição é de 11 a 18 de outubro de 2011, número 162.
Tem formato stander. São três cadernos, cada um com apenas quatro páginas. Seria um efeito psicológico? Algo para dar a impressão de um grande jornal? A capa é uma colcha de retalhos. Confira os assuntos: Beto Richa, Câmara de Londrina, Hauly, Cambé 64 anos, lançamento de revista, baile da Polícia Civil, Alex Canziani, Central Sindical, empresário de Ibiporã, perfil de empresário e imobiliarista do Norte do Paraná, outra de Beto Richa, Arapongas 64 anos e Prêmio Destaque Paraná.
Onde conseguimos o exemplar que estamos olhando? Afanamos de uma assessoria de imprensa de órgão público. Na página 4 do primeiro caderno, uma coluna de moda. O título do artigo é “Paris traz verão de luxo e feminilidade”. Ao lado, a coluna social. Vejam alguns dos nomes presentes, com as respectivas fotos: presidente do Sindipol, advogado fulano, namorada sicrana, apresentador Camargo, empresário beltrano e vereador tal.
A capa do segundo caderno é sobre o aniversário de Cambé. Texto resgatado de algum levantamento histórico. Além da história, o oficial. Ocupa pouco mais de meia página. Arapongas, que também completa 64 anos, merece uma retranca de menos de meia página. E o resto do caderno? Mensagens de políticos, empresários e tais sobre o Dia das Crianças. Com fotos dos autores.
O terceiro caderno? Ah, na página 3 a matéria abre diz tudo: “Hauly mostra um Paraná de progresso”. Fora isso? Não foi possível continuar. É tanto quadradinho com foto que cansa. Tantas letrinhas desperdiçadas, quantas palavras em vão.
Comparamos alguns dos últimos exemplares do jornal com o atual. Às vezes a impressão é que estamos folheando a mesma edição, pois algumas figuras políticas e empresariais se repetem em todos os números.
Consultamos um velho conhecido que nada tem a ver com jornal. Ele é um médio comercinte: “Conhece algum Fatos do Paraná, um jornal a serviço do Paraná?”. Ele disse que nunca ouviu falar. Será que este nosso conhecido mente? Se assim o faz, por qual motivo seria? Na hora da consulta chovia. E o jornal serviu para alguma coisa. Não há como analisar algumas publicações sem usar da ironia. Infelizmente... E perdões pelo título ser uma indagação. Tentamos de outro jeito, mas para não ser muito forte inventamos o uso do ponto de interrogação para titular. Tudo é válido diante da circunstância.
quarta-feira, 12 de outubro de 2011
Até Hipólito teve que baixar a bola por subvenção
A história é madrasta, mas nem tanto. Especialmente quando se fala em Hipólito José da Costa Pereira Furtado de Mendonça, há mais méritos do que desabonos em sua biografia. Há exato um mês o criador e editor do primeiro jornal brasileiro, o Correio Braziliense, completou mais um ano de sua morte. Hipólito da Costa, que nasceu na Colônia de Sacramento no dia 13 de agosto de 1774, faleceu no dia 11 de setembro de 1823 em Londres.
A localidade onde ele nasceu pertencia à Coroa Portuguesa na época. Hoje é do Uruguai. Foram, portanto, nascimento e morte fora das terras brasileiras. Jornalista, maçom e diplomata brasileiro, Hipólito da Costa foi também patrono de uma das cadeiras da Academia Brasileira de Letras. Era de uma família abastada do Rio de Janeiro. Teve o privilégio de estudar em Portugal, na Universidade de Coimbra, formando-se em leis, filosofia e matemática.
E foi pela Coroa Portuguesa que viajou aos Estados Unidos como diplomata. Lá conheceu a maçonaria, que foi caminho para uma leitura mais crítica do domínio português sob o Brasil. Posteriormente, em Londres, Hipólito da Costa deu vazão à postura crítica e criou o Correio Braziliense, que circulou de 1º de junho de 1808 a 1823. O Correio também era conhecido como Armazém Literário.
No jornalismo passou a defender idéias liberais. Dentre elas, aquelas que levaram anos depois à Independência do Brasil. O absurdo: Portugal bancou uma publicação também produzida em Londres para combater o Correio Braziliense.
E aqui entra o fatal comparativo entre o ontem e o hoje. Em 1812 Hipólito da Costa teve que ceder à Coroa Portuguesa e fechou um acordo secreto: para amenizar o tom das críticas, a Coroa compraria alguns exemplares do Correio Braziliense e bancaria o seu criador e diretor com um subsídio.
Seria, portanto, a subvenção da mídia também uma herança política nacional? Abordamos em edições passadas os Chapa Branca, na qual a origem está na Gazeta do Rio de Janeiro, lançada meses depois de Hipólito colocar aos leitores o Correio Braziliense. Isso nos dá referência para afirmar que o jornal oficioso ou oficialesco é tradição.
Mas resta, no caso da subvenção à Hipólito, o benefício da dúvida. Ao que parece mesmo após o acordo secreto o Correio Braziliense desempenhou importante papel na história do Brasil. O que sobra é a pergunta: por que uma pessoa de raiz privilegiada economicamente precisou da subvenção?
A localidade onde ele nasceu pertencia à Coroa Portuguesa na época. Hoje é do Uruguai. Foram, portanto, nascimento e morte fora das terras brasileiras. Jornalista, maçom e diplomata brasileiro, Hipólito da Costa foi também patrono de uma das cadeiras da Academia Brasileira de Letras. Era de uma família abastada do Rio de Janeiro. Teve o privilégio de estudar em Portugal, na Universidade de Coimbra, formando-se em leis, filosofia e matemática.
E foi pela Coroa Portuguesa que viajou aos Estados Unidos como diplomata. Lá conheceu a maçonaria, que foi caminho para uma leitura mais crítica do domínio português sob o Brasil. Posteriormente, em Londres, Hipólito da Costa deu vazão à postura crítica e criou o Correio Braziliense, que circulou de 1º de junho de 1808 a 1823. O Correio também era conhecido como Armazém Literário.
No jornalismo passou a defender idéias liberais. Dentre elas, aquelas que levaram anos depois à Independência do Brasil. O absurdo: Portugal bancou uma publicação também produzida em Londres para combater o Correio Braziliense.
E aqui entra o fatal comparativo entre o ontem e o hoje. Em 1812 Hipólito da Costa teve que ceder à Coroa Portuguesa e fechou um acordo secreto: para amenizar o tom das críticas, a Coroa compraria alguns exemplares do Correio Braziliense e bancaria o seu criador e diretor com um subsídio.
Seria, portanto, a subvenção da mídia também uma herança política nacional? Abordamos em edições passadas os Chapa Branca, na qual a origem está na Gazeta do Rio de Janeiro, lançada meses depois de Hipólito colocar aos leitores o Correio Braziliense. Isso nos dá referência para afirmar que o jornal oficioso ou oficialesco é tradição.
Mas resta, no caso da subvenção à Hipólito, o benefício da dúvida. Ao que parece mesmo após o acordo secreto o Correio Braziliense desempenhou importante papel na história do Brasil. O que sobra é a pergunta: por que uma pessoa de raiz privilegiada economicamente precisou da subvenção?
segunda-feira, 10 de outubro de 2011
No plantão o repórter de política cobre o futebol
Há uma seção no jornalismo impresso praticamente intocável. Esta afirmação é fruto da experiência profissional em jornal diário, mas vale exclusivamente para títulos expressivos que mantém uma espécie de interatividade com o leitor, mesmo em sua forma precária.
Estamos falando do esporte e dentro dele afunilamos para a cobertura do futebol. Imagine que no Norte do Paraná a maioria dos torcedores usa a camisa e guarda no peito o escudo dos grandes clubes paulistas. Um torcedor de Londrina é Tubarão e Palmeiras, por exemplo. Ou Tubarão e Santos. E para que ninguém diga que há preferência neste texto, Tubarão e São Paulo. Por que não?
Estes três times jogam no domingo pelo mesmo campeonato ou em competições diferentes. Isso não importa. O que vale é que os três entraram em campo em algum lugar do país. À tarde, no horário das partidas, as emissoras de rádio e de televisão praticamente esgotaram o assunto, com a narração, o trabalho do repórter de campo, as reprises dos gols e dos lances interessantes. À noite, os programas de mesa redonda repetem tudo. Com raras exceções, algum desses programas trazem novidades. Senão é o repeteco, com reprises, análise das atuações e aquela conversa que não sai do lugar.
