quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Pontos para o jornalismo que é pé no chão

Ainda é rasteiro e brando, mas já é possível ter prazer com os seus efeitos. E não se indignem aqueles que passarem os olhos neste artigo e chegarem ao ponto final – ou às reticências – com a idéia de que estamos enfeitando pano de prato com lantejoulas. Nada disso, pois não há intenção de riscar os jogos de prato.
Falamos do que está no ar e é respirável. É um vento gostoso por mexer com a nostalgia ao mesmo tempo em que alivia com possibilidades de mais soprões. Por isso só entramos no assunto depois de gastar verbos em quase dois parágrafos. Vamos lá.

A capa da Folha de Londrina da edição desta quarta-feira, 21 de setembro de 2011, está um jornal que lembra as boas fases da publicação. Assuntos que interessam o leitor são chamados. A manchete, por exemplo, estampa a preocupação editorial sobre um tema tratado nas páginas internas e que deveria também preocupar a sociedade, incluindo os políticos que elegemos e nos representam nos legislativos e nos executivos das três esferas. E claro, também o Ministério Público.

Com o chapéu Educação em Xeque, traz o título “Escolas rurais estão à margem do Enem”. E daí? – perguntariam alguns. Assinada pelo jornalista Fábio Galão, a reportagem na página 6 do primeiro caderno informa, com base nos dados por escolas do Enem 2010, que “das 170 escolas rurais públicas paranaenses, 99 ficaram sem cálculo de média no exame porque não atingiram o número mínimo de estudantes concluintes do Ensino Médio participando da avaliação”.

Esta informação vem a reboque de outras sobre o mesmo tema sobre a inexpressiva média das escolas públicas em relação aos estabelecimentos privados de ensino. Portanto, a reportagem é mais um atestado de incompetência do poder público em relação ao seu dever com a educação.

Transcrevemos aqui trecho extraído da retranca de apoio da matéria. O depoimento é de Joaquim Gonçalves da Costa, presidente do Comitê Estadual de Educação no Campo. Com a licença da Folha e de seu jornalista: “A política educacional para o meio rural tem uma dívida histórica. Não houve investimento suficiente para atender o aluno no lugar onde ele vive”, diz.

E dá prosseguimento: “As escolas municipais, que oferecem o Ensino Fundamental, ainda têm muita presença nas comunidades rurais. Mas, conforme os estudantes ascendem na escolaridade, a ofertas de estabelecimentos de ensino diminui. Quando chegam ao Ensino Médio, muitos jovens tem que sair das comunidades onde vivem”.

O peso desta realidade é pequeno para um estado como o nosso? Muito pelo contrário. Tirando os grandes e médios núcleos urbanos do Paraná, que são contados nos dedos, temos uma predominância rural inclusive em municípios com uma rua principal cercada por propriedades rurais, onde a fonte de renda sai da terra. “O campo está envelhecendo porque os jovens estão indo para a cidade”, afirma o presidente do Comitê.

É, portanto, resultado de omissão política. E sentam nos bancos dos réus vereadores, prefeitos, deputados estaduais, governadores, secretários de diferentes esferas, deputados federais, senadores e tantos outros que discursam uma urbanidade utópica e cheia de enfrentamentos sem amenizar as dificuldades da turma de origem. Igual jogar veneno na raiz.

A reportagem da Folha permite leitura. E chega-se ao fim do texto com a convicção de que a produção da matéria se preocupou com um problema que é nosso. Isso é enfoque jornalístico.

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