O autor é colunista e ganhador do Prêmio Pulitzer. O artigo publicado no Estadão foi traduzido por Anna Capovilla. Com o título “O robô roubou meu emprego”, Thomas L. Friedman abre o seu texto confessando ficar cada vez mais impressionado com os avanços da tecnologia, sobretudo quando é convidado por alguma rede de TV para entrevista de estúdio.
“Você chega num estúdio em Washington e é recebido por uma pessoa que prenderá o microfone na sua roupa. Em seguida ela o posiciona na poltrona do estúdio, e então você olha diretamente numa câmera robótica que está sendo operada por alguém numa sala de controle em Nova York e falará com o âncora, onde quer que ele esteja.”
É neste ponto que o autor entra em uma das questões que analisa em seu artigo, o das conseqüências daquilo que ele chama de um mundo hiperconectado. E imagina quantos empregos desapareceram reduzidos a apenas um. Nessa fase de hiperconexão, o seu entendimento é de que a mão-de-obra em determinadas áreas profissionais é apenas o bom, o melhor ou o gênio. Com risco dos bons perderam a chance e os médios ficarem definitivamente de fora.
Cá entre nós, onde os avanços tecnológicos ainda são privilégios de alguns meios, pois o custo da informatização e da conexão ainda inviabiliza certos negócios, as dúvidas em relação ao futuro do exercício do jornalismo são menos digitais do que na realidade enfrentada por Thomas L. Friedman.
Aqui, ao mesmo tempo em que grandes jornais, revistas e outros meios de comunicação apoiaram ou ao menos aplaudiram o fim da obrigatoriedade do diploma para o jornalista, estes mesmo apertaram os seus processos de seleção dos profissionais disponíveis no mercado.
Escorados e ancorados em empresas de recursos humanos com modelos de triagem e de gestão importados do primeiro mundo, as grandes corporações, principalmente as chamadas redes que dominam a comunicação em certas regiões do país, passaram a exigir gente nova na idade, mas com pelo menos um título de especialização e dois idiomas fluentes.
Pressionados por esta exigência muitos recém-formados saem da faculdade já com as matrículas feitas nos cursos de pós e nas escolas de língua. Exceto o precário período de estágio, devido à excessiva carga acadêmica não dispõem de tempo – e de oportunidade – para aprender na prática a profissão.
Neste modelo raramente o conceito de médio, bom, melhor ou gênio é devidamente avaliado. Bom em títulos de especialização ou em idiomas? Bom em jornalismo ou em conhecimento sobre as técnicas da profissão? Bom repórter ou bom pesquisador de internet?
E quando os conceitos são avaliados assim, sobra muito pouco espaço para diagnosticar se determinado profissional tem um bom conhecimento cultural pelo menos em relação à sociedade da qual faz parte. E nem se pode avaliar se a ética terá peso em alguma contratação. Este é um jeito de robotizar o ser humano ser ter que recorrer à tecnologia.
Assim não há questionamentos sobre salários e linhas editoriais. Para os empregadores o alívio de dispor de mão-de-obra muito diferente daqueles pentelhos de antigamente. Alguns tinham mal o ginásio, mas conheciam da vida e incomodavam os patrões quando a ética corria risco.
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