quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Entre caras-pintadas, jornalistas e parlamentares

O dia 29 de setembro é uma data histórica. A causa pode, inclusive, gerar na atualidade análises que levem para a utopia: lutou-se por uma política ideal e até imaginária para um Brasil onde os capítulos estão cheios de barbaridades. Há defensores desta tese, mas aqui não pretendemos trabalhar o enfoque da distopia.

O que se quer pontuar é que houve um movimento de fato há exatos 19 anos. Em 1982, justo no 29 de setembro, 448 deputados federais votaram a favor do impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello. Impeachment é um termo importado e a sua tradução, ao pé da letra, é impugnação de mandato. Mas podemos tratar como impedimento de se manter no cargo. Outros 38 deputados votaram contra, enquanto 23 se ausentaram da sessão. E cabe registrar que a ausência, às vezes, é uma atitude muito mais nociva do que o sim ou o não. Especificamente neste caso, pode ter sido um acovardamento.

Este foi o papel dos parlamentares neste acontecimento que resultou, três meses depois, num desfecho solicitado por toda a sociedade brasileira. No dia 29 de dezembro do mesmo ano Fernando Collor de Mello renunciou ao cargo de presidente para tentar preservar os seus direitos políticos. Mas diante dos clamores dos brasileiros em relação ao fato, o Congresso Nacional decidiu realizar o julgamento do presidente mesmo com a renúncia. E Collor perdeu o mandato e os direitos políticos por oito anos. Este foi o papel dos deputados e dos senadores.

Político, jornalista, economista, empresário e escritor, Fernando Affonso Collor de Mello foi prefeito de Maceió, deputado federal, governador de Alagoas e senador, até chegar à presidência do Brasil. Foi quando implementou o Plano Collor e com ele confiscou todas as economias da população brasileira. O resultado foi a recessão, que reduziu cerca de 920 mil postos de trabalho somente no ano de 1990. A inflação chegou à estratosfera, fechando em mais ou menos 1.200% ao ano.

Mas foram as denúncias de corrupção, junto com o seu tesoureiro de campanha, Paulo César Farias, que levaram ao processo do impedimento. Aqui entra o papel dos jornalistas. Desde as primeiras matérias sobre as irregularidades, denunciadas pelo próprio irmão do então presidente, Pedro Collor de Mello, pode-se considerar que os profissionais de comunicação trabalharam com rigor na apuração jornalística dos fatos.

E não foi por incitamento, mas pela seriedade da coberturta dos acontecimentos, que surgiram os caras-pintadas, estudantes que iniciaram a mobilização de toda a população para tirar o denunciado do poder. Era um movimento autêntico. Mas claro, havia inclusive entre as lideranças estudantís aqueles que pretendiam alavancar dali uma carreira política.

E é para os verdadeiros estudantes que destinamos as glórias da presença do povo em acontecimento político tão importante. Utopia? Pode ser. Aliás, se assumirmos que “no Brasil é assim mesmo e vai acontecer de novo”, tudo será utópico quando lutarmos por um país melhor.

Quanto à presença da comunicação nesta batalha, podemos dizer com certeza que neste epsódio a movimentação foi, também autêntica. Não se lutou contra alguém por raiva pessoal ou ideologia. Os trabalhos foram por uma causa nacional. E se ele voltou à política é porque o sistema permite. Naquela etapa o Brasil impediu que ele continuasse presidente.

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