quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Algumas disputas são meramente quantitativas

Walter Ogama – Fui por três anos editor-chefe do caderno ANJaraguá, um tablóide encartado ao A Notícia, de Joinville, nos municípios do Vale do Itapocu. Isto mesmo, Itapocu. A grande sede é Jaraguá do Sul, uma cidade rica graças à industrialização. Só a Weg Motores empregava na época – entre 2005 e 2008 cerca de 14 mil trabalhadores na unidade-matriz. Desse total pelo menos 70% eram paranaenses das regiões de Cascavel, Toledo, Pato Branco, Assis Chateaubriand e por ali.
Lá também é a sede da Malwee Malhas, empresa que mantém o time de futsal do jogador número 1 do mundo, Falcão. Numa fatia mais requintada e logicamente com produtos de grife vinha a Marissol, também grande empregadora até então. Depois esta empresa montou unidade fabril no Nordeste do País, onde a mão de obra é mais barata, e manteve em Jaraguá somente a diretoria, a estrutura de marketing e o comercial.

Jaraguá do Sul se orgulhava por ser a cidade que tinha, na época, a maior quantidade de carros importados em relação à sua proporção habitacional. O único shopping se chama Breithaupt. Os Breithaupt também mantinham supermercados na região concorrendo com a grande rede catarinense Angeloni.

Os nomes já indicam. Jaraguá do Sul é de população predominante de origem alemã. Em seguida, os italianos. Ah, Jaraguá também foi sede da Kohlbach, aquela empresa que fazia propaganda na televisão e o cara dizia, caprichando no tom: “É Kohlbach...”

Joinville fica perto, cerca de 45 km. Para ir a São Francisco do Sul bastava percorrer pouco mais de 85 km pela BR-280. No outro lado ia-se a Camboriu, passando por Piçarras que é pequena mas bonitinha. Pelo interior ia-se a Blumenau, com direito a uma parada em Pomerode, considerada a cidade mais alemã do Brasil. Ou subia-se a serra por Corupá até chegar ao Paraná, lá em cima do mapa.

Japonês do Norte do Paraná, cai em Jaraguá como um estranho no ninho. Um domingo me dei conta que eu estava sozinho na praça de alimentação do Shopping Breithaupt, meio dia e pouco. Tirei os olhos do prato e encarei: na frente, pessoas claras, cabelos loiros, olhos azuis ou verdes. Tentei achar outro descendente de nipônico naquela multidão. Nada. Só eu... Comi depressa. Engoli o que deu. Sai de fininho.

Semanas depois conclui um projeto de reformulação editorial do tablóide. Uma das mudanças foi no colunismo social. Demiti os dois colunistas que estavam no tablóide e contratei uma recém-formada, que havia feito estágio na minha equipe. Aleguei à diretoria da matriz, em Joinville, que o ANJaraguá tinha que captar leitores entre os trabalhadores da cidade.

Sim, um pessoal de chão de fábrica. Mas que trabalhava muito e poupava na mesma proporção para comprar um terreno, construir uma casa e depois trocar a bicicleta por um carro. Em algumas garagens residenciais via-se abundância: de dois a três carros guardados.

Assim, de repente mudamos o enfoque da coluna e em vez de mostrar as pessoas que comiam num restaurante padrão, estampávamos o pessoal da cozinha preparando a comida. Íamos às lojas para fotografar e publicar perfis de atendentes. Acabamos, enfim, com os colunáveis de plantão.

Foi uma revolução. A vitória foi o interesse de um maior número de pessoas da cidade pelo jornal. Os espinhos foram as reuniões de grupos fortes da localidade, inclusive a entidade empresarial, que reclamou da mudança em Joinville. Na época, a diretoria do jornal apenas me informou que havia sido procurada por empresários, por alguns políticos e por parte da intelectualidade, estranhando que um descendente de nipônico fosse editor-chefe de um jornal de Jaraguá do Sul.

Depois o Grupo RBS, do Rio Grande do Sul, comprou o A Notícia e eu entrei no gelo. Pudera! Eu não tinha curso Master de Jornalismo, da Universidade de Navarra. A minha condição era muito para um grupo de diretores e editores que se formaram em cursos da Opus Dei. A RBS também promoveu a revolução digital no A Notícia, que até então mantinha página na internet como um complemento. O jornal virou de stander para tablóide. A Redação foi reduzida. O pessoal que foi mantido assinou um documento mais ou menos assim: a partir da posse da rede gaúcha, todo mundo era empregado de toda estrutura da rede: rádio, televisão, impresso, internet e balacobaco além.

Quando comprou o A Notícia, a RBS apostava que passaria o Diários Associados, que tem como ponta o Correio Braziliense, em número de empregados. Assim ficaria em segundo no ranking de contratados, abaixo, claro, da Globo. Não se sabe se isso de confirmou. O que fica comprovado é que a disputa é mesmo quantitativa.


Nenhum comentário: