Mensagem respeitosa da Associação de Entidades Jornalísticas da Argentina (Adepa) a presidente Cristina Kirchner, parabenizando-a pela reeleição, não significa o fim de um confronto que vigora desde abril do ano passado entre o governo argentino e a entidade, que representa pelo menos 150 jornais daquele país.
Estas publicações, na verdade, são aquelas que não se alinharam com o governo e foram, em represália, rechaçadas inclusive economicamente, perdendo as cotas da publicidade oficial. Semanas antes das eleições na Argentina, quando já se apostava na permanência de Cristina no poder, jornais de todo o mundo, inclusive os grandes títulos brasileiros de circulação nacional, preencheram suas páginas de política internacional com a crise entre o governo argentino e os não alinhados e a benevolência deste mesmo governo com cerca de 30 veículos de comunicação embolsados.
Mais por respeito do que por expectativa a Adepa manifestou em sua mensagem a possibilidade de uma nova etapa, em que o governo argentino aprofunde a qualidade institucional e as liberdades de imprensa e de expressão desenvolvam-se com plenitude.
Dentre os não alinhados consta o Grupo Clarín, que a presidente reeleita considerada como inimigo. Nessa briga, além do corte de verba publicitária o governo argentino conseguiu fazer passar a Lei da Mídia, que impõe restrições aos veículos de comunicação.
O confronto sorrateiro também se fez presente. Grupos alinhados ao governo, entre eles o sindicato dos caminhonheiros, chegaram a bloquear a saída de caminhões com exemplares de Clarin e de La Nación , também de grande circulação na Argentina e considerado inimigo da administração de Cristina.
Jornalistas tidos como críticos ao governo foram relacionados como partidários da ditadura militar argentina, entre 1976 e 1983, e condenados por supostos tribunais populares em praças públicas.
A previsão de que o confronto entre os não alinhados e o governo de Cristina aumente tem como base a característica do Congresso, onde se discute a Lei da Mídia, que se formará a partir de 10 de dezembro. A maioria dos deputados e senadores é pró-Cristina, cujo governo só se encerrará em 2015.
Infelizmente, o caso Argentina, somado a outros exemplos recentes, nos obriga a resgatar preocupação que parecia morta e enterrada. A ditadura se veste de populista para ganhar força. E para levar seus intentos adiante centram, em primeiro lugar, fogo contra os meios de comunicação que são críticos, pois estes teriam como acordar a população.
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