terça-feira, 6 de setembro de 2011

Fonte é somente fonte no jornalismo que é sério

Há anos, quando redator de jornalismo de uma emissora de tevê, fui procurado por um colega cinegrafista na ilha de edição dos VTs. Ele estava pautado para acompanhar um julgamento no Fórum de Londrina. Confidenciou preocupação e o motivo era paupável: o réu era seu amigo.

Ponderei que, a princípio, a função dele era de fazer as imagens. A história daquele julgamento competia à repórter que fazia parte da equipe. Ele discordou com justa razão: a imagem, na televisão, faz parte da história. E ele, sendo amigo do réu, estava inseguro: “Não sei o que pode acontecer quando eu for filmá-lo”.

Recomendei então que o cinegrafista conversasse com a pauta e solicitasse substituição. Não sei até hoje porque esse procedimento não foi feito. O cinegrafista foi ao Fórum. Retornou ao jornal e me chamou num canto. Pediu que eu o desculpasse, pois havia conseguido poucas tomadas de frente. A maioria das imagens mostrava o réu de costas. “Quando eu ia na frente dele com a câmera ele me encarava e eu ficava desconcertado”, justificou.

Em outra situação, numa redação de impresso, testemunhei por várias vezes uma colega repórter tratando as fontes com intimidade assustadora pelo telefone: “Meu Bebê”, “Meu Amor”, “Coisa Linda” e assim por diante. Às vezes, após as entrevistas, a conversa era encerrada com convite de cervejada.

Em suas justificativas sobre esse tipo de postura, essa repórter costumava se confundir. Ás vezes dizia que a fonte era um amigo ou uma amiga e não via problema de se relacionar, mesmo profissionalmente, daquele jeito. Outras vezes dizia que esse tipo de relação abria portas para informações exclusivas. Será?

Na mesma redação dessa repórter, certa vez um profissional se desligou da empresa e levou com ele uma agenda de contatos que pertencia ao jornal. Meses depois, justificou que os contatos eram dele, pois sendo antigo naquela redação considerava que tudo o que havia sido feito de agendas telefônicas a ele pertencia.

Postura, caráter, ética, personalidade e atitude. Um conjunto de valores teoricamente fáceis de serem respeitados. Na prática, nem sempre. Ou nunca. Há situações e situações. Exclusividade, por exemplo, não se consegue guardando a agenda de contatos no cofre. Se obtem com profissionalismo.

E fonte, em qualquer circunstância, é fonte. Seja amigo, inimigo, patrão, subordinado, médico da família, dono do supermercado que vende fiado ou o engenheiro que se propôs a fazer um projeto com preço de desconto. Cuidado! O preço pode ser muito mais elevado do que se imagina.

Por Walter Ogama

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