quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A divulgação do que é ruim é um compromisso

Corrupções, homicídios, furtos, roubos e mais atrocidades. As páginas dos jornais impressos chegam diariamente aos leitores carregadas de notícias ruins. “Mulher de ministro usa servidor como chofer”, mostra em sua capa a Folha de S.Paulo. Mais moderado, O Estado de S.Paulo suaviza a capa com manchete positivista, mas não tem como fugir dos acontecimentos nas páginas internas: “Marta congela painel do Senado por 6 dias”, mancheteia na página A7.
Nos jornais paranaenses, a capa de Gazeta do Povo é curitibana e otimista: “União garante R$ 1 bilhão para o metrô de Curitiba”. Na página 7, o título da matéria principal é “3 pessoas morrem por mês em pista simples da BR-277”. A Folha de Londrina também suaviza o tom da capa com manchete sobre o papel da mulher no gasto familiar. Na página 7 traz a manchete “Queda de bimotor mata três em Maringá”.

É comum ouvir de determinados leitores críticas em relação ao conteúdo dos jornais. Dedos em riste apontados para as páginas, estes acusam os profissionais de jornalismo a trabalharem exclusivamente nas produções de fatos negativos. Isso é um equívoco. O papel da imprensa é de mostrar o que acontece e, de tabela, despertar a preocupação da sociedade, quando o tema enfocado envolve denúncias ou problemas, para que as providências sejam tomadas pelas autoridades.

Trabalhar notícia, enfim, exige esse compromisso para com as pessoas que terão acesso a elas. É oportuno também insistir que os jornais noticiam acontecimentos. Nada se inventa, embora haja ainda quem julgue que os jornais são os geradores dos acontecimentos e dentre estes há pessoas que poderiam ser consideradas cultas e conhecedoras.

Sim, podem ocorrer manipulações, mas daí a análise teria que ser feita sobre as publicações que se permitem a estas condições, usando de expedientes como os chamados balões de ensaio, que podem provocar corridas aos supermercados, estocagem de óleo de soja pelas donas de casa, filas de madrugada nas portas das escolas para garantir vagas aos filhos, por exemplo.

Mas no contexto dos meios impressos que são sérios e praticam linhas editoriais éticas, somos obrigados a refutar ironias como as que acusam os jornais de serem omissos em relação aos fatos considerados bons e positivos. Isso é uma mentira. Recebemos uma ligação telefônica de uma colega jornalista que solicitou informações sobre bons projetos em determinada localidade. Aliás, bons projetos que não tenham a mão do poder público e que sejam isentos de vícios.

Pensamos e não pudemos ajudá-la muito. Quando se descobre uma iniciativa que parece neutra de interesses que não sejam comerciais ou políticos, o aprofundamento da pesquisa, infelizmente, leva à conclusão que algum tipo de manipulação existe.

Nada, enfim, é de graça. Por isso, numa cultura cujos valores são tratados pela superfície, é sim, papel da imprensa, manter uma linha editorial que trate seriamente da corrupção, da insegurança, da crise na saúde, das bobeiras dos vereadores, da falta de educação, da miséria até que os culpados sejam condenados. Quem sabe, assim, será um dia possível um jornal sem tantas notícias ruins.

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