quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Crônica - Sherlock investiga chapa branca e oficioso

Tem sido uma peleja, cara! Estressante, muito! Tudo começou quando aquele buchicho, feito segredo de liquidificador, conspirou contra os organizadores do tal evento.
Dizia mais ou menos assim: “Senhores, temos que comemorar. Mas de acordo com a cartilha que nos rege, cuja determinação primeira é a discrição. Os nosso colaboradores são convidados de honra, mas há de ser criteriosamente verificada a postura de pessoas que os rodeiam. A data prevista é a do próprio acontecimento, dez de setembro”.

O recado foi um achado. Sem assinatura e nem mais detalhes, estava impresso numa folha de tamanho A4, gramatura 75, branca, qualidade mais ou menos equivalente ao de uma resma de nove reais e noventa. O texto, em Times New Roman, veio no corpo doze, entrelinha onze, em jato de tinta e centralizado. Isso mesmo. Nem direita e nem esquerda. Centralizado. Seria isso uma aversão ideológica? Talvez, uma estratégia.

O mais curioso: a tal folha, cuja discriminação trabalhamos até a exaustão, veio dentro de um jornal pego no balcão de uma lanchonete. Havia no momento uns vinte exemplares. Mas a mensagem só veio naquele que pegamos. Com absoluta certeza, pois depois do achado checamos todos os jornais para ver se mais cópias existiam. Que nada...

Ali já iniciávamos uma investigação. E a coisa ganhou corpo. Compramos lupas, cachimbos, bonés do Sherlock Holmes e sobretudos. Deixamos crescer os bigodes. Decoramos algumas senhas, dentre elas aquela que não levanta qualquer suspeita: “Elementar meu caro...”

E fomos para a pesquisa. Em qual jornal a mensagem veio encartada? Neste? Naquele? No outro? No assim por diante? Acontece que o inteligente de um dos nossos, quando descobriu a mensagem, de tão eufórico jogou o jornal. Voltamos à lanchonete pedir ajuda ao proprietário. Ele ironizou: “Vou eu saber? Aqui colocam uns trinta jornais com capas parecidas e matérias idênticas...”

Alguém teve então a brilhante idéia: “Onze de setembro? O que aconteceu no onze de setembro? Alguém lembra?” Bastou. Veio um terceiro com deboche: “Desperta, mano! Nada a ver com onze de setembro, um dia comum, sem qualquer acontecimento. Está escrito dez de setembro”.

Outra brilhante idéia, manifestada por todos: “Vamos no Google!” E não deu outra: nascimento de fulano, casamento de beltrano, aposentadoria de sicrano e, chegamos ao mais próximo... estava lá: no dia dez de setembro do ano de hum mil, oitocentos e oito circulou pela primeira vez o primeiro jornal chapa branca do Brasil, a Gazeta do Rio de Janeiro, que era rodado na Imprensa Régia.

Só podia ser uma festa para comemorar os duzentos e três anos de vida da imprensa chapa branca. Mas quem seria o organizador? Onde aconteceria o evento? Abriu-se nova investigação. Para nada. Partimos para a fase dos depoimentos. Ninguém disse coisa com coisa.

Foi então que decidimos ir para o sistema eliminatório, após rigorosa análise de todas as publicações. Pois é. Estamos nisso há seis meses. Os olhos ficam cansados e avermelham. A cabeça arde. O sono faz nego dormir no volante. Estamos, enfim, esgotados. E não conseguimos ainda isentar nenhum jornal...

Coisa de doido esta história, concordam? Vai ter nego beiçudo com este cronista, mas isto aqui foi apenas para mostrar a arte de incomodar os Chapa Banca (em maiúsculo) e os oficiosos. Será?

Por Walter Ogama

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