terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Claro que a escola de comunicação me serviu

O primeiro impacto foi na disciplina de elementos de cinema e teatro. Aula numa das salas do Centro de Ciências Humanas, daquelas com jeito de teatro. Aquilo era diferente para alguém que passou anos de estudos em estruturas convencionais no antigo Grupo Escolar Nilo Peçanha e depois se submeteu aos professores do Marcelino Champagnat, do Vicente Rijo, do Ipolon e do Colégio São Paulo.

Chega o professor Robério e apresenta-se como primo do Caetano Veloso. Magérrimo, senta-se sobre a mesa e cruza as pernas de um jeito esquisito. Pega a caneta com delicadeza, pressionando-o com o polegar e indicador. Na platéia, cerca de quarenta jovens boquiabertos. Metade era da turma de relações públicas e metade de jornalismo.

A princípio, daquela gente, quem era homem era homem. Mulher era mulher. A discussão de gêneros ainda era precária. Por isso o professor impactou, mas a única reação da galera foi ficar calada.

Só depois, no intervalo, alguns bochichos ganharam força. Primeiro pelo fato de ter um professor primo do Caetano e da Bethânia. Segundo pelos exercícios práticos que ex-colegiais que nem podiam se levantar de suas carteiras durante as aulas tiveram que fazer.

Um dia o professor pediu a todos que trouxessem lençóis na aula seguinte. Pedido atendido. O exercício foi o seguinte: quatro colegas seguravam o lençol e um se deitava sobre ele. Os quatros abanavam o lençol e arremessavam o contado para cima. Se o arremessado se segurava no lençol era acusado de não confiar na equipe. Mas, sem segurar, alguns eram lançados até lá em cima, perto do teto.

Em outra disciplina, um grupo de alunos ficavam sentados de costas, formando uma fila. Os outros alunos tinham que passar pelo meio, pressionados pelos costas dos colegas. O objetivo era para ter a sensação do nascimento ao simular a passagem apertada pela vagina.

Certa vez trataram da comunicação das plantas. E na sala de aula a professora disse que o arroz, mesmo após feito o cozimento, permanecia viva. E só morria quando ia ser comida. Deu remorso. Por um bom tempo a maioria dos alunos almoçou e jantou pão.

Depois trouxeram Marshall McLuhan. E esse infernizou no cafezinho, nos corredores, banheiros masculino e feminino com o seu O Meio é a Mensagem. O professor pediu para a turma ser separada em dois grupos: um pró McLuhan e outro contra.

Aleatoriamente. No grupo a favor tinha quem era contra e no grupo contra tinha quem era a favor. Num debate aquilo virou uma farofa: alunos do grupo contrário defendiam o autor e alunos do grupo favorável se manifestavam contra, tornando a discussão confusa e gerando brigas entre os participantes.

Na disciplina de televisão o laboratório dispunha de um monitor e duas câmeras precárias. O professor ensinou como era possível simular com as duas câmeras um disco voador rondando os céus do campus da UEL. Uma câmera girando no céu e outra filmando um recorte de papel parecido com um disco. No monitor preto e branco parecia uma mosca silenciosa enchendo as paciências dos telespectadores.

Mais dos que os livros que tivemos que ler e resumir, estas atipicidades é que realmente ensinaram. Deu conteúdo porque gerou indagações e debates, além de indignações. Um colega criou o maior caso com uma professora porque se recusou a participar da brincadeira do lenço atrás. Ele teria que repetir uma colega pela sala dizendo: quem tem põe, quem não tem tira...”

Quase no fim do curso apareceu um tal de Romélio, também professor. Um dia ele me chamou no corredor e disse que seria obrigado a levar um texto que eu havia escrito para a reitoria, pois o conteúdo era comunista. Eu, que de comunismo só tinha conhecimento teórico, fiquei assustado. Logo em seguida uma professora pediu numa prova um comentário. Fiz. A avaliação dela foi de que prova não era para ficar papagaiando.

Claro que valeu. Onde é que um estudante teria pela frente tantos fatos inusitados? Tudo isso, na época do acontecimento, apenas criaram piadas. Mas depois, no pinçar das lembranças, a gente avalia que ensinaram se não de uma forma, de outra que não estávamos habituados (texto de Walter Ogama).

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

As capas dos jornais no início da semana

“Órgãos públicos não respondem pedidos de informação” chama a Gazeta do Povo em sua manchete de capa na edição desta segunda-feira, dia 30 de janeiro. Na linha fina: “A menos de quatro meses para a Lei de Acesso a Informações Públicas entrar em vigor, o Estado brasileiro se mostra despreparado para atender ao cidadão. A Gazeta do Povo protocolou pedidos de informações em dez instituições e somente uma – o Supremo Tribunal Federal (STF) – forneceu orientações que levaram aos dados solicitados. Segundo pesquisa divulgada pela Controladoria-Geral da União (CGU), 70,9% dos órgãos públicos ainda não sabem como dar acesso a informações. A Lei 12.527 entra em vigor em 18 de maio”. Boa produção. Tema oportuno. Boa estratégia de checar a situação.

Na Folha de Folha, a manchete de capa desta segunda-feira é “Guarda municipal age como polícias”. O chapéu usado acima do título é “Combate ao crime”. Na linha fina: Reflexo do sucateamento das forças Militar e Civil, efetivo das guardas municipais no Paraná cresceu 36% de 2004 a 2009 e atuação já ultrapassa limite constitucional”. Boa reportagem, de tema que interessa a população e puxa as orelhas do Estado. O levantamento é estadual e a produção é exclusiva da Folha.

No Jornal de Londrina: “Prefeitura amontoa livros e lixo em barracão sem vigias”. Usa como chapéu a palavra “Descaso”. Na linha fina: “A reportagem do JL passou 50 minutos fotografando e caminhando pelo barracão do IBC, onde a prefeitura armazena desde lixo reciclável a computadores, luzes de iluminação pública, penus velhos, carteiras e materiais escolares. Livros novos misturam-se ao lixo. As portas estavam abertas ou apenas amarradas. Nenhum funcionário ou segurança foi encontrado no local.” Também produção própria. Uma denúncia séria contra a administração municipal. No estilo reportagem vivência, em cima de um fato que foi testemunhado.

Em O Estado de S.Paulo: “Sete em cada 10 projetos de habitação ficam só no papel”. Na linha fina: “Contratos analisados pela CGU tratam apenas de moradias populares e foram firmados entre 2004 e 2011. É também uma demonstração do descaso do Estado em relação ao contribuinte, inclusive o que não são beneficiários das moradias populares, mas bancam o sistema.

O início da semana, portanto, é de boa produções no jornalismo impresso. As manchetes são de assuntos nacionais, regionais ou locais que interferem direta ou indiretamente na vida do cidadão.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Até leitor acha que pode ensinar jornalismo

Entendemos perfeitamente o sentido que o autor de carta publicada na Folha de Londrina (página 2, Opinião do Leitor, edição de sexta-feira, 27 de janeiro de 2012, Célio Camilo – Educador ambiental e professor de Londrina) deu ao verbo vender em seu texto. Ou estaríamos equivocados?

Na verdade, gera interpretações dúbias. Às vezes tem-se a impressão que o autor manifesta posição de um segmento. E não é possível saber se o grupo é pró ou contra. Outras vezes entende-se a carta como um protesto contra o londrinense. E não se sabe de onde ele é, apesar da carta identificá-lo como londrinense.

Mas carta é carta. E o editor da seção, em plena conformidade com o que a sua função exige, a publica. O direito de manifestação de defensores de qualquer cor, credo, gosto, preferência, gênero, estilo e tamanho é fato.

Mas nenhum jornal sério vende informação ou imagem. Jornal que se pauta na ética em sua linha editorial mostra o que acontece de bom ou ruim na sociedade. Estamos acompanhando diariamente a Folha de Londrina e o temos como um jornal sério. Não fosse isso dispensaríamos a análise do seu conteúdo editorial e nem faríamos algumas críticas como as que temos cotidianamente feito, quando preciso.

Ele diz: “Seria muito oportuno que a imprensa vendesse outra imagem da nossa cidade. Até porque necessitamos de lobby para que empresas venham se instalar por aqui...” Errado. Lobby é coisa de safados. Lobby é maracutaia, privilegiamento, chantagem e pressão com custo elevado para o dinheiro que nós, contribuintes, recolhemos para o Estado. É esse dinheiro que vai para os lobistas.

A cidade tem que ser mostrada do jeito que ela é, com suas perfeições e capenguices. E se algum jornal mostra os defeitos é para cobrar os políticos a providenciarem com urgência os acertos. Claro que o autor da carta não se refere à Folha de Londrina, mas como jornal a Folha também é prejudicada . Então, como profissionais do jornalismo que somos, dispensamos professores que tentam ensinar a postura ética editorial de um jeito totalmente errado. Imagem não se vende. É o próprio fato que a escancara. 

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O ranking da ONG e o Brasil do jornalismo restrito

A ONG Repórteres Sem Fronteira acaba de divulgar o ranking dos países em relação à segurança pessoal dos profissionais de jornalismo, com base em pesquisa de 18 associações e 150 profissionais de imprensa de todo o mundo. O Brasil ocupa o 99º lugar na lista relativa à liberdade de imprensa no ano de 2011. Cabe ter em conta que essa ONG não leva em consideração as razões políticas que interferem no exercício do jornalismo. Como dissemos acima, o critério é a segurança de quem trabalha no setor.

Reportagem publicada por O Estado de S.Paulo (página A9, Nacional), assinada por Gabriel Manzano, lembra que no ano passado o Brasil registrou cinco mortes de profissionais do jornalismo, conforme dados da Associação Nacional de Jornais (ANJ) e da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP). Mas no ranking de Repórteres Sem Fronteira são consideradas apenas três mortes, pois em dois casos a ONG considerou insatisfatórias as evidências de que as vítimas tiveram as mortes causadas por razões profissionais.

O texto mostra ainda que o Brasil é o país do continente com a pior classificação. Em seguida aparece o Chile, em 83%. A Argentina, cujo governo instala um flagrante regime de controle da mídia através de benefícios aos apoiadores e boicotes legais aos opositores, ocupa contraditoriamente uma posição que caberia a um país sem manchas na relação com os meios de comunicação.

O texto de O Estado de S.Paulo menciona que a violência e a desproteção a jornalistas, principalmente no Norte e Nordeste do País, e a morte – em serviço – de três profissionais em 2011, fizeram o Brasil cair 41 posições de um ano a outro.

Diríamos que não é apenas isso. Ou melhor, que há outras formas de violência que interferem no bom desempenho do jornalismo. E sem exageramos incluímos a desobrigatoriedade do diploma ao lado da acirrada disputa editorial, que coloca pessoas inexperientes e descuidadas em missões complicadas.
A pressão das empresas de comunicação sobre os seus trabalhadores pode ser somada à pressão publicitária, que cala, obriga a omissões e, por fim, consente com situações absurdas de equívocos editoriais.

Dentre as pressões dos empregadores, uma das causas da insegurança do jornalista são os contratos mantidos nos recursos humanos que obrigam os jornalistas a jornadas estressantes com produções simultâneas para os impressos, as televisões, as emissoras de rádio e os portais de internet mantidos pelas grandes redes.

Esta situação brasileira não consta de nenhum levantamento feito por qualquer associação de imprensa, inclusive a ANJ.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Capas, acertos e ufanismos dos impressos diários

Entre as capas da Folha de Londrina e da Gazeta do Povo, nesta quarta-feira, 25 de janeiro, fico com o Norte do Paraná. Aliás, escolho o Interior, com o “r” carregado e sotaque mais de paulista.

A Gazeta trouxe de manchete a volta dos aposentados ao mercado de trabalho. Mas o título é ufanista: “Sem mão de obra, empresas contratam mais idosos”. Está dado o recado: idoso só tem oportunidade de trabalho porque está faltando mão de obra. Caso contrário o aposentado teria que sobreviver com a renda a quem tem direito mas é paga mensalmente pelo governo com uma defasagem assustadora.

A Gazeta também traz na primeira dobra do estander a foto de Lula, todo senhor de si, atrás de Dilma. Dilma, na frente, está desfocada. Lula, gargalhando, está nítido. A intenção do fotógrafo (Sérgio Lima, da Folhapress, agência da Folha de S.Paulo) é clara: ele é quem dá as cartas; ela obedece. Será?

A Folha de Londrina acerta porque trata em sua manchete de uma realidade que raramente a própria mídia trata com propriedade, ao estampar chamadas ufanistas de tudo vai muito bem por aqui. O título é: Juro alto desacelera geração de emprego”. Abaixo do título a linha fina chamando para a matéria que está no caderno de Economia e acima uma foto em seis colunas. Toda a meia página acima da dobra é ocupada pela manchete. A Folha sai do comum e da mesmice e deixa Lula e Dilma de fora da capa. Todas as demais chamadas são de matérias produzidas pela própria equipe do jornal. Isso é maturidade. Isso é elogiável. Isso é avanço, pessoal da Folha de Londrina. Parabéns!

Quanto aos jornais de fora, o Estadão traz Lula e Dilma abaixo da manchete, com foto e texto. O título: “Volta em grande estilo”. A intenção foi outra, mas quem lê acha que o jornal é lulista. Oras, a Dilma é a bola da vez!

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Ah, o revisor! Um custo benefício desprezado

Nos tempos do paste-up, quando as tiras de texto eram impressas nas IBM Composer na largura das colunas e depois recortadas e coladas nas páginas, as matérias chegavam às mesas dos editores em laudas. Na verdade, folhas de papel jornal feitas com as sobras dos rolos utilizados na gráfica em formato mais ou menos ofício. Nem sempre o corte era alinhado.

Havia uma regra a ser criteriosamente obedecida. A primeira lauda, que servia como capa da matéria, era do título. Sim, o repórter era obrigado a entregar a matéria com a sugestão de título. As outras laudas, sempre numeradas, eram para o texto. E no meio cada foto com a sua respectiva lauda contendo a legenda. O conjunto de folhas era dobrado ao meio e colocado na mesa do copy-desk.

A função desse profissional era de verificar de gramática à estruturação do texto. O copy-desk às vezes fazia um exercício de colagem nas suas laudas: pegava o terceiro parágrafo e colocava no lugar do segundo, cortava o pezinho da matéria com régua e mandava aquela informação para o começo, rabiscava aqui, acrescentava lá e assim por diante.

Só depois o material era mandado para o editor, que lia, se preciso reformulava, às vezes mandava fazer de novo, outras refazia por conta. As matérias desciam para o pessoal das Composer e de lá, já no formato das colunas, desciam para a revisão, onde uma grande equipe tratava de conferir tudo novamente: digitação, gramática, concordância, caixa alta ou baixa, vírgula e etecetera.

Sim, todos os setores eram importantes. Mas ninguém daqueles tempos têm dúvidas sobre a importância de um revisor na redação dos impressos. Normalmente a função era exercida pelo pessoal dos cursos de letras da Universidade Estadual de Londrina. Gente criteriosa, que às vezes telefonava para a redação para trocar idéias inclusive sobre a clareza da informação. E mais do que ficar brabo com isso, o jornalista acabava agradecendo.

Um dia acharam que o custo-benefício do revisor era desequilibrado. Que o profissional da revisão pouco fazia. E o revisor foi um dos primeiros a ser excluído do jornal na medida em que o papel encarecia, a administração da empresa jornalística errava e os lucros diminuíram.

Na capa do caderno de Economia da Folha um erro de digitalização no título: “Industrização faz PIB de Ibiporã crescer 181%”. Isso mesmo: “Industrização”. Provavelemte os olhos cansados do editor, depois de ler dezenas de matérias, não perceberam. O erro é da empresa. Um revisor bem pago, pelo menos para revisar os títulos, não custa uma fortuna e garante muita qualidade.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

José e Beto, pai e filho, na comparação política

O bom jornalismo está na edição desta segunda-feira, dia 23 de janeiro de 2012, da Folha de Londrina. O jornal aproveitou o gancho que o governador Beto Richa deixou recentemente, durante consolidação de empreendimento da iniciativa privada em Ponta Grossa. Dito de uma forma grosseira, mas direta, o governador justificou que os grandes grupos empresariais preferem o Sul do Estado porque o Norte não tem rodovias e mão de obra qualificada.

Essa infeliz justificativa havia ficado em aberto sem que ninguém questionasse o governador. Somente o informativo de uma emissora de rádio, a Cidade de Cambé, da Rede Jovem Pan, alfinetou com ironia: “O Beto Richa deve, no mínimo, telefonar para o governador do Norte do Paraná e sugerir a ele que construa mais estradas e aperfeiçoe a estrutura para a formação de mão de obra”.

Sim, porque com uma justificativa que além de indelicada transfere unicamente para a região norte a culpa pela falta de estrutura viária e profissional, sendo ele o governador, este cidadão curitibano que nasceu em Londrina errou feio.

A Folha publicou a matéria de cobertura do evento em Ponta Grossa e sentiu a repercussão negativa da justificativa de Beto Richa. No modelo de um jornalismo que não deixa os leitores sem respostas, o jornal chamou um veterano do jornalismo londrinense, Widson Schwartz, que resgatou fases importantes da política londrinense.

E o jornalista foi na veia. Vejam o título da matéria publicada na página 4, de Política, da Folha de Londrina: “De Richa a Richa: governos apostam tudo em Curitiba”. A linha fina diz mais: “Londrina atraia mais indústrias na gestão do prefeito José Richa, quando teve início a concentração de investimento na capital”.

O chapéu (palavras usadas sobre o título) diz: “Tal pai...” Entre o chapéu e o título as fotos de José (pai) e Beto (filho). As legendas: “O então prefeito José Richa: Londrina batia Curitiba por 60 a 27 indústrias e gerava dez mil empregos”; “Governador Beto Richa: sem infraestrutura no interior, ‘indústrias optam pela Região Metropolitana de Curitiba e os Campos Gerais’”.

O jornalista analise outras fases, de outros governadores. Uma retranca de apoio trata sobre a prometida duplicação da BR-369. Outra do colapso do Badep. A página é fechada com retranca de apoio assinada por jornalista da Folha em Curitiba, sobre a confirmação, pelo governador, de uma empresa de informática em Londrina. Na página anterior, a entrevista de Beto Richa enfatiza mais os planos políticos do partido do governador. 

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Aqui ninguém perde e as vítimas somos nós mesmos

Os promotores da polêmica do sexo consensual ou forçado no BBB acertaram. Nunca, desde a primeira edição, sintonizei na Globo durante o programa. E nem agora fiz isso. Mas confesso que na internet vou atrás das repercussões do suposto fato que pode não ter sido um fato. Apenas um acontecimento agendado.

A minha curiosidade é igual a de um bom número de brasileiros: quem é a vítima? O rapaz que foi expulso ou a moça quem diz e desdiz? Hoje, após ler matérias sobre a coletiva organizada pela dupla de advogados do expulso, quase estou chegando à conclusão que nem ele é vítima.

Os caras aproveitaram algumas manifestações de afrodescentes e vão usar provavelmente como gancho jurídico. Isso ficou evidente nas entrevistas: ele foi expulso por causa da cor. E vem à memória alguns clássicos do cinema americano baseados na vida real. O homem de cor que molesta a branquinha.

De qualquer forma, nem o expulso e muito menos a suposta vítima perdem. Ambos estão rendendo páginas nos impressos e menções na internet. Imagino que se não fosse pelos dois o BBB do Pedro Bial estaria lá embaixo no Ibope. E fico desconfiado de armação. Não teria havido um jeito para esquentar o ambiente?

Sites de variedades costumam ser nojentos de tanta baboseira. Eu, que tenho conta no hotmail obrigatoriamente sou conduzido para o MSN quando saio do webmail. Normalmente tranco tudo antes que a home do MSN ocupe o monitor. Ultimamente, só por causa desse epsódio tenho sido complacente: espero a página de retorno entrar para ver se há fatos novos.

Ainda bem que não tive, por enquanto, a vontade de sintonizar a Globo na hora do BBB. Pois se isso acontecer vou correndo consultar um terapeuta para ver o que está se modificando em mim. Tenho uma assinatura de TV a cabo. Merreca, daquelas que não trazem muita opção. Mas, em último caso, fico com os manjados seriados americanos de agentes do FBI contra bandidos perigosos. Pelo menos tenho certeza que estou me divertindo com mentiras que tentam me mostrar como verdades.

Oras! Estou pagando! Por que não posso apreciar as lindas investigadoras desses seriados? E descobri que o MSN não é de todo ruim. Fico sabendo lá o que a Griselda faz. Hoje tem receita de sorvete. Amanhã devo apreciar Tereza Cristina. Tudo isso é, no mínimo, muito interessante saber.

E quanto ao BBB? Bom, curioso por coisas fora da rotina, digitei no Google mulher velha. Apareceu Hebe Camargo, Marília Gabriela e Ana Maria Braga. E eu estava esperando páginas de sacanagem. Eu é que errei, o Google acertou. E Bial, a Globo e os patrocinadores comemoram mais uma subida na audência. Aqui ninguém perde! A mocinha que é vítima, o rapaz que é vítima vão, com certeza, ganhar muito mais do que nós que somos vítimas (texto de Walter Ogama).

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Pra nós a grávida de Taubaté não é culpada

Ok! Você é um repórter generalista e trabalha pautas de diferentes temas no seu cotidiano profissional. E de repente te mandam entrevistar a mulher grávida de quadrigêmeos que está pronta para ir ao trabalho de parto. A pauta informa que o caso é raro. Se o pauteiro é mais criterioso até relaciona casos que já renderam matérias. Sugere inclusive especialistas a serem ouvidos.

Não é bem assim que ocorreu na produção inicial da reportagem da pedagoga Maria Verônica Aparecida César Santos, de Taubaté. Algumas evidenciazinhas básicas foram desprezadas. A entrevistada alegou questões familiares e não forneceu o nome do profissional médico que a acompanha. O (a) jornalista, no mínimo, negociaria com a fonte: tudo bem, não vamos expor o seu médico, mas precisamos conversar com ele para ter informações do especialista sobre a sua gravidez e o trabalho de parto. Isso é fundamental na cobertura.

Outras evidenciazinhas são mais percebidas por mulheres e por homens que já são pais. Uma delas, os seios. Na gravidez antes mesmo da barriga os seios se avolumam. Em algumas mulheres de forma rápida e assustadora. Já vimos casos de mães que desconfiaram da gravidez das filhas porque os seios cresceram de um dia a outro. Os seios da pedagoga não parecem os de uma mulher grávida. São seios normais. Aliás, pequenos em relação ao aspecto físico que ela aparenta ter sem a barriga.

O formato da barriga também causa desconfiança. E nem no caso de uma gravidez simples, às vésperas do parto, ficariam tão retos. A mobilidade da mulher também impressiona. Já vimos gravidez que conservam até o porte físico e caminham com muita agilidade até na hora de serem colocadas no trabalho de parto. Olhando por trás algumas grávidas de nove meses continuam magras e elegantes. Mas com aquele barrigão a mobilidade estaria fatalmente comprometida, inclusive com conseqüências na coluna.

Essas evidências escapariam a um repórter homem? Pode ser, principalmente se ele fosse solteiro. Mas não poderiam escapar as informações cientifícas. Se o profissional que atende a grávida foi escondido, haveria pelo menos a curiosidade profissional do jornalista de ouvir outros profissionais da área. Havia motivos para isso. Se não houvesse curiosidade em relação às informações sobre os cuidados de um parto de quadrigêmeos, pelo menos restaria a vontade de saber mais e informar mais sobre o fato raro.


O problema é que a reportagem da Bandeirantes foi produzida por uma mulher. Tudo bem, novinha ainda, provavelmente ainda virgem quando o assunto é gravidez e parto. Mas, vamos lá, homem ou mulher, teria que haver uma apuração. Ouvir uma única fonte e de contraponto tomar depoimentos de "padrinhos" sobre o oba oba foi insuficiente.

Quantos casos de quadrigêmeos no Brasil, por exemplo. Mas a repórter encerrou a sua cobertura no mesmo ponto onde começou: o local combinado para as gravações das imagens e do depoimento da grávida. Foi, no mínimo, um sensacionalismo preguiçoso. E aqui a culpa não é da grávida de Taubaté. É de quem a ouviu e teve, inclusive, a oportunidade de apalpar a barriga dela, se quisesse. Corremos riscos nesta profissão. Portanto, o trabalho criterioso e aprofundado é fundamental no nosso cotidiano. Isso até em matérias que dariam supostamente em finais felizes, como o de uma mãe que vai ter quadrigêmeos.


Quanto à investigação da Record, a acusação da suposta grávida e de seu marido, de acordo com boletim policial, é de que um repórter estaria ameaçando a família de criar um caso através da mídia. Tomara que não seja isso. O trabalho investigativo, da forma profissional, é válido.    

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Notícias inexplicavelmente atrasadas no diário

O que houve na Redação da Folha de Londrina terça-feira? Pane no sistema? Aproveitamento de sobra de matérias de segunda-feira? Prefiro acreditar na primeira hipótese. Tempo passado por este jornal por um período de 18 anos, é claro que dedico atenção especial à publicação. Isso significa que involuntariamente a minha leitura é analítica. Confesso que preferiria ler como leitor, pois o rigor da análise às vezes torna qualquer avaliação ranzinza.

Longe de mim uma intenção dessas. É resultado de um apego, de um cuidado excessivo com aquilo que já fez parte da vida da gente. E ainda faz, pelo que se torna nítido por esta manifestação. Acontece que alguns importantes temas e outros não tanto que saíram na edição de terça do principal concorrente só ocupam as páginas da Folha nesta quarta.

Fica uma impressão esquisita. Alguém puxou as orelhas e mandou ir atrás do assunto? Só que com um dia de atraso nada de novo foi acrescentado. Por isso trabalhei também a hipótese de ser matéria de sobra reaproveitada sem um reajuste, uma atualização necessária ou, pelo menos, uma mudança de gancho.

Acreditam colegas da Folha! Este fórum não tem o objetivo de deitar porrete. As críticas são para sugerir melhoras. E isso vale também para o concorrente e até para o filhote do concorrente. Vale, enfim, para profissionais que como eu aspiram produzir com lisura e acerto, mas às vezes erram.

Eu, particularmente, com mais de 30 anos de jornalismo ainda cometo erros. Hoje atuando em assessoria de imprensa me pego diariamente com falhas que vão da digitação apressada, do aperto do teclado emperrado que não dá letra e desvio de conteúdo pelo uso de uma palavra inadequada.

