quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Sigilo é peso emocional em Faces da Verdade

A jornalista Rachel Armstrong revelaria o nome de sua fonte caso esta fosse uma pessoa adulta? Estamos falando de um filme inspirado em caso real. Não só por isso, mas também por acontecimentos parecidos registrados inclusive no Brasil, o teor ficcional do enredo é bem menos denso do que a realidade. Temos como exemplo o caso da jornalista Andréa Michael, da Folha de S.Paulo, com a sua reportagem investigativa há anos sobre o caso Dantas. A profissional chegou a ser acusada de fazer inclusive escuta telefônica na fase investigativa da matéria, o que caracterizaria a quebra da postura ética no exercício da profissional. Mas sustenta que sua informação veio de uma fonte.

“Faces da Verdade” (originalmente Nothing but the truth), teria sido inspirada no caso de Judith Miller, jornalista do New York Times que ficou presa 85 dias em 2005 por manter o sigilo de uma fonte que revelou a identidade de um agente secreto da CIA. Isto é assunto de segurança nacional nos Estados Unidos. E nesse caso não há sigilo de fonte.

Rachel Armstrong, interpretada por Kate Keckinsale, descobre e revela a identidade da agente secreta da CIA, Erica Van Doren, interpretada por Vera Farmiga. A descoberta ocorreu num ônibus escolar que levava o filho da jornalista para as aulas. Por uma circunstância que aparece no filme como acidental, Rachel está de carona no ônibus escolar acompanhando o filho até a escola. Sentada num banco duplo folheia um livro, mas volta e meia é interrompida pela menina do lado.

Então a coincidência. Ou sorte. A menina é filha da agente secreta da CIA e comenta com a jornalista uma pequena desavença que presenciou em casa entre a mãe e o pai, por ele ser um colunista de jornal e ter publicado comentários sobre operações do governo norte-americano na Venezuela.

No filme, a agente está infiltrada na Venezuela para investigar um atentado contra o presidente dos Estados Unidos. Após trabalhar no caso ela elabora um relatório negando o atentado. Ainda assim os Estados Unidos invadem a Venezuela.

A reportagem é publicada e tempos depois a agente da CIA é assassinada. Rachel é presa e tem a sua liberdade condicionada à revelação da fonte. Na prisão, perde contato com a família: o marido desinteressa-se por ela após tentar demovê-la da idéia de manter o sigilo da fonte. O filho torna-se distante.

Julgada, a jornalista é condenada e mantida presa. As cenas finais são da jornalista no último encontro com o filho e as lembranças de quando se encontrou com a filha da agente da CIA e obteve as informações sobre o conflito entre os Estados Unidos e a Venezuela.

E fica a pergunta feita no início: numa sociedade extremamente patriótica como é nos Estados Unidos, se a fonte não fosse criança a jornalista trocaria a prisão pelo convívio com a família sobre o argumento do assunto de segurança nacional?

Cá entre nós: o extremismo americano jamais mereceu perdão, inclusive quando no passado referendou por aqui as operações dos regimes militares no Brasil e países vizinhos. Mesmo assim a cultura política dos EUA permitiria um perdão da ética à profissional de jornalismo. Na verdade, as cenas finais atrelaram a manutenção do sigilo a um sentimento de Rachel Armstrong em relação à filha agora órfã da agente da CIA.

Nenhum comentário: