sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

O mundo cão mostrado para cobrar o Estado

Em circunstância normal a cobertura da Folha de S.Paulo na Cracolândia poderia ser considerada exploração do mundo cão para atrair leitores. Na atual situação, dias depois da ação policial, podemos classificar o trabalho editorial como oportuno.

Junto às análises de diferentes segmentos sobre o problema, as equipes de reportagem do jornal estão levantando casos individuais. Na edição de quinta-feira, 12 de janeiro de 2012, cinco grávidas foram ouvidas: Lilian, 26 anos, usuária de drogas há quatro, que pode dar à luz a qualquer momento; Joyce, 19 anos, usuária de crack há sete, grávida de dois meses; Débora, 28 anos, usuária de crack há 16 anos, grávida de cinco meses; Sara, 27 anos, usuária de crack há 11 anos, grávida de cinco meses; Jéssica, 20 anos, grávida de seis meses.

A reportagem ouve também Natália, que diz ter largado a droga após o nascimento da segunda filha. A primeira morreu. Uma infografia mostra os efeitos do crack na gravidez. Informa que a droga que está na corrente sanguínea da mãe atinge a placenta e pelo cordão umbilical para a corrente sanguínea do feto. Em seguida atinge o sistema nervoso da criança com o risco de provocar alterações neurológicas. O crack também aumento o risco de aborto, diminui o crescimento fetal e há ainda o risco do bebê nascer prematuro. Após o parto, a criança sofre síndrome de abstinência à droga e apresenta sudorese, agitação, taquicardia, choro intenso e tremores.

O jornal também ouve comerciantes próximos da cracolândia e agentes de entidades e igrejas que desenvolviam trabalhos no local antes da ação da polícia.

Enfim. Ou, infelizmente. O que se mostra nessa cobertura é a parte do Brasil que está deteriorada porque as medidas de reparo tardaram. E quando chegaram foram de tal impacto que apenas tem efeito num local. Pode ser que a cracolândia esteja realmente com os dias contados. Mas o consumo da droga está aqui e ali, inclusive perto de casa.

Mostrar o mal entrando no mundo cão é, nesse caso, o escancaramento de uma podridão que existe por culpa única e exclusiva do Estado, esta instituição que abriga e acolhe – inclusive com salários altos - pessoas eleitas por nós, mas demora a dar soluções para os nossos problemas. 

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