E quanto ao risco de descaminho ético? Isso tortura. Às vezes rola-se na cama por horas até o meio da madrugada matutando sobre as possibilidades de termos caído. Estou com cinqüenta e cinco anos de idade. Tenho madrugadas de lençóis repuxados e não é por causa de algum tipo de prazer. É preocupação, medo, dúvidas.

Isso é para deixar claro que não há pegação no pé de ninguém. Porque quando deixarmos de estremecer por excesso de segurança ai sim a nossa vida profissional estará em risco (texto de Walter Ogama).

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Mais rigor para a concessão de rádio e tevê

O decreto está assinado pela presidente da República Dilma Rousseff. Se o que ele determina será cumprido é outra história. Aliás, a fiscalização por parte do ouvinte e do telespectador é que, de fato, validará o que manda o governo federal.

Estamos falando das novas regras para a concessão de canais de televisão e emissoras de rádio. Os pontos principais: mais conteúdo jornalístico, cultural e educativo, local e independente.
É verdade que estas regras valem para as novas concessões. As exigências são critérios que valem nas novas licitações de quem concorre a uma concessão de rádio ou tevê. Ainda assim resta a expectativa de um expurgamento no setor.

O próprio decreto governamental é claro: acabar com a picaretagem, inclusive na forma de laranjas que detém canais e emissoras de políticos. Mais do que isso: o decreto fala também em sanear o setor a partir da imposição de regras que só poderão ser cumpridas com profissionalismo.

No entendimento do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, hoje há um conjunto de emissoras em mãos de empresas e pessoas sem capacidade financeira de manter o negócio.

Pelas regras de antes do decreto quem ganha uma concessão paga a outorga em duas parcelas ao governo. Segundo o ministro, um grande número de concessionárias não pagou a segunda parcela e algumas nem a primeira recolheram.

Agora o candidato a uma emissora terá que comprovar capacidade financeira através de auditorias independentes e a outorga terá que ser paga à vista. O valor cobrado para participar do leilão de concessão também sobe. Se o político bancar um laranja para disputar uma concessão terá que ser um representante inclusive forte economicamente.

É provável que isso não feche todas as porteiras para a picaretagem no rádio e na televisão. Mas dicifulta. E se não houver, repetimos, a fiscalização do ouvinte e dos telespectadores, nenhum lei é capaz de segurar o mal intencionados. Depende, portanto, muito de nós.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Dá para folhear até a quarta ou quinta página...

Ler só dá preguiça quando não se tem o que ler. Isso é muito subjetivo. Tem gente que procura informações sobre o BBB do Pedro Bial para ler. Outros ficam atrás do dia a dia dos notáveis. Há quem prefira as novidades do futebol. Que absurdo! Numa manhã de segunda-feira as emissoras de rádio e os programas esportivos de televisão já disseram tudo! Mas, ainda assim, tem fanático do esporte que confere se o conteúdo da matéria impressa confere com o que os analistas disseram. Analistas? Em futebol todos somos.

Sem desaforos e provocações. Pé no chão, procuro por notícias que interessem o maior número de leitores. Coloco-me no lugar daquele que não é especialista em nada. Por isso precisa se inteirar de tudo o que está acontecendo. Alguns especialistas acham que precisam saber somente de sua área de especialidade. O resto é resto.

O caso do navio já vi na televisão. O Flamengo e o Corinthianas até encheu o saco de tanto se falar de um assunto meia boca. Eleições municipais em edição de começo de semana? Assunto esgotodado. Acidente de trabalho crescem 16%? Isso interessa, mas depende de como a pauta foi planejada.

Número de estudantes com contratos do Fies está abaixo da meta? Claro que interessa, desde que se escancare a realidade que mantém este número baixo. Será por acessibilidade? Ou algum outro tipo de trava? Código reduz participação popular? Também interessa. Diz respeito ao Código Ambiental de Londrina e pela chamada de capa é grave.

Vamos repicar o que diz: “Proposta da população levadas a audiências públicas para a construção do Código Ambiental de Londrina em 2011 foram excluídas na versão da lei sancionada pelo Executivo no começo do ano. Boa parte dos vetos elimina o aumento da participação e da influência da sociedade em decisões que envolvem o meio ambiente em Londrina. A educação ambiental também ficou reduzida”.

O outro jornal vem com a capa sobre o custo da reforma ministerial proposta pela Dilma: R$ 47 bi. Interessa sim. E o outro traz otimismo: PR é campeão em volume de emprego. Isso causa suspeita. O mesmo jornal, no dia anterior, encheu lingüiça mancheteando com a fraude em combustível. Com base na Agência Nacional do Petróleo, diz que a fraude caiu. Aonde?

Então, no sábado, a Gazeta traz: Após 11 anos, Paraná tem déficit comercial. De sábado a segunda-feira, pouco para se ler. Jornal de Londrina e Gazeta trouxeram reportagens mais chão, que cheira mais verdade e menos interesse por trás. O resto deu para folhear até a quarta ou a quinta páginas do primeiro caderno (texto de Walter Ogama).

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

O mundo cão mostrado para cobrar o Estado

Em circunstância normal a cobertura da Folha de S.Paulo na Cracolândia poderia ser considerada exploração do mundo cão para atrair leitores. Na atual situação, dias depois da ação policial, podemos classificar o trabalho editorial como oportuno.

Junto às análises de diferentes segmentos sobre o problema, as equipes de reportagem do jornal estão levantando casos individuais. Na edição de quinta-feira, 12 de janeiro de 2012, cinco grávidas foram ouvidas: Lilian, 26 anos, usuária de drogas há quatro, que pode dar à luz a qualquer momento; Joyce, 19 anos, usuária de crack há sete, grávida de dois meses; Débora, 28 anos, usuária de crack há 16 anos, grávida de cinco meses; Sara, 27 anos, usuária de crack há 11 anos, grávida de cinco meses; Jéssica, 20 anos, grávida de seis meses.

A reportagem ouve também Natália, que diz ter largado a droga após o nascimento da segunda filha. A primeira morreu. Uma infografia mostra os efeitos do crack na gravidez. Informa que a droga que está na corrente sanguínea da mãe atinge a placenta e pelo cordão umbilical para a corrente sanguínea do feto. Em seguida atinge o sistema nervoso da criança com o risco de provocar alterações neurológicas. O crack também aumento o risco de aborto, diminui o crescimento fetal e há ainda o risco do bebê nascer prematuro. Após o parto, a criança sofre síndrome de abstinência à droga e apresenta sudorese, agitação, taquicardia, choro intenso e tremores.

O jornal também ouve comerciantes próximos da cracolândia e agentes de entidades e igrejas que desenvolviam trabalhos no local antes da ação da polícia.

