quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Pra nós a grávida de Taubaté não é culpada

Ok! Você é um repórter generalista e trabalha pautas de diferentes temas no seu cotidiano profissional. E de repente te mandam entrevistar a mulher grávida de quadrigêmeos que está pronta para ir ao trabalho de parto. A pauta informa que o caso é raro. Se o pauteiro é mais criterioso até relaciona casos que já renderam matérias. Sugere inclusive especialistas a serem ouvidos.

Não é bem assim que ocorreu na produção inicial da reportagem da pedagoga Maria Verônica Aparecida César Santos, de Taubaté. Algumas evidenciazinhas básicas foram desprezadas. A entrevistada alegou questões familiares e não forneceu o nome do profissional médico que a acompanha. O (a) jornalista, no mínimo, negociaria com a fonte: tudo bem, não vamos expor o seu médico, mas precisamos conversar com ele para ter informações do especialista sobre a sua gravidez e o trabalho de parto. Isso é fundamental na cobertura.

Outras evidenciazinhas são mais percebidas por mulheres e por homens que já são pais. Uma delas, os seios. Na gravidez antes mesmo da barriga os seios se avolumam. Em algumas mulheres de forma rápida e assustadora. Já vimos casos de mães que desconfiaram da gravidez das filhas porque os seios cresceram de um dia a outro. Os seios da pedagoga não parecem os de uma mulher grávida. São seios normais. Aliás, pequenos em relação ao aspecto físico que ela aparenta ter sem a barriga.

O formato da barriga também causa desconfiança. E nem no caso de uma gravidez simples, às vésperas do parto, ficariam tão retos. A mobilidade da mulher também impressiona. Já vimos gravidez que conservam até o porte físico e caminham com muita agilidade até na hora de serem colocadas no trabalho de parto. Olhando por trás algumas grávidas de nove meses continuam magras e elegantes. Mas com aquele barrigão a mobilidade estaria fatalmente comprometida, inclusive com conseqüências na coluna.

Essas evidências escapariam a um repórter homem? Pode ser, principalmente se ele fosse solteiro. Mas não poderiam escapar as informações cientifícas. Se o profissional que atende a grávida foi escondido, haveria pelo menos a curiosidade profissional do jornalista de ouvir outros profissionais da área. Havia motivos para isso. Se não houvesse curiosidade em relação às informações sobre os cuidados de um parto de quadrigêmeos, pelo menos restaria a vontade de saber mais e informar mais sobre o fato raro.


O problema é que a reportagem da Bandeirantes foi produzida por uma mulher. Tudo bem, novinha ainda, provavelmente ainda virgem quando o assunto é gravidez e parto. Mas, vamos lá, homem ou mulher, teria que haver uma apuração. Ouvir uma única fonte e de contraponto tomar depoimentos de "padrinhos" sobre o oba oba foi insuficiente.

Quantos casos de quadrigêmeos no Brasil, por exemplo. Mas a repórter encerrou a sua cobertura no mesmo ponto onde começou: o local combinado para as gravações das imagens e do depoimento da grávida. Foi, no mínimo, um sensacionalismo preguiçoso. E aqui a culpa não é da grávida de Taubaté. É de quem a ouviu e teve, inclusive, a oportunidade de apalpar a barriga dela, se quisesse. Corremos riscos nesta profissão. Portanto, o trabalho criterioso e aprofundado é fundamental no nosso cotidiano. Isso até em matérias que dariam supostamente em finais felizes, como o de uma mãe que vai ter quadrigêmeos.


Quanto à investigação da Record, a acusação da suposta grávida e de seu marido, de acordo com boletim policial, é de que um repórter estaria ameaçando a família de criar um caso através da mídia. Tomara que não seja isso. O trabalho investigativo, da forma profissional, é válido.    

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