sexta-feira, 16 de setembro de 2011

A cota que cabe para cada um de nós povo

O custo financeiro previsto da Copa de 2014 é aquele que qualquer cidadão brasileiro pode acessar no portal da transparência da Controladoria-Geral da União: R$ 23,4 bilhões. Outra projeção, da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base, entidade mantenedora de um acordo de cooperação técnica com a Confederação Brasileira de Futebol, joga este número para R$ 112 bilhões.

É uma grande distância entre um e outro. Até por isso a recente reportagem da Folha de S.Paulo, lembrando que o Pan-Americano do Rio em 2007 custou para o Brasil dez vezes mais que o previsto, causa muita preocupação.

Na edição desta sexta-feira, dia 16 de setembro, a Gazeta do Povo traz o assunto em três páginas do seu caderno de esportes. A reportagem mereceu a manchete de capa, com o título: “A mil dias do Mundial, apenas 4,7% das obras já começaram”.

Nesses 4,7%, respeitada a proporção, o gasto já teria chegado à marca de R$ 1 bilhão. Dinheiro que voa. Mas há de se considerar outros custos de montantes tão nocivos quanto a das obras nas praças esportivas, aeroportos, rodovias e demais sistemas vinculados.

O parênteses é de que obras são necessárias desde que estejam na lista de prioridades rascunhada pelo povo, este que por defeitos na prática da democracia do país elege políticos e, às vezes, aplaude a contragosto o cumprimento de obrigações por parte dos eleitos.

Então há de se descontar que algumas obras de estrutura, como no transporte, só estão projetadas por causa da Copa. Não fosse o futebol jamais ganhariam as pranchetas.

Por isso o custo político vai, fatalmente, pesar muito mais nas costas da população brasileira do que os R$ 112 bilhões da projeção maior. Para agilizar as obras, o governo federal criou o Regime Diferenciado de Contratação, com a sigla RDC, uma vez que aqui as abreviaturas são importantes por esconderem equívocos. Fique claro: o governo federal propôs, o Congresso Nacional aprovou. Deputados federais e senadores, portanto, compartilham do pecado.

A reportagem da Gazeta do Povo explica o que isto significa: “Entre outros aspectos garante a manutenção do sigilo dos orçamentos prévios de um projeto até o fim da licitação”. O texto acrescenta: “Durante o processo, somente órgãos de controle terão acesso aos preços. Ou seja, tudo no escuro”.

Saberemos depois de 2014, quando a festa chegar ao fim e a sua repercussão houver colocado os nossos pés no chão, o tamanho real do rombo. E nisso serão incluídos desvios, picaretagens, influências e outras práticas que deveriam ser condenáveis.

O outro custo é o social. Riqueza de uns, mais pobreza de outros. Situação que as estatísticas oficiais não detectam em suas pesquisas, que sempre apontam o enriquecimento da população diante das mais conturbadas realidades.

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