Enfim. Ou, infelizmente. O que se mostra nessa cobertura é a parte do Brasil que está deteriorada porque as medidas de reparo tardaram. E quando chegaram foram de tal impacto que apenas tem efeito num local. Pode ser que a cracolândia esteja realmente com os dias contados. Mas o consumo da droga está aqui e ali, inclusive perto de casa.

Mostrar o mal entrando no mundo cão é, nesse caso, o escancaramento de uma podridão que existe por culpa única e exclusiva do Estado, esta instituição que abriga e acolhe – inclusive com salários altos - pessoas eleitas por nós, mas demora a dar soluções para os nossos problemas. 

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Retraído JL acerta e Folha cai no erro

Quatro jornais mostram as suas caras nas manchetes e nas chamadas de capa desta edição de quinta-feira, dia 12 de janeiro de 2012.

O normalmente equivocado Jornal de Londrina acerta esta quinta em sua manchete: “Crescem denúncias de violência doméstica”. Na linha fina: “A Lei Maria da Penha e campanhas contra a violência doméstica têm aumentado o número de denúncias feitas à polícia. Em 2011, houve crescimento de 69% nas comunicações desse tipo de crime à PM, que totalizaram 191 casos. Na Delegacia da Mulher, em 2011, foram instaurados 7776 inquéritos, crescimento de 31,75%”. Manchete acertada, porque tornar esse crescimento público encoraja pessoas que são vítimas ou conhecem casos de parentes ou vizinhos que são vítimas a quebrarem o silêncio.

A Gazeta do Povo abre a capa com “Gravidez na adolescência tem menor taxa desde 1994”. Devia ter aberto com a chamada em uma coluna que está logo abaixo: “Governo do estado quer comprar mais 4 aeronaves”. O texto da chamada diz: “Além do turboélice comprado pela Copel na terça-feira por R$ 16,9 milhões e que poderá ser usado pelo Executivo estadual, o governo do Paraná anunciou que pretende adquirir outras quatro aeronaves”. Comentário em uma emissora de rádio AM, a Cidade, da Rede Jovem Pan: “Nós, contribuintes paranaenses, vamos ser sócios de uma companhia aérea”.

O Estado de S.Paulo está conivente com os produtores de cana-de-açúcar: “BNDES oferece crédito de R$ 4 bi para baratear o etanol”. É a manchete. Como se isso dependesse de subsídio e sem analisar a questão ambiental. Os coronéis devem estar gargalhando...

A Folha de Londrina errou na capa. Usou como manchete: “Venda de automóveis cresce 3,7% no Paraná”. Parece matéria encomendada. E peca também na chamada seca de capa sobre a violência contra a mulher. O título diz: “Violência contra a mulher aumenta 70% em Londrina”. Não é bem isso. O que cresceu é o número de casos notificados à polícia. Na verdade, a matéria é que está viciada. Na PM uma fonte disse que o número de registros cresceu em função da Lei Maria da Penha. Na Delegacia da Mulher também informa à repórter que antes da Lei Maria da Penha as ocorrências registradas eram mais raras.

Claro, pauteiro e editor devem assumir a culpa desta falta de análise do assunto junto com o repórter. E o editor de capa, que é o filtro de toda matéria oferecida para ser chamada, merece advertência por deixar passar um equívoco editorial desse tamanho. Vejam que ele usa no chapéu da chamada as palavras “Maria da Penha” e escreve no título: “Violência contra a mulher aumenta 70% em Londrina”. Na ótica dele, o aumento da violência é por culpa dessa tal de Maria da Penha.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Entre a luz de vela e o fechamento industrial

Entre a luz de vela e o fechamento industrial

O saudosismo em nada ajuda quando o assunto é a agilização permitida pela tecnologia. Mas é de fundamental importância quando se cai nas conversas sobre a queda da qualidade do jornalismo impresso.

Capa recente da Gazeta do Povo para comemorar a edição de número 30.000 mostrou que a produção jornalística era praticamente informação e conteúdo de texto no passado. As fotos, principalmente de fora, eram raridades. Nas produções locais os fotógrafos tinham respeitar limite de horário. Caso contrário não dava tempo para revelar os negativos e fazer as ampliações.

Se hoje o grande risco do sistema industrial é o apagão causado por causas diversas, inclusive o consumo mais elevado de energia elétrica no calor, antes uma chuva mais prolongada era capaz de deixar as redações por horas sem luz.

Os jornalistas improvisam com velas acesas sobre as escrivaninhas encardidas. A iluminação era suficiente para os dedões acharem as letras nos teclados das velhas máquinas datilográficas. O texto era escrito em laudas que nem sempre chegavam às redações no mesmo formato. Dependia muito das sobras dos rolos de papel jornal.

Caso a luz não retornasse até às 22 horas, esperava-se até às 23. Ou meia noite, uma da madrugada, duas, três e mais, se necessário. A falta de janta era compensada com pão e mortadela. E havia sempre o jornalista que aproveitava até os últimos minutos para enriquecer o conteúdo do seu texto: revisando, acrescentando e até refazendo todo o material.

Nada era acessível. Tudo que se produzia exigia esforço. E saia coisa boa. A princípio teria que se supor que a facilidade seria uma importante aliada da qualidade. Pois o chumbo derretido foi encostado e o off set abreviou tempo e melhorou a impressão.

A cor era usada com zelo. Nada de exageros, a não ser em publicações específicas. As fotos, digitalizadas, reduziram gastos e tempo de processamento após serem produzidas. E veio a diagramação eletrônica, com vinhetas de todos os lados.

Na sequência os infográficos e outros exageros que mais prejudicam do que facilitam a leitura. E os texto, além de ficarem pequenos, na maioria dos casos nada dizem. Apenas completam as páginas. Mudou muita coisa no jornalismo impresso!

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Tirando o BBB, sobra algum lucro cultural

Embora a cobertura sobre a adulteração das bombas de combustível tenha merecido destaque nas capas dos jornais paranaenses nesta terça-feira, dia 10 de janeiro de 2012, três outros assuntos com chamadas na primeira página se sobressaem.

Um deles pelo tom de galhofa por parte de autoridade que gerou a matéria. Está na manchete da Folha de Londrina com o título: “Desenvolvimento – Falta de infraestrutura afasta indústrias do Norte, diz Beto Richa”.

O desaforamento da fonte continua na linha fina: “Governador anunciou ontem, em Ponta Grossa, que Paraná receberá R$ 9 bilhões em investimentos privados a médio prazo. No entanto, nenhum centavo será investido na Região Norte. Segundo ele, as indústrias ‘naturalmente’ optam pela Região Metropolitana de Curitiba e pelos Campos Gerais porqaue precisam de rodovias e mão de obra qualificada”. É de chorar de vergonha. 