Nas redações dos impressos a preocupação dos profissionais de esporte é maior. O editor tem um espaço e nele terá que colocar todos estes times em proporção de centímetro por coluna igual. Se usar foto de um jogo não pode desprezar o outro. E experimente errar.
No dia seguinte a equipe de esporte receberá telefonemas de leitores irados. E-mails inclusive deselegantes vão lotar as caixas de entrada: “Deu o Santos com foto e o Palmeiras entrou num espacinho lá embaixo...”
Ou, no extremo: “Qual é a de vocês? Por que o Flamengo entra neste jornal com destaque e os clubes paulistas ficam na miséria?” E assim vai. Mude-se para o Norte de Santa Catarina e lá será o inverso. A maioria dos torcedores é Joinville e Botafogo, ou Joinville e Vasco. Claro, Joinville e Flamengo. Os grandes clubes do Rio é que predominam por lá.
O problema, no entanto, está na administração do espaço e no talento do redator de futebol. Em alguns jornais a matéria abre do futebol é retrancada como crônica. Porque o cara que escreve está praticamente trabalhando a crônica na narração dos principais lances, na reação da torcida, no comportamento dos jogadores e na descrição dos lances. A cobertura de futebol permite isso tudo e inclusive opiniões.
Como trabalhar crônica em todos os jogos se não há espaço para publicá-la? E como encontrar tantos cronistas numa editoria de esportes, quando se sabe que, nos plantões, às vezes cai de um editor de economia ter que fechar as páginas e de um repórter de variedades ter que cobrir jogo?
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
Como tratar Che Guevara hoje na imprensa
O rosto do revolucionário estampa camisetas de adolescentes e jovens que pouca referência tem dele. A característica boina com a estrela de cinco pontas, no passado usada por gerações de estudantes que experimentaram o gosto amargo da ditadura, eram usadas nos campus univesitários com certo cuidado. Agora, quando uma boina com estrela cobre a cabeça de alguém, não tenham dúvida: é moda ou manifestação de subversão à moda. Antes era ideologia.
Ernesto Rafael Guevara dela Serna foi pego pelas forças contra-revolucionárias num dia 8 de outubro. O ano era o de 1967. Detido, durou poucas horas. Sua morte por execução foi em 9 de outubro de 1967, na localidade de La Higuera. Che Guevara, como era conhecido, estava com 39 anos de idade.
O Che que ilustrou cartazes, faixas, bolsas de lona dos estudantes de outrora, também se tornou acessível para os de agora. Além de documentários esporadicamente exibidos em canais a cabo, um filme trouxe a história deste ídolo, embora explorando o lado mais aventureiro do homem, a viagem de motocicleta de Buenos Aires a Caracas.
Argentino, Che Guevara era político, jornalista, escritor e médico. Pegou nas armas e foi um dos grandes líderes da Revolução Cubana. Vencedor, participou da reorganização do Estado e ocupou altos cargos naquele país. Sofria de asma. Talvez por isso não tenha suportado o governo. Retornou para a luta armada, incentivando grupos guerilheiros no Congo e na Bolívia.
Neste segundo país encontrou um exército a serviço da CIA e dos interesses americanos. Foi quando caiu detido e depois morto. Claro, brincamos quando dissemos que a doença crônica era um incômodo para o homem público. Na verdade Guevara achava que a luta armada revolucionária precisava ser estendida para todo o Terceiro Mundo.
Herói ou bandido? A ilustração estampada nas camisetas é uma reproduão de fotografia feita por Alberto Korda. É um ícone da contracultura. De família rica, Che teve uma infância e uma adolescência privilegiada. Jovens, abandonou o curso de medicina para fazer a viagem de motocicleta que o tornou mais evidente diante do público de agora.
A viagem foi com o amigo Alberto Granado, numa Norton 500 cc fabricada em 1939, de Buenos Aires a Caracas. Depois concluiu o curso de medicina e atuou em localidades pobres, inclusive leprosários.
Eis um breve perfil. Eis a dúvida. Como contar a história de Che Guevara hoje, num jornal? Foge-e na tangente e apela-se para o equivocado, quando vemos na edição desta sexta-feira, dia 7 de outubro, na seção de cartas da Folha de Londrina, um leitor que desconhece as barbaridas cometidas pelo regime militar que tomou conta do Brasil em 1964. Fique claro: o jornal nada tem a ver com a idéia defendida pelo autor.
