Os preços dos hortifrutigranjeiros estão lá em cima. Nas feiras livres os comerciantes fazem o que podem para vender: laranja de anteontem dá um bom suco e pode ser vendido mais barato. Tomate para refogar custa a metade do que está em ponto de salada. E nem as galinhas perdoam: o ovo está salgado. Nada, nada mesmo, tem preço de banana.
A pauta manda uma equipe à feira para ouvir consumidores e vendedores. A matéria deverá ser complementada com especialistas, inclusive do Departamento de Economia Rural da Secretaria de Agricultura, regionais da Emater, produtores de hortifruti e centrais de abastecimento como Ceasa.
O objetivo jornalístico é de publicar no dia seguinte uma matéria fechada sobre um problema que, a princípio, afeta toda a cadeia produtiva e chega na ponta final, que é a mesa de quem consome. É preciso descobrir os gargalos e chegar às causas: clima, interrmediários, política agrícola inadequada para o setor, maldade de alguma parte, despreocupação de outra?
Repórter e fotógrafo trabalham nas entrevistas quando um feirante insinua aos dois: “Vocês não tem nada o que fazer? Porque não vão trabalhar? Aqui todo mundo trabalha...” Entre retrucar com deselegância e dizer o óbvio a quem já demonstrou que não entende nada, a equipe de jornalismo decide se afastar do local.
Este fato é verídico e já foi contado em crônicas anteriores. Mas faço uso deste relato para pontuar as injustiças que podem ser cometidas contra bons profissionais do jornalismo por algumas pessoas.
Após 25 anos trabalhando em redação, atuo hoje como assessor de comunicação de órgão público e experimento, consequentemente, as pontadas dos espinhos que espetam de ambos os lados. Sofro discriminação com frequência pelo fato de estar do outro lado. Na maioria das vezes, o preconceito é velado, mas se percebe claramente. E também na maioria das vezes nem te dão o direito de esclarecer que o trabalho desenvolvido como assessor é ético.
Ainda assim saio agora em defesa do pessoal das redações. Testemunhei recentemente um fato de causar indignação. O poder público, que é o patrão na pessoa de prefeitos, secretários municipais ou estaduais, governadores e tantos outros políticos, entre os quais assessores políticos – e não de imprensa, gostam de matéria positivistas. E quando a pauta é sobre buracos de rua, matagal na área urbana, fila nas unidades de saúde ou falta de vagas nas escolas, o poder público avalia que o jornal está pegando no pé por um motivo ou outro.
É mais ou menos assim: “Aquele político da oposição deve ter um amiguinho dentro do jornal”. Criei caso justamente por causa desse tipo de baixaria. E fiz isso sem checar se realmente há uma relação que extrapola aquela que é suprema, de jornalista com a sua fonte. Criei caso porque não admito, embora saiba que alguns profissionais pecam, que se duvide da integridade moral e ética de um jornalista.
Admito, porém, que esse conceito equivocado e injusto vigora por uma causa que é real. Como em qualquer outra profissão do mundo, também no jornalismo temos carniceiros. E infelizmente são muitos. Talvez mais grave ainda que isso seja a discriminação da própria categoria contra quem trabalha em assessoria. Eu , como assessor, no canto mais iluminado da minha sala de trabalho e sem alardes saio em defesa dos colegas de redação. Porque acredito que ética e moral não dependem do local de trabalho.
Texto de Walter Ogama
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