quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Comunicação e leis da barganha e dos favores

A lei é clara, mas os abusos acontecem. Está na legislação federal e vale como instrumento legal supremo. Em determinados aspectos, a legislação estadual referenda e as câmaras municipais, mesmo com um bom número de vereadores ignorantes do assunto, costumam colocar tom local na ferramenta, inclusive adequando as leis orgânicas municipais.

Na comunicação a relação entre o poder público e os empresários de jornais, rádio e televisão tende a se tornar mais complicada à medida que diminui o tamanho da localidade onde estas mídias atuam. Municípios pequenos, por exemplo, são leitos de um variado número de publicações impressas de pequeno porte. Na maioria dessas localidades os meios rádio e televisão são inacessíveis.

Outra característica é o comércio fraco. Jornais de cidades pequenas não sobrevivem com a venda de espaços publicitários. Pratica-se, quando muito, a insana mas corrente lei da barganha: um anúncio de meia página vale almoço do dono do jornal por uma semana; um quarto de página por edição para a padaria da esquina é trocado pelo café da manhã com direito a pão e manteiga. E assim vai...

O dinheiro para bancar cada edição, consequentemente, não é fruto de milagre. Alguém banca em troca de espaço que não e comercial. Normalmente é o espaço editorial vergonhosamente vendido que faz o meio de sustentação financeira. Banca a impressão, a distribuição e a renda do dono do jornal e de sua família.

A contrapartida é a evidência do patrocinador. E qual empresário, em boa situação, faria questão de aparecer diante da sociedade como um próspero negociante? Exceto nas páginas sociais, que é vitrina das amenidades e onde também a ocorrência de favorecimentos é questionada, sobretudo nos pequenos jornais, ninguém em sã consciência quer aparecer. Políticos em busca de votos às vezes perdem a sanidade.

E políticos em pequenas localidades são prefeitos, vereadores e oposição. Quando muito, um ou outro deputado estadual ou federal influencia, tendo ou não origem no local. A oposição de cidade pequena também é costumeiramente pequena. Sobra o prefeito, que queira ou não tem a chave do cofre na mão.

Sabe-se que para bancar a mídia com dinheiro legal restringe, em muito, o espaço supostamente necessário para fazer uma reeleição. Pela lei, o poder público só pode pagar espaço institucional com peças de orientação e educação. Mas o interesse político exige, além de matérias de obras com fotos rasgadas de um lado a outro, fechar qualquer cantinho de página que possa ser usado pela oposição.

Isso custa caro. Mas o povo paga. E é este mesmo povo que não encontra nada para ler no jornal. Estamos falando de ética e de democratização da informação. Osso duro, mas tentar reverter o quadro é missão.

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