Uma história parecida com a de outros países do Terceiro Mundo, inclusive Cuba, onde corrupção, desmandos, assassinatos não chegavam ao público porque os meios de comunicação sofriam censura. E vai o desinformado achar que os Che Guevara é que eram os arruaceiros inquietos...
Ernesto Rafael Guevara de
O Che que ilustrou cartazes, faixas, bolsas de lona dos estudantes de outrora, também se tornou acessível para os de agora. Além de documentários esporadicamente exibidos em canais a cabo, um filme trouxe a história deste ídolo, embora explorando o lado mais aventureiro do homem, a viagem de motocicleta de Buenos Aires a Caracas.
Argentino, Che Guevara era político, jornalista, escritor e médico. Pegou nas armas e foi um dos grandes líderes da Revolução Cubana. Vencedor, participou da reorganização do Estado e ocupou altos cargos naquele país. Sofria de asma. Talvez por isso não tenha suportado o governo. Retornou para a luta armada, incentivando grupos guerilheiros no Congo e na Bolívia.
Neste segundo país encontrou um exército a serviço da CIA e dos interesses americanos. Foi quando caiu detido e depois morto. Claro, brincamos quando dissemos que a doença crônica era um incômodo para o homem público. Na verdade Guevara achava que a luta armada revolucionária precisava ser estendida para todo o Terceiro Mundo.
Herói ou bandido? A ilustração estampada nas camisetas é uma reproduão de fotografia feita por Alberto Korda. É um ícone da contracultura. De família rica, Che teve uma infância e uma adolescência privilegiada. Jovens, abandonou o curso de medicina para fazer a viagem de motocicleta que o tornou mais evidente diante do público de agora.
A viagem foi com o amigo Alberto Granado, numa Norton 500 cc fabricada em 1939, de Buenos Aires a Caracas. Depois concluiu o curso de medicina e atuou em localidades pobres, inclusive leprosários.
Eis um breve perfil. Eis a dúvida. Como contar a história de Che Guevara hoje, num jornal? Foge-e na tangente e apela-se para o equivocado, quando vemos na edição desta sexta-feira, dia 7 de outubro, na seção de cartas da Folha de Londrina, um leitor que desconhece as barbaridas cometidas pelo regime militar que tomou conta do Brasil em 1964. Fique claro: o jornal nada tem a ver com a idéia defendida pelo autor.
Uma história parecida com a de outros países do Terceiro Mundo, inclusive Cuba, onde corrupção, desmandos, assassinatos não chegavam ao público porque os meios de comunicação sofriam censura. E vai o desinformado achar que os Che Guevara é que eram os arruaceiros inquietos...
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
Aquilo que se planta é o que vai dar na colheita
Falar em cultura popular e massificação de acordo com os conceitos convencionais é missão espinhosa. Aqui, portanto, nos apegamos ao não-conceito mesmo sabendo que esta forma pode irar os estudiosos.
É ciência que o termo cultura popular surgiu para contemplar camadas baixas com um pouco daquilo que só os de cima dispunham em relação às manifestações, formas, conteúdos, tamanhos, cores e também abstrações.
Vamos fazer de conta que essa inclinação para baixo seja a massificação. Ou seja, disponibilizar para quem não interessa, que é a maioria, aquilo que é um privilégio restrito de alguns.
Em comunicação de massa, o rádio ainda é o veículo mais acessível para todos. Escuta – ou pode escutar – a caixinha de abelha até quem não gosta das grades de programação. Como se não bastasse, parte das AMs buscou sintonizadores no nicho religioso e as FMs partiram para os diferentes segmentos: música intragável para quem ouve qualquer coisa, som ambiente para consultórios e assim por diante.
No outro extremo, a internet tenta desesperadamente achar um rumo. Assim, apela para as novelas, os ídolos da TV, os BBB da vida, os epsódios diários das demais porcarias que a televisão mostra. Estamos falando dos principais sites de variedades, não nos referimos aos portais dos jornais impressos.
E a TV, com o perdão dos leitores deste texto, omitimos. Ficamos somente com o que dissemos no parágrafo anterior. A tentativa de nos fazer chorar consertando carros, construindo casas, arranjando maridos ou esposas, dando o pedaço das unhas aos pobres é massificação grosseira e estúpida feita nos domingões, sabadões, segundonas e quanto mais dia melhor.