Isso demonstra que até na ótica do Estado o resto do Paraná é interior.  Deixamos claro que a posição é do governador e o texto da Folha apenas trabalha o que a autoridade disse. Ainda assim, cabe posteriormente as redações pensarem numa pauta para mostrar não somente ao governador, mas principalmente a toda a população paranaense, as causas dessas diferenças, a falta de rodovias e de mão de obra qualificada. Quem é cidadão consciente sabe, mas é bom reforçar isso quando se percebe que há quem deveria saber e desconhece.

Outro assunto de destaque é também da Folha de Londrina. Está na página 3, de Política, com o título: “Parlamentares do PR gastaram mais de R$ 8 milhões em 2011”. Na linha fina: “Despesas pagas pela Câmara Federal e pelo Senado são relativas à atividade parlamentar; Assis do Couto é o ‘campeão’ de gastos”.

Trata do chamado “Cotão”, que o infográfico explica: “A Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar (Ceap), que ficou conhecida como ‘Cotão’, foi estabelecida na Câmara Federal a partir de ato da Mesa número 43, de 21 de maio de 2009. O limite do valor a ser gasto varia conforme o Estado. Ao Paraná, coube o valor de R$ 29.154,13 para cada deputado federal”.

De acordo com o levantamento da Folha, o paranaense mais gastador é Assis do Couto, petista, que consumiu em 2011 R$ 337.913,80. Londrina, o interior, tem um gastador: Alex Canziani, do PTB, consumiu em 2011 R$ 307.580,44. André Vargas, outro de Londrina, que a capital chama de interior, está entre os que menos gastaram: o petista consumiu R$ 236.964,84.

Entre as despesas que o Cotão cobre estão aluguel de imóvel para escritório parlamentar, taxa de condomínio, tarifas de água e energia, TV a cabo, vigilância, material de consumo, locação de transporte, combustível, hospedagem e refeição para o parlamentar e comissionados, além de contratação de consultorias, informa infográfico produzido pela Folha.

Esse tipo de produção interessa muito, porque ficamos sabendo como é gasto o dinheiro do contribuinte brasileiro. A gente praticamente banca tudo para os nossos representantes. Assim a Folha se redime por um final de semana fraco. Mas também não precisava exagerar publicando matéria de uma página sobre o BBB 12.

Na Gazeta do Povo, a matéria destaque sai na página 13, de Vida Pública. O título é: “Controle governamental – 10% das cidades descumprem a Lei Estadual da Transparência”. Na linha fina: “Pelo menos 40 municípios do Paraná ainda não divulgam gastos em diário oficial, o que é obrigatório desde o dia 1º”. Bom também...

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

É hora de investir nos novos jornalistas

Triste e constrangido. Por ser do Norte do Paraná e não poder negar certo bairrismo inclusive em relação ao nosso jornalismo em comparação com o que sempre se praticou em Curitiba. Dizíamos quando estudantes e focos, nos primeiros anos do exercício profissional, que o jornalismo do Sul era chapa branca. E se não havia fundamento nessa acusação sobravam indícios e, consequentemente, suspeitas.

Íamos além. Dizíamos que todo jornalista de redação, na Capital, acumulava também um emprego de assessor de imprensa em órgão público. Pudera! Qualquer jornalista que começava na Folha de Londrina e ganhava cancha era muito bem recebido em mercados muito mais promissores, como o de São Paulo.

Mudou alguma coisa? Felizmente para o Paraná como um todo. Infelizmente para o Norte do Paraná. O jornalismo pé vermelho está em crise há alguns anos, mas parece chegar ao fundo do poço. O de lá, por um interessa ou outro, evoluiu. Sabemos que os avanços no Sul não foram promovidos de graça. Houve algum desvio de percurso, algum jogo cujo placar foi forçosamente alterado. Ou, quem sabe, adulterado.

Mas acontece que o jornalismo de lá está mais jornalismo do que o de cá, embora se reconhece o esforço da redação da Folha de Londrina para fazer do produto um jornal. É uma equipe de profissionais novos e sem a presença de gente experiente. Tenta-se o melhor, mas nem sempre os resultados aparecem.

De sábado até esta segunda-feira, dia 9 de janeiro de 2012, a Gazeta do Povo humilhou a concorrência nas três edições. Na edição de sábado, 7 de janeiro, o impresso curitibano trouxe na página 13, Vida Pública, uma reportagem sobre os supersalários no Congresso Nacional. Tem funcionário público que recebe R$ 26,7 mil por mês. O teor da matéria é de questionamento, cobrança e, enfim, denúncia de uma situação vergonhosa.

Na edição de domingo, a reportagem de destaque está na página 4, Vida e Cidadania. Com o título “Qualidade de vida – Indicadores sociais na contramão do crescimento econômico”, a matéria assinada por Anderson Gonçalves traça um paralelo entre a recente comemoração brasileira por ter se posicionada em pesquisa como a sexta economia do mundo, diante de uma sociedade cuja população tem muito a cobrar do Estado em qualidade de educação, saúde, habitação, trabalho e muito mais.

Na edição desta segunda-feira, duas reportagens são destaque: na página 19, de Economia, a matéria que dá manchete de capa da edição, cujo mote é: “Legislação – Parlamentares desconhecem regras de relação de consumo, mostra levantamento”. O título diz: “Nove em cada dez projetos de lei são inúteis para o consumidor”. A outra reportagem repercute levantamento da Paraná Pesquisas sobre eleições municipais. O título, na página 13, Vida Pública: “Saúde e segurança são os grandes problemas no interior do PR”.

Enquanto isso, no jornal do mesmo grupo que só circula em Londrina, cada jornalista faz a matéria que é de seu interesse. Quanto à Folha de Londrina, a empresa vai ter que ajudar os seus novos profissionais a ganharem tarimba. Está na hora de investir em qualidade, senhores! Vale à pena colocar dinheiro na formação desse moçada que é jovem, mas talentosa.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Um lance inspirado na capa da Gazeta do Povo

A Gazeta do Povo comemora a edição de número 30.000 com estilo. Diagramação, textos, títulos, fontes e demais recursos gráficos e editoriais da capa são inspirados na primeira edição do jornal, que circulou em 3 de fevereiro de 1919. É uma capa sem fotos. Uma única chamada é ilustrada. A cor também é dispensada.

Um texto publicado na edição de número 1 é reproduzido: “Não temos, pois, que attender a melindres pessoaes; não temos que attender a interesses particulares; o facto, uma vez que interessa à collectividade, é um dado positivo de sua vida; deve ser conhecido, divulgado, analysado, commentado, para que delle se possa retirar as utilidades que for capaz de produzir.”

Bonito! Muito bonito! E nem se questiona aqui se assim foi. Abrindo a Gazeta o leitor se depara, na cabeça de cada página, também com a arte gráfica e o conteúdo similar ao do passado do jornal. São textos analíticos, a maioria tratando da participação do jornalismo da Gazeta em fatos marcantes, reportagens sobre bolsões de pobreza e, enfim, o relato da situação atual.

