segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Folha lava a alma com reportagem sobre professores de escolas privadas

A edição de domingo da Folha de Londrina paga uma dívida da mídia do Norte do Paraná com uma categoria de profissionais que frequenta as páginas dos jornais de relance. Exceto o título do texto-abre, que funciona como manchete, o conteúdo restante está perfeito e corajoso.
Vamos ao título: com o chapéu MESTRES EXPLORADOS, a manchete aplicada na cabeça da página, em duas linhas de cinco colunas, diz: “Falta de estrutura precariza educação”. O editor podia ter evitado o “precariza”, que entra no contexto como um palavrão que ameniza o peso de toda a matéria. O que está no texto produzido pela jornalista não apenas precariza. É muito mais: joga não só o ensino, mas também a relação de trabalho, no fundo do poço.

A reportagem é assinada pela jornalista Carolina Avansini, uma veterana da Folha. A experiência profissional da colega está no resultado final da produção: fontes, conteúdo e texto perfeitos. Mas é na coragem de mexer com um segmento complicado, as escolas particulares, que está o grande mérito da jornalista e do jornal. Claro, nesse meio entram as filantrópicas, que funcionam como espécie de vaso de descarga do poder público. Mas ainda assim o cutucão atinge alguns renomados empresários da educação.

A fonte central da reportagem é o Sindicato dos Professores das Escolas Particulares de Londrina e Norte do Paraná (Simpro). O desvio de função é o mote. E cabe reproduzir alguns trechos: “Limpar salas de aulas, lavar banheiros, pintar paredes, decorar ambientes para festas, fazer compras, vender rifas, atuar como recreadores, dar banho em crianças não matriculadas em berçários e até dormir na escola sem ganhar nada pelo trabalho extra são algumas das reclamações mais comuns...”

O termo precarização, que está na manchete, na verdade é usado pelo presidente e pelo tesoureiro da entidade sindical, Eduardo Nagao e Diogo Mendes. Ambos usam o palavrão como uma classificação técnica da situação, o que é aceitável. E daí o texto prossegue: “Atrasos freqüentes nos salários, excesso de crianças em sala e desrespeito às leis trabalhistas são outras denúncias rotineiras dessa classe de trabalhadores.”

A reportagem ouve também o chefe da fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego em Londrina, Rogério Perez Garcia Junior, e cumpre a sua função de dar voz também a quem devia trabalhar contra situações trabalhistas extremamente equivocadas. E este confirma receber denúncias. Sabe-se, porém, que entre uma denúncia e uma ação a distância é muito grande, em se tratando de um órgão público.

O conteúdo da reportagem torna-se mais consistente com os depoimentos de algumas das vítimas dessa relação de trabalho. Verdade, as professores entrevistadas são identificadas na matéria com nomes fictícios e isso é muito justo, pois com fiscalização precária e justiça lenta, as retaliação patronal é um fato rotineiro.

Em uma retranca de apoio, uma professora de Cambé caiu de uma escada e fraturou as duas pernas e os dois pés quando decorava um local para a realização da festa de formatura da escola onde trabalhava. Após a licença médica e o retorno, foi mantida no estabelecimento de ensino praticamente como uma atendente, fazendo fotocópias e atendendo telefones, apesar de ser graduada e especializada na área de pedagogia. Encerrado o período de estabilidade, a professora foi demitida pela escola de Cambé.

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