Mas não podemos desconsiderar: é receita que dá certo. Junto com as operadoras de telefonia as grandes redes levam, em ligações que chamam de interativas, dinheiro de gente que não teria como dispor do valor de uma tarifa para patrocinar banalidades.
Tudo na base do apelo emocional. Até as grandes campanhas pelas vítimas de enchentes e outras catástrofes, como também aquelas que tem causa nobre, mas que se diluem nos bastidores e ninguém recebe de volta alguma prestação de contas.
Quanto aos impressos, estes sofrem de uma discriminação cultural imposta pela intelectualidade e pelos próprios empresários do ramo. Dizem que ninguém tem mais tempo para ler. Em cima disso, fazem jornais que parecem almanaques de farmácia, com notícias sem aprofundamento e nem peso de reportagem. Praticamente reproduzem na edição de hoje aquilo que a televisão resumiu ontem, a rádio noticiou e a internet reaproveitou para postar um textinho.
É uma corrente de preguiçosos que tenta fundamentar seus projetos substimando a capacidade do cidadão de ler, escutar, assistir e acessar. Então até a massificação hoje em dia é uma coisa superada. Do jeito que está, nem quem produz informação e entretenimento em alguns desses meios tem saco de conferir depois o que foi impresso ou está no ar.
quarta-feira, 5 de outubro de 2011
Especialização sem critério robotiza o jornalista
Artigo de Thomas L. Friedman, do The New York Times, publicado em O Estado de S.Paulo (Internacional – Página A16 – Visão Global – Edição de quarta-feira, 5 de outubro de 2011) é a chamada oportuna para a profunda reflexão do jornalismo praticado hoje em relação à profissão de tempos atrás.
O autor é colunista e ganhador do Prêmio Pulitzer. O artigo publicado no Estadão foi traduzido por Anna Capovilla. Com o título “O robô roubou meu emprego”, Thomas L. Friedman abre o seu texto confessando ficar cada vez mais impressionado com os avanços da tecnologia, sobretudo quando é convidado por alguma rede de TV para entrevista de estúdio.
“Você chega num estúdio em Washington e é recebido por uma pessoa que prenderá o microfone na sua roupa. Em seguida ela o posiciona na poltrona do estúdio, e então você olha diretamente numa câmera robótica que está sendo operada por alguém numa sala de controle em Nova York e falará com o âncora, onde quer que ele esteja.”
É neste ponto que o autor entra em uma das questões que analisa em seu artigo, o das conseqüências daquilo que ele chama de um mundo hiperconectado. E imagina quantos empregos desapareceram reduzidos a apenas um. Nessa fase de hiperconexão, o seu entendimento é de que a mão-de-obra em determinadas áreas profissionais é apenas o bom, o melhor ou o gênio. Com risco dos bons perderam a chance e os médios ficarem definitivamente de fora.
Cá entre nós, onde os avanços tecnológicos ainda são privilégios de alguns meios, pois o custo da informatização e da conexão ainda inviabiliza certos negócios, as dúvidas em relação ao futuro do exercício do jornalismo são menos digitais do que na realidade enfrentada por Thomas L. Friedman.
Aqui, ao mesmo tempo em que grandes jornais, revistas e outros meios de comunicação apoiaram ou ao menos aplaudiram o fim da obrigatoriedade do diploma para o jornalista, estes mesmo apertaram os seus processos de seleção dos profissionais disponíveis no mercado.
Escorados e ancorados em empresas de recursos humanos com modelos de triagem e de gestão importados do primeiro mundo, as grandes corporações, principalmente as chamadas redes que dominam a comunicação em certas regiões do país, passaram a exigir gente nova na idade, mas com pelo menos um título de especialização e dois idiomas fluentes.
Pressionados por esta exigência muitos recém-formados saem da faculdade já com as matrículas feitas nos cursos de pós e nas escolas de língua. Exceto o precário período de estágio, devido à excessiva carga acadêmica não dispõem de tempo – e de oportunidade – para aprender na prática a profissão.
Neste modelo raramente o conceito de médio, bom, melhor ou gênio é devidamente avaliado. Bom em títulos de especialização ou em idiomas? Bom em jornalismo ou em conhecimento sobre as técnicas da profissão? Bom repórter ou bom pesquisador de internet?