Serve para confirmarmos que o jornalismo impresso do passado era texto. Também para mostrar que, atualmente, os recursos gráficos utilizados aos exageros e as cores mal usadas mais atrapalham do que facilitam a leitura. O jornalismo impresso de antes era a força da informação e da opinião datilografadas, se preciso à luz de vela quando as redações ficavam no escuro por falta de energia elétrica.

E havia muito texto com informações em cada linha. Sem nariz de cera, porque os editores eram rigorosos. Sem desenhos aqui e aqui com números. Sem fotos despropositais. Havia preocupação com o texto.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Ética e moral dependem da formação do ser

Os preços dos hortifrutigranjeiros estão lá em cima. Nas feiras livres os comerciantes fazem o que podem para vender: laranja de anteontem dá um bom suco e pode ser vendido mais barato. Tomate para refogar custa a metade do que está em ponto de salada. E nem as galinhas perdoam: o ovo está salgado. Nada, nada mesmo, tem preço de banana.

A pauta manda uma equipe à feira para ouvir consumidores e vendedores. A matéria deverá ser complementada com especialistas, inclusive do Departamento de Economia Rural da Secretaria de Agricultura, regionais da Emater, produtores de hortifruti e centrais de abastecimento como Ceasa.

O objetivo jornalístico é de publicar no dia seguinte uma matéria fechada sobre um problema que, a princípio, afeta toda a cadeia produtiva e chega na ponta final, que é a mesa de quem consome. É preciso descobrir os gargalos e chegar às causas: clima, interrmediários, política agrícola inadequada para o setor, maldade de alguma parte, despreocupação de outra?

Repórter e fotógrafo trabalham nas entrevistas quando um feirante insinua aos dois: “Vocês não tem nada o que fazer? Porque não vão trabalhar? Aqui todo mundo trabalha...” Entre retrucar com deselegância e dizer o óbvio a quem já demonstrou que não entende nada, a equipe de jornalismo decide se afastar do local.

Este fato é verídico e já foi contado em crônicas anteriores. Mas faço uso deste relato para pontuar as injustiças que podem ser cometidas contra bons profissionais do jornalismo por algumas pessoas.

Após 25 anos trabalhando em redação, atuo hoje como assessor de comunicação de órgão público e experimento, consequentemente, as pontadas dos espinhos que espetam de ambos os lados. Sofro discriminação com frequência pelo fato de estar do outro lado. Na maioria das vezes, o preconceito é velado, mas se percebe claramente. E também na maioria das vezes nem te dão o direito de esclarecer que o trabalho desenvolvido como assessor é ético.

Ainda assim saio agora em defesa do pessoal das redações. Testemunhei recentemente um fato de causar indignação. O poder público, que é o patrão na pessoa de prefeitos, secretários municipais ou estaduais, governadores e tantos outros políticos, entre os quais assessores políticos – e não de imprensa, gostam de matéria positivistas. E quando a pauta é sobre buracos de rua, matagal na área urbana, fila nas unidades de saúde ou falta de vagas nas escolas, o poder público avalia que o jornal está pegando no pé por um motivo ou outro.

É mais ou menos assim: “Aquele político da oposição deve ter um amiguinho dentro do jornal”. Criei caso justamente por causa desse tipo de baixaria. E fiz isso sem checar se realmente há uma relação que extrapola aquela que é suprema, de jornalista com a sua fonte. Criei caso porque não admito, embora saiba que alguns profissionais pecam, que se duvide da integridade moral e ética de um jornalista.

Admito, porém, que esse conceito equivocado e injusto vigora por uma causa que é real. Como em qualquer outra profissão do mundo, também no jornalismo temos carniceiros. E infelizmente são muitos. Talvez mais grave ainda que isso seja a discriminação da própria categoria contra quem trabalha em assessoria. Eu, como assessor, no canto mais iluminado da minha sala de trabalho e sem alardes saio em defesa dos colegas de redação. Porque acredito que ética e moral não dependem do local de trabalho.

Texto de Walter Ogama

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Jornais e jornaleiros de agora e do passado

Os gritos dos jornaleiros nas ruas de Londrina anunciando as eventuais edições extras eram tão fortes quanto a expressividade do que o jornal trazia em suas páginas. Da mesma forma, alguns desses jornaleiros aproveitavam as manchetes das tiragens normais para atrair a atenção dos leitores.

Ironia! Isso significa que alguns vendedores de jornais do passado sabiam muito mais de manchetes do que determinados editores de hoje em dia. E não adiante entrar com outra tese, do tipo: é que ninguém mais se interessa por jornal impresso. Isso é desculpa esfarrapada. A verdade é que ninguém compra jornal sem conteúdo.

Lembramos que neste dia 4 de janeiro o jornal O Estado de S.Paulo comemora aniversário de fundação. Mas não é do jornal propriamente dito que queremos nos manifestar, embora algumas informações básicas sejam indispensáveis.

Por exemplo: quando fundado, em 1875, o Estadão chamava-se A Província de São Paulo. Seus proprietários eram republicanos e, portanto, a cara do jornal era republicana. Já o que interessa para o nosso contexto: foi o pioneiro em vendas avulsas.

Informações socializadas pelo próprio jornal em sites da internet contam que um imigrante francês chamado Bernard Gregoire saia às ruas montado num cavalo. Para chamar a atenção das pessoas sobre o produto que estava vendendo, o cavaleiro tocava uma corneta.

Em Londrina, os jornaleiros também fizeram sua história. Quando a pressão do fechamento das edições diárias era menor e as redações tinham mais tempo para priorizar o conteúdo, eram eles, os jornaleiros, que na porta do jornal tentavam apressar os jornalistas. A pressa não era pela necessidade de voltar cedo para casa. Os jornaleiros queriam ser os primeiros a encontrar pelas ruas os leitores afoitos por notícias.

A oficina da Folha de Londrina, por exemplo, funcionava no subsolo da redação. A porta principal da redação, na Rua Piauí, era o local onde os jornaleiros se concentravam para esperar o produto ainda quente, saído do forno que era o parque gráfico. Era comum, em dias de atraso, alguns jornaleiros mais conhecido telefonarem da recepção à redação para perguntar o motivo da demora.

Esse trabalhador, agora tão raro, comemora sua data em 30 de setembro. Ás vezes eles fazem hoje em dia estripulias nas tardes de sábado tentando vender exemplares nos semáforos. Mas, infelizmente, nem estímulo para isso os jornaleiros têm. Porque eles próprios já sabem que estão vendendo um jornal grosso de muitos cadernos de classificados. O restinho é de matérias frias. Algumas delas tanto faz ler ou passar por cima.