A insistência é fatal. Mais riscos e letras desenhados. Depois palavras, frases e algum texto. A pele do indicador engrossa. O corpo de madeira que envolve o grafite faz pressão também no polegar, naquele ponto que se usa para tirar a impressão digital. E a pele grossa vira calo.
Calos se cultivam. Há quem as use como um atestado. Quanto mais calos, mais enxadões puxados. Mãos lisas e macias podem ser sinônimo de não fazer nada. Concepção injusta? Depende.
Na roça isso sempre foi verdade. Assim como é entre os garis, os coletores de lixo, os que usam as mãos como alavanca para suspender alguma coisa, pás para transportar objetos, pegadores de pingentes para sustentar o corpo nas viagens diárias de idas e voltas em ônibus lotados.
A ética é como o lápis. É um livre arbítrio, uma decisão individual. Usa-se o lápis quando extremamente necessário quando a opção é tecnológica. Então o teclado desenha letras e formam palavras no monitor. Ou faz-se uso do lápis como um complemento do bolso da camisa. Ela vai servir durante o dia para esboçar alguma coisa. No mínimo anota-se com ela um telefone que vai gerar uma comunicação importante. Ou, pelo menos, um recado animador.
É assim também com a ética. Ela pode ser mantida num quadro pendurado na parede. Ou dentro de uma agenda convencional, de papel encadernado. Na era tecnológica, reserva-se um arquivo na memória do computador. E recorre-se a ela quando preciso. Numa versão mais corrente, quando eu sou vítima da falta de ética. Porque pouco interessa eu deixar de ser ético. Mentira? Atire a pedra agora.
A comunicação é um ofício cujo artesão trabalha sentado na mola mestra que a impulsiona. Há quem se ajeite nela e se sinta confortável em todos os instantes. Há quem se agite com freqüência quando num giro brusco da cadeira improvisada ela torture e exija reposicionamentos.
A ética na comunicação não é um calo na bunda. É um calo no cérebro.
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