E quando os conceitos são avaliados assim, sobra muito pouco espaço para diagnosticar se determinado profissional tem um bom conhecimento cultural pelo menos em relação à sociedade da qual faz parte. E nem se pode avaliar se a ética terá peso em alguma contratação. Este é um jeito de robotizar o ser humano ser ter que recorrer à tecnologia.
Assim não há questionamentos sobre salários e linhas editoriais. Para os empregadores o alívio de dispor de mão-de-obra muito diferente daqueles pentelhos de antigamente. Alguns tinham mal o ginásio, mas conheciam da vida e incomodavam os patrões quando a ética corria risco.
terça-feira, 4 de outubro de 2011
Fórum de jornalismo com abrangência regional
Com cerca de meia dúzia de jornais impressos, uma emissora de rádio AM e uma comunitária, além de um canal de tevê a cabo, pretendíamos desenvolver em Cambé um sério trabalho de afinação da comunicação no município a partir da criação de um Fórum de Democratização da Informação.
Duas reuniões preparatórias foram realizadas, com convites feitos a jornalistas devidamente registrados para o exercício da profissão que atuam no município em assessorias de imprensa e em alguns veículos que cumprem a legislação. Também foram convidados radialistas, proprietários de jornais e, enfim, pessoas regulamentadas ou não que participam de algum meio de comunicação da cidade.
A intenção era envolver todos nos debates, de forma a criar condições para sanear vícios, costumes, hábitos ou práticas locais que vão contra o correto exercício do jornalismo e de outras formas de difusão da informação.
Este correto a que nos referimos é muito abrangente. Já dissemos neste canal digital de conversa que em localidades pequenas os impressos, principalmente, surgem da noite para o dia. Todo mundo quer ser jornalista e proprietário de jornal. Sem nenhuma estrutura de redação contratam uma gráfica e colocam em circulação produtos de duvidável qualidade.
Sem apelo comercial, quando muito conseguem vender ninharias em espaços publicitários, que são negociados mais como um favor do amigo ao novo empreendimento. É uma espécie de esmola. Assim, resta o recurso do proprietário do jornal recorrer aos cofres públicos. Se a porta do cofre emperrar, a possibilidade é a oposição.
Só aqui já são relacionados vários problemas: jornal chapa branca ou de oposição; gente que não é jornalista escrevendo o que acha que pode ser escrito; ética no ralo e fechamento de mercado publicitário para os bons veículos. Isso acontece nos impressos, nas emissoras de rádio e se tiver tevê, também nesse meio.
O prejuízo é do leitor, que tem jornais e outros veículos disponíveis mas não tem o que ler, ouvir ou assistir. É este leitor que não tem a obrigação de saber que jornalismo sério só é feito por profissional experiente e habilitado que, ao passar do tempo, encorpa a idéia de que nenhum jornalista presta. Sim, não tem a obrigação de saber mesmo. Para esse leitor, quem faz jornal é jornalista.
Por isso a discussão era necessária. Mas poucos dos convidamos se dispuseram a participar. Provavelmente alguns imaginaram uma caça às bruxas. A terceira reunião preparatória já devia ter ocorrido. Adiamos para repensar, trocando idéias com profissionais de Londrina e outras cidades da região. Estamos amadurecendo a proposta de um Fórum de Jornalismo Regional, algo que não interfira nas ações do Conselho Municipal de Comunicação criado em Londrina, mas que se ajunte a ele.
Esta proposta chegará à batida do martelo ainda esta semana, quando todos serão informados. De antemão, fica o convite para os leitores deste blog colocarem seus comentários sobre esta possibilidade.
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
A história e a imprensa numa rápida passagem
Dois eventos históricos deste 3 de outubro levam a fatos marcantes da política nacional e ambos estão diretamente ligados à imprensa nanica. Importante: estamos nos referindo à imprensa nanica, aquela que surgiu como movimento de idéias e até bandeira de luta. Nada a ver com chapa branca de mil exemplares. Estes últimos temos aos montes. Cada município brasileiro escancara pelo menos meia dúzia deles transgredindo a ética e queimando o mercado editorial.
Em 1930, justo num 3 de outubro, Getúlio Vargas, aquele, se ajuntou a Góis Monteiro e Osvaldo Aranha para preparar o golpe final contra a República Velha, caracterizada como o período da oligarquia cafeeira. Foram treze presidentes, de1889 a 1930, e tudo o que se fazia era pelo café, inclusive as publicações da época. Evidente, os nanicos ainda eram inexpressivos e caracterizavam-se mais como jornais de oposição. E estes não eram ideários de pensamentos de massa. Eram defensores de grupos.
E foi também num 3 de outubro que o movimento estudantil brasileiro, ainda em fase de semente na luta contra o regime militar, sofreu com um epsódio marcante. Em 1968 os estudantes da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Univesidade de São Paulo montaram um pedágio na Rua Maria Antônia para arrecadar fundos necessários à realização do congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE).
Na mesma Rua Maria Antônia existia a Universidade Mackenzie, de grupo presbiteriano, cujos alunos discordaram do pedágio. O resultado foi o confronto físico, que resultou na morte do estudante José Guimarães. Por isso o epsódio que ocorreuem pleno Anos de Chumbo da história política do Brasil ficou conhecido como Batalha de Maria Antônia.
Sim, Anos de Chumbo. Começou com a ditadura militar em 1964 e os atos institucionais do então presidente Emílio Garrastazu Médici. O mais nocivo deles foi o AI-5, que deu autonomia à figura do presidente e algemou todas as demais forças políticas do país, com rigores contra deputados, senadores, prefeito, vereadores, governadores entre outros. O AI-5 também tapou a boca da imprensa com a censura política.
A imprensa nanica conseguia vencer as barreiras da vigilância política e chegar aos leitores com surpreendente agilidade. Jornais expressivos como Movimento ganhavam credibilidade. Publicações estudantis eram lidos nos campus universitários longe dos olhares dos seguranças colocados à serviço das reitorias e do governo.
Na Universidade Estadual de Londrina, muitos desses seguranças estavam infiltrados entre estudantes, professores e funcionários. Mas a palavra de ordem era levantar e sacudir a poeira. O Diretório Central dos Estudantes da UEL eram bandeira, força, luta, engajamento. E tinha um jornal, o Poeira. Dele falaremos mais adiante, pois a publicação merece muito espaço para que os estudantes de agora possam saber, através de sua análise, que um jornal estudantil era a voz não só dos estudantes, mas de uma causa que cada brasileiro mantinha no coração e não sabia como defendê-la: a democracia.
Em 1930, justo num 3 de outubro, Getúlio Vargas, aquele, se ajuntou a Góis Monteiro e Osvaldo Aranha para preparar o golpe final contra a República Velha, caracterizada como o período da oligarquia cafeeira. Foram treze presidentes, de
E foi também num 3 de outubro que o movimento estudantil brasileiro, ainda em fase de semente na luta contra o regime militar, sofreu com um epsódio marcante. Em 1968 os estudantes da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Univesidade de São Paulo montaram um pedágio na Rua Maria Antônia para arrecadar fundos necessários à realização do congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE).
Na mesma Rua Maria Antônia existia a Universidade Mackenzie, de grupo presbiteriano, cujos alunos discordaram do pedágio. O resultado foi o confronto físico, que resultou na morte do estudante José Guimarães. Por isso o epsódio que ocorreu
Sim, Anos de Chumbo. Começou com a ditadura militar em 1964 e os atos institucionais do então presidente Emílio Garrastazu Médici. O mais nocivo deles foi o AI-5, que deu autonomia à figura do presidente e algemou todas as demais forças políticas do país, com rigores contra deputados, senadores, prefeito, vereadores, governadores entre outros. O AI-5 também tapou a boca da imprensa com a censura política.
A imprensa nanica conseguia vencer as barreiras da vigilância política e chegar aos leitores com surpreendente agilidade. Jornais expressivos como Movimento ganhavam credibilidade. Publicações estudantis eram lidos nos campus universitários longe dos olhares dos seguranças colocados à serviço das reitorias e do governo.
Na Universidade Estadual de Londrina, muitos desses seguranças estavam infiltrados entre estudantes, professores e funcionários. Mas a palavra de ordem era levantar e sacudir a poeira. O Diretório Central dos Estudantes da UEL eram bandeira, força, luta, engajamento. E tinha um jornal, o Poeira. Dele falaremos mais adiante, pois a publicação merece muito espaço para que os estudantes de agora possam saber, através de sua análise, que um jornal estudantil era a voz não só dos estudantes, mas de uma causa que cada brasileiro mantinha no coração e não sabia como defendê-la: a democracia.
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