Quando os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) votaram pela não-obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista naquele junho do ano de 2009, eles fizeram muito mais do que atender direta ou indiretamente os interesses de alguns empresários da comunicação e classificar o jornalismo como uma coisa simples, à toa e sem qualquer perigo para a sociedade.
Além de descaracterizar juridicamente os profissionais diplomados, assinaram uma sentença que é cruel para os trabalhadores do setor e nociva para quem lê, ouve e assiste e atua como multiplicador das informações a que tem acesso.
Temos plena consciência que o jornalismo, principalmente o impresso, virou uma espécie de brincadeira mesmo antes da desobrigatoriedade do diploma. Mas antes, mesmo nas pequenas publicações, o cidadão que queria ter um jornal precisava contratar um jornalista para o mesmo assinar como responsável. E esse jornalista tinha que ter registro no Ministério do Trabalho. Sem diploma – exceto os provisionados – o registro não saia.
Digamos que a situação não tenha sofrido muita alteração depois do fim do diploma: o indivíduo que quer ser dono de jornal precisa de um jornalista responsável, com o registro no Ministério do Trabalho. Mas com o fim da obrigatoriedade do diploma, há conhecimento de pessoas que apenas haviam atuado como colaboradores e aproveitaram a brecha da desobrigatoriedade para conseguir o registro profissional.
No Brasil todo quase cinco mil registros foram concedidos pelo Ministério do Trabalho para não diplomados após junho de 2009. Este precisaram apenas comprovar que exerceram em algum momento, nos últimos dois anos, o jornalismo. Mas a forma de comprovação tem sido precária: cópias de artigos publicados. Quantas cópias? Soubemos que em alguns casos apenas três foram suficientes.
Quando comentamos lá atrás que o jornalismo impresso virou brincadeira, estamos considerando inclusive escolas, entidades, grupinhos de empresários ou de políticos e até igrejas que decidiram bancar publicações. Algumas são exemplares. Outras são o contrário. Como é possível aceitar com leveza um jornal de escola com erros gramaticais e de concordância? Isso acontece. Parece que o papel aceita tudo, inclusive idéias distorcidas sobre temas polêmicos.
Também não ficam isentas de culpa os jornalismos das rádios e das emissoras de TV. Muitas demitiram profissionais habilitados e contrataram carinhas bonitas e vozes interessantes. Com gente sem cultura e nem habilidade para buscar informação e conhecimento a qualidade caiu ao mesmo tempo em que as vaidades aumentaram. O resultado é a baixa qualidade.
O jornalista depende de vocação, talento, cultura e técnica, além de outros valores. Se desconhece algum tema deve buscá-lo. A busca depende de saber como buscar. O jornalista também depende de ética. Esta palavrinha de cinco letras e um acento vai conduzi-lo durante toda a sua vida profissional. O jornalista depende de humildade. Assim ele vai saber ser ouvido e ser entendido por pessoas de diferentes níveis culturais.
A escola de comunicação não dá isso. Algumas tem professores de ética que fora das salas de aula pisam e espremem no chão a ética. Mas até por ter professores desses é que um bom aluno de jornalismo busca, por si próprio, informações e conhecimentos que vão nortear o seu trabalho quando estiver exercendo o jornalismo.
A escola de jornalismo, enfim, é apesar de falhas um fórum onde o futuro profissional de jornalismo aprende teoria, técnica e os meios para obter informações e trabalhá-las com propriedade. A escola de comunicação mostra ao futuro profissional de jornalismo como escrever para os outros e não somente para si. E a PEC do diploma está quase saindo da promessa no Senado. Quase... quase... quase...
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