Às vezes uma câmera digital amadora eterniza cenas importantes mesmo que a pessoa por trás dela seja apenas um apertador de botão. A era digital elimina inclusive os cortes acidentais e inoportunos que tiram o pedaço da cabeça. Ainda assim há fotos com as mãos cortadas, os pés fora do enquadramento e os olhos avermelhados, embora a maioria dos equipamentos disponha de recurso para eliminar o problema.
O equipamento profissional depende, além dos recursos técnicos, de um especialista atrás dele. Este deve ter, além do conhecimento da máquina e de suas lentes e filtros, as circunstâncias do que fotografa, boa dose de cultura e, principalmente, a sensibilidade para identificar o momento e transformá-lo num documento.
Não basta fazer por uma questão de disputa, para ser o autor da melhor foto de um determinado acontecimento. Isso é fotojornalismo. E fotojornalista – ou repórter fotográfico – tem que fazer a sua foto falar para milhares de pessoas.
Na verdade, um fotógrafo que faz casamento tem a obrigação de registrar lances. Os lances registrados no cartão de memória e depois impressos, para ilustrar álbuns que passarão de mão em mão entre familiares e amigos, não deixa de ser um canal de comunicação. Por perpetuar algo importante, mostrar que a noiva estava linda, o padrinho se vestiu impecável, a cunhada fez careta, o bolo estava magnífico. As fotos desses álbuns vão mostrar momentos de felicidade.
O repórter fotográfico tem que ir muito mais longe. Às vezes o seu clique tem que mostrar dor, constrangimento, tensão, sofrimento, indignação. E isso não se arma. Os subnutridos da África e as vítimas do Vietnã que o digam. Ninguém posou enquanto chorava. Nenhum morto foi enfileirado para ajudar no enquadramento.
Victor Ruiz Caballero, da Reuters, assina foto publicada na capa da edição desta sexta-feira da Gazeta do Povo. O assunto é a Revolta Chilena, que é o título do texto-legenda aplicado na parte de cima da foto. O texto é curto: “Segundo dia de greve geral no país une trabalhadores e estudantes e leva dezenas de milhares de manifestantes às ruas.” Não precisa de mais nada. A foto diz tudo. Confiram.
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