A Associação Nacional de Jornais (ANJ) e a Escola Superior de Propaganda e Marketing acabam de realizar em São Paulo seminário com o tema “Há uma ética digital e uma ética analógica?”
A princípio teríamos fatalmente que acrescentar com estupidez: gastaram um dia inteiro debatendo o óbvio. Aliás, até a conclusão a que os participantes chegaram leva a este deselegante complemento.
Pois disseram: “O impacto das novas tecnologias na vida dos jornais e de toda a mídia é imenso, e impõe mudanças profundas, mas ética é sempre ética, em qualquer ambiente ou situação, e não faz sentido se pensar em uma ética digital” (transcrito de O Estado de S.Paulo, que publica nesta quinta, dia 27 de outubro de 2011, matéria sobre o evento).
Primeira pergunta: onde e quando os organizadores pensaram que havia éticas diferentes? Compra-se ética pela cor, tamanho, finalidade, voltagem, portátil ou de mesa? Na verdade, ética é um valor universal. Cabe em todo lugar: no direito, na comunicação, na saúde, na educação, no ponto de ônibus, no caixa do banco.
Sabemos que cada categoria profissional fez o seu código de ética, usando um mesmo valor mas de acordo com a atividade que é exercida. Aqui sim pode haver diferença que não é de valor. É de priorização das questões pertinentes ao jornalismo, por exemplo, que pela falta de afinidade na prática da profissão deve ser totalmente diferente da do motorista de ônibus. O valor, porém, não muda. A não ser que a ética tenha sido subtraída durante a elaboração de algum código.
Então se descobre no correr do texto que os organizadores do seminário não pretendiam, realmente, discutir se a ética digital é a mesma ou não da ética analógica. Enquanto o jornalista e professor Eugênio Bucci, um dos debatedores do evento, pronunciava-se na linha certa, outros, representando algumas empresas de comunicação, puxavam para outros aspectos.
Como o acesso aos sites dos jornais: gratuito ou pago? Ou quanto aos blogs linkados nos portais dos veículos de comunicação e assinados por profissionais da casa: pertencem ao jornalista ou ao jornal? E assim entraram nas redes sociais e nas outras formas, sempre com os olhos em cifrões.
Bucci, aliás, catracou com uma posição que consideramos real e até os empresários de comunicação sabem que é. Mas estes últimos tentam enganar fazendo de conta que se enganam. O que disse Bucci: que não considera a internet um meio de comunicação, mas um segundo grau de abstração da sociedade. Bateu forte e polemizou. Mas que mereceram a pancada, disto não há dúvida. Vão, no entanto, continuar fazendo de conta que não é com eles.
Nenhum comentário:
Postar um comentário