Há uma seção no jornalismo impresso praticamente intocável. Esta afirmação é fruto da experiência profissional em jornal diário, mas vale exclusivamente para títulos expressivos que mantém uma espécie de interatividade com o leitor, mesmo em sua forma precária.
Estamos falando do esporte e dentro dele afunilamos para a cobertura do futebol. Imagine que no Norte do Paraná a maioria dos torcedores usa a camisa e guarda no peito o escudo dos grandes clubes paulistas. Um torcedor de Londrina é Tubarão e Palmeiras, por exemplo. Ou Tubarão e Santos. E para que ninguém diga que há preferência neste texto, Tubarão e São Paulo. Por que não?
Estes três times jogam no domingo pelo mesmo campeonato ou em competições diferentes. Isso não importa. O que vale é que os três entraram em campo em algum lugar do país. À tarde, no horário das partidas, as emissoras de rádio e de televisão praticamente esgotaram o assunto, com a narração, o trabalho do repórter de campo, as reprises dos gols e dos lances interessantes. À noite, os programas de mesa redonda repetem tudo. Com raras exceções, algum desses programas trazem novidades. Senão é o repeteco, com reprises, análise das atuações e aquela conversa que não sai do lugar.
Nas redações dos impressos a preocupação dos profissionais de esporte é maior. O editor tem um espaço e nele terá que colocar todos estes times em proporção de centímetro por coluna igual. Se usar foto de um jogo não pode desprezar o outro. E experimente errar.
No dia seguinte a equipe de esporte receberá telefonemas de leitores irados. E-mails inclusive deselegantes vão lotar as caixas de entrada: “Deu o Santos com foto e o Palmeiras entrou num espacinho lá embaixo...”
Ou, no extremo: “Qual é a de vocês? Por que o Flamengo entra neste jornal com destaque e os clubes paulistas ficam na miséria?” E assim vai. Mude-se para o Norte de Santa Catarina e lá será o inverso. A maioria dos torcedores é Joinville e Botafogo, ou Joinville e Vasco. Claro, Joinville e Flamengo. Os grandes clubes do Rio é que predominam por lá.
O problema, no entanto, está na administração do espaço e no talento do redator de futebol. Em alguns jornais a matéria abre do futebol é retrancada como crônica. Porque o cara que escreve está praticamente trabalhando a crônica na narração dos principais lances, na reação da torcida, no comportamento dos jogadores e na descrição dos lances. A cobertura de futebol permite isso tudo e inclusive opiniões.
Como trabalhar crônica em todos os jogos se não há espaço para publicá-la? E como encontrar tantos cronistas numa editoria de esportes, quando se sabe que, nos plantões, às vezes cai de um editor de economia ter que fechar as páginas e de um repórter de variedades ter que cobrir jogo?
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