quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Excesso de exposição de alguém afasta o leitor

A redação da Folha de Londrina do tempo do saudoso João Milanez era palco diário de uma salutar guerrinha entre o próprio e os jornalistas. Nunca em tom de deboche e sem ironias, disfarçando o respeito que todos tinham pelo fundador do jornal, os profissionais contestavam os pedidos do “patrão” de publicação de fotos dele junto com visitantes.
Milanez recebia muitas visitas. Empresários, políticos, estudantes, professores, sindicalistas, representantes de entidades, admiradores, opositores e assim por diante. Em cada ocasião o “patrão” solicitava um repórter fotográfico para fazer o registro. E queria que todas as fotos fossem publicadas na edição do dia seguinte.

Imaginem. Se todos os registros ganhassem espaço, cada página do jornal teria pelo menos uma foto do João Milanez com um visitante. Isso, mesmo em uma publicação de pequeno porte, onde as relações de amizade do proprietário do jornal com a sociedade costumam ter mais importância que a notícia, é excesso de exposição.

Excesso de exposição desgasta. Causa um prejuízo de efeito gradativo: hoje é interessante, amanhã cansa, depois de amanhã gera questionamento e daí por diante resulta em uma espécie de repulsa que faz o leitor virar de página na primeira batida do olho na foto.

O “patrão” tinha os seus motivos. Para ele, aquelas pessoas que o visitavam diariamente formavam o patrimônio da Folha de Londrina. Ele tinha plena razão. A Folha era um jornal dos londrinenses e a população de Londrina se orgulhava de ter uma publicação tão influente na vida cultural, social, econômica e política da cidade, da região e também do Estado.

Os mais fortes concorrentes da época, incluindo os grandes títulos de Curitiba, tinham a fama de serem Chapa Branca. A Folha dependia sim dos anúncios oficiais do Governo do Estado e das prefeituras, mas a conduta editorial aniquilava a má fama de ser atrelada e interesseira.

Por isso os profissionais de jornalismo daquele período eram respeitados no mercado editorial de São Paulo. Eram eles os autores das grandes reportagens, algumas de repercussão nacional.

Outra situação marcante: se acontecia um acidente na região central ou num bairro distante, as pessoas, antes de telefonaram para os Bombeiros ou a Polícia, ligavam para a redação da Folha. E quando o Fusca branco com tarjas cor de laranja chegava no local, as pessoas demonstravam alívio: “A Folha chegou”.

Diferente disso, temos um quadro próprio de lugar pequeno nos municípios de menor porte de qualquer lugar. Já nos colocamos mais de uma vez sobre a preocupação com os excessos cometidos pelas pequenas publicações, sejam elas de situação ou de oposição. O mais recente jornal que recebemos é um tablóide reduzido de 12 páginas. Contém nove fotos da autoridade local. Em uma das páginas essa autoridade aparece em três fotos.

Cá pra nós: se fossemos essa autoridade mandaríamos uma carta ao jornal solicitando que preservassem a nossa imagem para evitar desgaste junto ao leitor. Não citamos o nome da publicação por considerar que esta barbaridade é intensa e se trata de defeito da maioria.

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